Filipe Isensee | Sextante
As mentiras que as mulheres contam sobre si e a importância de assumir as responsabilidades
COMPORTAMENTO

As mentiras que as mulheres contam sobre si e a importância de assumir as responsabilidades

No livro “Garota, pare de mentir para você mesma”, Rachel Hollis elenca as principais mentiras do universo feminino, da maternidade ao sexo: “Somente você é responsável pelo quanto é feliz”.

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No livro “Garota, pare de mentir para você mesma”, Rachel Hollis elenca as principais mentiras do universo feminino, da maternidade ao sexo: “Somente você é responsável pelo quanto é feliz”.

O título é uma chacoalhada: “Garota, pare de mentir para você mesma”. Recado dado e assinado por Rachel Hollis. Nascida na Califórnia, a escritora de 36 anos usa a franqueza como instrumento de trabalho e, ao longo das páginas, se mantém firme no propósito de desabilitar as mentiras que cercam o universo feminino, da maternidade ao sexo. Todas foram experimentadas por ela, que não se esquivou de registrar detalhes de sua vida na obra. Numa confirmação de que sua voz encontrou ressonância entre as leitoras, o livro ocupou o primeiro lugar entre os mais vendido da lista do The New York Times.

A conta de Hollis parece simples: na luta contra a mentira, diga a verdade. E, para ela, a verdade é esta: “Você, somente você, é responsável por quem se tornará e pelo quanto é feliz. Essa é a lição”. Contudo, como a escritora ressalta, o caminho até a compreensão desta verdade é cercado de complexas mentiras, a maioria delas arraigadas ao nosso modo de vida. Mentiras que são extensões da opressão cotidiana e, portanto, extremamente nocivas, capazes de comprometer a autoestima de mulheres de todas as idades.

“Se formos capazes de identificar a principal razão de nossas dificuldades, e ao mesmo tempo entender que temos condições de superá-las, poderemos mudar totalmente nossa trajetória”

Chamado à sensibilidade, o livro convida garotas (meninas, moças, mulheres e senhoras) a refletir sobre essa condição, segundo ela, essencial para criar uma versão melhor de si. Os capítulos abordam 20 mentiras, como “Não sou boa o suficiente”, “Eu deveria ter conquistado mais a essa altura”, “Meu peso define quem eu sou” etc.  Ainda que as questões estejam conectadas à vida de Hollis, a escritora conta que foram as indagações feitas por outras mulheres, algumas próximas a ela, que a levaram a escrever o livro.

Você se identificou com as afirmações acima ou já ouviu isso de alguém? Abaixo, você conhece – e, quem sabe, se reconheça em – quatro dessas mentiras. 

Vou começar amanhã

É a velha história de ir adiando as coisas, afinal o amanhã está logo ali, não é? No fim das contas, você mesma sabe que não é confiável, e é aí que mora o perigo. De uma maneira muito direta, Hollis diz que se você tem o hábito de fazer promessas e depois quebrá-las, você simplesmente não está fazendo promessas, está apenas se enganando. “Quantas vezes você fez progressos reais e depois desistiu no primeiro obstáculo?”, provoca ela.

A escritora lembra que é preciso encarar as responsabilidades, mas também refletir sobre a viabilidade delas. Um objetivo é tão importante quanto um plano para executá-lo. Não adianta prometer correr uma maratona amanhã se você nunca deu uma volta de dez minutos no quarteirão. Começar com objetivos pequenos, ser criteriosa em relação aos compromissos e, acima de tudo, ser honesta sobre o que você decidiu não fazer são passos fundamentais para a mudança.

Hollis ensina: “Se você escolher hoje não quebrar outra promessa assumida consigo mesma, vai se obrigar a diminuir o ritmo. Pode ser que não consiga manter todos os compromissos, promessas, objetivos e ideias. Mas se reconhecer que suas palavras têm poder e que seus compromissos têm a seriedade de um pacto, não assumirá qualquer coisa tão facilmente”.

