Autor: Filipe Isensee
“As mulheres primeiro”: o sexo oral como princípio do prazer feminino
Com curiosidades, dicas e ilustrações, livro se propõe a ser um guia de como satisfazer as mulheres. O prazer feminino tem o sexo oral como ponto central.
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Com curiosidades, dicas e ilustrações, livro se propõe a ser um guia de como satisfazer as mulheres. O prazer feminino tem o sexo oral como ponto central
Sexo oral. Esse é o fio condutor de “As mulheres primeiro”, um conjunto de ideias e conselhos sobre o prazer feminino. Sucesso editorial em mais de 20 países, o livro não faz rodeios sobre a importância do assunto, embora lembre que se trata de um tabu. Não é surpreendente. A despeito dos avanços, este é o mundo onde mulheres são sistematicamente inferiorizadas – elas e os seus prazeres. O psicólogo e terapeuta sexual Ian Kerner ressalta que não se deve reduzir o sexo oral a uma simples prática corriqueira. “Para mim, ele é a peça principal de toda uma filosofia de satisfação sexual que podemos chamar de caminho da língua”, redimensiona.
Escrito do ponto de vista masculino, o livro traz um modelo de como satisfazer uma mulher – considerando nessa ideia, claro, que não existe um tipo único de mulher -, com técnicas para todas as etapas do sexo, a começar pelas preliminares. Antes, informações e curiosidades que reforçam a importância do sexo oral. E até um resumo da anatomia feminina (o que se vê e o que não se vê no circuito de prazer da mulher).
O público alvo são homens que, talvez à semelhança do autor, consideravam o tal “caminho da língua” inferior à penetração. “Na verdade, é superior e, em muitos casos, é a única forma, além da masturbação, de a mulher obter o estímulo ritmado e constante necessário para atingir o orgasmo”, prossegue. O título sustenta outra ideia fundamental, a de que homens adiem a própria satisfação até que a mulher atinja o primeiro orgasmo. A combinação, Kerner endossa, é garantia de mais prazer para ambos.
Orgamos, clitóris e língua
“As mulheres primeiro” quer descomplicar sem negar a complexidade do orgasmo feminino. Compreende que, via de regra, exige estímulo, concentração e relaxamento constantes. Essa sexualidade singular, contudo, é historicamente destruída por inabilidade ou até mesmo preguiça do parceiro, impávido diante de um corpo com caminhos diferentes dos seus. Muitos ficam amedrontados. Homens assim não sabem que levar uma mulher ao orgasmo pode ser, ao mesmo tempo, empolgante e libertador, o autor frisa. “Quando ela goza primeiro, deixa-se de lado a ansiedade e a pressão; você se sente empoderado, encorajado a buscar com ânimo a satisfação que o aguarda – um clímax que será ainda mais intenso por ter sido adiado”.
É impossível deixar o clitóris fora dessa conversa. Kerner lembra que o órgão, parte de uma zona erógena pulsante, tem mais de oito mil fibras nervosas. Explorar a região é apenas o começo de um olhar mais cuidadoso para sua companheira. Quando se pensa em estímulo sexual, o clitóris pode ser considerado superior em relação à vagina. Essa configuração parece questionar o valor da penetração enquanto paradigma sexual dominante. Ao tirar a penetração desse pedestal, “ficamos abertos a formas novas e criativas de sentir prazer, formas que não apenas nos surpreendem como intrinsecamente masculinas mas que também, no fim das contas, nos permitem ser homens mais plenos”.
A seguir você confere algumas informações importantes para descomplicar o orgasmo feminino:
1 – Com 18 partes, o clitóris é o catalisador da resposta sexual. “Embora seja possível ter um orgasmo clitoriano sem a presença da vagina, é praticamente impossível ter um orgasmo vaginal ou do ponto G sem a presença do clitóris”.
2 – Como confirmam estudos científicos, as mulheres cujos parceiros estimulam diretamente seu clitóris durante o ato sexual têm maior probabilidade de chegar ao clímax.
3 – Usar mais a língua também traz vantagens aos homens. Além de se cansar menos, ele não precisa se preocupar com impotência ou ejaculação precoce. Ele só precisa se ocupar em dar prazer.
4 – Mas não basta ter boca e língua para garantir o prazer no sexo oral. É sabido que muitas mulheres reclamam de como alguns homens se portam. A lista dos hesitantes, dos que têm nojinho ou dos irritados é enorme. “Embora a maioria dos homens goste de proporcionar sexo oral, apenas uma minoria diminuta continua até a mulher chegar ao orgasmo”.
5 – O que o autor defende, praticamente a cada página, é que se deve compreender o sexo oral como um processo em si mesmo, que leva a mulher a ter toda uma gama de respostas sexuais. Ele é o jogo principal, não as preliminares.
6 – A mulher ejacula? Sim, mas a frequência que isso acontece é menor do que o “charlatanismo” dominante, com a explosão de inúmeros manuais e truques para esse fim, quer fazer parecer. Além disso, segundo Kerner, “não há indicação de que ejacular, voluntária ou involuntariamente, contribua muito para aumentar o prazer do orgasmo”.
7 – Ainda que seja uma parte importante do processo de excitação, a lubrificação não é um indicador inequívoco de que a mulher foi amplamente estimulada. Ela pode estar lubrificada, mas não necessariamente excitada.
8 – Cada orgasmo feminino é único e altamente individualizado. Embora o orgasmo tenha origem na região genital, muitas vezes é sentido no corpo inteiro.
9 – Depois do sexo, homens e mulheres tendem a ter comportamentos distintos. Normalmente, elas querem mais interação que eles. O autor chama isso de descompasso de carinho e explica que, em grande parte, a biologia é culpada pela diferença. “O homem desaba rapidamente, enquanto a mulher desce mais devagar. Por isso não vale a pena esquentar a cabeça, irritar-se e brigar. Em vez disso, respeite a diferença entre vocês e chegue a um meio-termo: caia no sono com ela aninhada em seus braços”.
10 – Há muito preconceito sobre a região íntima das mulheres, especialmente relacionado ao odor. Mencionado no livro, o Relatório Hite sobre Sexualidade Masculina mostrou que metade dos homens que disseram apreciar sexo oral manifestou, porém, preocupação com questões de limpeza e higiene. Kerner pede atenção para inseguranças incabíveis não serem alimentadas pelas mulheres. “Uma vagina saudável é uma vagina limpa. Cada mulher tem cheiro e gosto diferentes. Algumas são mais adocicadas, outras um pouco mais ácidas, outras mais neutras e indefiníveis. Às vezes a diferença é sutil, mas também pode ser gritante. Tampouco a mesma mulher tem sempre o mesmo cheiro e o mesmo sabor”.