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A vontade inabalável de Maria Silvia: “para ter poder é preciso não ter apego ao poder”
NEGÓCIOS

A vontade inabalável de Maria Silvia: “para ter poder é preciso não ter apego ao poder”

Já no prefácio, Miriam Leitão resume a força que perpassa as 300 páginas de Vontade Inabalável ao enfileirar alguns dos principais feitos da carreira de Maria Silvia. Nas palavras da jornalista, a autora é “uma mulher que estudou e trabalhou, enfrentou desafios diferentes, foi professora, formuladora de políticas públicas, negociadora externa, participou do processo de […]

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Já no prefácio, Miriam Leitão resume a força que perpassa as 300 páginas de Vontade Inabalável ao enfileirar alguns dos principais feitos da carreira de Maria Silvia. Nas palavras da jornalista, a autora é “uma mulher que estudou e trabalhou, enfrentou desafios diferentes, foi professora, formuladora de políticas públicas, negociadora externa, participou do processo de privatização, foi executiva de siderúrgica, secretária de Fazenda do Rio, presidente de seguradora, primeira diretora e, vinte anos depois, primeira presidente do BNDES”.

Para quem está distante do mundo dos negócios, pode-se supor que Maria Silvia não seja uma presença facilmente notada. Talvez você nem saiba quem ela é. Mas, veja, essa é justamente uma das marcas que a torna tão fascinante. Ser mulher num mundo de homens e viver nele sem protagonizar nenhum escândalo, ainda que cercada de desafios por todos os lados, todos os dias, o tempo todo. Executiva pioneira, como nos lembra o livro, ela repassa sua trajetória nesta biografia profissional. Os detalhes da vida pessoal ficam em segundo plano, mas ajudam a adensar o terreno pelo qual ela se firmou no ofício, numa trajetória compartilhada em dez capítulos.

Há um cuidado de dimensionar as conquistas, mas também de apoiá-las numa reflexão que extrapola a vivência no mundo dos negócios: “Acho que a principal lição que aprendi e gostaria de dividir é que nenhuma decisão é definitiva e não há caminho cujo trabalho não possa ser mudado”, frisa Maria, sem mencionar ainda a palavra que norteou suas decisões: coragem. Coragem, por exemplo, ao desviar a rota pré-determinada para as mulheres de sua família – ser professora, casar  e ter filhos – e de enfrentar o pai para deixar a pequena Bom Jesus do Itabapoana, cidade do norte fluminense onde nasceu, a fim de estudar administração na atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Enfrentamentos do tipo marcaram sua jornada, confirmando a sina do pioneirismo.

Nos anos 90, Maria Silvia participou da Secretaria Especial de Política Econômica (SEPE) durante o atribulado governo de Fernando Collor. Ela relembra o Plano Brasil Novo, que congelou salários e preços, e afirma não ter concordado com a forma como estava sendo implantado. Apesar da confusão causada pela política econômica, ela explica ter atuado principalmente na relação do país com os credores externos. Após a saída da ministra Zélia Cardoso, foi convidada para trabalhar no BNDES. Ela era diretora do banco quando acompanhou o processo de impeachment do então presidente da república .

“A participação no governo Collor me proporcionou um grande aprendizado, com importantes lições de vida. Compreendi, vivenciando e assistindo a diversas situações, que para ter poder – aquele que pode transformar a realidade e melhorar a vida das pessoas – é preciso não ter apego algum ao poder. É preciso estar sempre disposto a deixar o cargo e ir embora. É fundamental, isso sim, ter apego a seus princípios e valores. Os fins – definitivamente – não justificam os meios”, endossa Maria, numa reflexão recuperada em outros trechos do livro. Percorrer a carreira da executiva é também uma forma de revisitar a história econômica recente do país, com conquistas e desafios constantes. Cito dois momentos mais recentes registrados no livro.

Olímpiada e JBS

Numa das passagens de “Vontade Inabalável”, ela relata como foi participar da concepção das Olimpíadas do Rio de Janeiro à frente da Empresa Olímpica Municipal, a EOM, coordenadora dos projetos da cidade para os jogos. O evento grandioso, claro, foi cercado de dificuldades no planejamento e na execução das iniciativas, com uma parcela inerente de controvérsia. Apesar da experiência acumulada, ela mesma afirma ter tido momentos de dúvidas sobre continuar ou não na empreitada. O trabalho começou em 2011 e foi até 2014. “Talvez o prefeito (Eduardo Paes) nem tenha a percepção exata do trabalho realizado pela EOM, pois tudo era tão corrido e intenso que muitas questões eu nem sequer conseguia levar para ele, buscando dar prioridade, em nossos despachos semanais, aos problemas e às urgências”, conta ela.

Em seguida, mantendo a marca de ser pioneira, Maria se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do BNDES. “Foi um período transformador, com mudanças estruturais”, sintetiza. Mas também delicado, ela relata a seguir. Entre os fatos recordados no livro está aquele em que o banco foi alvo da Operação Lava Jato, que investigava uma suspeita de irregularidade na aquisição de frigoríficos pela JBS. O escândalo se desdobrou com as gravações de conversas entre Michel Temer e Joesley Batista, dona da empresa. “Aceitei o convite para assumir a presidência do BNDES para cumprir uma agenda técnica, não queria me envolver em política”, afirma. Diante do tumulto e, mais uma vez, seguindo sua intuição, Maria Silvia compreendeu que não estava blindada para exercer a função e entregou sua carta de demissão.

Ao recordar sua carreira até aqui, ela destaca: “Não consigo conceber não estar contribuindo para uma causa, seja ela privada ou pública, ou viver sem um propósito. Acho que viemos ao mundo para desempenhar missões – e eu pretendo exercer todas que estejam ao meu alcance”. Alguém duvida?

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