Filipe Isensee | Sextante
“Meditação para céticos ansiosos”: o que a prática pode nos ensinar
MEDITAÇÂO

“Meditação para céticos ansiosos”:
o que a prática pode nos ensinar

A meditação se firmou na rotina de Dan Harris após ele viver um dos momentos mais delicados de sua carreira. Em 2004, o premiado jornalista norte-americano sofreu um ataque de pânico, ao vivo, durante apresentação de um programa na tradicional rede ABC. Cinco milhões de pessoas acompanharam sua agonia apenas naquele momento, já que as […]

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A meditação se firmou na rotina de Dan Harris após ele viver um dos momentos mais delicados de sua carreira. Em 2004, o premiado jornalista norte-americano sofreu um ataque de pânico, ao vivo, durante apresentação de um programa na tradicional rede ABC. Cinco milhões de pessoas acompanharam sua agonia apenas naquele momento, já que as redes sociais tornaram o número mais robusto desde então. Dizer que o episódio foi um ponto de virada é pouco para dimensionar as reais mudanças que viriam para Harris. Superar o apagão envolveu repensar a vida. E repensar a vida o levou a meditar. Quinze anos após o susto, ele se volta ao homem que foi em “Meditação para céticos ansiosos”, mas com a consciência de ter mudado.

Harris sabe do que está falando, afinal o jornalista de antes poderia ser facilmente descrito como um cético ansioso do título. O livro, aliás, parte de uma visão menos romantizada da prática, o que o torna instantaneamente interessante. O leitor deve esquecer as imagens inalcançáveis comumente associadas com a meditação. “Ao contrário do que se acredita, para meditar não é preciso contorcer o corpo em posições impossíveis, se juntar a algum grupo ou usar roupas especiais”, esclarece. Aqui, ele propõe algo mais realista, ciente da dificuldade que é se concentrar no agora e se aprofundar em si.

“Meditação para céticos ansiosos” existe porque Harris pôde experimentar os benefícios da prática já comprovados pela ciência. Se você chegou aqui sem saber, vale frisar que a meditação, entre outras coisas, retarda o processo de atrofia do cérebro em razão da idade, diminui os sintomas de depressão e ansiedade e melhora o funcionamento e a resposta do sistema imunológico. Entre as muitas formas de se meditar, o livro foca na meditação de atenção plena, considerada pelo autor “um exercício simples e laico para o cérebro”. Porque embora seja derivada do budismo, a prática de mindfulness não exige a adoção de qualquer fé religiosa.

“Já escutei muitas pessoas dizerem que não conseguiriam meditar porque não conseguem parar de pensar. Nunca é demais repetir: o objetivo não é esvaziar, mas concentrar a mente – alguns nanossegundos de cada vez – e, sempre que se pegar distraído, começar tudo de novo. Na meditação, perder-se em divagações e recomeçar não é fracassar; é ter sucesso”, enfatiza ele.  A mudança de perspectiva – temos que concentrar e não esvaziar, como muitos acreditam – é o ponto de partida para acompanhar os desdobramentos do livro. Nas páginas, o leitor vai encontrar várias meditações com instruções básicas de Jeff Warren, professor residente e coautor do livro, a quem Harris chama de “o MacGyver da meditação”.

É importante se desfazer do imaginário irreal em torno da meditação e compreender seu processo. Harris e Warren vão ajudar nessa marcha para dentro de si, muitas vezes lançando mão de certo humor, sempre bem-vindo à leitura, e que também desloca a prática desse lugar intocável. Para Harris, a imagem que traduz a meditação é a de alguém tentando domar o cérebro. “Meditar pode ser difícil, especialmente no início. É como ir à academia. Se você não estiver ofegante nem suando, é sinal de que não está fazendo direito. Da mesma forma, se começar a meditar e logo se encontrar num êxtase livre de pensamentos, ou você se iluminou de repente ou está morto”, provoca ele.

Mesmo após anos de meditação, ele se distrai o tempo todo. Você pode se perguntar: e ainda assim vale a pena? Harris garante que sim. O jornalista começou a praticá-la ao poucos, fazendo de cinco a dez minutos por dia. Com o tempo, percebeu três benefícios principais, algo também atestado pelas pessoas mais próximas: calma, foco e, enfim, atenção plena. Já falamos sobre mindfulness em outros posts do blog, mas é importante destacar novamente seu efeito, que é a “capacidade de perceber o que está passando pela sua cabeça a qualquer dado momento de forma a não se deixar levar pelos seus pensamentos”. Para Harris, os oito anos dedicados à meditação o ajudaram a diferenciar as ruminações inúteis (ele se refere àquela voz interior que não cansa de atuar na nossa cabeça) das “angústias produtivas”. Claro, nem sempre foi assim.

No livro, o jornalista recupera o fio do processo, da negação à prática consistente, abordando as dúvidas de um típico cético ansioso que ele foi um dia. “A melhor maneira de entender tanto os benefícios quanto os desafios da meditação é ver como a prática se manifesta na mente de cada um. Por isso, Jeff e eu nos oferecemos como cobaias, permitindo que você veja o que acontece dentro da nossa cabeça, por assim dizer. A meditação pode não ser capaz de curar tudo, mas é uma aventura e tanto”, assegura.

Jeff Warren responde às perguntas mais frequentes relacionadas à meditação, enfocando em quem deseja iniciar a meditação, nos obstáculos e, por fim, em outras práticas. Aqui, você conhece três questões recorrentes para quem ainda está na primeira etapa.

Onde você recomenda que as pessoas meditem?

É bom ter um lugar tranquilo com o mínimo de distrações, mas não precisa ser um local perfeito. Um local ao ar livre também pode ser muito bom para meditar.

Como sabemos que a sessão de meditação terminou?

Use um cronômetro. Assim, você pode programá-lo e esquecer dele até o alarme tocar (do contrário, vai ficar toda hora espiando, pensando: Será que já está na hora? Será que já acabou?).

Ouvir música ambiente ajuda durante a meditação?

Não é o ideal, porque assim a sua atenção fica dividida entre o objeto em que você está meditando e a música de fundo. Dito isso, vale mencionar duas coisas. Primeira: cada pessoa é diferente. Você pode descobrir que a música o ajuda a se concentrar sem distraí-lo da prática. Segunda: a música em si pode ser o objeto da meditação. Você pode focar nas qualidades auditivas. Mas sempre tenha  em mente que a música enfeitiça e pode facilmente fazê-lo perder a atenção plena.

Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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