Superintestino | Sextante

Superintestino

William Davis, M.D.

Descubra como restaurar seu microbioma para fortalecer sua saúde, regular seu peso e melhorar seu humor

Descubra como restaurar seu microbioma para fortalecer sua saúde, regular seu peso e melhorar seu humor

O consagrado autor de Barriga de trigo mostra como a restauração do microbioma pode melhorar sua saúde, seu peso e até mesmo seu humor.

Superintestino revela que quase todos os aspectos da saúde são influenciados pela vasta gama de organismos microscópicos que vivem dentro de nós, e podemos usar isso a nosso favor.” — David Perlmutter, autor de A dieta da mente

“A medicina do microbioma é essencial para a prevenção de doenças, a vitalidade e a longevidade.” – Dr. Raphael Kellman, fundador da medicina do microbioma

 

 

Depois do sucesso de Barriga de trigo e ao perceber que seu plano poderia render ainda mais benefícios, William Davis deu um passo além e se aprofundou em sua abordagem.

Por meio de estudos e pesquisas, descobriu que o consumo de alimentos ultraprocessados e o uso excessivo de antibióticos e de pesticidas provocam a perda de inúmeras bactérias fundamentais para o bom funcionamento do sistema digestivo.

Esses microrganismos vêm sendo substituídos por bactérias nocivas ao corpo humano. Como resultado, muitos de nós perdemos o controle sobre a saúde, o peso, o humor e até o comportamento.

A boa notícia é que é possível reverter esse quadro.

Este livro traz um plano alimentar capaz de promover a restauração do microbioma e melhorar os níveis do hormônio da felicidade, combater o envelhecimento e promover um sono reparador.

Além disso, inclui mais de quarenta receitas para recuperar o seu trato gastrointestinal e recursos para ajudar você a identificar os próprios problemas intestinais, corrigi-los e manter sua saúde e seu bem-estar.

Compartilhe: Email
Ficha técnica
Lançamento 06/10/2022
Título original Super Gut
Tradução Carolina Simmer
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 368
Peso 350 g
Acabamento Brochura
ISBN 978-65-5564-456-2
EAN 9786555644562
Preço R$ 59,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-65-5564-457-9
Preço R$ 34,99
Ficha técnica audiolivro
ISBN 9786555645699
Duração 10h 51min
Locutor Guilherme Maciel
Lançamento 06/10/2022
Título original Super Gut
Tradução Carolina Simmer
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 368
Peso 350 g
Acabamento Brochura
ISBN 978-65-5564-456-2
EAN 9786555644562
Preço R$ 59,90

E-book

eISBN 978-65-5564-457-9
Preço R$ 34,99

Audiolivro

ISBN 9786555645699
Duração 10h 51min
Locutor Guilherme Maciel
Preço US$ 7,99

Leia um trecho do livro

Introdução

Dr. Frankenstein: “Sabe, não quero envergonhá-lo, mas sou um cirurgião muito brilhante. Talvez eu possa ajudá-lo com essa corcunda.” Igor: “Que corcunda?”

O jovem Frankenstein, 1974

 

 

No romance Frankenstein, de Mary Shelley, o Dr. Victor Frankenstein se utiliza de experimentos atrapalhados e da costura grosseira de partes do corpo eletrizadas para dar vida a uma aberração da natureza, um monstro parcialmente humano de aparência terrível, que foge e aterroriza a vizinhança. Ninguém aqui pretende costurar cabeças e braços a torsos nem submeter órgãos a 220 volts para trazê-los de volta à vida. Pelo contrário, nos últimos cerca de 50 anos vem ocorrendo uma alquimia peculiar na saúde humana que tem criado uma nova gama de horrores em uma era de avanços médicos sem precedentes – pelo menos era nisso que muitos de nós acreditávamos. Então surpreende ainda mais o fato de que só agora um universo de criaturas primitivas que ocupa a área diretamente abaixo do nosso diafragma, atrás do umbigo, porém fora da nossa percepção consciente – e também da dos médicos –, seja visto como um fenômeno extremamente importante para a saúde humana.

