Pepe Mujica | Sextante
Livro

Pepe Mujica

Allan Percy e Leonardo Díaz

Simplesmente humano

Simplesmente humano

Uma das lideranças mais admiradas da América Latina, Pepe Mujica ficou conhecido como o “presidente mais pobre do mundo”. Durante seu mandato, o político uruguaio doava a maior parte de seu salário e era visto circulando em seu fusca azul.

Sua história serve de exemplo para muitos jovens e está repleta de fatos tão peculiares quanto seu modo de vida, marcado pela luta contra o consumismo e por sua aparência, que em nada lembra a de um chefe de Estado.

No entanto, seu jeito boa-praça esconde as duras lições de um passado de idealismo e dificuldades. Membro de um grupo guerrilheiro, Mujica participou de ações armadas e acabou capturado pela polícia. Durante o período do cárcere, sofreu torturas e severas privações, chegando à beira da loucura.

Libertado após 13 anos de prisão, voltou à vida política e ocupou os cargos de ministro e de senador antes de se tornar presidente. Mas foi durante seu governo que colocou o Uruguai no mapa como uma das nações mais progressistas do mundo, ao aprovar medidas como a descriminalização do aborto e a legalização da maconha e do casamento gay.

Autor de frases polêmicas, suas tiradas logo foram convertidas em memes de internet e correram o mundo, demonstrando sua sabedoria de um jeito divertido. Neste livro, Allan Percy e o professor Leonardo Díaz nos contam a trajetória de Mujica e comentam algumas de suas declarações mais inspiradoras, entre elas:

• Ter riqueza, bem-estar e consumir bens materiais não é o mesmo que ter felicidade.

• O inevitável não se lamenta. É preciso enfrentá-lo.

• Para mim, a política é a luta para que a maioria das pessoas viva melhor.

• Ser livre é ter tempo para fazer as coisas que nos motivam.

• No fim, o mais cômodo na vida é a verdade. É preciso ver as coisas como são.

****

Pobre não é aquele que tem pouco. Verdadeiramente pobre é o que precisa infinitamente de muito, e deseja, deseja, deseja mais e mais.O estilo de vida de Mujica já deixa bem claro que o presidente não cultiva excessos de nenhum tipo. Ele considera o consumismo um grande problema, que desvia o homem das coisas que realmente importam, sempre defendendo que é melhor “ser” do que “ter” e que os bens materiais não trazem felicidade.

O homem sairá da pré-história no dia em que os quartéis se transformarem em escolas. Mujica tem consciência de que só através do ensino é possível criar um país mais justo e menos desigual. Ele defende que uma sociedade com autonomia e liberdade se constrói com tolerância e respeito pelas diferenças, e é dever da escola transmitir esses valores aos cidadãos.

Estou muito contente com o hoje. O que me deixa preocupado é o depois de amanhã. É importante viver o momento presente e tentar dedicar o melhor de si às tarefas do dia a dia. Afinal, a vida não está no futuro nem no passado: ela se desenrola no agora. Preocupar-se com o amanhã pode até ser benéfico, contanto que você utilize essa reflexão para elaborar estratégias práticas para lidar com os problemas. Se você apenas teme o futuro e as coisas que não pode modificar, a preocupação é uma grande perda de tempo.

Muitas vezes nossos sentimentos já decidiram o que depois a razão procura justificar. Embora tenhamos alcançado grandes avanços científicos e tecnológicos, o ser humano continua o mesmo. Apesar de todos os aparelhos e de toda a conectividade, ainda experimentamos as emoções viscerais dos homens dos primeiros tempos e experimentamos aquele anseio vago por um sentido maior para a existência. Uma prova disso é a intuição, que nos leva a agir de maneiras que às vezes nem nós mesmos compreendemos. Por isso, é importante valorizar as emoções e reconhecer que elas têm o poder de governar as nossas ações.

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Ficha técnica
Lançamento 02/04/2015
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 192
Peso 150 g
Acabamento BROCHURA
ISBN 978-85-431-0198-9
EAN 9788543101989
Preço R$ 29,90
Conteúdos especiais
Lançamento 02/04/2015
Título original
Tradução
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 192
Peso 150 g
Acabamento BROCHURA
ISBN 978-85-431-0198-9
EAN 9788543101989
Preço R$ 29,90

Leia um trecho do livro

Prólogo: um herói dos dias atuais

O poeta Pablo Neruda chamou suas memórias de Confesso que vivi. Se José Mujica redigisse as dele, poderia usar o mesmo título, incluindo um “intensamente” no final, apesar de ser pouco provável que algum dia ele se entregue à tarefa de escrever sobre si mesmo. Primeiro porque outros já se encarregaram disso, fazendo dele o político uruguaio com mais biografias. Em segundo lugar porque Mujica nunca se levou a sério a ponto de se preocupar em ficar justificado perante a história.

Além disso, sendo conversador, extrovertido e acessível, já não existem muitas perguntas sem resposta sobre sua vida, sua obra e seu pensamento. As bibliotecas e a internet estão repletas de reportagens sobre ele, discursos seus e suas famosas frases filosóficas, fora de tom ou de brutal sinceridade.

