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A poesia encontra o zen-budismo em momento de rara beleza
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A poesia encontra o zen-budismo em momento de rara beleza

Poesia para inspirar a alma e sabedoria para refletir sobre as grandes questões da existência. O encontro entre a Monja Coen e o escritor Allan Dias Castro marca um daqueles raros momentos de perfeita comunhão.

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Um verdadeiro diálogo poético que nos faz refletir a cada instante sobre a imensidão de estarmos vivos.

Poesia para inspirar a alma e sabedoria para refletir sobre as grandes questões da existência. O encontro entre a Monja Coen e o escritor Allan Dias Castro marca um daqueles raros momentos de perfeita comunhão. A arte e a sensibilidade do poeta se unem ao profundo conhecimento do zen-budismo da líder espiritual. Juntos, eles ampliam a visão e permitem colocar os grandes temas que rondam a humanidade sob outras perspectivas.

Monja Coen e Allan se conheceram em 2019 durante um retiro promovido pelo Instituto Hermógenes em Mendes, cidade da região serrana do Rio de Janeiro. O poeta já nutria uma imensa admiração pelo maior nome do budismo no Brasil – Monja Coen é adepta da tradição Sôtô Zenshû e considerada a principal difusora do pensamento do budismo zen japonês no país. A identificação entre eles foi imediata.

“Uma simplicidade difícil de alcançar. Confesso que já nesse momento nasceu a ideia de quem sabe um dia fazermos uma parceria literária”, registrou Dias Castro. “Um momento mágico e de grande sabedoria. Forte, seguro, verdadeiro, sincero”, definiu Monja Coen. Dessa ocasião fortuita, nasceu o embrião de A monja e o poeta, a obra literária que resulta do diálogo sensível entre a poesia e o zen-budismo.

Que todos os seres possam despertar

Onze poemas e 22 temas conduzem o livro e dão o tom para uma ampla reflexão sobre a vida em todas as suas nuances.  A edição inclui ainda textos inéditos do poeta em que ele revisita circunstâncias de sua vida e conta como o cotidiano inspira sua poesia. A eles se somam os comentários inspirados de Monja Coen, que contribui, com sua generosa leitura, para a expansão do significado de cada verso.

Sem pressa nem imposições, os autores colocam na mesa questões fundamentais que nos cercam, como o amor, o perdão, a raiva, o medo, a gratidão, o ego, além da própria transitoriedade da vida. Tudo é profundamente simples e extremamente complexo.

Em seu texto de apresentação, o poeta dá as boas-vindas aos que desejam se aventurar: “Já que a vida é um mergulho profundo, para que possamos perceber através de palavras e gestos simples a imensidão de estarmos vivos, deixo este convite: vamos mergulhar?”

Sorrir e recomeçar

Diante dos desafios do mundo contemporâneo, investigar a fundo como desejamos experimentar a existência é tão fundamental quanto nos prepararmos tecnicamente para as disputas que o mundo nos impõe. E a construção de quem realmente somos se consolida a cada dia, ou melhor, dia após dia.

Sobre essa eterna construção de si e os altos e baixos que todos nós visitamos em nossas jornadas, Monja Coen avalia a partir da leitura do poema “Só por hoje“: “Cada dia é o que é. Podemos atravessar momentos de alegria, euforia, tristeza, dor, luto, nascimento, morte. Tudo é possível. O bem e o mal, o certo e o errado. Tudo faz parte e tudo está mudando. Tudo Zen e a qualquer momento pode mudar. O desmoronar também é o Zen.”

“Se tudo que a gente planejou tivesse dado certo, muitos dos nossos melhores momentos não teriam acontecido.”, pondera Dias Castro nos versos que introduzem “Seja areia, ou seja amor“. O poema nasceu ao acaso, em um dia de praia, enquanto o escritor observava uma mãe e um filho brincando à beira-mar em um esforço duplo para erguer uma escultura perfeita. “Quando conseguiam, vinha a onda e a derrubava. E eles riam e recomeçavam”, recorda.

A aparente banalidade da cena ganha novas cores quando ampliada como a reflexão sobre o significado de estar no mundo. “A beleza da vida é viver”, filosofa Monja Coen em seu texto-comentário do poema, acrescentando pouco adiante que “há doçura na construção do castelo de areia na praia, no sorrir da mãe e do filho, vendo seu castelo se formar e se desfazer. Sem birras, sem braveza, sem reclamar e com a certeza de que sempre é possível recomeçar.”

Doçura, emoção, poesia, espiritualidade e sabedoria coabitam nesse livro que uniu, para o nosso deleite, a monja e o poeta, dois saberes que se entrelaçam e se amalgamam. Ingresse nessas páginas sem bater na porta e viva um momento de rara beleza.

Este post foi escrito por:

Felipe Maciel

Jornalista com 20 anos de experiência no mercado e pós-graduação em Mercado Editorial e em Tradução, trabalhou em jornais, revistas e agências de comunicação. Foi coordenador de comunicação do Sesc Rio. Desde 2010, trabalha no mercado editorial com passagens por algumas das principais editoras do país.

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