Introdução
Confissões de um ejaculador precoce
A premissa deste livro é simples: quando se trata de dar prazer à mulher e de falar a linguagem do amor, a língua nativa de todo homem deve ser o sexo oral. Nas palavras de Lou Paget, autora de livros sobre vida sexual, “pergunte à maioria das mulheres e, se forem sinceras, elas vão admitir que o que lhes dá mais tesão e as faz gozar mais gostoso é quando um homem sabe usar bem a língua”.
Mas, como ocorre com qualquer idioma, para se expressar com fluência, para que a comunicação crie asas e levante voo, é preciso estar minuciosamente a par das regras de gramática e estilo. Um dos meus livros favoritos sobre o assunto é o indispensável clássico The Elements of Style (Os elementos do estilo), de William Strunk Jr. e E. B. White. Acho que eu não teria conseguido passar pelo primeiro ano da faculdade e muito menos me formado sem aquele livrinho ensebado de capa mole enfiado no bolso de trás. Graças à competência dos autores, a gramática não apenas passou a fazer sentido e ficou compreensível – ela se tornou bela.
A pequena obra incita o leitor a “escrever com ousadia e produzir frases definitivas”. No espírito desse clássico atemporal, As mulheres primeiro condensa um verdadeiro tesouro de experiências e habilidades em um livro descomplicado e de regras simples. Traz os princípios e a filosofia subjacentes a essas regras e pode ser considerado o guia definitivo da gramática do sexo oral. Se quiser aprender a usar a língua para proporcionar à mulher orgasmos de fazer o corpo inteiro tremer e a cabeça subir aos céus todas as vezes, você vai querer ler este livro.
Embora eu seja Ph.D. em sexologia clínica, este livro foi escrito sobretudo do ponto de vista do praticante, de alguém que conhece e adora sexo oral, reconhece sua importância no estímulo da resposta sexual feminina e desenvolveu uma metodologia para conduzir a mulher ao orgasmo de uma forma sistemática, com base na convicção de que o sexo oral é muito mais que uma simples prática sexual. Para mim, ele é a peça principal de toda uma filosofia de satisfação sexual que podemos chamar de “caminho da língua”.
Mas não me entenda mal: não sou nenhum Casanova ou Dom Juan escrevendo palavras vãs para me gabar ou me exibir. Longe disso. Durante boa parte da vida sofri terrivelmente de uma disfunção sexual e conheço muitíssimo bem a humilhação, a ansiedade e o desespero por não ser capaz de satisfazer uma mulher. Este livro foi escrito, acima de tudo, com a sincera esperança de que outros homens venham a adquirir “hábitos sexuais” eficazes que permitam que eles e suas parceiras sofram menos do que eu – ou talvez nem sofram. Como escreveu Tennessee Williams a respeito do leito conjugal na peça Gata em teto de zinco quente: “Quando o casamento fracassa, o fracasso começou ali, bem ali!” Bem, existe um jeito de evitar esse fracasso e deixar os lençóis mais acolhedores.
Minhas incursões iniciais no sexo oral eram uma muleta, uma maneira de compensar meus desajustes sexuais, e eu as encarava como um substituto inferior da alegria e do esplendor do “sexo de verdade” – como tanta gente, eu achava que a penetração era o único “jeito certo” de um casal chegar ao orgasmo. Para minha surpresa, porém, descobri que o “caminho da língua” não é, nem de longe, inferior à penetração. Na verdade, é superior e, em muitos casos, é a única forma, além da masturbação, de a mulher obter o estímulo ritmado e constante necessário para atingir o orgasmo. Aprendi rapidamente que sexo oral é sexo de verdade e anos depois, quando topei por acaso com um exemplar do essencial O relatório Hite: Um profundo estudo sobre a sexualidade feminina, me senti aliviado ao constatar que as mulheres consideram o sexo oral “uma das atividades favoritas e mais excitantes; as mulheres mencionaram repetidamente quanto gostavam”. Quando se trata de prazer, não existe jeito certo ou errado de ter um orgasmo – a única coisa errada é supor que as mulheres precisem dele menos que os homens ou que o valorizem menos que os homens.
No artigo “Seja simplesmente um homem: seis sugestões simples”, o primeiríssimo conselho da colunista de aconselhamento sexual Amy Sohn é: “Homem que é homem desce até lá. Sem desculpas. Sem vacilar.”
