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Você se considera uma pessoa de sorte?
BIOGRAFIA

Você se considera uma pessoa de sorte?

Nelson Motta revisita a própria história em narrativas breves que também investigam o papel do acaso em sua vida

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Nelson Motta revisita a própria história em narrativas breves que também investigam o papel do acaso em sua vida

Aos 76 anos recém-completados, Nelson Motta pode se considerar um homem de sorte. A vida sempre – ou quase sempre – lhe sorriu. Ele nasceu em São Paulo em 1944, mas o sotaque não deixa dúvida: é um legítimo carioca. Quis o destino que se tornasse também um cidadão do mundo, com longas temporadas em Roma e em Nova York. Nelsinho, como os amigos lhe chamam, teve três filhas, se casou quatro vezes e se apaixonou por muitas mulheres. Experimentou diversas vezes o auge do sucesso e, claro, alguns dissabores. Tudo isso com apenas uma certeza: a sorte só dá as caras para quem corre riscos.

Profissionalmente, jogou sempre nas onze, atuando como jornalista cultural, produtor, compositor e autor de livros de grande repercussão, além de peças musicais que lotaram as salas de teatro. Bossa Nova, os Festivais da Canção, a era disco, sem contar o trabalho ao lado de grandes estrelas da música brasileira – entre elas Elis Regina, Tim Maia, Marisa Monte, Elba Ramalho e Daniela Mercury –, Nelsinho não só esteve presente em quase todas as principais tendências musicais do país, como foi protagonista de muitos desses acontecimentos.

É este personagem – ele mesmo, por sinal – o tema da autobiografia De cu pra lua (Estação Brasil), em que o autor discorre sobre importantes passagens de sua trajetória em breves crônicas narradas em ordem cronológica e com o distanciamento da terceira pessoa do singular.

“Procurei escrever com uma visão externa sobre mim, como um autor literário que decide escrever a biografia de um desconhecido que, aos poucos, vai tomando forma. No processo, acabei revendo acontecimentos de cada etapa da minha vida. Fatos que eu me lembrava de um jeito, às vezes se revelaram melhores, e outros, piores”, avalia Nelsinho.

Ao abrir o baú de memórias, Nelsinho revisita momentos da infância, a presença sempre marcante da matriarca da família, sua mãe Xixa, os tempos nem tão felizes na escola jesuíta, além de enfileirar uma sequência de histórias saborosas descritas com uma boa dose de humor, dramaticidade e algumas revelações.

Entre os casos e “causos”, recorda a visita fortuita de João Gilberto ao apartamento de seus pais no Rio de Janeiro e as tardes ao lado de Elis Regina para a produção do álbum antológico Em pleno verão, que resultaram em uma breve e intensa paixão, seguida de um “pé na bunda”. Conta em detalhes o encontro meio ao acaso ou, talvez, já predestinado com Marisa Monte na Itália, na melhor versão de “nasce uma estrela”. Aborda intimidades, como o casamento com Marília Pêra, regado a admiração e ciúmes, e avalia, ainda, o uso da cocaína em uma fase conturbada da vida.

O tema da sorte permeia as reflexões de Nelsinho e funciona como o eixo da narrativa. Aos episódios vividos, Nelsinho acrescenta suas reflexões sobre os desígnios do acaso, para o bem e para o mal. Mas, se o rapaz de sorte contou com a mão invisível da boa fortuna, sem dúvida ele sempre esteve por perto para lhe dar as boas-vindas!

O que Nelsinho tem a nos revelar em suas memórias irreverentes?

Elis Regina:
“Nelsinho e Elis passavam tardes e noites ouvindo música. Ele trazia cassetes de novos compositores, entre eles Ivan Lins, com o samba-soul ‘Madalena’, que seria um dos maiores sucessos do ano e um grande avanço para Elis.”

Marisa Monte:
“Nelsinho teve a sorte de Marisa chamá-lo para ver um showzinho que faria num bar de Ipanema, quase na esquina do apartamento dele. Nelsinho e Dom Pepe foram, e ficaram maravilhados. Nelsinho se ofereceu para dirigir seu show. Suas vidas mudaram.”

Tim Maia:
“Tim Maia invadiu sua sala, acendeu um ‘baurete’ e jogou uma fita em cima da mesa. Era a gravação em dezesseis canais ao vivo do seu show no Olympia de São Paulo:
– Meu amigo Nelsomotta! Vamos fazer um disco. É só 15 mil dólares. Tá na promoção.”

Marília Pêra:
“Marília era durona. Mas também muito engraçada, uma rainha da comédia capaz de gestos de amor e amizade. E se mostrava carinhosa e enamorada. Nelsinho estava completamente cego de paixão.”

Este post foi escrito por:

Felipe Maciel

Jornalista com 20 anos de experiência no mercado e pós-graduação em Mercado Editorial e em Tradução, trabalhou em jornais, revistas e agências de comunicação. Foi coordenador de comunicação do Sesc Rio. Desde 2010, trabalha no mercado editorial com passagens por algumas das principais editoras do país.

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