Introdução
Todo local de trabalho é um ambiente político.
Durante anos, fui ingênua ao acreditar que trabalhava num lugar diferente. Eu via a empresa como um local de trabalho justo, saudável e inclusivo no momento da tomada de decisão. “As pessoas competem com elas mesmas, não umas com as outras”, dizia eu, orgulhosa, aos que se candidatavam a uma vaga lá. E acreditava nisso.
Olhando para trás, vejo que todas essas coisas boas em que eu acreditava eram verdade, mas só até certo ponto. Nós competíamos com nós mesmos, sim, mas também uns com os outros. Nossos chefes tinham subordinados preferidos, e nós percebíamos. Reclamávamos quando víamos promoções que não pareciam merecidas e se recebíamos tarefas que considerávamos desagradáveis. Sutilmente, as pessoas encontravam maneiras de passar por cima das outras para conseguir a atenção dos altos executivos. Havia questões políticas em jogo, sim.
Numa pesquisa de 2011 realizada pela Revelation, uma empresa de consultoria em gestão do Reino Unido, 95% dos entrevistados afirmaram ter sido afetados por manipulações e jogos de interesses no trabalho. Ou seja, se você passa por esses problemas, não está sozinho. Talvez esteja sofrendo bullying daquele sujeito que sempre questiona seu trabalho e procura enfraquecê-lo nas reuniões. Talvez seu chefe coloque você contra os colegas. Talvez você tenha problemas com uma panelinha que detém poderes demais. Talvez já tenha sido vítima de traições, sofrido na mão de pessoas que fazem tudo para aparecer ou sido prejudicado por uma mudança nas alianças.
Não há como escapar da política, seja qual for sua função ou cargo. Foi isso que Franke James, criador do OfficePolitics.com, aprendeu com profissionais do mundo todo que compartilharam suas batalhas no site. É inevitável, mesmo quando você é seu patrão. “Se você lida com clientes, está lidando com a política da empresa em que eles trabalham também”, explica James. “Precisa fazer com que eles tenham uma boa imagem e entender a dinâmica dos bastidores a que estão sujeitos.”
Isso significa que você deve combater politicagem com mais politicagem? Ser conivente e conspirar também? Ou ser mais rápido no gatilho? Não. Como argumentam os especialistas e consultores citados neste livro, você pode sobreviver à política – e até participar dela – sem vender a própria alma. Para chegar a essa conclusão, eles se basearam em pesquisas, no trabalho com clientes e em sua vasta experiência pessoal. Além disso, foram respaldados pelos muitos exemplos (reais, mas com nomes e dados alterados) citados ao longo do livro.
Então, qual é a solução? Lidar com a política de maneira construtiva: compreender a dinâmica entre colegas, trabalhar em conjunto para benefício mútuo e, em última análise, concentrar-se no bem da empresa.
O que acontece quando você se limita a fazer o que lhe pedem e fica reclamando dos colegas puxa-sacos? Beth Weissenberger, coach de executivos e cofundadora do Handel Group, afirma que dessa forma você está se prejudicando. Ao longo de muitos anos de coaching, por diversas vezes ela já viu profissionais evitarem se envolver na política da empresa e, com isso, passarem a ter menos chances de alcançar objetivos na carreira do que os colegas que se envolviam. Ela aconselha os clientes a parar de se preocupar com a injustiça da situação e a construir relacionamentos positivos com colegas que os ajudarão a realizar bem seu trabalho.
Ron Ashkenas, sócio-gerente da Schaffer Consulting, concorda com Beth Weissenberger: “É fácil usar a política no trabalho como desculpa para a falta de resultados ou como saída para a própria frustração. É muito mais eficaz, porém, usar a política como um meio de cumprir suas metas.”
Este livro vai ajudá-lo a colocar isso em prática. Não é realista afirmar que você vai conseguir fazer com que todos os seus relacionamentos de trabalho se baseiem na amizade e no companheirismo. Vamos encarar os fatos: certos colegas são simplesmente idiotas e nenhum conselho do mundo é capaz de mudar isso. Mas não ter uma estratégia para lidar com eles piora a situação, e você pode obter muito mais controle do que imagina. A seguir, listo algumas orientações que abordaremos aqui.
Questione sua reação: Quando as pessoas parecem se valer de jogos políticos, em geral achamos que conhecemos suas motivações, mas a verdade é que, às vezes, estamos enganados. Reflita: o que mais, além daquilo que você vê, pode gerar esse comportamento? Talvez não esteja relacionado a vingança ou nem sequer seja proposital.
Tente se remover da equação: Todo mundo leva suas peculiaridades, preocupações e tensões para o trabalho. O que você acredita ser um ataque pessoal pode não ter nada a ver com você.
Compreenda que nem todo conflito é ruim: Talvez você passe a ter um ótimo desempenho após ser desafiado por um colega agressivo ou forçado a trabalhar com alguém que não suporta. Nós podemos, e com frequência conseguimos, nos sair bem perante os desafios. Não pressuponha que se sentir desconfortável seja necessariamente ruim.
Assuma o controle do seu destino: Mesmo que as condições de fato não sejam as mesmas para todos, não adianta ficar se lamentando. Assuma a responsabilidade pelo seu progresso. Não dê a seu chefe, ou a quem quer que seja, motivos para considerá-lo um reclamão.
Permaneça calmo: Quando você é provocado ou intimidado e perde as estribeiras, está permitindo que o outro saia por cima. Nunca lhes dê essa satisfação – isso só perpetuará o problema. Mantenha a serenidade e essas pessoas perderão qualquer poder sobre você.
Quando me pediram para escrever este guia, vibrei de alegria. Como compreendia bem os desafios, iria abordar o tema com bastante empatia. Mas também senti certa dose de presunção – achava que, ao longo da carreira, havia enfrentado os mais variados cenários políticos e me saído muito bem. No entanto, depois de entrevistar cerca de 20 especialistas e sintetizar seus conselhos sobre os vários dilemas que apresento aqui, reconheci diversos erros que cometi ao longo dos anos, como demonstrar raiva diante das injustiças, escolher as batalhas erradas, levar para o lado pessoal desnecessariamente. Olhando para trás, acho que gostaria de ter feito minha pesquisa mais cedo.
A boa notícia é que nunca é tarde para aprender.
Então, qual é a maior lição a ser extraída de tudo isso? Como diz Susan Heathfield, especialista em desenvolvimento organizacional e recursos humanos, não tente ser o queridinho do chefe – mas o queridinho de todos. Ou seja, procure ser um excelente profissional e colega. Você vai perceber que ficará menos preocupado com toda a bajulação acontecendo ao seu redor e mais focado em metas positivas, como bom desempenho, crescimento e satisfação.