Mas, ao chegar lá embaixo, o que o homem deve fazer? A imensa maioria das mulheres reclama de caras que não gostam de fazer sexo oral, não sabem fazer e simplesmente não chegam nem perto de saber. A escritora americana Flannery O’Connor tinha razão: como diz o título de um de seus livros, um homem bom é difícil de encontrar, principalmente um que saiba dar um passeio agradável pelo parquinho. Porém, quando se acha um que saiba fazer sexo oral direito, dificilmente isso passa despercebido. No ensaio “Da boca pra fora: como ser um especialista de cunho linguístico”, a autora e colunista sexual Anka Radakovich louva o talento de um namorado que se especializou em sexo oral: “Levei uma chave de língua (o equivalente feminino da chave de boceta) e me ofereci até para lavar a roupa dele se ele viesse me satisfazer. No segundo mês, botei uma foto da língua dele em um porta-retratos na minha mesa.”
É hora de “pensar fora da caixa (dela)”. Quando se trata de carícias orais, todo homem deve seguir o mantra da famigerada fala de Rhett Butler para Scarlett O’Hara em … E o vento levou: “Você precisa ser beijada o tempo todo, e por alguém que saiba beijar.”
Quem me conhece sabe que sou uma pessoa discreta. Nem sonharia confessar ao mundo minha luta contra a disfunção sexual se não acreditasse, com todas as minhas forças, que este livro é absolutamente necessário. Sei disso com base no que li, no que ouvi e, mais importante, no que vivenciei como sexólogo clínico: a mulher não apenas gosta de sexo oral e anseia por ele; ela o exige. Qualquer terapeuta sexual lhe dirá que a queixa número um que ouve das mulheres, o tempo todo, diz respeito à incapacidade de chegarem ao orgasmo durante o intercurso peniano-vaginal. A solução não é apenas “mais preliminares”, como sugerem as revistas, nos repreendendo, e sim o prolongamento bem-feito daquela prática que associamos às preliminares. Em outras palavras, o prolongamento do estímulo oral até que ele se torne um ato amoroso completo, plenamente realizado – a transformação das preliminares em nada mais, nada menos que o jogo principal.
Este livro não é anti-intercurso, e sim pró-“extercurso” – o conceito de que o sexo é mais que a penetração, o que engloba o prazer mútuo, mais adaptado ao estímulo da anatomia sexual feminina até chegar ao orgasmo. É um modelo que não deixa de fora a penetração, mas incentiva o adiamento da satisfação masculina até que a mulher atinja o primeiro (e, espera-se, não o último) orgasmo durante uma sessão de atividade sexual. Essa postergação tem a dupla vantagem de assegurar a satisfação feminina ao mesmo tempo que aumenta de modo significativo a qualidade do clímax masculino. Este livro defende o adiamento da gratificação, não do prazer.
As mulheres primeiro proporciona a homens e mulheres uma abordagem infalível do tipo “mais vale um pássaro na mão do que dois voando” no que diz respeito a sexo de qualidade, ao contrário da estressante proposta “ou tudo ou nada” da penetração. É hora de preencher o vácuo sexual e jogar de igual para igual na obtenção do prazer recíproco. O sexo oral é muito mais que uma forma de alcançar esse nobre objetivo – é a pedra fundamental de um novo paradigma sexual, que leva de maneira espetacular a uma experiência de prazer, intimidade, respeito e satisfação compartilhados. É, também, um dos maiores presentes que um homem pode dar a uma mulher.
Como ler este livro
Na Parte 1, “Os elementos do estilo sexual”, serão apresentados poderosos conceitos filosóficos que enriquecerão ou até modificarão drasticamente a maneira como você lida com o sexo e seus relacionamentos. Você aprenderá a:
• Livrar-se da “desinformação” e cultivar uma compreensão autêntica da sexualidade feminina.
• Pensar clitorianamente, não vaginalmente, para se concentrar no estímulo em vez de na penetração.
• Adiar a satisfação sem sacrificar o prazer.
• Transformar as preliminares no jogo principal.
• Orientar-se habilidosamente no processo de resposta sexual feminina, entendendo o papel do clitóris como usina de prazer.
• Ampliar a percepção de modo a tornar o orgasmo feminino, muitas vezes considerado ilusório, algo conhecido e tangível para além de qualquer dúvida.
