Introdução
A motivação e o fogo
Antes de Bob Dylan conhecer a cantora Joan Baez, já era um grande admirador seu. No livro Crônicas, ele escreveu sobre a ex-namorada: “Eu tinha medo de encontrá-la pessoalmente. Nós estávamos indo na mesma direção, embora eu estivesse atrás dela naquele momento. Ela tinha o fogo, a chama, e eu sentia que tinha aquele mesmo fogo também.”
Não é preciso ser artista para entender do que ele estava falando. Todos sabemos como é ter esse fogo, mesmo que isso tenha acontecido por um período muito breve.
O momento mais decisivo da minha história foi quando descobri que eu mesmo poderia acender esse fogo em mim. Nos primeiros 50 anos da minha vida, pensei que ele só seria atiçado se alguma coisa me inspirasse. Achava que algo precisava acontecer de fora para dentro.
Na verdade, o fogo se acende com fogo.
Para acender a lareira, coloco jornal amassado sob a base de gravetos e, por cima, a lenha. Depois, uso um fósforo ou um isqueiro para queimar a madeira. Fogo para acender fogo.
O processo é o mesmo nas pessoas. Entrar em ação, independentemente de você sentir ou não vontade de agir, é a pequena faísca de que precisamos para acender a nossa fogueira.
Desde seu lancamento, em 1996, este livro tem feito um sucesso que jamais imaginei. 100 maneiras de motivar a si mesmo não apresenta teorias complicadas sobre viver melhor. Ele traz dicas úteis e diretas para aumentar a sua motivação. Esta é uma leitura obrigatória para aperfeiçoar qualquer área da sua vida. Como bônus, nesta edição incluí 10 novas dicas.
Se as lições contidas nestas páginas conseguirem atiçar a sua chama, terei atingido o meu objetivo.
1. Imagine-se em seu leito de morte
Há alguns anos, em uma sessão com a psicoterapeuta Devers Branden, fui submetido a um exercício chamado “Leito de morte”.
Primeiro eu deveria me imaginar em meu leito de morte e tentar sentir as emoções associadas a morrer e dizer adeus. Então, ela pediu que eu convidasse mentalmente as pessoas importantes em minha vida para me visitarem nessa hora final, uma de cada vez. Enquanto eu visualizava cada amigo e parente me visitando, tinha que falar com eles em voz alta. Precisava dizer a eles o que queria que soubessem no momento em que eu estava partindo.
Com cada pessoa que eu falava, minha voz ficava embargada de emoção. Eu não conseguia segurar o choro. Tinha uma imensa sensação de perda. Não estava sofrendo pelo fim da minha vida, mas pelo amor que eu perderia. Para ser mais claro, eu estava expressando meu carinho de uma forma que nunca havia feito antes.
Durante esse difícil exercício, consegui perceber quanta coisa eu deixara de fora da minha vida. Eram muitos os sentimentos maravilhosos que nutria pelos meus filhos, por exemplo, e que nunca havia expressado abertamente. Ao fim daquela sessão, eu estava muito abalado. Poucas vezes havia chorado tanto. Mas, depois de extravasar essas emoções, algo incrível aconteceu. Obtive clareza. Soube o que era de fato importante e quem significava mais para mim.
Daquele dia em diante, jurei jamais deixar nada ao acaso nem omitir meus sentimentos. Queria viver a vida como se fosse morrer a qualquer momento. Aquela experiência alterou por completo a forma como me relaciono com as pessoas. Consegui entender o ponto principal do exercício: não precisamos esperar até estarmos prestes a morrer para usufruir do benefício da mortalidade. Podemos criar essa experiência a qualquer momento.
Alguns anos depois, quando minha mãe vivia seus últimos instantes, numa cama de hospital em Tucson, eu me apressei para segurar sua mão e lhe dizer, mais uma vez, quanto a amava e era grato por tudo que ela havia sido para mim. Quando finalmente faleceu, meu luto foi muito intenso, mas curto. Em alguns dias, senti que tudo de bom em minha mãe agora fazia parte de mim e que ela viveria comigo para sempre, como um espírito amoroso.
