Autor: Filipe Isensee
“A prática da atenção plena pode lhe dar a sua vida de volta”
Dez ensinamentos do livro “Atenção plena para iniciantes”, escrito por Jon Kabat-Zinn. O autor ressalta a importância da consciência para vivermos o momento presente e mostra como a prática de mindfulness pode transformar a qualidade de vida.
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Dez ensinamentos do livro “Atenção plena para iniciantes”, escrito por Jon Kabat-Zinn. O autor ressalta a importância da consciência para vivermos o momento presente e mostra como a prática de mindfulness pode transformar a qualidade de vida.
Para Jon Kabat-Zinn, mindfulness é consciência. Não à toa, os termos aparecem lado a lado inúmeras vezes em “Atenção plena para iniciantes”, como que para reforçar um laço elementar. Professor emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, e fundador do Centro para Atenção Plena em Medicina, Assistência Médica e Sociedade, Kabat-Zinn se debruça sobre a prática neste livro, agora com nova capa, cujo foco está naqueles que estão começando a jornada rumo a uma vida vivida no tempo presente.“A prática da atenção plena pode lhe dar a sua vida de volta”, sublinha ele.
Dividido em cinco partes, indo do ponto de partida à prática, o livro apresenta os pilares da atenção plena, destacando as ideias fundadoras, as principais dificuldades e benefícios dessa verdadeira e intensa investigação sobre si – o exemplar também traz um CD com cinco meditações guiadas. “Você vai descobrir como viver com mais presença, sinceridade e autenticidade – não apenas para melhorar a sua vida, mas também para aprimorar o relacionamento com seus entes queridos, com todos os seres e com o próprio mundo. Em todos os aspectos, o mundo pode ser o maior beneficiário de seu cuidado e sua atenção”, ressalta Kabat-Zinn.
Como não poderia deixar de ser, ele frisa a importância do treinamento constante, sem o qual é impossível extrapolar os conceitos e, enfim, criar raízes. Descobertas clínicas dão conta dos efeitos positivos da atenção plena na melhoria da qualidade de vida, com redução de estresse e de outros problemas relacionados, como ansiedade, pânico e depressão.
Abaixo, você conhece dez ensinamentos contidos na primeira parte do livro, o primeiro fio de conhecimento para a jornada consciente que é a atenção plena.
1 – A respiração é elemento fundamental para a prática de mindfulness, e Kabat-Zinn a chama de “âncora ideal”. Prestar atenção na respiração ajuda a sermos mais estáveis, a estarmos mais presentes, frisa o autor, para quem “a consciência é o que importa”.
2 – O cultivo da atenção plena é um jogo, cujo desafio é descobrir quem somos, enfim. Viver da nossa própria maneira, de acordo com nossa vocação, é o objetivo dessa investigação de si. E ninguém pode fazer esse trabalho por você. Entregar-se é essencial.
3 – O ponto de partida para viver o tempo presente com consciência é o nosso passado. Sim, ele é a argila na roda do oleiro, mas jamais deve ser uma prisão, alerta o autor. Afinal, a única coisa que temos é o agora. Vivê-lo com consciência tem um efeito positivo sobre o futuro.
4 – No livro, Kabat-Zinn diferencia fazer humano de ser humano ao explicitar o contexto de vida contemporânea em que muitos saltam de uma tarefa a outra, quase como autômatos, apenas para cair exaustos na cama ao fim do dia e repetir o ciclo ao acordar. A atenção plena, segundo o escritor, torna possível passar do modo Atuante para o modo Existente. Nesses termos, existir é viver de uma forma mais integrada e eficaz, habitando plenamente nosso corpo no agora. Isso é ser humano.
5 – Qual é a natureza da mente? Qual é a natureza do sofrimento? É possível viver livre da servidão e do sofrimento? Esses questionamentos atravessaram o caminho e foram exploradas por Buda, entidade que simboliza a personificação do despertar. Para o autor, Buda percebeu “o potencial que cada um tem de se libertar do sofrimento através de uma abordagem prática e sistemática da vida”. Kabat-Zinn lembra que algumas práticas de meditação ensinadas por Buda têm o objetivo de estabilizar e calibrar a mente de modo que ela possa ver de forma clara a realidade do que está observando. Assim, estabilizar e calibrar são bases da atenção plena. A prática constante faz com que fiquemos mais familiarizados com as idas e vindas da mente.
6 – “Habitar a consciência é a essência da prática da atenção plena, não importa qual seja a sua experiência”, explica Kabat-Zinn. Quando moramos na consciência, a própria vida se torna uma prática de meditação, ele ratifica. Esse estado só é possível com a disciplina, ou, como sublinha o escritor, com a disposição para trazer o espaço e a clareza da consciência de volta, repetidas vezes, ao que está ocorrendo, não importando as fugas e as distrações da mente.
7 – Ora, a mente tem vida própria, não para, num fluxo aparentemente incessante de atividades. Isso fica evidente quando se começa a meditar. É essa a natureza complexa, ininterrupta, a matéria-prima da atenção plena. O objetivo não é para a mente, ao contrário. “É por essa razão que precisamos usar a observação cuidadosa para nos tornarmos íntimos da mente”, destaca.
8 – Kabat-Zinn defende – e o próprio livro é um instrumento desse propósito – que a atenção plena pode ser desenvolvida e refinada. O estado de consciência equilibra o borbulhar incontrolável dos pensamentos, alargando nossa perspectiva sobre a vida e abrindo espaço para a aquisição de novos saberes.
9 – Meditar é fazer amizade com nossos pensamentos. Portanto, nada tem a ver com tentar suprimi-los, o que seria uma tolice. A prática constante faz com que não sejamos traídos por eles. “É fácil acreditar equivocadamente que eles representam a verdade ou a realidade, quando não passam de ondas na superfície, por mais turbulentas que sejam”, analisa.
10 – A atenção plena não combina com egocentrismo, uma das armadilhas do pensamento. Tudo parece ser sobre nós, mas isso é só uma ilusão. Para Kabat-Zinn, as lições de Buda podem ser sintetizadas numa máxima: “Não devemos nos agarrar a nada como eu, mim ou meu”. Isso significa compreender a existência e a persistência desse pensamento e, ao mesmo tempo, ter o discernimento de não alimentá-lo. É uma escolha feita diariamente. “Podemos escolher reconhecer, a cada momento, quanto nos agarramos a eu, mim e meu, quão autocentrados podemos ser, e decidir não fazê-lo – ou, o que é mais razoável, nos flagrar quando o fazemos”, ensina.