INTRODUÇÃO
Há anos as pessoas me perguntam: “O que você faz para se dar bem com todo mundo?”; “Como consegue negociar com tanta facilidade e sempre obter o que deseja?”; “Qual é o seu segredo?”. A resposta não é muito complicada, e você está prestes a descobri-la.
Sou coach de carreira e comportamento, consultora de negócios, especialista em comportamento – com certificados em hipnotismo e treinamento de hipnose –, professora universitária e mãe. Tudo isso me dá uma perspectiva única da vida. Quando pediram que eu lecionasse uma matéria chamada “Lidando com pessoas difíceis”, soube imediatamente que tinha encontrado o meu lugar. Agora vou compartilhar meus segredos com você. Espero que possa compreendê-los e usá-los em suas interações diárias.
Durante muitos anos, observei profissionais com dificuldades de se comunicar e pessoas que queriam melhorar seu comportamento em relação ao parceiro ou aos colegas de trabalho. Ao longo desse tempo, ofereci tantas informações e explicações sobre as razões que levam alguém a agir de determinada forma que me pareceu lógico escrever sobre isso, na esperança de evitar que as pessoas sofram – ou, pelo menos, para lhes dar algumas ideias sobre como lidar com relacionamentos difíceis.
O problema é que muitas das nossas interações diárias acabam sendo “difíceis”. Até aqueles de quem mais gostamos nos irritam às vezes. Quando você menciona as palavras “família”, “esposa”, “marido”, “filho adolescente”, “chefe” ou “sogra”, é comum as pessoas revirarem os olhos. A mera identificação desse tipo de relacionamento já causa mal-estar ou frustração. Estamos sempre lutando para entender o ponto de vista do outro. A falta de comunicação é a raiz de quase todos os nossos problemas – e não saber como resolver isso nos paralisa.
Neste livro, reuni todo o conhecimento, as observações e as experiências pessoais e profissionais que adquiri ao longo da minha carreira e os dividi em cinco grandes grupos – são os meus “segredos”. Descobrir e entender cada um deles ajudará você a fazer mudanças incríveis em sua vida e em seus relacionamentos.
A melhor maneira de utilizar o livro é absorver um segredo de cada vez. Coloque um deles em prática e só depois passe para o seguinte. Espero que meus ensinamentos lhe deem as ferramentas necessárias para entender aqueles que estão à sua volta – e, mais importante, para entender melhor a si mesmo.
SEGREDO NÚMERO 1:
TUDO QUE IMPORTA SOU EU
Vamos ser sinceros? Todos nós andamos por aí repetindo sem parar o mantra: “Tudo que importa sou eu.” É claro que não dizemos isso realmente, de maneira consciente, mas essa é a verdadeira mensagem por trás de tudo que fazemos.
Esse não é um conceito fácil de se aceitar, porque revela que, na maior parte do tempo, as pessoas se concentram nelas mesmas. Não queremos acreditar que somos assim. Parece tão egocêntrico! Porém, se formos honestos e analisarmos com atenção, veremos que a palavra “eu” está no centro de cada pensamento que temos, em cada experiência que vivemos.
Será que somos tão obcecados por nós mesmos? Sim, somos. Involuntariamente, enxergamos cada experiência através de nossas próprias lentes. Não é algo que fazemos de propósito, não é egoísmo. Apenas não temos escolha, pois não estamos cientes desse comportamento. Todos nós temos um conjunto de vivências, opiniões e pontos de vista que influenciam cada situação que enfrentamos. Tudo o que vemos, dizemos, ouvimos e fazemos é filtrado pelo mecanismo chamado “eu”.
Filtros obstruídos
Os filtros que criamos colocam-se entre nós e todas as pessoas que encontramos. Você deve estar se perguntando por que eu os chamo de “filtros” – afinal, não somos máquinas cujas peças são removíveis. O que é uma pena, porque seria muito bom se pudéssemos remover esses filtros e renová-los. Se isso fosse possível, cada experiência recém-adquirida seria realmente original, e não uma cópia de algo que já vivemos no passado. Se pudéssemos observar nossos filtros sob a luz, identificaríamos tudo aquilo que os obstruiu, percebendo que a dificuldade que temos de enxergar as coisas é causada por nosso “eu”, que está no meio de tudo.
Isso significa que é impossível lançar um olhar imparcial sobre as coisas, pois vemos tudo através da lente do eu. Sem querer, projetamos sobre todas as situações nossas próprias expectativas, crenças, preocupações e necessidades.
Os filtros retêm a combinação de nossas experiências passadas, nossa visão do mundo, nossos conceitos de certo e errado, nosso comportamento e nossos valores. Se pensarmos neles como algo tangível, perceberemos que estão na nossa frente o tempo todo. Assim, é impossível ver claramente qualquer coisa – uma pessoa, um evento –, pois eles obstruem o caminho. O grande problema da comunicação é que cada um de nós tem
o próprio filtro, e nenhum deles é imparcial e objetivo.
Imagine duas pessoas com os filtros obstruídos tentando estabelecer uma conexão e compreender uma à outra. Queremos acreditar que estamos enxergando direito e que nossa mente está aberta e receptiva, mas a verdade é que eles estão lá, se interpondo a cada interação. Por exemplo, quando alguém diz ou faz alguma coisa, você só consegue ouvi-la e vê-la através do seu ponto de vista, com seu filtro bloqueando a experiência.