Em 2011, no primeiro livro de vários relativos ao Barriga de trigo, descrevi como cientistas agrícolas e fazendeiros modificaram aquilo que chamamos de “trigo”, transformando uma linhagem que costuma medir 1,5 metro em outra com 45 centímetros, com caules grossos e sementes grandes, uma mudança que exigiu milhares de experimentos genéticos. O resultado geneticamente modificado de fato possibilitou um maior aproveitamento das lavouras, permitindo que os fazendeiros colhessem bem mais sacas por hectare do que antes, com as espécies originais. Com o aumento nas safras, foi possível ajudar a alimentar países em desenvolvimento assolados pela fome. Entretanto, essa nova lavoura de trigo também causou uma série de efeitos inesperados nos humanos que o consumiam, incluindo estímulo do apetite, ataques de epilepsia do lobo temporal, seborreia e até um aumento de 400% nos diagnósticos de doença celíaca. Diabetes dos tipos 1 e 2, antes raras, tornaram-se comuns, e os humanos que costumavam comer para viver se transformaram em uma população com apetite afoito por rodízios de comida. As consequências do consumo do trigo moderno são tão destrutivas e tão anormais que passei a chamá-lo de “Frankengrão”.

Descobri que a retirada dos Frankengrãos da dieta promove benefícios enormes para a saúde, e frequentemente até muda vidas. Milhares de pessoas perderam peso e transformaram sua vida sem fazer esforço, voltando a ter a barriga chapada da década de 1950 e se livrando de várias doenças modernas. Ainda assim, grande parte delas fez relatos como este: “Perdi 21 quilos sem nenhum esforço e parei de sentir fome o tempo todo. Não estou mais pré-diabético e deixei de tomar dois comprimidos para o controle da pressão arterial. Minha artrite reumatoide melhorou em uns 70% e consegui interromper o uso da injeção que eu tomava todo mês e custava muitos dólares. Mas continuo tendo crises e precisei voltar a tomar esteroides e naproxeno.” Em outras palavras, a retirada dos Frankengrãos da dieta e o acréscimo do punhado de suplementos nutricionais que recomendei, que eliminaram problemas como a resistência à insulina, não resolveram todas as questões de saúde das pessoas. Algumas relataram perder, por exemplo, 30 quilos, faltando perder só mais 10 – mas ficavam com o peso estagnado mesmo seguindo o programa à risca. O estilo de vida Barriga de Trigo inclui esforços básicos para recultivar espécies microbianas saudáveis no trato gastrointestinal (GI), isto é, o microbioma intestinal, mas alguma coisa continuava faltando.

A comunidade Barriga de Trigo é grande, internacional, e demonstra bastante comprometimento e empolgação, sendo também uma comunidade colaborativa, na qual todos nós compartilhamos experiências e buscamos respostas melhores sobre como alcançar sucesso absoluto para finalmente solucionar problemas residuais de saúde. Na prática, a comunidade é um compartilhamento coletivo de sabedoria, com centenas de milhares de pessoas procurando soluções para questões parecidas. (Não se preocupe: se você ainda não conhece as estratégias do estilo de vida Barriga de Trigo, que, apesar de não esgotar o assunto, continua sendo muito poderoso, explicarei os princípios ao longo deste livro, além de introduzir novas e poderosas estratégias para você desenvolver um Superintestino.)

Nas últimas décadas, para além da experiência Barriga de Trigo, uma infinidade de pesquisas deixou claro que questões mentais e emocionais comuns – como depressão, isolamento social, ódio, ansiedade e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) – podem ser associadas a distúrbios no microbioma intestinal. Também ficou evidente que condições de saúde aparentemente sem qualquer associação, como obesidade, condições autoimunes e doenças degenerativas, podem estar associadas a mudanças infligidas aos micróbios que vivem sob nosso diafragma. Como tenho interesse pessoal em aprimorar a saúde e a performance humana e em fazer com que as pessoas dependam menos do sistema de saúde, perguntei-me se esses distúrbios no microbioma poderiam explicar a persistência de doenças nos seguidores dos meus programas. Seguindo essa lógica, encontrei provas de micróbios perdidos, espécies bacterianas que podem ter desaparecido do microbioma humano moderno. E, de fato, descobri vários candidatos que, ao serem devolvidos para o intestino humano, renderam melhorias impressionantes na saúde e até na aparência física.

Por outro lado, também descobri que o desaparecimento de vários micróbios essenciais não explicava todos os problemas persistentes. Sinais de uma resposta mais abrangente surgiam na comunidade Barriga de Trigo enquanto as pessoas continuavam a reclamar de dificuldade para dormir, dores constantes nas articulações, mesmo após sentirem um alívio parcial com a eliminação de trigo e grãos cereais, e intolerâncias alimentares persistentes desde antes do programa Barriga de Trigo. Por que tantas pessoas têm intolerância a alimentos corriqueiros, como tomate, feijão e amendoim? Ao me aprofundar na ideia de que os microbiomas abalados também poderiam ser responsáveis por esses fenômenos, ficou cada vez mais claro que eu encontraria as respostas nesse universo microscópico. Então avanços adicionais, como um aparelho controlado por smartphone capaz de detectar a produção de gás microbiano expirado no hálito, bateram o martelo: as respostas viriam do microbioma.

