Autor: Filipe Isensee
“A arte da imperfeição”: sete ensinamentos de Brené Brown para você ser você mesmo
No livro, a pesquisadora e professora Brené Brown desconstrói o ideal de perfeição. Ela propõe um conjunto de diretrizes para estimular os leitores a conquistarem uma vida plena, com compaixão, autenticidade, liberdade e resiliência
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No livro, a pesquisadora e professora Brené Brown desconstrói o ideal de perfeição. Ela propõe um conjunto de diretrizes para estimular os leitores a conquistarem uma vida plena, com compaixão, autenticidade, liberdade e resiliência
Já faz tempo que Brené Brown se estabeleceu como uma importante voz de exaltação da autoestima, da compaixão e da vulnerabilidade. Além dos livros, mundialmente conhecidos, a recente inclusão de “Brené Brown: The Call to Courage” ao catálogo da Netflix ajudou a firmar esses valores tão caros à pesquisadora e professora. “A arte da imperfeição” faz jus ao legado de Brown e entrega um texto que, com perspicácia e bom humor, desconstrói as ideias em torno da perfeição. Ela nos instiga a nos aproximar de quem realmente somos. Como ressalta logo nas primeiras páginas do livro, “assumir nossa história e amar a nós mesmos nesse processo é a coisa mais corajosa que podemos fazer”.
Ao longo da leitura, Brown propõe a aplicação de dez diretrizes (ou práticas cotidianas) para uma ressignificação da vida. Uma ressignificação que traduz a busca por uma vida plena. Cada tópico destaca o cultivo de um sentimento ou comportamento e a consequente libertação de um peso social – o convite, claro, é que essa jornada de descoberta seja experimentada pelo leitor. A seguir, você conhece melhor sete dessas proposições, um breve resumo do que Brown desenvolve no livro com maestria.
1- Cultive a autenticidade: liberte-se do que os outros pensam
Brown explica que autenticidade diz respeito às escolhas que temos que fazer todos os dias. “É nos mostrarmos e sermos reais. É optar por sermos francos. É optar por deixarmos que nosso eu verdadeiro seja visto”, realça. Apesar disso, ela reconhece que seguir pelo caminho da autenticidade é uma grande empreitada, ainda mais vivendo numa cultura que dita tudo e nos enquadra. Em sua defesa apaixonada, a pesquisadora diz que a autenticidade “exige que vivamos e amemos plenamente, mesmo quando é difícil, mesmo quando lutamos com a vergonha e o medo de não sermos bons o bastante e, sobretudo, quando a alegria é tão intensa que temos medo de nos permitir senti-la”. De certa forma, essa definição irradia nas outras nove diretrizes.
2 – Cultive a autocompaixão: liberte-se do perfeccionismo
No tópico, a autora aponta a armadilha do perfeccionismo, cujo berço é a vergonha. É importante frisar que perfeccionismo não é o mesmo que empenho em fazer o melhor, tampouco se compara ao saudável aperfeiçoamento pessoal. A questão é outra. Brown fala daquele perfeccionismo que nos afasta do sucesso. “Perfeccionismo é um sistema de crenças autodestrutivo e viciante, que alimenta este pensamento primário: se eu parecer perfeito(a), levar uma vida perfeita e fizer tudo à perfeição, poderei evitar ou minimizar os sentimentos dolorosos de vergonha, crítica e culpa”, ressalta a autora, lembrando que ele é autodestrutivo pelo simples fato de não existir nada perfeito.
3 – Cultive um espírito resiliente: liberte-se do entorpecimento e da impotência
A capacidade de superar adversidade (a nobre resiliência) é marca recorrente em muitas pessoas que cultivam uma vida plena, apesar das pedras no caminho. É essa capacidade, uma força criativa e constante, que interessa a Brown. Nesse sentido, ela afirma que a espiritualidade – não necessariamente a religiosidade – é um componente fundamental da resiliência, embora muitas vezes ignorado: “Os sentimentos de desesperança, medo, culpa, dor, desconforto, vulnerabilidade e desconexão sabotam a resiliência. A única experiência que parece ampla e poderosa o bastante para combater uma lista dessas é a crença de que estamos todos no mesmo barco e de que algo maior do que nós tem a capacidade de introduzir amor e compaixão em nossas vidas”.