Os livros sobre relacionamentos costumam afirmar que, para estabelecer uma comunicação verdadeira com outra pessoa, é preciso colocar-se no lugar dela, criando empatia. Parece ótimo, mas como posso fazer isso se tenho os meus filtros? Não é que eu não queira me colocar no lugar do outro; o problema é que, honestamente, não consigo fazer isso. O lugar do outro não é o meu, e eu não entendo nada sobre esse lugar.
Não diga “Eu sei o que você quer dizer”
Muitas vezes, as pessoas ficam perturbadas quando dizemos “Eu sei o que você está sentindo” ou “Sei o que quer dizer”. Não gostamos quando alguém nos diz isso. Por quê? Não é bom que alguém esteja tentando se solidarizar com nossa situação e nos “entender”? Na verdade, não.
Quando eu digo isso, a outra pessoa interpreta que o foco agora está em mim – no fato de que eu sou uma pessoa compreensiva e solidária. Não estou mais me concentrando nela e nos seus problemas; em vez disso, transferi minha atenção para o que eu estou sentindo em relação ao que ela está me dizendo. E, na realidade, é isso mesmo que acontece. O interlocutor percebe. Ele sabe que meu foco não está mais em ouvi-lo; estou concentrado em minha própria reação. Na verdade, para ambas as partes, só o que importa é o eu. Portanto, o melhor é simplesmente não dizer que você “entende” o outro, porque você só pode entender sua própria experiência. Dizer que já passou por uma situação semelhante – e começar a contar tudo sobre ela – é uma deselegância ainda maior. Quando fazemos isso, imediatamente paramos de ouvir o outro e voltamos a centralizar a conversa em nós.
Julgando os outros com base no “eu”
Quando olho para você e formo uma opinião a seu respeito, faço esse julgamento baseado em mim. Não temos uma opinião sobre os outros – o que temos é uma opinião baseada naquilo que eles nos parecem através de nosso filtro. Esse pode ser um conceito difícil de compreender (e admitir), mas é real. Sempre ouvimos dizer que “semelhante atrai semelhante” e que “recebemos aquilo que esperamos”. Essas não são apenas frases feitas incessantemente repetidas por todos; há veracidade nelas.
Você conhece alguém que já foi casado duas ou três vezes com parceiros diferentes, mas que, quando se refere àquele com quem está atualmente, parece estar falando sobre os anteriores? Isso acontece porque a experiência – a visão que tem do outro – é colorida pelo tom de seus filtros e pela maneira como ele interpreta a outra pessoa com base em si mesmo. Assim, é natural que escolha parceiros semelhantes, uma vez que seus filtros turvos o impedem de “enxergar” que o atual é essencialmente o mesmo que os predecessores. Se não aprender a reconhecer esses filtros, ele continuará a fazer as mesmas escolhas equivocadas. Essa ideia também pode ser aplicada a alguém que já teve vários empregos e nunca consegue se dar bem com o chefe, dizendo que eles são todos idiotas. Certamente os chefes não são todos idiotas. O mais provável é que o filtro dessa pessoa esteja obstruído com essa mensagem.
O peso das expectativas
Não percebemos que nossos filtros não são iguais aos dos indivíduos com quem nos comunicamos. Na verdade, acreditamos instintivamente que todo mundo vê o mundo da mesma forma que nós. Quando nos aproximamos das outras pessoas, carregamos nosso ponto de vista sobre como elas devem reagir. Se não obtivermos o que esperávamos (e pense em como é raro você de fato obter o que espera), ficamos irritados, frustrados e aborrecidos.
Às vezes você pode ficar chateado com seu próprio comportamento, por não ter agido da maneira que pretendia. Você não se dá conta de que está frustrado por não ter conseguido provocar no outro a reação que considerava apropriada. Na verdade, se você não tivesse expectativas sobre como as coisas deveriam ser – ou como os outros deveriam reagir –, não haveria problema algum. Seu problema está em seu ponto de vista, em seu filtro turvo e obstruído. É a forma como você vê o mundo, ou como não o vê, que determina a sua experiência.
Os filtros bloqueiam informações novas
Quase nunca somos capazes de experimentar algo realmente novo. Vivenciamos todas as situações com nossos filtros ativados. Assim, é o meu filtro que define o que estou vendo, e o que vejo é um reflexo de mim, do que eu acredito, espero e aceito como verdadeiro.
Por exemplo, minha irmã possui um filtro moldado por experiências, comportamentos e valores diferentes dos meus. Mesmo tendo crescido no mesmo ambiente, com os mesmos pais, nos tornamos pessoas totalmente diferentes e adquirimos filtros distintos. Se meu pai dissesse a nós duas “Você é muito burra!”, talvez tivéssemos reações opostas. Minha irmã poderia pensar: Eu sou burra mesmo. Nunca consigo fazer nada direito. Eu, por outro lado, poderia enfrentar meu pai e dizer: “Você é péssimo para julgar os outros!” Em seguida, daria um jeito de mostrar como sou inteligente.
Esses dois filtros distintos resultariam em uma diferença drástica na forma como minha irmã e eu agiríamos dali em diante. Ela talvez perdesse a autoconfiança e a autoestima, e eu talvez fosse desafiada a provar o meu valor. Nenhuma dessas duas abordagens é certa ou errada – cada uma apenas é o que é. Mas elas causariam efeitos opostos em nossa vida quando ambas fôssemos enfrentar o mundo.