Eu queria descobrir formas de desenvolver o poder de um microbioma saudável além do habitual “Tome um probiótico e coma muitas fibras”. Queria não apenas resolver os problemas de saúde residuais das pessoas, mas também apresentar maneiras de elas darem um impulso na saúde para alcançar novos patamares de autonomia diária.

Não me resta qualquer dúvida de que os estilos de vida modernos abalaram a composição dos micróbios no trato GI humano e de que esse desequilíbrio é o culpado pelos problemas de saúde residuais que a comunidade Barriga de Trigo e outros ainda possuem. Os fatores do estilo de vida moderno que prejudicam nosso ecossistema interno também são responsáveis por uma longa lista de problemas de saúde – nenhum sistema no corpo é imune aos efeitos desse monstro que criamos, chamado de microbioma humano moderno. O microbioma dos nossos ancestrais caçadores-coletores, bem como o das pessoas há apenas 50 anos, era muito diferente do atual. Uma mistura de fatores associados à vida moderna – desde alimentos processados até medicamentos inibidores de acidez estomacal – criou um intestino que quase nem é mais humano; é algo que chamo de “Frankenbarriga” – que é tão destrutiva para nossa saúde quanto o Frankengrão, talvez até mais. A Frankenbarriga causa horrores graves: de síndrome do intestino irritável e constipação a colite ulcerativa e doença de Crohn; de síndrome do ovário policístico e câncer de cólon a depressão e desespero; de isolamento social a pensamentos suicidas. Tudo isso é consequência de algo que nós, enquanto sociedade e indivíduos, criamos: uma Frankenbarriga de distúrbios no microbioma.

Agora, precisamos saber como matar esse monstro e ressuscitar algo mais parecido com a condição humana natural. Infelizmente, a comunidade médica não é muito preparada para lidar com doenças resultantes de um microbioma abalado, que dirá para compreender suas causas. Em vez de lidar com a proliferação das bactérias e dos fungos prejudiciais à saúde que são responsáveis por gerar emoções sombrias, ansiedade e impulsos suicidas, os médicos prescrevem medicamentos para combater a depressão e a ansiedade na tentativa de bloquear seus efeitos. Em vez de buscar os micróbios errantes que fundamentam condições como hipertensão arterial e fibrilação atrial, eles prescrevem medicamentos que reduzem a pressão arterial e suprimem os ritmos cardíacos anormais. Em vez de decifrar os distúrbios microbianos que causam ganho de peso e diabetes tipo 2, recorrem a cirurgias gástricas e reguladores de glicemia. Todos esses esforços convencionais, porém equivocados, da medicina também cobram um preço e são acompanhados por longas listas de efeitos colaterais. Tenho certeza de que você consegue perceber que a compreensão de todo o caos microbiano infligido aos humanos modernos vai virar nossos conceitos sobre saúde e doenças de cabeça para baixo. As soluções também vão mudar – com certeza precisaremos de novas ferramentas além daquelas disponibilizadas pelos receituários médicos.

Devemos reconstruir o âmago microbiano de nossa saúde para nos tornarmos livres de doenças, rejuvenescermos e recuperarmos a qualidade de vida. E quer saber de uma coisa? Os benefícios que conseguiremos colher ao restaurar o microbioma humano saudável irão além de perder peso ou acabar com o refluxo, por exemplo. As estratégias que vou compartilhar também podem trazer uma pele melhor, cicatrizações mais rápidas e o aumento da empatia com os outros – vantagens que você provavelmente nem desconfiava que vinham do seu universo microbiano interior. Primeiro precisamos restabelecer a ordem nessa bagunça monstruosa que criamos, e então mostrarei como cultivar um Superintestino.

 

PARE DE EMPURRAR COM A BARRIGA

Se você pudesse perguntar a um organismo como o Escherichia coli (E. coli) “Qual é o propósito da vida humana?”, ele responderia, é claro: “Sustentar a mim e aos meus colegas micróbios.” Talvez você acredite que a sua vida tem um propósito maior, mas, sob o ponto de vista do interior do seu cólon ou duodeno, você não passa de uma fábrica de micróbios.

Todos os seres vivos neste planeta têm um microbioma único e especial: aranhas e mosquitos, esquilos e macacos, trutas e tartarugas. Da mesma forma, os seres humanos têm um microbioma que só existe em nossa espécie, mas que é diferente em cada indivíduo. No entanto, as práticas da vida moderna – compras no supermercado e consumo de fast-food em vez de caçar ou colher a próxima refeição, tomar um banho de ducha quente em vez de mergulhar em um lago ou rio, tomar antibióticos para uma sinusite em vez de aguentar firme até que passe – ajudam a causar alterações cataclísmicas na composição e na localização dos micróbios que abrigamos dentro do nosso corpo e sobre ele.

