Filipe Isensee | Sextante
Comunicação não violenta: como ser você mesmo sem deixar de estar com o outro
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Comunicação não violenta: como ser você mesmo sem deixar de estar com o outro

“Se cada um de nós resolvesse observar a própria violência, aquela que exerce inconsciente e muito sutilmente contra si próprio e contra os outros – mesmo que pense que esteja agindo com as melhores intenções do mundo -, e tentasse compreender como ela se manifesta, tenho certeza de que nos esforçaríamos para impedir que ela […]

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“Se cada um de nós resolvesse observar a própria violência, aquela que exerce inconsciente e muito sutilmente contra si próprio e contra os outros – mesmo que pense que esteja agindo com as melhores intenções do mundo -, e tentasse compreender como ela se manifesta, tenho certeza de que nos esforçaríamos para impedir que ela viesse à tona. Todos poderiam contribuir para criar relações humanas mais satisfatórias, tornando-se ao mesmo tempo mais livres e mais responsáveis” – Thomas D’Ansembourg

A frase acima sintetiza muito bem a proposta de Como se relacionar bem usando comunicação não violenta. O convite feito pelo autor está ligado à consciência de nossas ações e ao impacto positivo dessa investigação interior. Nos conhecer melhor, ele sustenta, possibilita traçar um caminho sem blindagem sobre o que sentimos. A meta é: ser claro sem ser agressivo. A conexão com a verdade do que nós somos é o primeiro passo para entender a verdade do outro, a necessidade do outro, os medos e os anseios do outro.

Estamos tão acostumados a agir de forma violenta – tanto em  falas quanto em gestos – que a naturalizamos e não nos damos conta do mal que isso pode causar.  D’Ansembourg lembra que a violência pode ser expressa também na gentileza excessiva que nos anula ou apenas nos coloca em uma eterna posição de subalternidade. Viver represado em função do outro é também agressivo. 

Para o autor, a violência é a expressão de uma frustração impossível de ser manifestada em palavras. Daí a dificuldade de descrever com exatidão certos sentimentos. A tendência, ele diz, é prestarmos atenção às necessidades das pessoas próximas (família e amigos) e nos excluirmos dessa escuta. Somos deixados de lado por nós mesmos.  Há um caminho pacífico, possível a partir desse equilíbrio: como ser você mesmo sem deixar de estar com o outro e como estar com o outro sem deixar de ser você mesmo. Esse ensinamento é o fio condutor do livro.

As quatro fases da comunicação não violenta

D’Ansembourg identifica quatro etapas importantes dessa busca por uma troca mais consciente e verdadeira nos relacionamentos – são pontos de análise que devemos realizar a partir do nosso comportamento. A primeira delas é a observação. Ele explica que existem características que geram violência contra nós mesmos ou contra os outros e que se relacionam a esse ato: preconceitos, julgamentos a partir de rótulos e a tendência de nos eximir das responsabilidades são alguns exemplos. Sobre essa última, ele acrescenta: “Aprendemos a jogar a responsabilidade de nossos sentimentos sobre os outros ou sobre um fator externo (…) Encontramos um bode expiatório e nos livramos de nosso mal-estar jogando a culpa no outro, que serve de para-raios para nossas frustrações”.

A segunda fase leva em conta os sentimentos. Aqui, o autor fala da nossa dificuldade de lidar com as emoções e da importância de reconhecê-las e diferenciá-las. Elas nos ensinam a ter respeito por nós mesmos, D’Ansembourg destaca. Por outro lado, esse domínio possibilita que o ciclo de sempre responsabilizar o outro por nossas dores seja rompido.

O terceiro passo diz respeito às necessidades. É preciso esclarecer que não se trata de um desejo momentâneo, mas de valores essenciais, tais como liberdade, identidade, respeito, compreensão etc. Manter-se alheio às necessidades traz consequências diretas, como a dificuldade de fazer escolhas e a dependência da opinião dos outros. “Uma das principais causas do sofrimento é desconhecer o que o motiva. Se conseguirmos identificar a causa interior do nosso mal-estar, pelo menos nos libertaremos da dúvida”, frisa.

Quando a necessidade é identificada, fica mais fácil realizar um pedido negociável em busca de satisfação. O pedido – a quarta fase proposta – é uma maneira de nos desvencilharmos das amarras que nos mantém presos. No livro, D’Ansembourg dá alguns exemplos de pedidos: “Posso dar a mim mesmo a estima, o reconhecimento, a acolhida, a compreensão que espero desesperadamente dos outros?”, ou “Posso viver a minha identidade sem que precise me revoltar ou me queixar o tempo todo?”.  Ao fazer isso, o autor sustenta, abandonamos a expectativa de que o outro compreenda nosso desejo e aceite satisfazê-lo – afinal, a expectativa pode durar uma eternidade e se revelar extremamente frustrante.  A responsabilidade é sua

Em Como se relacionar bem usando comunicação não violenta, D’Ansembourg articula essas quatro etapas e apresenta como elas trabalham juntas, sendo fundamentais para construir relacionamentos mais verdadeiros e empáticos. Entre outras coisas, isso significa falar e escutar de verdade, sem julgar. “Cada vez mais acredito que essa é a carência fundamental que nos causa tanto sofrimento. Falta a presença frutífera que nasce do verdadeiro encontro. Falta ao mesmo tempo o encontro conosco e o encontro com os outros. Enquanto não soubermos que é isso que buscamos, tentaremos preencher essa ausência com toda espécie de artifícios”, afirma o autor.



Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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