Com mais de um milhão de livros vendidos, Leandro Narloch inaugura com Escravos a coleção Achados & Perdidos da História, que tem o objetivo de resgatar biografias de personagens diversos – conhecidos ou anônimos – que retratam momentos fundamentais da humanidade.
A coleção contará a história do Brasil e do mundo por meio de histórias de vida. Não há caminho melhor para se reconectar ao passado do que conhecer dramas e aventuras de homens e mulheres que construíram a nossa identidade.
A partir da biografia de escravos, este livro percorre os três séculos da escravidão e suas diversas fases. Muitas histórias confirmam a brutalidade que, como sabemos, marcava aquele sistema. Outras espantam: no século 18, uma mulher livre se vendeu como escrava; um negro liberto mandava dinheiro à viúva de seu antigo dono ao saber que ela havia empobrecido.
São relatos tão surpreendentes que só conseguimos entendê-los se abandonarmos nossa mentalidade acostumada à liberdade e aos direitos humanos do século 21.
Ao revirar este baú de achados e perdidos, o leitor chegará à conclusão de que não houve só uma escravidão no Brasil. Mas várias, de diversos tipos e cenários, com um grau de complexidade muito maior do que imaginávamos.
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Em 1780, Joanna Baptista, uma mulher livre de Belém, no Pará, decidiu se vender como escrava. Na escritura de compra e venda de si própria, ela afirma que fechou o negócio por 80 mil-réis: metade em dinheiro e metade em joias e acessórios de ouro.
João de Oliveira foi um ex-escravo que fundou, no século 18, dois grandes portos de venda de negros na África Ocidental. Chegou a bancar guerras contra reis africanos para garantir embarques ao Brasil. Ao saber que a viúva de seu antigo dono passava por dificuldades em Salvador, mandou dois escravos de presente para ela.
Em 1770, a escrava Esperança Garcia mandou uma carta ao governador do Piauí denunciando a violência de seu senhor. “Há grandes trovoadas de pancadas em um filho meu”, relatou. “Em mim não posso explicar que sou colchão de pancadas…”
Nicolau, funcionário de uma fazenda da Ordem Beneditina de Pernambuco, era um escravo dono de escravos. Antes mesmo de obter a própria liberdade, comprou dois escravos para si próprio.
Por volta de 1750, o cônego Januário Barbosa percebeu que um de seus escravos, o garoto Manuel da Cunha e Silva, tinha vocação para a arte. Liberou o garoto do trabalho e o mandou para uma escola de artes em Lisboa. Vinte anos depois, Manuel, ainda escravo, era um pintor renomado do Rio de Janeiro.