Apesar de não terem nomes e endereços nem poderem curtir nosso perfil no Facebook, os microrganismos habitantes do trato GI têm um papel crucial em fenômenos tão diversos quanto seu nível de otimismo, o aspecto da sua pele, seu nível de energia, sua empatia com outras pessoas e sua vida amorosa. Eles influenciam até o progresso do seu envelhecimento e a quantidade de tempo que você vive.

Os trilhões de criaturas bacterianas e fúngicas que habitam seu trato GI têm um papel importante no filme da sua vida. Mesmo que você tenha hábitos saudáveis e esteja livre de condições modernas como a diabetes e a obesidade, as criaturas que formam seu microbioma ainda podem determinar se você vai sucumbir ao desamparo da doença de Alzheimer ou se chegará a apagar 105 velas no seu bolo de aniversário, cercado por seus tataranetos, com sua capacidade mental e as lembranças do encontro com os amigos na última quinta-feira intactas. Poucas coisas neste mundo têm um papel tão fundamental e ainda permanecem anônimas.

Não faz muito tempo que acreditávamos que os micróbios residentes no corpo humano são importantes apenas por causarem infecções. No entanto, o uso de antibióticos, que massacrou o equilíbrio microbiano das pessoas no último século, revela que vários microrganismos são realmente necessários para a saúde. As espécies de bactérias que habitam o trato GI, por exemplo, produzem vitaminas B como folato e B12, aumentam a sensação de amor por parentes e amigos e estimulam sonhos vívidos e coloridos durante a fase restauradora REM (movimento rápido dos olhos) do sono, que são componentes essenciais para uma boa saúde mental.

Gostando ou não, todos nós estamos sob a influência profunda de trilhões de criaturas microscópicas anônimas. Até 10 anos atrás, quem teria imaginado que essa coleção de microrganismos seria capaz de determinar se você desenvolverá doença de Parkinson, prever em quanto tempo uma ferida vai curar ou estabelecer se é possível tolerar os defeitos e as manias do seu cônjuge? É desconcertante pensar que criaturas microscópicas podem fazer a diferença entre escrever um livro digno de um Prêmio Nobel de Literatura ou abrir fogo contra uma igreja lotada. Mas esse é o poder impressionante que a população de micróbios carrega, um universo de vida que pode trabalhar a nosso favor – ou contra nós.

Por sorte, podemos superar muitas das dificuldades de saúde associadas a um microbioma conturbado tendo uma alimentação mais saudável, tratando deficiências nutricionais comuns e restaurando espécies de bactérias mais saudáveis no trato GI depois de removidos os micróbios indesejados.

Mas e uma pessoa que, após acumular todos os distúrbios microbianos de anos anteriores, agora apresenta um caso desastroso de superpopulação bacteriana e fúngica descontrolada? Todos os fatores disruptivos modernos permitem a proliferação de espécies bacterianas e fúngicas em nosso corpo, com maior concentração no trato gastrointestinal, uma situação chamada de “disbiose”. A disbiose limitada ao cólon, isto é, ao último 1,5 metro do trato GI, pode, por exemplo, causar colite ulcerativa e câncer de cólon. Mas pode acontecer de espécies de bactérias prejudiciais à saúde subirem pelo cólon, onde deveriam ficar, e chegarem ao íleo, jejuno, duodeno (partes do intestino delgado) e estômago, situação chamada de supercrescimento bacteriano no intestino delgado, ou SIBO na sigla em inglês. Os distúrbios nas populações bacterianas que causam SIBO com frequência também permitem que espécies fúngicas proliferem e subam pelo trato GI para habitar lugares aos quais não pertencem, condição chamada de supercrescimento fúngico no intestino delgado (SIFO na sigla em inglês). Infelizmente, é mais regra do que exceção que médicos não reconheçam essas situações e “tratem” as várias doenças mais visíveis que elas causam. É possível encontrar casos de pessoas com SIBO não diagnosticado que sofrem de diverticulite, tireoidite de Hashimoto ou câncer de cólon, por exemplo, e que acabam com uma lista enorme de medicamentos para tomar e são até submetidas a procedimentos médicos invasivos, como cirurgias para remoção da vesícula biliar ou para perda de peso. No entanto, se o SIBO ou o SIFO forem detectados no começo e revertidos – e o microbioma saudável for restaurado –, muitas das condições crônicas que os acompanham irão embora diante da boa saúde em simbiose com um universo microbiano interno equilibrado.

