Introdução
Dizem que conselho não se dá, se vende. Porém, os melhores conselhos que recebi na vida não foram pagos; não vieram de consultores nem professores. Aprendi muito nos ambientes acadêmico e profissional, mas os conselhos mais importantes para meu desenvolvimento, minha carreira e minhas relações pessoais não chegaram até mim por qualquer vínculo formal. Vieram das pessoas que mais amei e amo na vida.
Inicialmente como professor, depois como consultor e então como palestrante, construí uma carreira em que ganhei projeção pelos conselhos que dou. No entanto, não cobro por aconselhar. Meu trabalho é educar. Quando alguém cursa uma disciplina que leciono ou assiste a uma palestra minha, está pagando pela transmissão de conhecimento especializado. É no momento do cafezinho, da conversa descompromissada, da dedicatória nos livros em noites de lançamento que aparece a oportunidade do papo informal. E aí surge o conselho. Simples, reflexivo, direto, amigo.
Conselhos e conhecimento são coisas bem diferentes. O conhecimento vem da reunião de experiências e aprendizados coletivos, que permitem formar teorias e modelos para solucionar problemas, enquanto os conselhos vêm de experiências pessoais que permitem adaptar as teorias e o conhecimento à realidade de cada um. Em minha carreira, escrever livros foi um dos caminhos que encontrei para levar conhecimento a mais pessoas. E, talvez por eu adotar a linguagem típica do gênero de autoajuda (uma escolha pessoal, para tornar o conteúdo mais acessível), muitos confundem conhecimento com aconselhamento. Nos livros, essa confusão se dá quando uma teoria parece se encaixar perfeitamente na realidade de quem lê. Isso, porém, acontece quando o escritor se refere a um comportamento usual de uma população, com base em dados estatísticos. É essa habilidade generalista que procuro incorporar em meus textos.
Os conselhos que dou – a parte não remunerada do meu trabalho – não nasceram comigo. Aprendi com a vida, com a experiência, com o trabalho, com as trocas que tive com incontáveis pessoas que passaram pelo meu caminho. Se hoje dou conselhos, devo a tais pessoas essa habilidade.
Cada pessoa com quem convivi nos meus 45 anos de vida foi valiosa, mas algumas merecem um crédito especial. Meus pais certamente são as mais importantes dessas pessoas. Sem eles, eu não seria o que sou, não teria a educação que tive, não teria o caráter que eles moldaram. Não seria o homem pelo qual minha esposa se apaixonou, o pai que aprendi a ser para meus filhos, o profissional que zela por valores que não necessariamente são bem aceitos por todos mas que fazem de mim quem sou.
Meus pais. A injusta língua portuguesa pluraliza o homem e aparentemente diminui o mérito da mulher. Mas devo a minha doce, honesta e carinhosa mãe minha referência de como educar filhos. À figura paterna devo outros aprendizados, mas esses são tão complexos quanto meu entendimento do que é um pai. Para fins legais, sociais e familiares, durante todo o meu desenvolvimento tive apenas um pai. Mas esse pai se dividiu em várias figuras, em muitos momentos seu papel tendo sido assumido por outra pessoa. Tommaso Cerbasi, meu pai biológico, sabia disso. E todas as páginas a seguir se dedicam a explicar o que quero dizer aqui.
Muitas pessoas atribuem todo o sucesso e fortuna que acumulei precocemente em minha carreira a um suposto berço de ouro, a uma educação privilegiada ou a oportunidades acessíveis a poucos. Quando comecei a escrever este livro, imaginei que, ao mostrar aos leitores a origem simples de minha família e as dificuldades da vida que me ensinaram lições, provaria o contrário.
Porém, à medida que fui organizando as ideias em uma sequência temporal e explicando como certos fatos se transformaram em bons conselhos para mim, concluí que realmente nasci sob uma condição de grande riqueza. Não se tratava de riqueza material, mas de riqueza humana, de caráter, de boas intenções e de respeito à ingenuidade de uma criança que nada sabia e que muito tinha a aprender com a experiência dos adultos.
