Introdução
Esta é a história de uma jornada pessoal fora do comum.
Não é o que se esperaria de alguém com minha criação tradicional e minha experiência profissional. Ela começa com a morte prematura de meu amado marido Max Besler, em 2004, e se desenrola num período de oito anos, com uma série de fatos extraordinários que me deixaram a princípio perplexa e depois curiosa. Esta é a história de meu crescimento espiritual e de como minha mente se abriu aos poucos para realidades que antes eu consideraria inimagináveis. É uma história sobre o amor e como ele conecta todos nós num universo muito mais fascinante do que eu jamais imaginara. Espero que meu relato seja uma fonte de força para todos aqueles que são tocados pela morte – ou seja, todos nós.
O que acontece após a morte é uma questão que sempre nos intrigou. O tema costuma causar alguma inquietação. Aqui estamos nós, levando vidas plenas e ativas. Por que deveríamos pensar na morte? Mas então ela nos atinge. Perdemos algum ente querido e somos obrigados a pensar sobre o assunto e sobre o que acontece depois que morremos. Cientistas, teólogos, escritores, músicos, poetas e artistas plásticos – todos já abordaram essa questão direta ou indiretamente. Ela está no centro do sistema de crenças das religiões organizadas, como aquela em que fui educada pela minha família, a igreja presbiteriana. Acreditamos que, quando morremos, vamos para o céu. Mas o que é o céu?
Se soubéssemos, não apenas pela fé em nossa religião, mas através de dados da ciência moderna, que nossa consciência sobrevive após a morte, isso teria um impacto profundo sobre o nosso comportamento. Considero indiscutível que esta seja a questão mais importante da vida: existe vida após a morte? O que poderia ser mais importante? Este livro sugere que continuamos vivos depois de morrer, mas de uma forma diferente. Em termos simples, a vida não acaba com a morte física. Minha esperança é abrir a mente dos leitores para essa possibilidade.
Minha maior motivação para escrever A mão no espelho foi estimular as pessoas a falar abertamente sobre suas experiências de comunicação com entes queridos já falecidos. Também espero que este livro ofereça aos leitores não apenas uma estrutura emocional, mas também uma base intelectual para legitimar essas experiências. A discussão sobre esse assunto deveria ocorrer às claras, sem restrições. Seria um benefício para toda a sociedade se eliminássemos o estigma negativo ligado aos relatos pessoais sobre a vida após a morte – inclusive aqueles que envolvam manifestações sobrenaturais, como a minha.
Parte significativa de minha relutância em escrever este livro se deve ao medo do constrangimento. Eu sabia que minhas revelações seriam polêmicas, e fiquei obcecada com o que minha família e meus amigos iriam pensar. É claro que eu sabia que eles me amavam, mas temia que isso não os impedisse de pensar que minha tristeza profunda havia afetado meu juízo. E também tinha receio quanto à reação de meu círculo mais amplo de amigos e colegas, principalmente aqueles com quem eu trabalhava. Estava convencida de que, para muitas dessas pessoas, cujas personalidades são muito apegadas a fatos científicos, seria impossível aceitar a natureza estranha dos acontecimentos que vivenciei. Quem poderia condená-las? A história é inacreditável, está fora dos limites do normal. E, muito embora haja fotografias para documentá-la, costumamos acreditar apenas naquilo que queremos acreditar – e não no que pode ser inacreditável, mas verídico.
Sei que não estou sozinha nesse medo da condenação pública. Como parte de minha pesquisa, contei minha história e mostrei as fotografias a algumas pessoas, e muitas delas se identificaram com minhas experiências. Na verdade, estavam ansiosas para me contar a história delas e às vezes mencionavam que nunca a haviam revelado a ninguém – em certos casos nem aos cônjuges –, por medo da reação dos outros. Descobrir que elas também estavam relutantes alimentou minha coragem de vir a público.
Todas as histórias tem personagens, e esta não é exceção. Você conhecerá minha família, meus amigos, professores, pesquisadores, psicólogos, físicos, líderes espirituais, médiuns e uma série de outros indivíduos que participaram da minha jornada e foram fundamentais em minha investigação. Talvez as semelhanças entre o pensamento de todos eles lhe cause surpresa, apesar de nem sempre se expressarem com a mesma linguagem. Você vai conhecer alguns cientistas importantes nesse campo e tomar conhecimento da frustração deles ao tentar aprofundar suas pesquisas. Espero que, como eu, você possa reconhecê-los como pessoas fascinantes.
Algumas questões técnicas vão muito além de minha capacidade, mas tentei descrever os princípios e avanços científicos de maneira que o leitor entenda. Minha meta é permitir que os cientistas e suas respectivas pesquisas recebam a atenção que merecem.
Se os leitores se sentirem à vontade para contar suas histórias sobre a sobrevivência da consciência e a vida após a morte, o assunto poderá ganhar algum destaque e talvez receba uma cobertura mais séria por parte da imprensa. Com isso, os cientistas desse campo poderiam fazer suas pesquisas num ambiente mais aberto e com financiamento adequado. Qualquer contribuição que este livro possa dar nesse sentido será imensamente gratificante para mim.
A aceitação cada vez maior da sobrevivência da consciência e, portanto, da vida após a morte, tem o potencial de provocar mudanças em todos nós. Levaremos a vida com mais ênfase no amor e menos no medo da perda, e talvez – apenas talvez – comecemos a entender nosso verdadeiro propósito.
Janis Heaphy Durham