O segredo, portanto, é prestar muita atenção em todos os sinais e consequências de disbiose, SIBO e SIFO, e então tomar providências para solucionar essas condições. Eu mostrarei quais os indicadores dessas disfunções, como confirmar sua presença e como lidar com elas. Não é o fim do mundo. Vou além e mostro como levar seu programa de cura a outro patamar para que você possa se olhar no espelho e sentir orgulho daquilo que vê, impressionar seu médico com a qualidade superior da sua saúde e responder a todas as perguntas de pessoas que desejarão saber por que e como sua aparência ficou tão boa: esbelta, tonificada, musculosa, com pele viçosa e firme, raciocínio rápido e libido completamente intacta. Compreender e restabelecer a ordem de seu universo microbiano – mudar a composição dessa população, limitar onde ela pode viver e reduzir o fluxo de seus subprodutos tóxicos – causa uma avalanche de boa saúde, perda de peso e rejuvenescimento.

Vamos embarcar em uma jornada que permitirá que você encontre respostas para perguntas que podem ter deixado médicos empacados por ignorarem o fato de que você perdeu micróbios essenciais e os substituiu por uma série de espécies que fazem mal à saúde. Enquanto eles continuam prescrevendo um monte de remédios para tratar os sintomas de um microbioma prejudicado, oferecendo conselhos como “mais exercício, menos comida” e culpando o paciente por fraqueza moral, gula ou uma genética ruim, você aprenderá a reconhecer e a lidar com essa troca microbiana e então seguirá seu caminho rumo a uma saúde excelente.

Tire a poeira da sua iogurteira, cancele a sessão de botox e puxe uma cadeira, porque estamos prestes a iniciar uma jornada bacteriana que mudará o rumo da sua vida. Vamos começar entrando em detalhes sobre como e por que tantas coisas deram errado para o microbioma humano.

 

PARTE I

Melancolia intestinal

 

 

1

O intestino revirado

Você pode, de muitas formas, ser bem parecido com seus pais e avós. Talvez tenha herdado o cabelo cacheado de sua mãe ou a repulsa de seu avô por coentro. Mas, ao contrário da genética, que determina características como textura capilar e preferências alimentares, o microbioma que você carrega no intestino não é o mesmo de seus ancestrais ou das gerações de humanos que os precederam. Ele é diferente até do microbioma de seus pais e avós. A coleção de micróbios que você carrega dentro de si mudou tanto de uns tempos para cá que se tornou quase irreconhecível.

Como pessoas que vivem no século XXI, testemunhamos mudanças climáticas preocupantes: a acidificação das águas dos oceanos, a redução de recifes de corais, o derretimento de calotas polares, secas extremas, incêndios florestais, inundações – tudo isso acontece, é claro, sob a influência do ser humano.

Se nós somos capazes de afetar oceanos e calotas polares, será que também não podemos introduzir mudanças desastrosas nos 9 metros de ecossistema do nosso trato gastrointestinal? Sem dúvida. Uma catástrofe ambiental parecida ocorreu de nossa boca para baixo. Não temos furacões, mas os esforços humanos alteraram drasticamente o ambiente microbiano interno, influenciando quais espaços são ocupados pelos micróbios e como seus subprodutos tóxicos poluem o corpo. Não é preciso correr para as montanhas, mas o que acontece no nosso intestino também é uma catástrofe.

O microbioma humano moderno tem pouquíssimas semelhanças com aquele de grupos isolados que mantêm o estilo de vida caçador-coletor na África e na América do Sul. Esses são alguns dos poucos povos que ainda seguem um estilo de vida semelhante ao que tivemos por milhões de anos, sem antibióticos e fatores modernos prejudiciais ao microbioma. Povos originários com estilo de vida tradicional apresentam espécies microbianas que não temos. É muito revelador observar que caçadores-coletores com esses microbiomas praticamente não apresentam úlceras estomacais, refluxo, hemorroidas, constipação, síndrome do intestino irritável, diverticulose, câncer de cólon ou outras condições – que antropólogos chamam de “doenças da civilização” – que costumam afligir pessoas das sociedades modernas.

Com o passar de milhares de gerações humanas, os microrganismos evoluíram para coexistir conosco, seus hospedeiros, em uma relação tão próxima e íntima que várias espécies de bactérias existem apenas no trato gastrointestinal humano e em mais nenhum outro lugar da Terra – nem em pântanos, embaixo de pedras ou em latas de lixo, mas somente nos 9 metros do trato GI humano. Essas criaturas encontraram um equilíbrio com a vida humana e passaram a morar dentro de nós.