Também discutiremos temas importantes e muitas vezes mal compreendidos, como a “verdadeira” anatomia da genitália feminina, higiene, sexo seguro, assim como o contexto social e cultural que fundamenta a maneira como pensamos e agimos em relação ao sexo oral.
Enquanto a Parte 1 é o “porquê” do sexo oral, a Parte 2, “Manual de instruções”, é o “como”. Nela serão apresentadas técnicas orais testadas e comprovadas que permitirão que você conduza com êxito a mulher do início ao fim do processo de resposta sexual, ou aquilo que batizei de “jogo jogado” – preliminares, jogo principal e pós-jogo.
Embora muitos manuais sexuais se contentem em informar ao leitor apenas “o que” fazer, tenho a convicção de que o “quando” é igualmente importante. Timing é tudo, e, com esse objetivo, a Parte 3, “Juntando todas as peças”, detalha rotinas bem claras para integrar as diferentes técnicas em uma experiência única, permitindo que tanto você quanto sua parceira atinjam novos patamares de erotismo.
Ao longo do livro você também encontrará ilustrações, dicas, exercícios, fatos interessantes, perguntas mais frequentes, assim como reações sinceras de alguns dos muitos homens e mulheres que entrevistei a respeito de sexo e relacionamento, junto a suas listas pessoais de “o que fazer” e “o que não fazer”.
Por fim, na parte final o livro traz uma série de apêndices que tratam de diversos temas relevantes e situações específicas.
As mulheres primeiro é o mais minucioso tratado disponível atualmente da fina arte do sexo oral. Ele lhe ensinará tudo o que você precisa saber para dominar a gramática dessa prática e também responderá a qualquer pergunta que lhe ocorra ao longo da leitura.
Ao fim deste livro, não apenas você passará a pensar em sexo de outra perspectiva, como também não haverá nada que você não saiba sobre como levar uma mulher ao orgasmo com a língua muitas e muitas vezes.
Teste seu conhecimento
Fique à vontade para folhear este livro do jeito que for mais confortável para você, mas, se achar melhor pular a Parte 1 e ir direto para as técnicas da Parte 2, eu sugiro que, antes, tente responder a algumas perguntas simples:
• Você sabia que o clitóris tem 18 partes e que cada uma desempenha um papel diferente na produção do prazer? Você saberia identificá-las?
• Você sabia que a imensa maioria das terminações nervosas que contribuem para o orgasmo feminino está concentrada na superfície da vulva e não exige nenhum tipo de penetração para que seja estimulada até o orgasmo?
• Quantos tipos de orgasmo uma mulher é capaz de sentir?
• Você pode dizer com absoluta confiança que sabe localizar o ponto G? Consegue identificar outras áreas de prazer ocultas?
• Você sabia que o sexo oral é a melhor forma de estimular uma mulher até fazê-la atingir orgasmos múltiplos?
• Você sabe por que o homem é parcialmente responsável pelo aroma do genital da parceira?
• Você tem certeza absoluta de que sua parceira nunca fingiu um orgasmo e sabe reconhecer inequivocamente a diferença entre prazer autêntico e aquela gritaria falsa?
Se respondeu “não” a qualquer uma dessas importantes perguntas, recomendo que você leia o livro do início ao fim. De qualquer maneira, espero que, da mesma forma que uma excelente gramática, este livro seja uma fonte que você possa sempre voltar a consultar, qualquer que seja seu grau de habilidade.
Um gostinho do que vem por aí
Algumas regras básicas para começar:
1. APRENDA A ACEITAR IRONIAS. Quando o assunto é sexualidade humana, ironia é o que não falta. Para começo de conversa, pense no fato de que os órgãos genitais do homem e da mulher são feitos do mesmo tecido embrionário, mas os respectivos processos de excitação não poderiam ser mais distintos. Os editores da revista Men’s Health, Stefan Bechtel e Laurence Roy Stains, resumiram de forma bastante sucinta no livro Sex: A Man’s Guide (Sexo: O guia do homem): “Estudos mostram que três em cada quatro homens terminam de fazer sexo poucos minutos depois de começar, mas que as mulheres em geral precisam de 15 minutos ou mais para ficar suficientemente excitadas para o orgasmo. Em meio a isso tudo existe um mundo de raiva e sofrimento, além de pratos e panelas voando de um lado pro outro.”
