A partir da análise das cartas enviadas aos acionistas durante mais de duas décadas, livro revela o modo de pensar de Jeff Bezos, fundador da Amazon. Confira os 14 princípios que fizeram o empresário progredir e liderar um império
Diante da pandemia do coronavírus, alguns líderes se destacaram por relativizar os efeitos da doença e as medidas determinadas pela Organização Mundial de Saúde, contrariando a necessidade de prevenção. Outros souberam compreender a urgência dos fatos e agiram a fim de resguardar colaboradores. Jeff Bezos pertence ao segundo grupo. Nos últimos dias, o fundador e presidente da Amazon publicou uma carta aberta em seu Instagram na qual agradece o apoio dos funcionários, reconhece a gravidade da Covid-19, externalizando preocupação com a saúde deles, e anuncia a contratação para 100 mil novas vagas, muitas das quais poderão ser preenchidas por pessoas demitidas recentemente por outras empresas em meio à crise. A mensagem reforçou a postura que ao longo dos anos fez de Bezos uma referência de liderança.
A carta original, em inglês, pode ser lida aqui. O site Pequenas Empresas & Grandes Negócios fez a tradução e ressaltou seus principais pontos – confira aqui.
O recado é uma extensão da visão de mundo do empresário, uma perspectiva que pôde ser aprofundada nas outras mensagens que Bezos direcionou aos acionistas por mais de duas décadas – a primeira delas enviadas em 1997, ano em que a Amazon abriu seu capital. Renomado especialista em tecnologia e risco, Steve Anderson analisou esse farto material atento às valiosas lições contidas nele, lendo nas entrelinhas. O resultado é “As cartas de Bezos”.
Os 14 princípios fundamentais
Anderson foi o responsável por traduzir essas mensagens e dividi-las em 14 princípios fundamentais. Bezos é um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em mais de 110 bilhões de dólares, à frente de uma das companhias mais bem-sucedidas da história. Como uma pequena livraria on-line, criada em 1994, se tornou uma gigante mundial? O livro revela os caminhos percorridos pelo líder, apresentando lições que o levaram ao inegável êxito nos negócios. O mais importante é que não é necessário ter uma fortuna para implementar nenhuma dessas estratégias.
“A maioria dos princípios descritos aqui não custa nem um centavo e pode ser implementada tanto no Vale do Silício quanto em Nashville, Londres ou São Paulo. Você poderia aplicá-los facilmente a uma empresa de tecnologia, a uma pizzaria ou a uma organização sem fins lucrativos”, confirma ele. Os 14 princípios foram subdivididos em quatro ciclos: testar ideias estratégicas, construir o futuro, acelerar o crescimento e escalar.
O risco como modelo de negócio
Para Anderson, entre os muitos fatores que contribuíram para consolidação da marca, uma postura foi preponderante: “Bezos sabia que existe uma tensão delicada entre risco e crescimento. É impossível crescer sem assumir riscos”. Contudo, o autor atenta, o golpe de mestre de Bezos foi escolher jogar de forma diferente, sem perder de vista o que ele chama de “retorno sobre o risco” (ou seja, a relação entre o custo do risco e seu retorno). Isso era evidente desde o início da carreira, quando Bezos decidiu largar um emprego estável em Wall Street e pegar um empréstimo de 300 mil dólares para criar uma empresa on-line, num contexto em que a reputação desses negócios era péssima. Bezos foi seduzido pela taxa de crescimento de 2.300%. Ainda assim, um risco. Onde está o pulo do gato?
“Embora tenha começado com um modelo de negócio e uma ideia principal, desde o início seu plano era diversificar. A diferença é que ele estava o tempo todo testando para ver o que o mercado queria e inovando em benefício dos clientes, mesmo quando nem eles sabiam o que queriam. Os riscos eram intencionais e calculados, mas ainda assim eram riscos”, frisa o autor, que por isso considera Bezos o mestre dos riscos.
A característica parece tão arraigada ao modo de gerir de Bezos que Anderson identifica nele a crença num “fracasso bem-sucedido”. O empresário compreende que riscos são fonte de aprendizado e, por isso, incorpora intencionalmente a ideia ao seu modelo de negócios. “Se ele tenta alguma coisa e dá certo, ótimo. Mas, se não dá, ele busca não apenas uma forma de fazer dar certo como também de fazer valer a pena”, endossa Anderson, lembrando de fracassos retumbantes de Bezos, incluindo um prejuízo de 178 milhões de dólares.
Nesse sentido, a primeira carta aos acionistas é considerada a mais importante – o próprio empresário faz constantemente referências a ela, a base dos valores da empresa. Não por acaso, Anderson encontrou já nessa primeira mensagem os 14 princípios destacados no livro. Nela é evidente a preocupação pelos clientes (ou obsessão, como sugere Anderson), o objetivo de atrair funcionário motivados que pensem como o dono do negócio, a aposta constante em ideias para que a empresa suba posições… Enfim, todos os tijolos que ajudaram na construção de um império. Como um aperitivos das lições de Bezos, colocamos alguns trechos. A seleção completa está em “As cartas de Bezos”.
Algumas lições:
Testar
“Na Amazon, testar é um estilo de vida: todos os membros da equipe são incentivados a testar coisas novas para melhorar o funcionamento da empresa. Se algo não dá certo, ninguém é punido – os funcionários são estimulados a examinar o que não funcionou e aprender com isso”.
Questionar
“O que você pode testar para obter melhores resultados? A Amazon quer pessoas que se façam esse tipo de pergunta. Na verdade, questionar o estado das coisas é praticamente uma exigência. Todos são incentivados a tentar ideias novas, fazer perguntas e olhar para os processos de um jeito diferente desde o início”.
Liberdade de falhar
“A Amazon se esforça muito para desenvolver uma cultura interna que promove o pensamento inovador, a experimentação e a liberdade de falhar. É fundamental que a cultura permita que novas ideias sejam testadas, mesmo que pareçam ‘malucas’. É crucial que as pessoas não achem que a própria carreira estará em risco caso não consigam acertar de primeira”.