Nas últimas décadas, porém, essa coexistência tranquila vem passando por uma grave perturbação. Algumas espécies foram perdidas – algo que os microbiologistas chamam de “o microbioma em extinção” –, outras antigas foram substituídas por novas, e os micróbios que costumamos associar a infecções agora dominam o microbioma de muita gente. E, em uma quantidade surpreendente de pessoas, os micróbios assumiram postos ao longo de todo o trato gastrointestinal, do começo ao fim, criando uma infecção de 9 metros de comprimento. Sinais dessa mudança de posicionamento podem ser tão persistentes e incômodos quanto crises de eczema ou uma depressão que não melhora independentemente dos medicamentos receitados pelo médico – e a origem do problema está vivendo e se reproduzindo por todo o seu trato GI.

As conveniências modernas nos distanciaram da luta brutal e desesperada que definiu a vida humana durante milhões de anos. Nós não cobrimos nossas costas e nossos pés com a pele dos animais que matamos, mas compramos roupas e sapatos produzidos em uma fábrica distante. A carne já chega abatida para nós. Compramos legumes embalados em sacos plásticos ou os comemos em um buffet de saladas e não os colhemos direto do local de origem. A forma como nos distanciamos dos abates e do contato com a terra criou um tempo presente limpíssimo, desinfetado e cheio de antibióticos e produtos químicos.

A conveniência, a comercialização de alimentos em massa e a falta de sangue e terra sob nossas unhas contribuíram para uma epidemia silenciosa, porém grave. Muitos de nós nascemos por cesarianas e fomos alimentados por fórmulas sintéticas que causaram alergias alimentares, obesidade e diverticuloses. Sobrevivemos a infecções urinárias ou pneumonia tomando antibióticos, apenas para desenvolver uma colite ulcerativa ou comportamentos compulsivos meses ou anos depois. Guardamos a comida na geladeira para prolongar sua validade, mas nos privamos do crescimento fértil de microrganismos que surgem naturalmente em alimentos fermentados e nos tornamos suscetíveis a rosácea e a doenças autoimunes da tireoide.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) acompanha condições do trato gastrointestinal e relatou um aumento alarmante nos casos de colite ulcerativa nos últimos anos naquele país – 50% a mais só entre 1999 e 2015.2 O câncer de cólon, que era uma doença de idosos, aflige cada vez mais pessoas na casa dos 30, 40 e 50 anos, um dos muitos sinais de alerta que mostram uma mudança drástica na saúde humana, provavelmente em função de alterações no microbioma.3

Uma vez que grande parte dos médicos desconhece essa situação epidemiológica, eles continuam a tratar os sintomas externos da disbiose com medicamentos convencionais – analgésicos, anti-inflamatórios, antidepressivos, estatinas para controlar o colesterol, estratégias de restrição alimentar – ou buscam manifestações avançadas em exames como colonoscopias, mas a condição básica permanece não identificada e sem tratamento. Uma vez que essa situação disbiótica não é reconhecida nem corrigida, condições como colite ulcerativa e câncer de cólon evoluem sem restrições, ao lado de outras consequências a longo prazo para a saúde.

 

O INTESTINO DELGADO ENTRA EM FOCO

Os distúrbios no microbioma encontrados na maioria dos humanos modernos frequentemente se restringem ao cólon, a última parada antes de nos despedirmos de vez dos restos indigeríveis de alimentos e micróbios que expelimos. No entanto, em muitas pessoas o problema se tornou pior. Quando espécies de bactérias prejudiciais à saúde dominam o cólon, elas podem seguir rumo ao norte, para colonizar o intestino delgado e acabar ocupando parte dos ou todos os mais de 7 metros dele, desde o íleo até o jejuno e o duodeno, além do estômago. Quando toda a extensão do intestino delgado é tomada, um total de 9 metros do trato GI pode ser ocupado por micróbios hostis. Como dá para imaginar, essa infestação enorme tem consequências gravíssimas para a saúde: mais inflamação intestinal, e mais micróbios patogênicos – trilhões – que vivem e morrem e criam um fardo de subprodutos tóxicos a partir dos restos dos micróbios moribundos.