Meus quatro pais
Meu pai, na verdade, se divide em quatro. Não que meu pai Tommaso não tenha cumprido à excelência seu papel em minha formação e educação. Sem dúvida, foi um grande homem, honesto e digno, além de grande pai e excepcional educador. Na verdade, um de seus maiores méritos foi ter tido a humildade de perceber ainda cedo que sua rotina de trabalho, no esforço de fazer o máximo para prover a família, lhe tomava um tempo que seria precioso para apoiar minha mãe na educação dos filhos.
Por isso, meu pai procurou inserir a mim e minha irmã, Kátia, em ambientes que nos garantissem educação e aconselhamento da mesma qualidade que ele poderia nos dar. Sabendo que estaria ausente, cuidou para que estivéssemos sempre em um ambiente socialmente saudável, na companhia de pessoas cujos valores pessoais ele admirava e que, mais do que presentes, servissem de referência. Graças a isso, estive rodeado de outros grandes homens, que foram muito importantes para mim. E três dessas referências foram, em minha infância, praticamente referências paternas – além de meu próprio pai:
Tommaso Cerbasi, o orientador
Meu pai biológico. Nasceu na Itália e veio para o Brasil ainda pequeno, instalando-se em São Paulo. Após o casamento com minha mãe, Elza, mudou-se para o Rio Grande do Sul, onde nasci.
Somente quando voltamos para São Paulo foi que meu pai entrou para a faculdade de Administração e começou a assumir cargos mais altos. Mais tarde, eu viria a ouvir muitas histórias sobre a dificuldade que foi crescer na carreira sem um curso superior, e que a vida profissional dele só deslanchou realmente depois de entrar na faculdade. Como ele estudava e trabalhava, conviver com meu pai era um luxo de final de semana.
A despeito da sua presença rara, muitas vezes limitada a citações intimidadoras de minha mãe (“Ah, quando seu pai souber disso…”), ele sempre foi grande referência para minhas decisões. Desde pequeno, quando eu me comportava mal, ouvia dele algo como “Nas empresas, se você não cumprir o prometido, perderá o emprego”. Esses comentários eram odiosos, pois eu não me imaginava trabalhando “nas empresas” (aliás, até hoje não me imagino). Mas a frequência com que o assunto era abordado me dava uma noção da postura de meu pai em relação ao trabalho. Por sua obstinação, ele era rigoroso nas regras, duro nos argumentos, firme na imposição de suas vontades. Sempre que eu o acompanhava em eventos de negócios, ouvia se referirem a ele como “xerife”, “carrasco” e “tirano”, principalmente os subordinados. Ele não era amado pelos colegas de trabalho, mas era respeitado pela intensidade com que executava seus planos e atingia seus objetivos. Nunca teve grandes luxos, mas dinheiro nunca lhe faltou. Aposentou-se com a independência financeira garantida e sabia que, mesmo que vivesse mais 30 anos, não passaria por dificuldades, pois sabia cuidar do que tinha. Mas saber juntar dinheiro não deixa ninguém rico. O que aprendi verdadeiramente com meu pai foi muito mais que o hábito da poupança, a perseverança e a disciplina – vai muito além das triviais ferramentas lógicas de que precisamos para acumular riquezas.
Acima de tudo, meu pai sempre foi um homem de atitude. Essa foi sua grande inspiração. Batalhou para nos garantir dignidade, mas soube reconhecer suas fragilidades e lidar com elas a tempo de evitar que destruíssem a família. Em sua fase de pai ausente, nos garantiu referências saudáveis, preservando a família como seu maior patrimônio.
Hermenegildo Sgargeta Filho, o proseador
Ou, simplesmente, tio Gildo. Girdão para os muito íntimos. Meu pai sempre foi bastante apegado aos seis irmãos. Todos moravam no interior de São Paulo. Por isso, a cada duas ou três semanas viajávamos para Itupeva, onde ficava a Fazenda Pinheiro. Lá, viviam e trabalhavam meus tios Hermenegildo e Teresa, irmã de meu pai.
