Coragem, vulnerabilidade e empatia são palavras de construção dos livros escritos por Brené Brown. Já falamos no blog sobre “A coragem de ser imperfeito” e “Mais forte do que nunca”, dois de seus títulos mais famosos. Agora é a vez de “Eu achava que isso só acontecia comigo”, no qual a relação com esses conceitos […]
Coragem, vulnerabilidade e empatia são palavras de construção dos livros escritos por Brené Brown. Já falamos no blog sobre “A coragem de ser imperfeito” e “Mais forte do que nunca”, dois de seus títulos mais famosos. Agora é a vez de “Eu achava que isso só acontecia comigo”, no qual a relação com esses conceitos se entrelaçam, fortalecidos, e ajudam o leitor a compreender o impacto do sentimento de vergonha. Não o subestime. Muita decisões importantes são postergadas – algumas, até mesmo implodidas – devido ao medo, à culpa e à desconexão, subprodutos da vergonha.
Brown ensina: diante dela, é preciso ter resiliência. Novamente, aqui, a autora parte de uma fragilidade do ser humano e ressalta como ela, se bem entendida, pode ser um potente motor de transformação. “Se quisermos ter sucesso ao lidar com a vergonha, precisamos compreender por que a sentimos e como ela afeta a nossa vida, inclusive os comportamentos, pensamentos e sentimentos que enfrentamos no dia a dia”, afirma.
Abaixo, você conhece algumas curiosidades e lições contidas no livro, resultado de uma extensa pesquisa que envolveu também entrevistas com mulheres que expuseram histórias guiadas por esse sentimento sufocante.
Epidemia silenciosa
Para Brown, a vergonha é uma epidemia silenciosa, considerada por muitos uma forma de autoproteção e punição: “A vergonha é usada como uma ferramenta para criar, ensinar e disciplinar nossos filhos”. A ideia de usar a humilhação para educar ou provocar mudanças de comportamento é completamente equivocada, ela enfatiza, capaz de causar danos tanto à pessoa que a usou quanto a que foi envergonhada.
A vergonha solitária
Justamente por ser um tabu, a vergonha se torna mais poderosa, porque tem “a capacidade de fazer com que sintamos sós. Como se fôssemos os únicos a passar por aquilo ou diferentes de todo mundo”. A coleção de histórias compiladas no livro ajuda a dimensionar a vergonha e, de certa forma, a entender que não estamos sozinhos.
Diferença entre culpa e vergonha
A autora explica que culpa diz respeito a nossos comportamentos, sendo a consequência de um ato que contraria nossa ética e crença. A vergonha, ao contrário, tem a ver com o que somos. Reconhecer que cometemos um erro é bem diferente de acreditar que somos um erro, diferencia Brown, que salienta: “Na vergonha, nos sentimos isolados e desesperados por acolhimento e reconhecimento. É quando sentimos vergonha ou medo da vergonha que temos mais chance de adotar comportamentos autodestrutivos, de atacar ou humilhar os outros ou de nos omitir ao ver que alguém precisa de nossa ajuda”.
A vergonha da mulher
Embora tenha conversado com mulheres com histórias de vida e características muito diferentes, Brown percebeu que um elemento central une as experiências de todas elas com a vergonha. A autora o define como uma teia de expectativas sociocomunitárias que norteiam os pensamentos de muitas delas em relação a quem elas devem ser e como devem se comportar.
“As expectativas que alimentam a vergonha em nós estão fundamentadas na percepção de nossa cultura sobre o que é aceitável para as mulheres”, sintetiza ela. Numa pesquisa voltada para os homens, Brown identificou que o sentimento de vergonha está relacionado às ideias culturais sobre masculinidade.
O poder da empatia
Resiliência, eis a palavra de ordem para lidar com a vergonha. Não se trata de impedir sua existência, já que ela está abotoada à humanidade, mas de domá-la, torná-la menos importante. A resiliência é o caminho para confrontar conscientemente a vergonha. Há outra palavra fundamental nessa conversa: empatia. A partir da troca com as mulheres que participaram da pesquisa, Brown notou como o ato de dar e receber empatia funciona como um antídoto. Desvinculadas de julgamento, frases como “eu compreendo, já passei por isso” e “entendo o que você está passando” são aliados nesse enfrentamento.
Os gatilhos da vergonha
Reconhecer e identificar a vergonha é essencial na construção da resiliência. Brown chama a atenção para o aspecto físico relacionado à vergonha e explica que o corpo reage a essa sensação antes mesmo de ela gerar uma resposta da mente consciente. “Se conseguirmos reconhecer as reações físicas, talvez possamos limitar o sentimento de impotência que vem nas situações de vergonha”, aponta a autora.
Também numa tentativa de frear os ímpetos da vergonha, ela tentou identificar gatilhos. Na maioria das vezes, Brown sustenta, a vergonha está relacionada à percepção do outro sobre nós. Daí a importância de refletirmos sobre como achamos que somos vistos pelos outros e como queremos ser. Lidar com as identidades desejadas e indesejadas é um passo elementar, que nos leva a uma consciência crítica sobre as engrenagens da vergonha.
Conexão com o outro
“Nós nos curamos por meio da conexão com o outro”, sentencia Brown, nessa que é uma das frases-chaves do livro. É um elo com o pensamento empático, claro. Para a pesquisadora, as necessidades básicas das pessoas são semelhantes, apesar das incontáveis diferenças possíveis entre elas. “Todas nós travamos batalhas ocultas e silenciosas contra a ideia de não ser suficientemente capaz, de não ter o suficiente e de não ser boa o suficiente para ser acolhida”, escreve.
Ao compartilhar nossas histórias de vergonha descobrimos a universalidade de angústias que antes julgávamos ser só nossas. “Quando buscamos os outros e dividimos histórias, aumentamos o poder e o potencial de criar mudança”, acrescenta. Ela mesma lembra que não é fácil pedir a alguém que nos ouça e não é fácil ser aquele que escuta, mas a nossa capacidade de transformação mais profunda está necessariamente vinculada ao outro.
Fale sobre ela
Para além da escuta, é preciso falar sobre a vergonha, dar nome aos sentimentos que nos impedem de seguir, ter consciência. Isso nos permite dizer aos outros como nos sentimos e pedir ajuda, requisitos básicos para a resiliência e a conexão.