Em uma analogia gramatical, a maioria das mulheres se sente frustrada com as “orações incompletas” e os “pretéritos imperfeitos” de seus parceiros. Por isso este livro enfatiza o adiamento da satisfação masculina, como deixo claro no título: As mulheres primeiro. A jornalista Paula Kamen registrou em Her Way: Young Women Remake the Sexual Revolution (Do jeito dela: As jovens mulheres refazem a revolução sexual): “O orgasmo feminino não é mais considerado um bônus ou algo secundário, o que representa a libertação da culpa em nome da busca, pela mulher, dos próprios desejos, como os homens sempre fizeram.”
Quando se trata de dar prazer à mulher, tenha em mente as palavras de Wu Hsien, antigo mestre taoista: “O homem deve manter a situação sob controle e tirar proveito da comunhão sem pressa indevida.”
2. NÃO CONFUNDA SUA PARCEIRA COM UM OBJETO. Para ser mais específico, o clitóris dela. Com suas 8 mil terminações nervosas (duas vezes mais que o pênis), sua invejável capacidade de produzir orgasmos múltiplos em uma única relação sexual e nenhuma outra função a não ser o prazer, não surpreende que o clitóris tenha sido proclamado “um órgão singular em toda a humanidade”. O clitóris tem 18 partes, entre visíveis e ocultas, envolvidas na produção do prazer (continue lendo e você aprenderá a dominar, uma por uma, todas elas). Contrariamente ao senso comum – pelo menos aquele senso comum mais previsível que cheiro de mofo em vestiário masculino –, o clitóris é muito mais que um “botão do amor”: é uma intrincada rede de excitação com mais pontos quentes que um vulcão prestes a entrar em erupção.
3. A LÍNGUA É MAIS PODEROSA QUE A ESPADA, principalmente quando se trata da estimulação clitoriana. Até mesmo o astro pornô Ron Jeremy, detentor de um famoso membro de 25 centímetros, comentou: “Mais mulheres gozaram com minha boca que com meu pênis.” Shere Hite, autora de O relatório Hite: Um profundo estudo sobre a sexualidade feminina, foi mais longe ao insinuar que “a penetração nunca teve a função de levar a mulher ao orgasmo”. Uma das razões disso é que o clitóris fica 2 a 3 centímetros mais à frente no corpo da mulher que a abertura vaginal. Durante a penetração, muitas vezes o pênis nem se aproxima do clitóris.
No livro Sex: A Man’s Guide, os autores mencionam um estudo com 98 mulheres em casamentos felizes e estáveis que mantiveram um diário sobre a frequência da atividade sexual e o seu nível de satisfação. De todas as atividades que elas registraram, o sexo oral liderou como a mais satisfatória. Do total, 82% disseram que era muito satisfatório receber sexo oral do marido. A penetração, segunda atividade com mais registros, foi avaliada como muito satisfatória por apenas 68%. As mulheres relataram que durante a penetração atingiam o orgasmo cerca de 25% das vezes. Mas atingiam o orgasmo 81% das vezes durante o sexo oral. Assim escreveu o Dr. Alex Comfort sobre a prática de sexo oral em Os novos prazeres do sexo: “Dessa forma é possível proporcionar dezenas de orgasmos às mulheres, e ainda assim elas podem querer continuar.”
4. APRENDA COM SEUS ERROS. Diferente do que comprova o caso dos adolescentes de Mangaia, nas Ilhas Cook – que, segundo o escritor Shane Mooney, recebem um treinamento detalhado para estimulação dos seios, sexo oral e adiamento da ejaculação, a fim de assegurar o prazer de suas futuras parceiras –, nossa educação ocidental, infelizmente, é incompleta. Quando Shere Hite pesquisou sobre as técnicas orais dos homens, a imensa maioria das parceiras reclamou que eles eram inábeis demais, impacientes demais, rápidos demais, lentos demais, não sabiam a localização exata do clitóris ou alteravam o ritmo na hora errada. Uma das mulheres chegou a exclamar: “A impressão que tenho é que ele está tentando arrancar meu clitóris.”
Ui!