Imagine uma pessoa incrivelmente cativante e agradável. Tio Gildo era zootécnico por formação e apaixonado pela profissão. Adorava compartilhar com qualquer um as descobertas de suas pesquisas. Ao tio Gildo nunca faltava assunto nem uma boa piada. Hoje, digo que sou ruim para contar piadas porque ele me forneceu todo o humor de que precisei em minha infância, de modo que não tive que desenvolver essa habilidade eu mesmo. Ele foi, simplesmente, o melhor proseador que já existiu. Debatia e fazia piada de tudo: governo, trabalho dos outros, ingenuidade das crianças, saúde, carros, televisão, qualquer que fosse o assunto. Quanto mais entendia de um assunto, mais sério era o debate. Quanto menos entendia, mais cínica era a piada.
– Copa do Mundo? E eu lá quero ver 22 marmanjos se agarrando e brigando por uma bola?
Tio Gildo deve ser um dos responsáveis pelo meu desinteresse quase absoluto pelo futebol (quase: aceito um convite para assistir a uma partida de futebol raiz do Juventus da Mooca).
Era homem dos mais tradicionais. Nas refeições em sua casa, sentava-se sempre à cabeceira da mesa e convidava os homens presentes a se sentarem próximos a ele. Apesar de as mulheres ficarem mais distantes, eram frequentemente chamadas a ouvir uma piada. “Elza, ouve essa…”, dizia, como se a piada fosse dirigida especialmente para minha mãe. Nesses momentos, a atenção de todos à mesa se voltava para sua voz potente e sua deliciosa narrativa.
A vida ali era típica do campo. A Fazenda Pinheiro era certamente a mais bonita de Itupeva, incrivelmente charmosa e rústica, amada por crianças e adultos. Cultivava-se de tudo por lá – café, milho, abóboras, cogumelos –, e criava-se gado leiteiro e porcos. Havia também um rústico engenho de pinga.
Na lida diária, tio Gildo estava sempre por perto, sempre ensinando alguma lição, fazendo alguma piada, criando um momento inesquecível ou simplesmente tocando a rotina da fazenda, comigo como companhia. Nesse papel de ajudante informal, andei muito de trator e de charrete, experimentei muitos alimentos que não conhecia, ajudei a selar cavalos, espetei o dedo em diferentes espinhos, segurei porquinhos e pintinhos nas mãos e fui picado e mordido por uma infinidade de bichos.
Na fazenda, fui uma criança mais saudável do que meus amigos da cidade. Sempre tímido, quieto e bom ouvinte, aprendi muito com a riqueza da vida no campo. O tempo passou, meus tios se mudaram, a fazenda foi vendida e loteada, mas até hoje as conversas entre os primos sobre aqueles tempos fazem os olhos marejarem. Éramos felizes – e sabíamos muito bem disso. Na verdade, éramos verdadeiramente ricos. Impossível esquecer o que aprendi naquela época.
Bronius Petrasunas, o bom-caráter
Meu avô materno. Moramos no porão da casa dele pouco depois do nascimento de minha irmã, enquanto nossa casa era reformada. Porão mesmo, dois cômodos, banheiro só no quintal. Em um cômodo havia uma pia, armários e uma mesinha; no outro, a cama de meus pais e o berço de minha irmã. Uma experiência e tanto do que é viver de maneira simples.
Seo Bruno para os íntimos, casado com minha avó Veronica, nasceu em Vilnus, capital da Lituânia, em 1910 e viveu até 2001. Nunca acumulou dinheiro, nunca teve fortuna. Mas também nunca precisou. Era uma pessoa extremamente simples.
