Bons ouvintes, criativos, sensíveis e inventivos. As qualidades dos quietinhos são destacadas no livro de Susan Cain, que também recorda personagens históricos introspectivos e mostra os perigos de seguir um ideal de extroversão
Logo no começo de “O poder dos quietos”, Susan Cain reforça que o aspecto mais importante da personalidade é onde nos situamos no espectro introversão-extroversão, o norte e o sul do temperamento. A localização influencia diretamente nossas relações, das amizades aos romances, mas também afeta os rumos da carreira profissional e o modo de conversar e resolver problemas. Além disso, revela outras muitas camadas do nosso comportamento, como a disposição a fazer exercícios físicos e/ou a cometer traições, por exemplo. Tendo na bagagem pesquisas e conversas com centenas de pessoas, entre especialistas, empresários e cidadãos comuns, Cain traça uma radiografia da introversão e joga luz para a potência daqueles considerados mais quietos.
Ainda que introversão e extroversão não sejam categorias unitárias, com as quais todos podem concordar sobre quem se encaixa em uma delas, há um consenso sobre o que significa um e outro. “Os psicólogos de hoje tendem a concordar em vários pontos importantes: por exemplo, que introvertidos e extrovertidos diferem quanto ao nível de estímulo externo que precisam para funcionar bem. Introvertidos sentem-se ‘bem’ com menos estímulo, como quando tomam uma taça de vinho com um amigo próximo, fazem palavras cruzadas ou leem um livro. Extrovertidos gostam da vibração extra de atividades como conhecer pessoas novas, esquiar em montanhas perigosas ou escutar música alta”, explica.
Embora sintam dificuldade de autopromover, os introvertidos são excelentes ouvintes e, mais inventivos, também costumam se virar muito bem sozinhos. Algumas das descobertas e apontamentos da escritora sobre esse grupo especial – segundo ela, um terço das pessoas se enquadra nesse perfil – você descobre agora:
1 – Cain explica que muitos introvertidos se esforçam para esconder esse traço de sua personalidade. Isso porque estamos vivendo o que ela chama de Ideal da Extroversão, “a crença de que o ser ideal é gregário, alfa, e sente-se confortável sob a luz dos holofotes”. O típico extrovertido prefere a ação à contemplação, a tomada de riscos à cautela, a certeza à dúvida. O que não deixa de ser uma maneira de subestimar a força da introversão, muitas vezes encarada como decepcionante e, em alguns casos, patológica.
2 – Abraçar esse comportamento ideal de extroversão é um equívoco. A escritora lembra que algumas das ideias mais revolucionárias (de obras de arte a invenções) vieram dos chamados quietinhos. Ela está falando de pessoas como Albert Einstein, Steven Spielberg, Van Gogh, Chopin, Bill Gates, Gandhi, entre outros. São figuras que conquistaram o que conquistaram não “apesar de”, mas por causa de sua introversão.
3 – Em comparação aos extrovertidos, os introvertidos tendem a trabalhar de forma mais lenta e ponderada, focando em uma tarefa de cada vez. As tentações da fama e da fortuna também afetam menos as pessoas mais quietas. Elas podem curtir festas e reuniões de negócios, mas não demoram a desejar o conforto de casa. Os introvertidos “preferem devotar suas energias sociais a amigos íntimos, colegas e família. Ouvem mais do que falam e muitas vezes sentem que se exprimem melhor escrevendo do que falando”, completa Cain.
4 – Um ponto importante na conversa é compreender a diferença entre introversão e timidez. Os conceitos podem se sobrepor, mas não são sinônimos. A escritora explica que timidez diz mais sobre o medo da desaprovação social e da humilhação, enquanto a introversão é a preferência por ambientes que não sejam estimulantes demais. “A timidez é inerentemente dolorosa; a introversão, não”, sintetiza. Então, você pode ser um extrovertido tímido, um introvertido não tímido e, claro, um tímido introvertido. A sensibilidade tampouco é uma característica intrínseca à introspecção, mas, segundo Cain, está presente em 70% dos mais quietos.
5 – Ao voltar a abordar sobre o Ideal da Extroversão, a escritora ressalta que há uma forte tendência a achar que ser extrovertido nos torna não apenas mais bem-sucedidos, como também pessoas melhores. A percepção que parece nos governar é a de que pessoas falantes são mais inteligentes, numa lógica de reconhecimento que funciona da seguinte maneira: quanto mais uma pessoa fala, mais os outros integrantes do grupo dirigem a atenção a ela, o que significa que essa pessoa fica cada vez mais poderosa. “Tudo isso não teria problema se falar mais fosse sinal de ideias melhores, mas pesquisas sugerem que tal ligação não existe”, informa Cain.
6 – A internet se tornou como um importante campo de expressão para os introvertidos. A escritora conta que alguns estudos têm mostrado que os introvertidos tendem, mais do que os extrovertidos, a expressar na internet fatos íntimos que sua família e seus amigos se surpreenderiam ao ler. “A mesma pessoa que jamais levantaria a mão em uma sala de aula com 200 pessoas pode escrever em um blog para 2 mil, ou 2 milhões, sem pensar duas vezes. A mesma pessoa que acha difícil falar na frente de estranhos pode estabelecer uma presença virtual e a partir daí estender esses relacionamentos para o mundo real”, sustenta.
7 – Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, pessoas mais criativas tendem a ser socialmente classificadas como introvertidas. Ao pensar na vantagem dos mais quietos, Cain aponta que a preferência por trabalhar de forma independente e a solidão podem ser catalisadores da inovação. “Se você estiver sentado sob uma árvore no quintal enquanto todos estão brincando no pátio, é mais provável que uma maçã caia em sua cabeça”, afirma a escritora, lembrando o famoso episódio envolvendo o tímido Newton, que elaborou a teoria da gravidade.
Para arrematar, uma frase de Cain que sintetiza o poder transformador da introspecção:
“Quem quer que você seja, tenha em mente que as aparências enganam. Algumas pessoas agem como extrovertidos, mas o esforço lhes custa a energia, a autenticidade e até a saúde física. Outros parecem distantes e reclusos, mas suas paisagens interiores são ricas e cheias de atividades. Então da próxima vez que vir uma pessoa com o rosto plácido e uma voz suave, lembre-se de que na mente ela pode estar resolvendo uma equação, compondo um soneto, criando o design de um chapéu. Ou seja, empregando os poderes da quietude”.