Mas o que muitas mulheres não sabem é que os homens anseiam por feedback e orientação. Eles desejam ser instruídos, mas a comunicação sexual está longe de ser fácil, e no calor do momento às vezes não se encontram as palavras. Como disse a escritora Sallie Tisdale em seu livro Sussurre coisas eróticas para mim: “Não dá para explicar realmente qual é a sensação de excitação, como é um orgasmo, e, quanto mais perto estamos dele, menos as palavras importam, menos dá para empregar qualquer tipo de linguagem.”
Por isso recorremos a manuais e revistas sobre sexo ou, pior, filmes pornôs bregas e piadinhas nos vestiários. A maioria dos livros adota uma abordagem enciclopédica da sexualidade – um pouco de tudo em vez de muito disto ou daquilo. Prioriza-se a amplitude, não a profundidade, e, quando muito, o sexo oral ganha a mesma atenção que outros temas. Quando se trata de detalhar a técnica, grande parte oferece no máximo algumas parcas páginas, e quase todos se referem ao sexo oral como um aspecto das preliminares, não como um processo integral em si. Parecem aqueles livrões de receitas que ensinam apenas alguns pratos de cada categoria. Mas o sexo oral é uma refeição completa, e há centenas, se não milhares, de técnicas incomparáveis que podem ser compartilhadas.
Cuidado, homens
Embora As mulheres primeiro seja útil para qualquer pessoa – hétero ou homossexual, homem ou mulher – que tenha interesse em aprender a respeito dos orgasmos femininos e como promovê-los de maneira sistemática pelo uso de técnicas orais inspiradas, este livro foi escrito, essencialmente, para todos aqueles que anseiam por conhecimento para se tornarem amantes melhores e mais sensíveis, e para as mulheres que desejam se beneficiar de seus aprendizados.
A verdade é que há diferenças marcantes no modo como homens e mulheres aprendem sobre sexo. Já em 1953, o Relatório Kinsey, um conhecido levantamento sobre a sexualidade humana, declarou: “É óbvio que nem as jovens nem as mulheres mais velhas discutem suas experiências sexuais abertamente, como fazem os homens.” Muita coisa mudou desde então. Em uma versão atualizada, de 1990, os autores observaram que as mulheres entre 18 e 29 anos sabiam muito mais sobre sexualidade do que seus pares do sexo masculino. Eles atribuíram essa diferença à “convicção cada vez maior” entre as mulheres “de que elas têm direito a informações sobre sexo e ao acesso a publicações sobre a saúde feminina”. Portanto, ao que tudo indica, tanto o movimento feminino quanto o movimento pelo sexo seguro, ao darem ênfase à franqueza e à clareza, vêm contribuindo muito para educar as mulheres a respeito de seu corpo e de sua sexualidade.
E quanto aos homens?
Tanto na pesquisa quanto nas entrevistas para este livro, verifiquei que as mulheres, em geral, estão mais inteiradas sobre sexo e tendem a estar mais dispostas a discutir livre e francamente questões a respeito da sexualidade. Na descrição das práticas sexuais, principalmente do sexo oral, elas se mostraram significativamente mais conscientes dos aspectos qualitativos, assim como dos detalhes técnicos, relacionados à própria resposta sexual. Ao mesmo tempo que destacaram a importância da experiência pessoal na aquisição de conhecimento, as mulheres confirmaram que grande parte da informação sobre sexualidade de que dispõem veio de pais e amigos, assim como de livros, revistas e da internet.
Os homens, por sua vez, não mostraram tanto conhecimento sobre a sexualidade e tenderam a descrever práticas como o sexo oral de forma mais chula, objetificante. Eles também reconheceram que se valem fortemente da pornografia e da experiência pessoal na busca por informação sobre a sexualidade feminina, e que se sentem consideravelmente menos à vontade para procurar aconselhamento “de coração aberto” com os pais e os amigos.
Então, a quem um homem deve se dirigir para conseguir informações específicas e precisas sobre a forma de estimular a resposta sexual feminina? Os meios de comunicação nos bombardeiam com sexo 24 horas por dia, sete dias por semana, mas há muito pouca discussão nos principais veículos sobre a sexualidade humana, e menos ainda tendo o homem como alvo específico. Ironicamente, alguns dos rapazes com quem conversei disseram que a série de TV Sex and the City – que discute abertamente sexo oral, orgasmo e outras questões – virou uma das principais fontes de informação em relação às atitudes e aos desejos sexuais da mulher. Outros confidenciaram que a leitura de revistas femininas como Cosmopolitan foi reveladora, e que encontraram nelas informação de qualidade inexistente nas revistas masculinas.