Pense em alguém pacato e tranquilo. Ele era mais. Meu avô Bruno era o exemplo de bom ser humano. Não brigava, não reclamava. Era simpático e cortês com todos, extremamente gentil com as mulheres. Vivia impecavelmente elegante, apesar de as peças de seu guarda- -roupa terem uma vida útil média superior a 15 anos. Nunca estava com pressa, não sei se por hábito ou como reação à correria alheia, e não se constrangia com isso. Sempre convidava as pessoas a ficar mais um pouco – “Para que a pressa em ir embora?”.
Eu adorava quando ele ia me buscar na escola com seu fusquinha 1969 cor de café com leite. Toda vez que eu o encontrava, ganhava uma balinha de framboesa. Até hoje as balas 7 Belo evocam em mim a lembrança de meu avô.
Era de pouco falar e muito escutar. Uma pessoa realmente agradável para todos com quem convivia. Herdei muito da personalidade dele. Digo “herdei” porque quando olho para meu filho, que não o conheceu, vejo características muito marcantes de meu avô. A genética lituana se manteve bem preservada por pelo menos três gerações.
Acredito que a grande admiração que sempre senti pelo vô Bruno se deve a dois fatores. Primeiro, sua dignidade: ele nunca perdia o respeito por pessoa alguma e sua atitude fazia com que, por sua vez, nunca fosse desrespeitado. O segundo fator que explica minha admiração é a empatia propriamente dita. Eu via no meu avô um modelo a ser seguido. Era exatamente o mesmo que eu sentia pelo meu tio Gildo. Se eu ficasse em dúvida quanto à correção ou não de uma atitude minha, pensava comigo: “Se meu avô estivesse no meu lugar, como agiria?”
Vô Bruno foi, portanto, um pai que não se esforçou em ensinar lições ou em aplicar sermões. Ensinava naturalmente, pelo exemplo, pela atitude, pela simpatia.
No final dos anos 1990, quando eu estava para concluir a faculdade, vô Bruno já não se lembrava muito bem das pessoas, passava a maior parte do tempo na cama, sofria com a dificuldade para andar e para se alimentar. Um dos momentos que me fizeram ver claramente que meu avô estava se despedindo da vida aconteceu em um dia em que eu lavava meu próprio carro, sozinho, em frente à casa dele. Quando eu me encontrava ensopado de sabão, já para concluir a lavagem, olhei para o lado e me assustei ao ver meu avô, saindo da garagem e vindo em minha direção com muita dificuldade. Devia ter perdido pelo menos uns 10 minutos caminhando da cozinha para a rua, descendo dois lances perigosos de uma escada em curva, agarrando o corrimão com as duas mãos. Ele olhou para mim, colocou a mão no bolso e tirou de lá, educadamente, uma fatia do alimento que considerava ideal para receber seus convidados:
– O senhor quer um pedacinho de salsichón?
Percebi, naquele momento, que o estava perdendo. Em respeito, aceitei a fatia e comi, mesmo coberta com restos de fios de algodão e de outras sujeiras acumuladas no bolso daquela calça surrada, além do sabão dos meus dedos. Era o mínimo que podia fazer por meu avô.
Ele partiu poucos meses depois.
Paulo Ramos Filho, o enérgico
Nascido em São Paulo em 1960, Paulão foi técnico da equipe de natação do Clube Atlético Juventus entre 1987 e 1990. Eu o conheci quando ele estava começando a carreira, recém-formado em Educação Física. Não tinha muita experiência em natação, mas entendia de condicionamento físico e da cabeça dos adolescentes.
Tinha um estilo enérgico, intenso. Como bom técnico, não raro a comunicação era aos gritos: “Parem de falar enquanto correm!”, “Isso aí é um alongamento ou uma dança do ventre?”, “Vocês vieram para treinar ou para brincar?”. Essas eram algumas das suas exclamações mais frequentes, geralmente acompanhadas de uma palavra de estímulo – como um palavrão.
