“O poder do agora”: como encontrar a felicidade no tempo presente e acabar com o sofrimento | Sextante
“O poder do agora”: como encontrar a felicidade no tempo presente e acabar com o sofrimento
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“O poder do agora”: como encontrar a felicidade no tempo presente e acabar com o sofrimento

Além de ressaltar a importância da consciência, “O poder do agora” ensina a driblar o ego e a viver o tempo presente. Lançado há quase 20 anos, livro se mantém na lista dos mais vendidos.

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Além de ressaltar a importância da consciência, “O poder do agora” ensina a driblar o ego e a viver o tempo presente. Lançado há quase 20 anos, livro se mantém na lista dos mais vendidos.

De homem depressivo a mestre espiritual. Antes de escrever O poder do agora, Eckhart Tolle enfrentou um período de angústia absoluta em relação à vida, anunciada por crises de pânico cada vez mais recorrentes. À beira dos 30, o futuro parecia ser sinônimo de precipício, lugar para o qual estava sendo lentamente sugado. “Um profundo anseio de destruição, de deixar de existir, tinha tomado conta de mim, tornando-se até mais forte do que o desejo instintivo de viver”, traduz ele, hoje com 71 anos, a sensação que norteou alguns de seus piores momentos. O sentimento foi revertido, felizmente. A beleza das pequenas coisas, antes ignoradas, se revelou aos seus olhos, renovando seu eu interior. O livro recupera esse processo de redescoberta. Uma das verdades mais profundas encontradas pelo escritor é justamente a importância da conexão com o tempo presente, num pacto com a consciência.

Meu tempo é hoje

Construído numa dinâmica de perguntas e respostas, O poder do agora reflete o aprendizado que Tolle compartilhou com pequenos grupos em palestras feitas nos Estados Unidos e na Europa por mais de uma década.  A essência do trabalho do escritor está esmiuçada no livro, lançado em 2002 e, até hoje, um campeão de vendas. A partir de conceitos explorados por diversas matrizes religiosas, o guia orienta o leitor a realizar uma transformação da consciência. O objetivo é alcançar a iluminação, definida por ele como  “o estado natural de sentir-se em unidade com o Ser”. Em outras palavras, uma ligação com algo imensurável e indestrutível, um estado de paz. Ou ainda, segundo Buda, o fim do sofrimento. Sim, iluminação.

“A incapacidade de sentir essa conexão dá origem a uma ilusão de separação, tanto de você mesmo quanto do mundo ao redor. Quando você se percebe, consciente ou inconscientemente, como um fragmento isolado, o medo e os conflitos internos e externos tomam conta da sua vida”, ressalta. A compreensão desse estado é a primeira etapa da mudança. De acordo com Tolle, a dificuldade de parar de pensar – o ruído mental incessante – é o maior obstáculo para vivenciar a realidade da iluminação. “Isso faz com que a mente crie um falso eu interior que projeta uma sombra de medo e sofrimento sobre nós”, completa. 

Na avaliação de Tolle, há um equívoco no que diz respeito a nossa relação com a mente: nós não a usamos, é ela que nos usa. Ou como o escritor sintetiza: “o instrumento se apossou de você”. O vocabulário dessa conversa, além de iluminação, presente e consciência, precisa também incluir controle como princípio fundamental. A partir do controle da mente é que se começa a acordar verdadeiramente para a vida. Enquanto esse dia não chega, somos dominados por aquela voz mental que insiste em roubar nossa paciência e em introjetar preocupações incalculáveis a cada instante, como se estivéssemos sempre na borda de um desfiladeiro. Um estado de medo que em nada se assemelha ao estado de paz da iluminação. Lembram de como o autor se sentia depressivo antes?