Um homem resumiu: “Cosmopolitan e Glamour são muito mais específicas nas matérias que tratam de sexo e relacionamento que revistas masculinas como Playboy e Maxim, que falam o tempo todo de sexo, mas não de sexualidade, são mais ‘voltadas para a conquista’ que para o aconselhamento e focam muito em produtos, musculação e ascensão profissional. A Men’s Health sem dúvida elevou o nível, mas é um caso isolado, e até ela tem mais tendência a falar sobre como conseguir o abdome perfeito do que a oferecer conselhos detalhados
sobre sexo.”
Infelizmente, tanto homens quanto mulheres se ressentem dessa escassez de informações precisas – é por culpa disso que os homens mexem a língua freneticamente como atores pornôs, adotando posições sexuais que pouco promovem a estimulação clitoriana e em geral não fazem a menor ideia da anatomia feminina e do processo de resposta sexual.
No que diz respeito à gramática do sexo oral, precisamos de mais que um punhado de dicas aleatórias do exemplar mais recente de Maxim ou Cosmopolitan. Precisamos de um verdadeiro “livrinho de regras”: focado, conciso, com técnicas sensatas, explicações esclarecedoras e práticas que funcionam de verdade – um livro que nos inspire a conquistar nossa própria voz e nosso estilo. Este livro é As mulheres primeiro.
Portanto, quer você esteja apenas começando sua jornada na vida cliterária, quer já seja sócio antigo do clube dos cliteratos, prepare-se para aprender as regras da gramática e empregá-las com estilo.
Por que escrevi este livro
Minha formação como “praticante de sexo oral” começou por causa de uma disfunção sexual – uma longa e árdua batalha contra a ejaculação precoce. Eu era um inútil, não havia a menor esperança para mim. A simples visão do corpo nu de uma mulher podia me fazer perder o controle, e as preliminares levavam rapidamente ao fim do jogo. Na linguagem do amor, eu não conseguia passar da primeira sílaba. Tinha certeza de que a inscrição na minha lápide seria: “Vim, vi, gozei.”
Anos depois, aprendi, estudando a pesquisa sexual pioneira de Alfred Kinsey, que o macho típico sustenta o vaivém da penetração, em média, por cerca de dois minutos e meio. Na época, isso me trouxe um pouco de consolo, mas também senti uma terrível solidão. Muitas vezes eu me perguntava se era vítima de alguma “maldição biológica” que me fazia chegar ao orgasmo tão rápido. Seria um resquício evolutivo das batalhas da seleção natural, quando o homem precisava disseminar rapidamente sua semente de modo a garantir a propagação de seu material genético? Será que Charles Darwin me diria que aquilo que para mim era uma fraqueza insuportável na verdade era uma vantagem competitiva na luta pela sobrevivência do mais forte? Pode ser, mas minha sensação era de que estava mais para “sobrevivência do mais azarado”.
Hoje, tenho a convicção de que uma das principais causas da ejaculação precoce são maus hábitos masturbatórios – o modo como os meninos aprendem, ou melhor, não aprendem a se masturbar de maneira rápida, furtiva, envolta em segredos e tabus. Em pouco tempo, os jovens são programados a buscar um prazer fugaz, e, como todos sabemos, maus hábitos são difíceis de largar. Se alguém tivesse me dito lá atrás para me masturbar pensando no orgasmo da mulher, não no meu, talvez eu tivesse sido poupado de vários anos de sofrimento.
Eu era um aleijado sexual, e o sexo oral se tornou minha muleta. Já que eu não conseguia satisfazer uma mulher com o pênis, então com certeza eu iria satisfazê-la com a boca! Ainda me lembro de todos os receios, ideias preconcebidas e fiascos das minhas experiências iniciais na faculdade. Minhas primeiras incursões no sexo oral não foram muito diferentes das vivenciadas pela maioria dos homens – hesitantes, vacilantes, descendo de vez em quando para dar umas poucas lambidas. Fui aprendendo por tentativa e erro até que, enfim, me dei conta de que o sexo oral é muito mais que um aspecto arbitrário ou opcional das preliminares. É o jogo principal. É um processo essencial – com começo, meio e fim – para conduzir a mulher pelos vários estágios da excitação que acabam culminando no orgasmo. O sexo oral me permitiu não apenas dar prazer total e absoluto a uma mulher, mas também parar de considerar o sexo uma preocupação e passar a considerá-lo um prazer. Com isso, consegui deixar de lado a ansiedade, desenvolver maior autocontrole e me tornar um amante melhor em todos os aspectos. O sexo oral com certeza salvou minha vida sexual, e, considerando todas as dores de cabeça e todos os episódios de depressão que sofri em virtude da minha batalha contra a ejaculação precoce, não é exagero dizer que ele salvou minha vida de modo geral.