Sou ruim de cama

As mulheres ainda têm medo de falar sobre sexo, ao menos de forma realista. A escritora salienta isso ao admitir que, sim, era ruim de cama e compreender que o silêncio sobre o assunto foi um empecilho para melhorar. Como anunciou que faria, Hollis detalha sua própria história: aqui, ela conta que os primeiros anos de casada foram excelentes para o sexo, mas depois “a novidade se desgastou”. Ela continuou transando com o marido (Dave), embora sem tanto prazer, apenas “fingindo que adorava cada segundo”. A essa altura, ela era mãe de dois filhos.

Numa conversa, Dave disse que percebeu o desinteresse da mulher e parou de procurá-la. O relato dele fez Hollis repensar sua estratégia de fingir que estava tudo bem. Para reverter a situação, ela redefiniu a maneira como encarava o sexo (dessa vez, como uma experiência divertida) e colocou isso em prática ao expor suas inseguranças ao parceiro. A ideia de se entregar, de estar em sintonia com ele e de brincar se tornou mais latente. Para isso acontecer, Hollis precisou aceitar o seu corpo e redescobrir o que a excitava.

A fim de marcar o reencontro na cama, o casal decidiu fazer sexo todos os dias por um mês: “Foi muito difícil no início, especialmente trabalhando o dia inteiro e com dois filhos pequenos, mas o resultado final foi fantástico! Tive a chance de experimentar e testar coisas sem qualquer pressão. Além disso, surpreendentemente, fazer mais sexo nos fez querer… fazer mais sexo”.

Não sei ser mãe

As infindáveis cobranças em torno da maternidade são assunto do capítulo. No caso de Hollis, ela admite ter detestado todas as etapas da gravidez, marcada por enjoos e dúvidas frequentes sobre seu comportamento e a saúde do bebê. Após o nascimento, os percalços continuaram, o que levou a desavenças com o marido. Ela resume a angústia que a consumia: “Tinha tanto medo de fazer algo errado que nunca me permitia relaxar. Estava tão focada no trabalho doméstico e nas tarefas com o bebê, cuidando para que o macacão dele estivesse sempre impecável, que não desfrutava a recente maternidade. Acho que a preocupação em não errar com ele era tanta que acabei errando comigo”. O resultado é que ela se sentiu fracassada.

Anos depois, com a experiência de ter passado por isso duas vezes, ela deseja tranquilizar mães de primeira viagem. Primeiro, “vocês não precisam saber de tudo”. E mais: “O simples fato de você estar tão preocupada significa que está empenhada, focada e dedicada a fazer o que é melhor. Isso faz de você o melhor tipo de mãe”. Conversar com alguém sobre isso e sair de casa sempre que surgir uma brecha podem ajudar a passar por essa etapa de forma mais tranquila.

Eu deveria ter conquistado mais a essa altura

Uma afirmação associada à idade. A sensação é de que o tempo passou e pouco foi feito. Isso provavelmente é outra mentira. “O ato de nos punir por todas as coisas que achamos que estamos fazendo errado torna-se um ruído branco… Com o tempo, nem conseguimos mais ouvir”, explica Hollis, para quem “as coisas acontecem exatamente como e quando deveriam”. Portanto, não adianta se martirizar pelos planos de juventude não concluídos na maturidade. Pense que “talvez você esteja destinada a algo muito mais legal e que só acontecerá daqui a cinco anos”, incentiva ela, ao lembrar de inúmeros desejos de sua vida remodelados ao sabor do tempo.

Mesmo que sua lista de objetivos pendentes seja imensa e que você esteja se esforçando para alcançá-los, a escritora  pede que também preste atenção nas conquistas anteriores: “É muito provável que, ao não estar onde pensou que deveria estar, você acabe exatamente onde deveria estar”.

Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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