4 – Cultive a gratidão e a alegria: liberte-se da escassez e do medo do escuro
O amor e a sensação de pertencimento caminham lado a lado, um alimentando o outro. Essa conexão também pode ser verificada entre a gratidão e a alegria. Em suas pesquisas e entrevistas, Brown confirmou que pessoas que se descreveram como alegres praticavam ativamente a gratidão e atribuíam sua alegria à prática de gratidão. Mais que isso, “a alegria e a gratidão foram descritas como práticas espirituais ligadas à crença na interconexão humana e em um poder superior a nós”. Muitas vezes, o medo impede que a alegria e a gratidão sejam experimentadas em sua potência máxima, destaca a pesquisadora. Por isso fica a lição: “A maioria de nós já experimentou estar à beira da alegria e, logo em seguida, ser tragada pela vulnerabilidade e lançada no medo. Enquanto não conseguirmos tolerar a vulnerabilidade e transformá-la em gratidão, frequentemente os sentimentos intensos de amor trarão o medo da perda”.
5 – Cultive a intuição e a fé confiante: liberte-se da necessidade da certeza
Brown chama a atenção para o fato de que, muitas vezes, a necessidade de certeza silencia nossa voz intuitiva. O resultado é que “em vez de respeitarmos uma forte intuição, ficamos temerosos e procuramos confirmação nos outros”. E assim, por não confiarmos no nosso conhecimento, vamos colecionando opiniões alheias e ficamos mais inseguros. Segundo ela, isso acontece porque queremos garantias e alguém com quem possamos dividir a culpa se as coisas não derem certo. Para Brown, a intuição nem sempre é acessar as respostas que vêm de dentro. A partir de leituras e outras pesquisas, ela propõe a seguinte definição: “intuição não é um modo único de conhecer – é nossa capacidade de manter aberto o espaço da incerteza e nossa disposição de confiar nas muitas maneiras de desenvolvermos a sabedoria e a percepção, que incluem o instinto, a experiência, a fé e a razão”.
6 – Cultive a criatividade: liberte-se das comparações
Muitas vezes, nosso ímpeto criativo é sufocado pela competição, pela conformidade e pelo sentimento de adequação. Na urgência de seguir um modelo de sucesso, abandonamos nosso tesouro criativo. “A imposição de comparar torna-se um paradoxo opressivo: ‘Enquadre-se e destaque-se!’ Não é para cultivar a autoaceitação, o pertencimento e a autenticidade. É para ser igual a todo mundo, mas melhor”, alerta Brown. A pesquisadora concorda que a comparação é o ladrão da felicidade. Para quem acha que perdeu a criatividade ou, pior, que ela nunca esteve presente, um aviso: “Existem apenas pessoas que usam sua criatividade e outras que não usam. A criatividade não utilizada não desaparece, simplesmente. Vive dentro de nós até ser expressada, ou negligenciada até a morte, ou sufocada pelo ressentimento e pelo medo”.
7 – Cultive a brincadeira e o descanso: liberte-se da crença de que exaustão é símbolo de status e produtividade é sinônimo de valor pessoal
Vivemos numa época de romantização do sacrifício. Um pensamento ligado à ideia de que a exaustão é sinônimo de eficiência. Os enganos decorrentes disso são muitos. Daí a importância da brincadeira e do descanso, ingredientes vitais da vida plena. “Usamos nossas horas de folga em uma busca desesperada de alegria e sentido para a vida. Achamos que as realizações e as aquisições nos trarão alegria e propósito, mas a busca incessante delas é justamente o que nos mantém tão cansados e com medo de diminuir o ritmo. Se quisermos levar uma vida plena, teremos que pôr em prática a intenção de cultivar o sono e o lazer, além de nos libertar da noção de que exaustão é símbolo de status e produtividade é sinônimo de valor pessoal”, defende Brown.