Nunca vou esquecer a primeira vez que levei uma mulher ao orgasmo com a língua. Foi um divisor de águas. Eu me senti como E. B. White quando, ao recordar sua fase de jovem aspirante a escritor em Nova York, relatou a sensação de sentar-se à mesa para jantar num restaurante e, ao começar a abrir a correspondência, deparar-se com o primeiro cheque de pagamento por um artigo de revista escrito por ele: “Ainda me lembro da sensação de ter me tornado, enfim, um profissional. Foi uma sensação boa e eu desfrutei a refeição.”
Concordo em gênero, número e grau.
Hoje, sou um homem bem-casado e bem-sucedido no ato amoroso, e ainda acredito plenamente no “caminho da língua”. É, simplesmente, a ferramenta mais adequada para o serviço. Mais que isso, acredito que o sexo oral seja o ato mais íntimo, respeitoso e recompensador que um homem pode realizar. Como escreveu Sallie Tisdale, é “submeter-se ao ventre do outro, ou à boca do outro. O sexo oral pode ser o mais poderoso dos atos sexuais. É um ato de poder que deriva do tipo de intimidade mais vulnerável”.
Há quem se refira ao sexo oral como a música da boca, e, como músico, creio ser possível afirmar que estou bem avançado no caminho da realização. Mas só quando conheci minha esposa eu encontrei meu Stradivarius – belo, incomparável e inestimável. Se ela é meu violino, eu sou seu arco. Incentivo você a encontrar seu Stradivarius. Quando isso acontecer, proteja-o, cuide dele, seja fiel a ele, e então você saberá tocá-lo como um mestre.
Por mais que eu apresente técnicas genéricas para o sucesso, toda mulher é única e o sexo oral é, no fim das contas, uma questão de atos individuais de conhecimento e entrega. Isso não quer dizer que você não possa se divertir muito de forma casual, mas façanhas do gênero são, em geral, resultado da busca da técnica com um senso mais elevado de propósito – pirotecnia, mais do que simples fogos de artifício. O bom sexo oral exige confiar no ritmo natural das coisas, de maneira relaxada, rumo a um estado mais profundo e instintivo do nosso ser. Envolve um processo mútuo de se entregar e se conectar com o outro em todos os níveis. Não dá para fingir. Você precisa ser algo além de um simples técnico. Precisa imbuir-se da técnica com toda a sua imaginação e todos os seus sentidos. Precisa estar presente e ser autêntico. Estar presente de corpo, mente e espírito.
Como escreveu E. B. White: “O estilo é resultado mais daquilo que a pessoa é do que daquilo que ela sabe. Mas há algumas dicas que podem ser aproveitadas para levar ao sucesso.”
Com isso em mente, vamos ao que interessa.
Parte 1
Os elementos do estilo sexual
“Começando,
como é natural,
pelas coisas primeiras.”
– Aristóteles, Poética
Primeiro as damas: a cortesia que faz a diferença
Primeiro as damas, cavalheiros. Quando se trata de satisfazer uma mulher, um pouco do bom e velho cavalheirismo é meio caminho andado.
Caso você ainda ache que a importância desse tipo de gentileza é superestimada, preste atenção em Lorena Bobbitt, que, ao ser questionada pela polícia sobre o que a levou a decepar o pênis do marido, respondeu assim: “Ele sempre chega ao orgasmo sem me esperar. É injusto.” Precisa dizer mais?
Os homens foram projetados para ser eficientes. Não precisamos de muita coisa para ficar excitados. O processo é bastante descomplicado. Nossa tendência é ejacular uma única vez e depois precisar de um “período refratário” (também conhecido como aquela hora em que nos viramos para o lado e começamos a roncar). E, dependendo da nossa idade, esse período pode durar de alguns minutos a alguns dias.
