Estamos em meio a um evento crucial na
evolução da consciência humana, mas isso não
vai aparecer no noticiário da TV hoje à noite.
– Eckhart Tolle, guru de autoajuda
Quando você abre a cabeça, entra o lixo.
– Meat Puppets, banda de punk-rock country
Nota do Autor
Convenientemente para mim, a maioria dos eventos descritos neste livro foram gravados por câmeras de TV ou pelo aplicativo de registro de áudio do meu iPhone. As conversas que não tinham sido gravadas foram reproduzidas de memória e, na maioria dos casos, submetidas à aprovação das pessoas envolvidas. Em alguns trechos, limpei um pouco os diálogos para tornar a leitura mais fluida, ou para dar a impressão de que sou mais inteligente.
Prefácio
Inicialmente, pensei em intitular este livro de A voz dentro da minha cabeça é uma idiota. No entanto, esse título não seria apropriado para um autor cujo emprego exige respeito aos padrões de linguajar e decência.
Mas é verdade. Às vezes a voz dentro da minha cabeça é um saco. Aposto que a sua também é assim. Em geral, ficamos tão envolvidos pela conversa incessante que temos com nós mesmos que nem percebemos a existência dessa voz manipuladora. Eu certamente não percebia – até embarcar na estranha odisseia que descreverei neste livro.
Vamos deixar uma coisa clara: não estou falando de “escutar vozes”. Estou me referindo à voz do nosso narrador interno, a parte mais íntima de nossa vida. Essa voz começa a berrar assim que abrimos os olhos pela manhã e continua buzinando comentários desagradáveis ao longo do dia. Ela desfia uma lista interminável de urgências, desejos e condenações. Está sempre concentrada no passado ou no futuro, nunca foca o aqui e agora. É ela que nos leva a abrir a geladeira quando não estamos com fome, a explodir de raiva quando sabemos que isso só vai piorar as coisas e a continuar olhando para o computador ou para o celular enquanto conversamos com outra pessoa. Mas claro que essa voz interior não é sempre ruim. Às vezes ela é criativa, generosa ou engraçada. Mas, se não prestarmos atenção, ela pode se transformar num ventríloquo malévolo.
Se, no dia em que cheguei a Nova York para começar minha carreira em telejornalismo, você dissesse que eu acabaria usando a meditação para neutralizar o poder da voz dentro da minha cabeça (ou que um dia escreveria um livro sobre isso), eu teria rido na sua cara. Até pouco tempo, meditação para mim era coisa apenas de mestres indianos de barbas longas e hippies que não gostam de tomar banho. Além disso, como minha capacidade de concentração é semelhante à de um filhote de labrador, deduzi que jamais seria capaz de praticá-la. Diante do turbilhão constante de meus pensamentos, “clarear a mente” não parecia uma opção possível.
Então aconteceu uma estranha e inesperada série de eventos, envolvendo zonas de guerra, igrejas evangélicas, gurus de autoajuda, Paris Hilton, Dalai Lama e 10 dias de silêncio que, de uma hora para outra, deixaram de ser a experiência mais chata para se tornar a mais profunda da minha vida. Como resultado de tudo isso, compreendi que meus conceitos sobre a meditação estavam completamente equivocados.
A meditação tem um sério problema de marketing, em grande parte porque seus principais expoentes falam como se estivessem o tempo todo acompanhados por uma flauta. Mas, se você conseguir ignorar isso, vai descobrir que a meditação é simplesmente um exercício para o cérebro. É uma técnica muito eficaz para impedir que a voz dentro da sua cabeça assuma o controle. Claro que não é nenhuma cura milagrosa. Não vai torná-lo mais inteligente ou mais bonito, nem resolver todos os seus problemas. Ignore os livros e os gurus que prometem iluminação imediata. Pela minha experiência, afirmo que a meditação pode tornar você 10% mais feliz. É uma estimativa nem um pouco científica, obviamente. Mesmo assim, é um bom retorno para o seu investimento.
Depois de aprender a meditar, a prática vai criar espaço em sua cabeça para que, quando estiver furioso ou irritado, você tenha menos propensão a morder a isca e perder as estribeiras. Aliás, há diversos estudos científicos que comprovam isso – incluindo ressonâncias magnéticas coloridas que demonstram que a meditação é capaz de reorganizar os mecanismos do cérebro.
Essas pesquisas desafiam a crença comum de que nossos níveis de felicidade, resiliência e bondade são determinados quando nascemos. Muitas pessoas acreditam que jamais estarão livres dos traços mais difíceis de sua personalidade – como agressividade, timidez ou tristeza –, pois eles são imutáveis. Felizmente, hoje sabemos que muitos dos atributos que mais valorizamos são, na verdade, habilidades que podem ser aprendidas e aperfeiçoadas da mesma forma que se desenvolve a musculatura numa academia de ginástica.
Descobertas como essa nos enchem de esperança e conseguem atrair um novo perfil de praticantes – hoje vemos executivos, atletas e até militares usando a meditação para melhorar o foco, reduzir o vício em tecnologia e controlar suas emoções. Há quem
considere a meditação a “nova cafeína”. Suspeito que, se ela pudesse ser despida de toda a sua plumagem espiritual, seria mais atrativa para tantas outras pessoas inteligentes, céticas ou ambiciosas que a evitam por acreditar que se trata de uma prática esotérica.
Nos últimos quatro anos, tenho testado a eficácia da meditação em um dos ambientes mais competitivos que se pode imaginar: a TV. E pude comprovar que funciona. Mais do que isso, ela pode trazer uma vantagem real – e torná-lo uma pessoa melhor nesse processo. Como você verá, cometi alguns erros embaraçosos ao longo do caminho. Mas, ao conhecer a minha experiência, você poderá evitá-los.
O que pretendo fazer neste livro é desmistificar a meditação e mostrar que, se deu certo para mim, pode dar certo para você também. E a melhor forma de ilustrar isso é lhe dar “acesso exclusivo” à voz dentro da minha cabeça. Todos nós lutamos para conseguir um equilíbrio entre a imagem que mostramos ao mundo e a nossa realidade interior. Isso é especialmente difícil para um apresentador de telejornal, cujo trabalho exige projetar sempre calma, confiança e – quando apropriado – alegria. Na maior parte do tempo, minha aparência externa é autêntica; geralmente sou um cara feliz e tenho consciência de quanto sou afortunado. Mas é claro que há momentos em que minha realidade interior é mais sombria. E, para que este livro tenha o efeito desejado, vou colocar uma lente de aumento diretamente sobre essas situações difíceis.
A história começa durante um período em que minha voz interior ficou fora de controle. Foi bem no início da carreira; eu era um repórter novato, ávido e curioso que acabou se deixando levar pela ambição – e tudo culminou no momento mais humilhante de toda a minha vida.