Filipe Isensee | Sextante
Uma nova maneira de estimular a motivação no trabalho: menos controle e mais satisfação
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Uma nova maneira de estimular a motivação no trabalho: menos controle e mais satisfação

Em “Motivação 3.0”, Daniel H. Pink analisa como a combinação punições e recompensas, tão comum no mundo corporativo, está defasada. Ele defende que o trabalho deve ser pautado por autonomia, excelência e propósito.

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Em “Motivação 3.0”, Daniel H. Pink analisa como a combinação punições e recompensas, tão comum no mundo corporativo, está defasada. Ele defende que o trabalho deve ser pautado por autonomia, excelência e propósito.

O mundo anunciado por “Motivação 3.0”, de Daniel H. Pink, se desprende das velhas fórmulas atreladas ao êxito profissional e aponta a autonomia, o prazer e o propósito como engrenagens mais potentes do sucesso. Não são opiniões fortuitas, jogadas aqui ao acaso, mas conclusões assertivas com base em dados científicos aprimorados ao longo dos anos. E, o melhor, distribuídas no livro numa escrita boa de acompanhar e fácil de entender, sempre amparada por iniciativas reais. O 3.0 do título faz justamente uma distinção ao que foi experimentado antes, o 2.0 e o 1.0 já chegamos a eles, ok? É, portanto, uma evolução, uma terceira etapa que suplanta o esquema de recompensas e punições (base do segundo degrau dessa escada). Pink, premiado autor de livros voltados para os negócios, explica a razão.

O que motiva você a fazer o que você faz

Mesmo com a embalagem empresarial, o livro provoca reflexões sobre nosso dia a dia, já que essas práticas estão muito próximas da maioria de nós.

Motivação é a palavra-chave aqui. O escritor lembra que, nos primórdios da civilização, o impulso de sobrevivência determinava nossas ações (é o que ele chama de sistema operacional 1.0). Basta pensar no homem primitivo e na necessidade de conseguir o próprio alimento. As transformações da sociedade, desdobradas nas transformações de homens e mulheres, fez nascer outro tipo de interação, incorporado no trabalho e assimilado na educação. Há um segundo impulso, para além dessa necessidade biológica. Ele explica o ideia-base: “Se fizessem o trabalho certo do jeito certo no momento certo, a máquina funcionaria com perfeição. E, para que isso ocorresse, bastava recompensar o comportamento desejado e punir o indesejado”. Não é difícil reconhecer a prática, essência da Motivação 2.0, ainda persistente no nosso cotidiano. Pink afirma que o modelo, embora sirva a alguns propósitos, não é confiável.

A partir de questionamento aos sistemas anteriores, o escritor lapida o 3.0, um modo mais arrojado de compreender e estimular a motivação. O fato de o trabalho ter se tornado potencialmente mais criativo e menos rotineiro ajuda a entender as complicações em torno do sistema 2.0, que “se baseia na crença de que o trabalho não é intrinsecamente agradável”. Daí a lógica de recompensas e punições ter se firmado. Era necessário estimular o profissional por meio de uma pressão constante em busca de resultados que, se alcançados, renderiam um suposto pote de ouro ao fim do arco-íris. A simples recompensa (gratificações, por exemplo) justificaria todo o árduo processo. No segundo capítulo, Pink se dedica a apresentar sete razões que explicam o fracasso do sistema 2.0 (entre elas, as possibilidade de sufocar a criatividade e de fomentar o pensamento de curto prazo) e, depois, as circunstâncias em que ele ainda funciona.

O que o 3.0 tem de tão especial?

Lá, obediência. Aqui, engajamento. Bem-vindo ao 3.0. São três os elementos principais que sustentam o sistema operacional, segundo o escritor. Retomo os conceitos grafados no primeiro parágrafo: autonomia, excelência e propósito.

Para Pink, a curiosidade e a autonomia fazem parte da nossa natureza básica e, por diversos motivos, a sobrevivência econômica das empresas ficou associada ao sufocamento dessa natureza. No futuro vislumbrado pelo autor, isso deve ficar para trás. “É preciso resistir à tentação de controlar as pessoas – e, em vez disso, fazer todo o possível para despertar a adormecida autonomia que temos enraizada em nós”. E esse papo nada tem a ver com forjar um modo de escapar da responsabilidade, ao contrário: A ideia de liberdade “presume que as pessoas querem ser responsáveis – e que um caminho para isso é lhes dar controle sobre sua tarefa, seu tempo, sua técnica e seu time”.

Aqui, volto à palavra engajamento, pois é ela que nos leva à excelência. Ao se pensar nas corporações, é evidente que o sucesso das organizações passa pela criação de ambientes favoráveis ao fluxo, nos quais o profissional tem consciência do que precisa fazer, gosta do que faz e tem rápido feedback sobre o que fez. Justamente por isso, segue uma estrada para “tornar-se melhor em algo que é importante”, conseguindo se desvencilhar das dificuldades. As noções de prazer e diversão estão ligadas a essa sensação, estimulando um elo com a criança que fomos um dia. “Elas [as crianças] usam o cérebro e o corpo para sondar e extrair feedback do ambiente, numa incessante busca pela excelência”. Podemos fazer o mesmo? Pink acha que sim.

O que equilibra a Motivação 3.0 é o propósito – um tema já explorado, por diversos vieses, em outros livros da editora. Como a conversa é rica e não cabe toda aqui, destaco a síntese de Pink ao realçar a importância do conceito: “Pessoas autônomas visando a excelência atuam em níveis altíssimos, mas aquelas que agem a serviço de um objetivo maior podem atingir ainda mais”. Isso significa, como o próprio autor aponta, que a motivação do lucro talvez não seja suficiente para sustentar empresas e carreiras por muito tempo. Está aqui a diferença fundamental entre o 2.0 e o 3.0. “A Motivação 2.0 está centrada na maximização do lucro; a Motivação 3.0 não rejeita os lucros, mas põe ênfase igual na maximização do propósito”. Ele nos lembra que foram os desejos e anseios pessoais os motores das grandes realizações da história.

Diante disso, é natural perguntar: apesar das evidências de sua limitação, por que a Motivação 2.0 ainda é tão presente na nossa sociedade, especialmente no trabalho?

Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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