O fato é que o homem chega ao orgasmo com facilidade. Masters e Johnson batizaram isso de “inevitabilidade ejaculatória”, e o finado Dr. Alfred Kinsey, famoso por ter entrevistado milhares de pessoas a respeito de sua vida sexual, declarou que 75% dos homens ejaculam em até dois minutos.
Quando se trata do orgasmo feminino, porém, nada é inevitável. Sallie Tisdale escreveu:
A sexualidade masculina parece diferente da minha fundamentalmente porque não precisa envolver nada além da cabeça e da haste do pênis. Nenhuma outra parte do corpo precisa ser incomodada, tocada, despida ou lambuzada… O orgasmo masculino sempre me pareceu brotar quase do nada, estar infinitamente mais à mão que o meu.
O orgasmo feminino é mais complexo e, na maioria das vezes, leva muito mais tempo para acontecer durante a relação sexual. O primeiro orgasmo, em especial, é o mais difícil de alcançar. Exige estímulo, concentração e relaxamento constantes. Não surpreende, portanto, que pesquisadores da Universidade de Chicago tenham afirmado, no Censo Sexual dos Estados Unidos, em 1994, que os homens atingem o orgasmo durante a penetração com muito mais frequência que as mulheres e que três quartos dos homens, contra menos de um terço das mulheres, sempre chegam ao orgasmo. Menos de um terço! Isso significa que duas mulheres em cada três, em média, ficam regularmente privadas do clímax – um bom motivo para começar a esconder as facas em casa.
“O macho pertence ao Yang.
A peculiaridade do Yang é ser facilmente excitado
Mas também se retirar facilmente.
A fêmea pertence ao Yin.
A peculiaridade do Yin é ser demoradamente excitado
Mas também demoradamente saciado.”
Wu Hsien, mestre taoista
A ironia, cruel e amarga, parece arraigada em nossos respectivos processos de excitação: embora a mulher, cuja sexualidade é tão singular, possua tanto um clitóris – órgão projetado unicamente para a produção do prazer – quanto a capacidade de atingir orgasmos múltiplos em um único ato sexual, muitas vezes ela vê destruído todo esse imenso potencial para um êxtase espetacular pela simples falta de um fósforo que sustente a chama.
Muitos homens diriam que o problema não é o fósforo, e sim o pavio da mulher, longo demais. Talvez, mas isso suscita a pergunta: qual o conceito de longo demais? Estudos como os realizados por Kinsey e por Masters e Johnson concluíram que, entre as mulheres cujos parceiros demoraram 21 minutos ou mais nas preliminares, apenas 7,7% deixaram de atingir o orgasmo com frequência. É uma diferença de proporções tectônicas – de duas em cada três mulheres que não conseguem atingir o clímax para nove em cada dez que obtêm satisfação –, tudo por uma questão de minutos.
Poucos problemas mundiais (talvez nenhum) podem ser resolvidos com meros 20 minutos de atenção. No entanto, nesse caso, no complexo panorama sociopolítico do quarto de casal, temos a oportunidade de proporcionar satisfação bilateral. Vendo as coisas por esse ângulo, no contexto da paz e da igualdade sexual, será que dedicar 20 minutos de concentração, aplicada do jeito certo, é pedir muito, ainda mais considerando que isso pode salvar sua vida sexual?
Siga o exemplo do verdadeiro cavalheiro: adie seu prazer. Como escreveu Sir Thomas Wyatt, pai do soneto da língua inglesa: “A paciência será meu canto.”
Levar uma mulher ao orgasmo é, ao mesmo tempo, empolgante e libertador. Quando ela goza primeiro, deixa-se de lado a ansiedade e a pressão; você se sente empoderado, encorajado a buscar com ânimo a satisfação que o aguarda – um clímax que será ainda mais intenso por ter sido adiado.
“Adoro fazer minha namorada gozar. Adoro vivenciar tudo: a escalada e a liberação das ondas de prazer, a rendição ao êxtase, os espasmos de satisfação, a perda momentânea dos sentidos. Fico com ainda mais tesão em saber que fui eu que fiz isso tudo acontecer.” (David, 27 anos)
Que recompensa maior um homem poderia querer?