O intestino delgado é como um ponto cego para a medicina, sobretudo por causa de sua inacessibilidade. Durante uma endoscopia alta, o gastroenterologista consegue visualizar o esôfago, o estômago e o duodeno, mas raramente continua pelo trato GI em razão das várias curvas e do tamanho do aparelho, que costuma ser limitado a pouco mais de 1 metro. Assim, o intestino delgado não é examinado. Da mesma forma, durante a colonoscopia, um colonoscópio de quase 2 metros é usado para visualizar o 1,5 metro do cólon até o ceco, um pequeno apêndice de fundo cego que marca o começo do cólon, e só. Isso significa que mais de 6 metros – um comprimento maior do que o de um carro – de intestino delgado entre o duodeno e o ceco não podem ser visualizados. Isso se mostrou um problema constante para determinar, por exemplo, a fonte de um sangramento no intestino delgado, que pode ser um vaso sanguíneo de 2 milímetros vazando a 3 metros do duodeno, 3 metros depois do ceco, e que é completamente inacessível por sonda.

Da mesma forma, acreditou-se por muitos anos que a disbiose é um fenômeno limitado ao cólon. A composição da flora intestinal costuma ser avaliada a partir de uma amostra de fezes, resíduos cuja composição é extremamente influenciada pelo microbioma do cólon. Entretanto, o intestino delgado está mostrando ser um centro de atividade dos micróbios, um participante importante do microbioma. Quando micróbios disbióticos do cólon passam pelo intestino delgado, eles criam as situações desagradáveis que definem o supercrescimento bacteriano (SIBO) e o fúngico (SIFO): espécies indesejáveis de bactérias e fungos que proliferam e sobem pelo intestino delgado.

O SIBO foi identificado há 80 anos, mas apenas por meio de exames minuciosos de partes cirurgicamente removidas do intestino delgado ou em autópsias, então se acreditava que era uma situação incomum, presente apenas em pessoas que sofriam de doenças intestinais graves ou fatais. A disponibilização do teste respiratório (entrarei em detalhes sobre isso mais adiante, falando inclusive sobre testes caseiros) – uma técnica recomendada por pesquisadores como o Dr. Mark Pimentel, especialista em SIBO do Cedars-Sinai Medical Center em Los Angeles –, que basicamente mapeia a localização dos micróbios no trato GI, simplificou a capacidade de identificar o SIBO, superando as limitações dos exames de fezes e por sonda. Nos últimos 10 a 15 anos, o teste respiratório mudou a forma como encaramos o SIBO: sabe-se agora que ele é mais comum do que se imaginava.

Na verdade, eu argumento neste livro que o SIBO é tão difundido e comum que a quantidade de pessoas afetadas por ele é maior do que a de vítimas da epidemia de diabetes tipo 2 e pré-diabetes, e isso acontece debaixo do nariz dos médicos, mas nunca é mencionado em manchetes, hospitais ou programas de bem-estar no ambiente de trabalho. Acredito que, hoje, o SIBO é tão generalizado que alcança todos os níveis sociais, independentemente de localização, gênero, renda ou idade. Se você usa sapatos ou escova os dentes, é bem provável que sofra desse problema e que ele esteja afetando sua saúde, restringindo suas atividades diárias e limitando suas esperanças de se sentir bem.

O SIBO se manifesta de várias formas surpreendentes. Ele e, em menor grau, o SIFO podem se manifestar como as dores da fibromialgia, a urgência da síndrome do intestino irritável, o incômodo noturno da síndrome das pernas inquietas, cálculos biliares, intolerâncias e alergias alimentares, erupções cutâneas, isolamento social e sentimentos de ódio, ansiedade e depressão, além de centenas de outras condições de saúde e situações sociais. Esses distúrbios microbianos podem causar complicações em pessoas com diabetes tipo 2, obesidade, epilepsia e doenças cardíacas e autoimunes. E também podem se manifestar como fenômenos diários, como ansiedade, eczema, insônia, constipação e cólicas menstruais muito dolorosas. Um número cada vez maior de evidências mostra que o autismo e os ciclos menstruais prematuros podem ser resultado desses desequilíbrios microbianos. Quando você aprender a reconhecer os sinais, começará a compreender que as questões de saúde de todos precisam ser observadas sob a lente dessas condições onipresentes.

O exame de partes cirurgicamente removidas de intestinos delgados com SIBO mostra que a presença de quantidades excessivas de espécies prejudiciais de bactéria inflama a parede intestinal e ocasionalmente provoca úlceras (uma ruptura na membrana mucosa), diminui a capacidade das vilosidades intestinais de absorver nutrientes e atrapalha o processo digestivo, causando diarreia e uma absorção ineficiente. A má digestão de gorduras e proteínas é especialmente comum, resultando em alguns dos sinais reveladores que vou discutir, como observar gotas de gordura no vaso sanitário após movimentações intestinais, indicando que micróbios prejudiciais bloquearam o processo da digestão de gordura no intestino delgado.