Lembro-me de algumas de suas palavras carinhosas para mim antes de eu me dirigir a um revezamento gigante, formado por 40 atletas:
– Bicho, você vai ser o segundo a cair na água, e esse mundo de gente pode se dar bem ou se dar mal dependendo de como você vai entregar a prova para eles. Então, cai na água e se mata, dá o sangue, faz o seu melhor, nem que saia vomitando. Não me decepciona!
Subi apavorado na baliza, tremendo mas também fervendo por dentro, e o resultado… Bati meu melhor tempo com ampla margem, mesmo tendo perdido a touca e enchido meus óculos de água logo na largada!
Quando subi à arquibancada, entendi o significado de toda aquela agressividade do Paulão. Ele fez questão de abraçar, com um largo sorriso, cada atleta que foi bem (incluindo eu), mas também criticou cada atleta que não conseguiu dar seu melhor e apontou os erros de cada um. Ao final da competição, cumprimentava o pai dos atletas, usando palavras de estímulo também para eles, que se esforçavam em passar uma manhã de sábado sob o sol, acompanhando a competição. Era fascinante!
Antes de cada treino, ele explicava qual tipo de exercício de alongamento, musculação ou aeróbico seria feito, e por que seria feito. Acompanhava cada nadador de perto, parando um ou outro para aferir os batimentos cardíacos. Fazia alongamentos junto conosco. Servia de modelo para explicar a postura correta na musculação. Nos dias de relaxamento, jogava vôlei ou futebol com a gente, suava e se divertia junto. Quando um ou dois atletas fugiam do esquema de treinamento ou se mostravam sem entusiasmo, aí sim o Paulão dava vida a sua potente voz cavernosa, acompanhada de veias jugulares extremamente saltadas e ameaçadores olhos azuis arregalados que causavam pesadelos.
Paulão era duro quando precisava educar, mas um grande companheiro quando era hora de comemorar. Um técnico de verdade. Ou, na prática, um segundo pai para quem não podia contar com a orientação paterna todos os dias. No meu caso, foi meu quarto pai, pelo fato de ter surgido em minha vida depois dos outros três, mas não menos importante do que os demais.
Mais do que exigir disciplina nos treinos, ele também acompanhava as notas escolares, brigava feio com os atletas que iam mal nos estudos, cobrava boa alimentação e impunha uma rotina quase militar – o que não seria nada de mais, não fosse o fato de que os cerca de 40 nadadores da equipe estavam na faixa dos 12 aos 16 anos de idade, o auge da adolescência.
Enquanto víamos amigos de infância se viciarem em bebida, cigarro e outras drogas, vivi em um ambiente em que até refrigerante era proibido e chocolate era controlado. Enquanto, nas escolas, ouvíamos falar de conflitos entre pais e filhos, os atletas e os pais formavam uma só família nas competições de finais de semana. Nossos colegas de classe elaboravam esquemas complexos para driblar as restrições dos pais e conseguir ir às baladas em casas noturnas; nós, atletas, terminávamos os treinos às oito da noite, exaustos, e mal acabávamos de jantar já caíamos na cama, às nove.
Mas a vida em equipe não eram só privações. Paulão se preocupava em manter o astral de seus atletas em alta e também em manter o grupo unido. Para isso, frequentemente criava atividades de integração, incluindo acampamentos, gincanas, eventos de confraternização com outros clubes e churrascadas em que as famílias se reuniam. Esse aspecto da reunião familiar era tão intenso que considero muitos pais e mães de atletas como alguns de meus grandes amigos da adolescência. Os atletas que estavam na mesma categoria que eu são mais que amigos; são meus irmãos, sempre presentes nos lançamentos de meus livros, nas festas de família e no nascimento de meus filhos. Nem minha relação com meus amigos mais antigos nem as melhores amizades que fiz no meio profissional se equiparam à intimidade que tive com meus colegas de equipe na intensa adolescência como nadador.
Foi assim que, com disciplina e imposição de regras que nem nossos pais conseguiriam nos obrigar a seguir, mas também com uma motivação inabalável pelo esporte e pelo espírito de equipe, Paulão construiu uma grande família em que ele é o patriarca.
