Apresentação
Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre aposentadoria. Aliás, esqueça a ideia de se aposentar. Aposentadoria, no sentido que o senso comum dá a essa palavra, é um conceito ultrapassado se consideramos o estilo de vida que todos queremos e buscamos ter. Vem sendo cada vez mais debatida a ideia de que o atual modelo de aposentadoria não se sustenta.
Há três ou quatro décadas, todos planejavam trabalhar por 30 ou 35 anos, e então se aposentar e viver tranquilamente, sem preocupações, pelos 5 ou 10 anos que lhes restassem de vida. Ao se aposentar, não sofriam e não davam trabalho a ninguém, pois viviam da previdência pública e dos complementos gerados pelo saque do fundo de garantia e pela venda de algum bem adquirido ao longo da vida. Naquele tempo, a aposentadoria representava a meta final em nosso projeto de vida.
Hoje, ela marca o início de uma etapa que pode ser longa a ponto de não conseguirmos ter uma noção exata do que esperar dela. Não temos sequer referências, pois, mesmo que nossos pais tenham tido vida longa, estavam em um contexto bastante diferente do atual.
Estamos vivendo mais, com mais qualidade, custo de vida mais alto e maior nível educacional e cultural. Após desfrutar de tantas experiências de consumo e lazer, ninguém estará disposto a simplesmente aceitar um estilo de vida com escolhas limitadas pela falta de dinheiro. Se a redução na renda não matar de fome, vai matar de depressão muitos desprecavidos.
Infelizmente, a maioria de nós ainda planeja trabalhar por 30 a 35 anos, mas sem grandes cuidados para garantir que de fato esteja bem a partir de então. Em geral, a aposentadoria formal ainda se dá por volta dos 60 aos 65 anos, ou meia década mais cedo para servidores públicos. Porém o sentimento a partir daí normalmente é de frustração, seja pela renda insuficiente, seja pela falta que faz a saudável e construtiva rotina de trabalho.
Bancos, empresas de previdência, fundos de pensão e o Ministério da Previdência Social preconizam que as pessoas precisam poupar mais, para que as contas das previdências pública e privada fechem. Mas será que isso basta diante de modelos e serviços pouco eficientes para as ambições de uma população cada vez mais consciente de sua necessidade de bem-estar? Poupar mais resolve o problema, ou amanhã seremos levados a fazer ainda mais esforço?
Essa solução simplista de poupar mais é, na prática, inviável. O Brasil vive hoje seu período de bônus demográfico, a fase histórica em que, dentro do processo de envelhecimento da população, a maior parte dos habitantes do país se encontra na fase produtiva, gerando renda e contribuindo para a previdência. Nessa fase, o país deveria estar investindo maciçamente em infraestrutura e melhorias na educação e na qualidade de vida da população, além de criando reservas extras para a previdência pública. Não está. Tanto o governo quanto as pessoas e as empresas estão torrando os ganhos extras dessa fase. A corrupção e o oportunismo, que drenam dos cofres públicos e privados os recursos que deveriam se transformar em investimentos, nunca estiveram tão evidentes. Nos próximos anos, gastaremos cada vez mais com saúde, segurança, educação privada e impostos. É impraticável, neste modelo, imaginar que as famílias possam aumentar consideravelmente seu esforço de poupança.
A pressão por gastos cresce mais e mais, a inflação nunca esteve de fato sob controle, os rendimentos dos investimentos são decrescentes, a expectativa de consumo só aumenta e a capacidade de poupar está longe do ideal. Calma lá! Não é o cenário que está contra nossos planos. O problema está na fórmula que adotamos para tentar enfrentar essa situação. Ela simplesmente não funciona mais. Sua vida mudou, a economia do país mudou, e sua relação com o dinheiro também deve mudar.
É preciso adotar um novo modelo para planejar o futuro, já que as soluções para sobreviver no contexto atual não são convincentes. É essa nova forma de lidar com o dinheiro ao longo da vida que proponho neste livro. Reuni pesquisas e reflexões sobre casos de fracasso e de sucesso para desenvolver conselhos atualizados sobre a melhor maneira de se educar, de investir, de gerenciar a carreira e de desfrutar aquilo que foi plantado.
Ao longo de mais de uma década dedicando-me a estudar e trabalhar com educação financeira, escrevendo, fazendo palestras e orientando públicos de diversas idades e classes sociais, preparei-me para apresentar aqui uma nova forma de lidar com a evolução da riqueza ao longo da vida. Acredito que você irá se supreender com alguns dos elementos-chave do que proponho. Ao contrário do que sugerem as infrutíferas soluções atuais, o caminho que recomendo envolve menos privações, maior qualidade de vida, investimentos conservadores e mais sonhos realizados no decorrer dos anos.
Não acredita? Esse modelo tem sido testado há mais de 10 anos, inclusive entre pessoas que já chegaram à aposentadoria e que tiveram que lidar com os resultados limitados de um planejamento malsucedido. É uma proposta prática e acessível a qualquer um que esteja disposto a escrever a própria história. Peço seu voto de confiança sobretudo nas primeiras páginas desta leitura, para entender o que precisa ser mudado e como seus planos para o futuro podem melhorar de maneira definitiva.