Como os humanos, bactérias e fungos vivem e morrem. Apesar de seus parentes não organizarem funerais nem erguerem lápides sobre seus túmulos, seus ciclos de vida, diferentemente das nossas várias décadas, são medidos em horas e dias, refletindo uma rotatividade altíssima. Com tantas vidas e mortes circulando pelo seu trato GI, envolvendo trilhões de criaturas, para onde vão esses restos mortais? Sem testamento nem propriedades para serem divididas, os resquícios de trilhões de micróbios são reciclados por outros micróbios, metabolizados por você ou descartados no vaso sanitário. Na disbiose, porém, alguns restos invadem a corrente sanguínea e acabam sendo “exportados” para outras partes do corpo. Em 2007, um grupo de pesquisadores franceses relatou esse fenômeno grave. Eles denominaram essa inundação de decomposição bactericida tóxica de “endotoxemia metabólica”, e foi descoberto que ela está por trás de várias condições modernas de saúde, sobretudo as motivadas por inflamação, como diabetes tipo 2, cardiopatias e doenças neurodegenerativas.4 Os maiores motivadores da endotoxemia são os lipopolissacarídeos, ou LPS, que se originam das paredes celulares de organismos como Escherichia coli (E. coli) e Klebsiella, habitantes comuns do cólon e das fezes. Quando esses micróbios morrem, o conteúdo de suas paredes celulares é liberado, e, se a integridade da parede intestinal tiver sido comprometida por espécies patogênicas, os LPS conseguem atravessar essa barreira rompida e chegar até o sangue. As consequências da endotoxemia são especialmente poderosas quando todos os 9 metros do trato GI estão cheios de micróbios prejudiciais.

Como os vasos sanguíneos que alimentam o trato GI fazem parte do sistema porta hepático que leva ao fígado, esse órgão é o primeiro a receber a enchente de toxinas microbianas. O sangue que circula para fora de um trato GI com SIBO contém níveis de LPS até 10 vezes maiores do que os presentes em um trato GI saudável. Depois de passar pelo fígado, as toxinas microbianas entram na grande circulação, que flui para todos os outros órgãos. Os trilhões de bactérias e fungos que habitam a extensão do trato GI impactam, dessa forma, o corpo inteiro. Isso explica como a proliferação microbiana no trato GI pode se manifestar, por exemplo, como gordura no fígado inflamado, rosácea na pele, declínio cognitivo progressivo da demência ou movimentos incessantes da síndrome das pernas inquietas – fenômenos que ocorrem bem longe de sua origem microbiana. A medicina moderna é útil para eliminar de forma mecânica a fonte de ritmos cardíacos anormais ou diminuir a dor de músculos e juntas causada pela fibromialgia, mas não consegue lidar com a proliferação microbiana e a endotoxemia que causam, ou pelo menos pioram, essas condições.

No entanto, ao classificarmos essas situações como “SIBO” e “SIFO”, acabamos subestimando os distúrbios que elas causam à saúde. Em vez de “supercrescimento bacteriano no intestino delgado”, deveríamos chamá-lo apenas de “supercrescimento bacteriano”, porque seus efeitos se espalham para bem longe desse órgão. Apesar de não ser tão comum quanto o bacteriano, o supercrescimento fúngico também envolve a proliferação e a expansão de espécies de fungo que, como as bactérias, levam seus efeitos para fora do intestino delgado (falaremos sobre o supercrescimento fúngico no Capítulo 7).

LEIA MAIS

William Davis, M.D.

Sobre o autor

William Davis, M.D.

WILLIAM DAVIS, M.D., é um renomado cardiologista. Graduado pela Escola de Medicina da Universidade de St. Louis, com especialização em medicina interna e doenças cardiovasculares, possui treinamento avançado em angioplastia na Universidade Case Western Reserve, onde também atuou como diretor na área de Medicina Cardiovascular e professor adjunto. É autor do best-seller Barriga de trigo e de vários outros livros, entre eles Saúde total e Undoctored. Mora em Milwaukee, Wisconsin.

VER PERFIL COMPLETO

Assine a nossa Newsletter

Administração, negócios e economia
Autoajuda
Bem-estar, espiritualidade e mindfulness
Biografias, crônicas e histórias reais
Lançamentos do mês
Mais vendidos
Audiolivros
Selecionar todas
Administração, negócios e economia Lançamentos do mês
Autoajuda Mais vendidos
Bem-estar, espiritualidade e mindfulness Biografias, crônicas e histórias reais
Audiolivros Selecionar todas

Sobre o uso de cookie neste site: usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.