Afastando-se do sofrimento

A maior parte do sofrimento humano é desnecessária, uma forma de não aceitação do momento atual, explica Tolle. Sendo resistência ao tempo presente, o sofrimento pode ser considerado também uma espécie de julgamento, que freia nossa adesão ao agora. Assim, nos identificamos com os descaminhos da mente e sofremos ainda mais. O controle da mente, a consciência, ao contrário, tem a incrível capacidade de nos libertar. “Para ter certeza de que permanece no controle, a mente trabalha o tempo todo para esconder o momento presente com o passado e o futuro”, salienta o escritor.  

Assim, a melhor maneira de não gerar mais sofrimento é tendo consciência de que o momento presente, o agora, é tudo o que temos. É possível se perder em rápidas visitas ao passado e ao futuro para lidar com aspectos práticos da vida, mas é essencial saber que é o momento atual que deve assumir os desdobramentos da vida. O presente é o foco. Reconhecer isso, o escritor insiste, é dizer sim à vida. Isso significa, inclusive, aceitar que o momento atual pode ser feito de passagens desagradáveis. Até mesmo elas devem ser vividas e experimentadas. “O que quer que o momento atual contenha, aceite-o como uma escolha sua. Trabalhe sempre com ele, não contra. Torne-o um amigo e aliado, não seu inimigo. Isso transformará toda a sua vida, como por milagre”, ensina. 

O que importa é o agora

Como se sabe, a mensagem sustenta a escrita do livro de Tolle. Num dos capítulos de O poder de agora, ele destaca as artimanhas do ego, sempre às voltas com medos e carências, um fabricante nato de empecilhos, especialista em nos afastar do agora. Vem dele a ânsia de examinar todos os pormenores produzidos pela mente, como parte de uma estratégia de manter a ilusão que o sustenta em funcionamento. O elo com o tempo presente afrouxa – ou melhor, destrói – os laços com as mesquinharias do ego. Parte desse processo envolve entender que tempo e mente são inseparáveis. “Estar identificado com a mente é estar preso ao tempo. É a compulsão para vivermos quase exclusivamente através da memória ou da antecipação”, confirma o autor. 

É claro que a afirmação pode provocar certo espanto em que sempre acreditou no tempo como aliado, mas essa lógica, para Tolle, se baseia numa ilusão. O agora representa justamente um ponto que escapa ao tempo, este sempre alternando-se entre passado e futuro, alheio ao agora: “O eterno presente é o espaço dentro do qual se desenvolve toda a nossa vida, o único fator que permanece constante. A vida é agora. Nunca houve uma época em que a nossa vida não fosse agora, nem haverá”, afirma, reforçando mais uma vez: não existe nada fora do agora.

Outras três lições de “O poder do agora

Estar no presente

“Identificar-se com a mente dá a ela mais energia, enquanto observar a mente retira a sua energia. Identificar-se com a mente gera mais tempo, enquanto observar a mente revela a dimensão do infinito. A energia retirada da mente se transforma em presença. No momento em que conseguimos sentir o que significa estar presente, fica muito mais fácil escolher simplesmente escapar da dimensão do tempo e entrar mais profundamente no Agora”. 

Sofrimento x consciência

“O sofrimento, a sombra escura projetada pelo ego, tem medo da luz da nossa consciência. Teme ser descoberto. Sobrevive graças à nossa identificação inconsciente com ele, assim como do medo inconsciente de enfrentarmos o sofrimento que vive dentro de nós. Mas se não o enfrentarmos, se não direcionarmos a luz da nossa consciência sobre o sofrimento, seremos forçados a revivê-lo”. 

Pouca presença

“Toda a negatividade é causada pelo acúmulo de tempo psicológico e pela negação do presente. O desconforto, a ansiedade, a tensão, o estresse, a preocupação, todas essas formas de medo são causadas por excesso de futuro e pouca presença. A culpa, o arrependimento, o ressentimento, a injustiça, a tristeza, a amargura, todas as formas de incapacidade de perdão são causadas por excesso do passado e pouca presença”. 

Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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