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O infinito de cada momento
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O infinito de cada momento

“Não é preciso uma situação extrema para qualquer pessoa enfrentar questões existenciais que sempre culminam na pergunta: qual o sentido da vida?” – Ana Michelle Soares

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“Não é preciso uma situação extrema para qualquer pessoa enfrentar questões existenciais que sempre culminam na pergunta: qual o sentido da vida?” – Ana Michelle Soares


“Muitos de nós levam uma vida rotineira, sem noção da própria finitude. AnaMi nos faz lembrar da urgência da vida.” A reflexão de Nilton Bonder está no texto de apresentação do novo livro de Ana Michelle Soares, Vida inteira. As sábias palavras do rabino e escritor não poderiam resumir melhor a mensagem da escritora que, aos 32 anos, recebeu a notícia de que seu câncer de mama havia voltado e a cura não era mais uma possibilidade.

Mas deixemos de lado qualquer formalidade ou pesar para falarmos sobre AnaMi, como a autora é carinhosamente chamada. Abandonemos também a ideia de que iremos percorrer longas páginas de sofrimento neste livro. A experiência da dor e a consciência da finitude estão, sem dúvida, presentes, mas é o amor pela vida que conduz esta história. AnaMi é cativante e suas palavras, assim como seu sorriso luminoso, estabelecem uma conexão imediata conosco. A cumplicidade se dá de cara.

A escritora conquistou milhares de leitores com seu primeiro livro, Enquanto eu respirar, que já vendeu mais de 35 mil exemplares. Passados dois anos da publicação da obra, ela segue inteira na vida, vivendo um dia de cada vez e preenchendo sua bucket list com novos sonhos. Neste meio-tempo, AnaMi retornou à escrita na busca do que realmente importa: o sentido de estar aqui.

E quanta vida ela tem encontrado pela frente! Dois livros, uma viagem à Chapada dos Veadeiros, muitas viagens – para falar a verdade – por lugares diversos, uma especialização em cuidados paliativos, a vida em família, encontros profundamente humanos, uma experiência transformadora com a ayahuasca, sem falar do prazer no que AnaMi denomina como “a vidinha”, essa mesma com a qual lidamos todos os dias, muitas vezes, sem valorizar, “o cotidiano perfeito de Deus”.

Muita coisa mudou entre 2019 e 2021, e na vida da autora não foi diferente. Em plena pandemia, ela encarou muitos medos. A finitude se impôs implacável diante de todos. “Difícil, né?! Planejar e não poder ir. Esperar e ter que adiar. Pisar em ovos. Paralisar. Difícil aprender a conviver com o medo do futuro, mantendo a cabeça no presente. Difícil depender do bom senso dos outros. Precisar de ajuda. Ser vulnerável”, pondera AnaMi, em seu novo livro.

O casamento abusivo: a morte em vida

Há pontos em comum entre Vida inteira e o primeiro título, algumas circunstâncias já citadas anteriormente são revisitadas, assim como personagens marcantes na vida da autora, porém a perspectiva é outra. A amiga Renata, com quem criou o perfil @paliativas no Instagram, é lembrada com imensa saudade e o mesmo amor. Mas há uma questão fundamental: uma grande ferida de sua trajetória. Desta vez, AnaMi a revela por inteiro.

Ao receber o diagnóstico de câncer de mama, aos 28 anos, a escritora estava casada, e profundamente infeliz. “Se existisse uma máquina que mostrasse o exato momento em que minhas células se tornaram zumbis e começaram a se reproduzir loucamente, esse dia seria 25 de novembro de 2009. Descobri o câncer dois anos depois desse dia”, ela recorda se referindo a uma briga marcante com o ex-marido.

O casamento de AnaMi foi abusivo do início ao fim. Ela se culpou, acreditou que o erro fosse seu, sentiu vergonha, raiva, medo, muita dor e, por fim, resolveu expurgar de sua vida o que lhe causava tanto sofrimento. Escrever sobre sua experiência de “morte em vida” serve também de alerta para todas as mulheres – as muitas mulheres que são agredidas, verbal e fisicamente, todos os dias por seus companheiros.

Como dançar no palco da impermanência

“Às vezes tenho a impressão de que vivo todas as estações em um único dia. Germinar, florescer, colher, morrer”, analisa AnaMi. Não por acaso, o livro está estruturado de acordo com as estações do ano, o ciclo completo da vida.

Primavera, verão, outono e inverno: tempos distintos em que a natureza se revela a senhora da vida – plena, bela e impassível –, não como uma evolução contínua, mas o eterno devir. Vida inteira nos oferece, como o título sugere, uma visão ampla, com toda a beleza do que significa existir, mas sem omitir os percalços do caminho.

Escritora de primeira mão, AnaMi nos presenteia com lindas reflexões e frases belíssimas, em um diálogo franco. Você deve chorar em alguns momentos ao longo dessas páginas, irá rir, certamente, com muitas histórias, e é bem provável que se sinta conversando com ela, em um diálogo bem íntimo, celebrando a intensidade do que é viver o infinito de cada momento.

Prepare-se para uma leitura transformadora! Aprecie sem moderação!

Este post foi escrito por:

Felipe Maciel

Jornalista com 20 anos de experiência no mercado e pós-graduação em Mercado Editorial e em Tradução, trabalhou em jornais, revistas e agências de comunicação. Foi coordenador de comunicação do Sesc Rio. Desde 2010, trabalha no mercado editorial com passagens por algumas das principais editoras do país.

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Uma jornada em busca do sentido e do sagrado de cada dia

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