Um ano e meio antes da morte do meu pai, comecei a lhe mandar cartas e poemas sobre quanto ele havia contribuído para minha vida. Em seus últimos meses, ele sofreu com uma doença crônica, por isso nem sempre era fácil me comunicar ou falar com ele pessoalmente. Mas sempre me fez bem saber que ele podia ler tudo aquilo. Uma vez, me ligou depois de ler um poema que fiz em homenagem ao Dia dos Pais e disse: “É, acho que fui um pai melhor do que eu pensava.”
O poeta William Blake nos alertou sobre o perigo de manter nossos pensamentos trancados dentro de nós até a morte. “Se o pensamento está preso em cavernas, as raízes do amor só aparecerão nas profundezas do inferno.”
Fingir que não vamos morrer prejudica a forma como aproveitamos a vida. É como se um jogador de basquete, por exemplo, fingisse que não há um fim para a partida que está disputando. Ele iria reduzir sua intensidade, adotar um estilo preguiçoso de jogar e, é claro, acabar nem se divertindo muito. Sem final, não há jogo. Sem a consciência da morte, você não estará totalmente consciente da dádiva de estar vivo.
Mesmo assim, muitos de nós continuamos fingindo que o jogo da nossa vida não terá um final. Seguimos deixando para fazer coisas maravilhosas no futuro, no dia em que estivermos dispostos.
Aceitar a realidade da própria morte não precisa acontecer apenas quando a vida estiver chegando ao fim. Na verdade, ser capaz de imaginar com clareza seus últimos momentos no leito de morte cria uma sensação paradoxal: a de nascer de novo – o primeiro passo para a automotivação corajosa. Como disse a escritora Anaïs Nin: “As pessoas que vivem profundamente não têm medo de morrer.”
2. Continue faminto
Arnold Schwarzenegger ainda não era famoso em 1976, quando almocei com ele no hotel Doubletree Inn em Tucson, no Arizona. Ninguém no restaurante o reconheceu. Ele estava na cidade para promover o filme O guarda-costas (Stay Hungry), fracasso de bilheteria que tinha acabado de gravar, contracenando com Jeff Bridges e Sally Field. Eu era colunista esportivo do Tucson Citizen na época e minha pauta era passar um dia inteiro com Arnold, entrevistando-o para escrever um perfil para a revista de domingo do jornal.
Eu também não fazia ideia de quem ele era ou de quem se tornaria. Concordei com o trabalho porque simplesmente não tinha escolha. E embora tenha saído da redação com certa má vontade, aquela acabou sendo uma entrevista que jamais esquecerei.
Talvez a parte mais memorável do dia com Schwarzenegger tenha ocorrido durante o almoço. Eu continuava anotando as respostas dele no meu caderninho enquanto comíamos. A certa altura lhe perguntei: “Agora que você se aposentou do fisiculturismo, qual será o próximo passo em sua carreira?”
Com a maior naturalidade do mundo, ele respondeu: “Vou me tornar o astro responsável pelo maior sucesso de bilheteria de Hollywood.”
Procurei não demonstrar meu espanto nem minha vontade de rir com o plano dele. Afinal, sua estreia no cinema não prometia muito. O sotaque austríaco e o físico monstruoso também não sugeriam grande possibilidade de aceitação pelo público. Enfim, consegui me recompor e, com a mesma tranquilidade de Arnold, perguntei a ele como exatamente planejava se tornar um astro de Hollywood.
“Pelo mesmo processo que usei no fisiculturismo”, explicou. “O que faço é criar uma visão do que quero ser e então vivenciar essa imagem como se já fosse realidade.”
Parecia ridiculamente simples. Simples demais para significar alguma coisa. Mas anotei o que ele falou e nunca me esqueci disso.
Também sempre vou me lembrar do momento em que um programa de TV anunciou que os números de bilheteria de O exterminador do futuro II tornavam Arnold o astro que mais atraía espectadores ao cinema no mundo inteiro.
Ao longo dos anos, tenho usado sua ideia de criar uma visão como uma ferramenta motivacional. Peço às pessoas que atentem para o fato de que ele não disse que você deve esperar até receber uma visão, mas que deve criá-la. Ou seja, inventá-la. Para ter uma vida motivada você precisa de algo que o anime a se levantar da cama pela manhã – algo que faça a fim de se manter faminto.
Essa visão pode ser criada agora mesmo – e quanto mais cedo melhor. Você poderá modificá-la se quiser, mas tente fortalecê-la em todos os momentos. Então observe que a vontade de realizar essa visão pode fazer milagres por sua habilidade de motivar a si mesmo.