Continuação de “As cinco pessoas que você encontra no céu”, livro conta a jornada de Annie após a morte. Ela é acolhida por personagens que fizeram parte da sua história e aprende importantes ensinamentos
“A próxima pessoa que você encontra no céu” começa com a morte de Annie, à beira dos 31 anos, no dia do seu casamento. Se você já leu “As cinco pessoas que você encontra no céu”, além de conhecer a personagem, sabe que para o escritor Mitch Albom o fim é apenas um fio de uma história muito mais extensa e complexa. Anne foi apresentada pela primeira vez como a garotinha salva por Eddie, o mecânico do parque de diversões Ruby Pier. O trabalhador, então com 83, morre no acidente e repassa sua trajetória no céu, onde – como o título da publicação de 2003 entrega – encontra cinco pessoas que fizeram parte da sua trajetória. Elas o ajudam a redimensionar a vida na Terra. A obra, um sucesso de vendas, é repleta de ensinamentos e revelações, marcas mantidas nesta sequência, lançada 15 anos depois.
A emoção que leva à reflexão
Albom sabe conduzir histórias emotivas cuja leitura proporciona reflexões, como provou também em “A última grande lição”. Aqui, ele se arrisca, pela primeira vez, numa continuação e mostra o crescimento daquela menina de 8 anos do livro anterior, agora uma enfermeira. Anne se casa com Paulo, amigo de longa data com quem se reencontrou após perder o contato na adolescência. No grande dia, vestida de noiva, ela vê Eddie, embora não o reconheça e tampouco saiba que é um homem morto. “Quando a morte está próxima, os véus entre este mundo e o outro se abrem. Céu e Terra se sobrepõem. Quando isso acontece, é possível vislumbrar algumas almas que já partiram”, conta o narrador dessa história.
O leitor acompanha os últimos instantes de vida de Annie, que sofre um grave acidente de balão com o marido, que fica numa situação mais grave que a dela. Paulo precisa de um transplante de pulmão para sobreviver, informam os médias. Annie decide doar o órgão dela e passa por uma cirurgia delicada. Quando acorda, a enfermeira já não sente dor e o corpo é leve, renovado. “Cada pedaço de seu corpo parecia mal ajustado, como se os braços e as pernas tivessem se alongado e a cabeça estivesse presa num pescoço novo. E por sua mente relampejavam imagens que nunca haviam estado ali: o interior de uma casa, rostos numa sala de aula, vislumbres de algum lugar no interior da Itália”.
A vida após a vida
Assim, o escritor apresenta o recomeço de Annie, já distante da vida como ela conhecia. Perguntas como “Que tipo de sonho é este?” e “O que estou fazendo aqui?” fazem parte da reação inicial da enfermeira diante do desconhecido. Como aconteceu com Eddie em “As cinco pessoas que você encontra no céu”, a trajetória da enfermeira na continuação é ressignificada a partir do encontro dela com personagens importantes, que lhe apresentam a vida após a vida e explicam parte do mistério que a envolve. Ao mesmo tempo, Albom dá detalhes sobre o crescimento de Annie, destacando o abandono do pai, o relacionamento conturbado com a mãe, a dificuldade de fazer amigos, a perda de um filho num casamento anterior, a depressão. “Desisti de ser feliz até que reencontrei Paulo”, ela diz, ainda às voltas com a culpa e com o peso da morte tão abrupta e precoce.
Um menino com pele cor de caramelo e cabelo preto é a primeira pessoa que Annie encontra. Ela descobre que o garoto é o médico responsável pela cirurgia que ela foi obrigada a fazer após o acidente no parque. Cabe a ele explicar que cada figura tem a função de ensinar “uma coisa que você não percebeu quando estava viva”. E acrescenta: “Isso ajuda a entender as coisas pelas quais passou”. É essa jornada de descobrimento que sustenta as belezas e lições contidas em “A próxima pessoa que você encontra no céu”. A mãe de Annie e o cachorro da sua infância também a acolhem nessa jornada. É óbvio que Eddie tem uma função importante, mas não vamos aqui estragar as surpresas.
Ao explicar o motivo de voltar ao tema de um livro de sucesso, Albom conta que sentiu ter mais o que dizer sobre Annie e Eddie. O escritor lembra que a iniciativa não é um dogma, mas um anseio “de que pessoas queridas encontrem a paz que não tiveram na Terra e percebam quão profundamente afetamos uns aos outros, todos os dias desta preciosa vida”. Essa percepção é evidente nas páginas do livro, construído a partir da certeza de que a vida merece ser vivida com suas dores e delícias. Que ela é sempre surpreendente. E que tudo é aprendizado.
Para encerrar o post, deixamos algumas frases de reflexão ouvidas por Annie.
“Nós, seres humanos, damos importância demais ao ‘nosso’ tempo na Terra. Nós o medimos, comparamos, colocamos nas lápides. Esquecemos que ‘nosso’ tempo está ligado ao tempo dos outros. Todos viemos de um. E retornamos para um. É assim que um universo conectado faz sentido”.
“Quando construímos algo, partimos de algo construído por quem veio antes. E quando nos despedaçamos, aqueles que vieram antes de nós ajudam a juntar nossos pedaços”.
“Os humanos também têm empatia. Mas ela costuma ser bloqueada por outras coisas: ego, autopiedade, achar que a própria dor precisa ser tratada primeiro. Os cachorros não têm nada disso”.
“O amor não é vingança. Não pode ser jogado como uma pedra. E você não pode inventá-lo para resolver seus problemas. Forçar o amor é como colher uma flor e depois esperar que ela cresça”.
“Você só tem paz quando faz as pazes consigo mesmo”.
“A gente perde alguma coisa todos os dias, Annie. Às vezes é uma coisa minúscula, como o ar que a gente acabou de expelir, às vezes é tão grande que a gente acha que não vai sobreviver”.