Acredito que prosperei cedo porque tive a felicidade de conseguir absorver ainda jovem os ensinamentos que meus pais me deram, e também porque tive a oportunidade de colocá-los em prática. Essa constatação me tranquiliza, pois não consigo imaginar um lugar do planeta em que não existam pessoas do bem desejando o melhor para seus filhos. Talvez essas pessoas não consigam criar prosperidade a seu redor não por falta de desejo, mas por desconhecerem o poder que está por trás de, por exemplo, estimular uma criança a ler ou de simplesmente incentivá-la a fazer o dever de casa com capricho. Ignoram que os erros cometidos trazem ótimas lições, que, se não puderem ser aproveitadas para corrigi-los, no mínimo servirão de grande ensinamento para seus filhos e netos.
Na prática, ter convivido com vários pais bastante dedicados a me orientar me deu a oportunidade de ter mais de um ponto de vista sobre o que é oportuno e o que não é para que eu buscasse ser uma pessoa melhor. Não ouso dizer que aprendi a diferenciar o certo do errado, porque esses são conceitos raramente unânimes, mas sinto que aprendi a colecionar acertos e a extrair lições dos erros, quando muitos insistem em jogar a toalha diante de qualquer obstáculo. Eu acredito que você também tenha grandes ensinamentos latentes em sua memória, talvez só não tenha ainda se dado a oportunidade de parar, se organizar e pensar como aproveitar alguns deles para criar novos mecanismos de prosperidade em sua vida.
Por exemplo, independentemente de quem tenham sido as figuras com papel paterno ou materno em sua vida, inevitavelmente você conviveu com adultos que lhe passaram bons exemplos, e também com adultos que cometeram erros e deixaram lições do que não se deve fazer.
Os erros cometidos trazem ótimas lições, que, se não puderem ser aproveitadas para corrigi-los, no mínimo servirão de grande ensinamento para seus filhos e netos.
Seria natural que essas referências e lições nos servissem de base para construirmos uma vida bem melhor do que a de gerações passadas.
Entretanto, vivemos em uma cultura em que, aparentemente, erros são repetidos geração após geração, principalmente no quesito riqueza e prosperidade. Há gerações os brasileiros são endividados, mesmo quando os juros eram elevados. Há mais de meio século contamos com a proteção do governo no nosso futuro, mesmo sabendo que a conta da previdência social não fechará. Como nossos pais, insistimos em realizar compras parceladas, mesmo sabendo que esse é um caminho rápido para perder o controle e sujar o nome. É como se resistíssemos a aprender.
Na verdade, o aprendizado existe na teoria, mas não o praticamos. Provavelmente porque a correria da vida moderna não nos permite parar para refletir ou para testar novos caminhos. Preferimos manter as coisas como estão a correr o risco de sofrer com uma mudança que pode não dar certo. A isso se dá o nome de zona de conforto.
Meu papel é mostrar a você, leitor, que sair da zona de conforto pode lhe trazer bons resultados e pavimentar um caminho mais próspero. Ao escrever sobre conselhos que recebi de meus pais, não pretendo transferi-los simplesmente a você. Afinal, foram bons conselhos porque vieram de pessoas que me conheciam muito bem e foram bem recebidos porque eu conhecia a fundo cada aconselhador. Neste livro, explico como bons conselhos foram transformados em acertos e me ajudaram a prosperar, em diversos sentidos. Transformo esses conselhos em regras que, acredito, você também conseguirá seguir para ter uma vida melhor.
Não tenho dúvidas de que os conselhos e as escolhas de meu pai, Tommaso, foram determinantes para que eu tenha conquistado uma vida realmente rica. Não tenho dúvidas também de que as escolhas que ele, juntamente com minha mãe, fez para os filhos foram fundamentais para sermos bem-sucedidos em nossas carreiras e estarmos bem tanto financeira quanto emocionalmente. É desses conselhos e dos conselhos decorrentes dessas escolhas que tratarei agora.