Há alguns anos, quando Mujica foi eleito presidente, o mundo conheceu um político diferente. O novo chefe do governo vivia com muito pouco, dizia o que pensava e se expressava mais como um filósofo do que como um ex-guerrilheiro que se tornou político. Jornalistas do mundo todo visitaram sua humilde residência e sua fama mundial fez com que muitos descobrissem um país chamado Uruguai. Mas os uruguaios já o conheciam havia muito tempo, pois sua figura esteve associada à história viva desse país nos últimos sessenta anos.

“Confesso que vivi intensamente”, poderia dizer Mujica, porque desde muito jovem ele se envolveu com vigor no ativismo político de um partido tradicional; porque viveu a década de 1960 na trincheira revolucionária dos que queriam mudar o mundo; porque passou os anos 1970 nos mais obscuros porões da ditadura; porque renasceu nos anos 1980, na primavera da democracia; porque na década de 1990 participou do crescimento e do triunfo da esquerda; porque se tornou presidente do Uruguai.

Não é à toa que essa história de vida tão notável costuma ser comparada com a de Nelson Mandela. Trata-se de dois mensageiros responsáveis por palavras de reconciliação cheias de sabedoria e que sobreviveram à tortura e à prisão. Mas o próprio Mujica se encarregou de descer do pedestal em seu estilo bem-humorado e coloquial: “Mandela está em outro nível. Ele ficou 28 anos em cana. Eu fiquei apenas 14.” Ele é simplesmente o Pepe, um rapaz de bairro, com as virtudes e os defeitos de seu povo. O único título que aceita é o de lutador social, que combina com sua imagem de agricultor rústico, desalinhado e resistente às gravatas, que o transformou em Zé Povinho, como foi definido com sarcasmo por seu amigo Fernández Huidobro. Mas essa aparência tosca esconde um “animal político” muito hábil que sabe claramente aonde quer chegar – embora esconda isso muito bem – e não teme os desafios do poder.

Certa vez disse que é um “torrão de terra com pernas” para mostrar seu amor pelas coisas do campo. Mas essa imagem também retrata um homem com os pés no chão, muito longe da ideia do presidente filósofo que vive com a cabeça nas nuvens. Sua trajetória é a de um político que não perde de vista a realidade e que age com pragmatismo porque “as coisas são como são”.

Sua linguagem simples e direta, popular com a dose de demagogia e teatralidade de um grande comunicador, esconde mais do que mostra. Suas tiradas não são as de um Sancho Pança superficial e irreflexivo. Seus aforismos e frases contundentes são feitos para alcançar o grande público, mas tudo o que sabe – o que, de acordo com Mujica, é muito pouco – ele sabe bem, porque é fruto de anos de reflexão.

Uma das coisas que aprendeu foi a importância de dizer a verdade, “pois, no final, é o mais cômodo na vida. É preciso ver as coisas como são”. Isso é praticamente uma heresia política num contexto em que parecer é mais importante do que ser. Ele não teve problemas em seguir o caminho de reconhecer os próprios erros, fracassos e “pisadas na bola”.

Mujica chegou ao último ano de seu mandato com altos índices de popularidade, resultados econômicos e sociais elogiados no mundo todo e medidas pontuais, como a legalização da maconha, que entrarão para a história. Fez isso conjugando duas realidades antagônicas: uma concepção ideológica e um estilo de vida anarquistas associados ao cargo de presidente, posição que concentra o poder maior do Estado. Muitas vezes esse encaixe não deu certo, o que fez com que sua gestão tenha ficado salpicada de avanços e retrocessos que desgastaram seu governo. Mas outras vezes – muitas – a leveza daquele que acredita que o “agente da mudança são vocês, povo querido” trouxe um ar fresco que oxigenou o ambiente tão viciado da política.

Quem conhece a intensa e longa vida de Mujica pode descobrir grandes diferenças em relação ao seu modo de pensar e de agir. Mas é difícil deixar de admirar sua capacidade de se levantar várias vezes e se reinventar de acordo com os ares de cada época. Essa não é a figura do político ou executivo eterno que se alimenta de poder e vive sentado em um trono. É a de um jovem octogenário cujo principal projeto para o final da vida é adotar “30 ou 40 guris”, filhos que nunca teve porque “estava ocupado demais tentando mudar o mundo”.

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Allan Percy

Sobre o autor

Allan Percy

Allan Percy é especialista em coaching e em literatura de autoajuda e desenvolvimento pessoal. Autor premiado, já trabalhou como editor, tradutor e ghost-writer, além de atuar como consultor editorial para várias editoras espanholas. Seus livros já venderam cerca de 800 mil exemplares no Brasil.

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Leonardo Díaz

Sobre o autor

Leonardo Díaz

Nascido em Mendoza, na Argentina, tem doutorado em ciência política e administração. Professor da Universidade Autônoma de Barcelona, no departamento de ciência política e direito público, é pesquisador e autor de vários estudos sobre participação cidadã e boas práticas na administração pública.

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