Introdução
O poema abaixo é um dos mais lidos da língua inglesa e sem dúvida poderia ser considerado um dos mais populares do mundo. Talvez você já o conheça.
“Se” foi publicado por Rudyard Kipling em 1909. Kipling disse que se inspirou nos feitos de um oficial inglês na África do Sul, mas hoje o poema transcende qualquer época ou lugar específico. Para o início do nosso livro sobre como se tornar inesquecível, não pode haver introdução melhor. Talvez você sinta vontade de ler o poema novamente enquanto percorre estas páginas. Na verdade talvez você queira retornar a ele muitas vezes, à medida que percorre sua vida como um todo…
Se podes manter a calma quando ao redor
todos a perderam e te culpam até o fim;
se confias em ti quando duvidam com ardor,
mas permites que duvidem mesmo assim;
se podes esperar sem te sentires cansado,
ou, quando mentirem, não mentir também,
jamais ceder ao ódio mesmo sendo odiado,
sem ser presunçoso ou demonstrar desdém;
Se consegues pensar – sem que o pensamento te oprima;
se podes sonhar – sem que os sonhos sejam senhores;
se podes te deparar com o Triunfo e a Ruína
e tratar da mesma forma esses impostores;
se suportas ver tua verdade distorcida
por patifes que só pretendem enganar
ou ver destruído o que criaste com tua vida
e mesmo sem ter meios – recomeçar;
Se és capaz de juntar tuas vitórias
e sem temor arriscá-las numa jogada,
e perder, e recomeçando toda a história
partir de novo desde o início da estrada;
se consegues forçar coração, nervos, tendões
exaustos a resistir sem que desistam,
e a ir em frente mesmo sem condições,
só com a Vontade dizendo: Persistam!
Se podes falar ao povo e manter tuas virtudes,
ou andar com reis sem perder simplicidade;
se nem com inimigos nem com amigos te iludes,
se podem contar contigo de verdade;
se cada minuto és capaz de preencher
com sessenta segundos do teu brilho,
tua é a Terra e tudo que podes ver.
E – mais ainda – serás um Homem, meu filho!
Essa não é uma imagem açucarada do mundo. A vida, como descrita por Kipling, não é fácil. Pessoas vão mentir, trapacear, culpar, desapontar, esfaquear você pelas costas. E não existe certeza de um desfecho positivo. Mesmo conseguindo passar por tudo isso, Kipling não garante que você encontrará riqueza, saúde ou sabedoria. Ele diz que terás “a Terra e tudo que podes ver”. Mas o que isso significa? Alguém quer “a Terra e tudo que pode ver”?
Mas, independentemente do que você possa ganhar ou não, Kipling faz uma promessa sobre o que você vai ser: você será um homem. Ou melhor, um Homem. Mas, de novo, assim como acontece com “a Terra e tudo que podes ver”, precisamos perguntar o que Kipling quer dizer com isso.
Mas, independentemente do que você possa ganhar ou não, Kipling faz uma promessa sobre o que você vai ser: você será um homem. Ou melhor, um Homem. Mas, de novo, assim como acontece com “a Terra e tudo que podes ver”, precisamos perguntar o que Kipling quer dizer com isso.
A resposta a essa pergunta será útil para nós neste livro. Se ser um Homem é a recompensa por todas as dificuldades e esforços da existência terrena, isso deve estar relacionado com sabedoria. Ao ler o poema com atenção, você verá que cada estrofe descreve vários testes – para os quais a resposta certa é sempre a difícil. Por que a resposta difícil é a certa? De novo, não existe nenhuma promessa de recompensa material. Existe apenas o estado de ser que você acabará alcançando. E, se quisermos ser coerentes com o Universo que o poema criou, é provável que ninguém, além de você mesmo, chegue a reconhecer que você se tornou um Homem. Um Ser Humano com letras maiúsculas.
Talvez esse seja o último teste, e parece o mais difícil.
Em última instância, a verdadeira recompensa por ser alguém inesquecível tem a ver com o respeito próprio. As pessoas inesquecíveis sabem que são especiais, mesmo quando estão sozinhas. Como alguém já disse: “Quem você é quando ninguém está olhando?” Quando, do fundo do seu coração, você puder responder “Sou a pessoa que realmente desejo ser”, terá alcançado o objetivo que é tema deste livro. E, de novo, esse também pode ser o objetivo da sua vida.
Então, vamos lá…
A energia inesquecível
Neste livro, chamaremos de classe essa energia especial que faz com que algumas pessoas sejam realmente extraordinárias. Essa característica é mais fácil de ser reconhecida do que definida. Nós a identificamos ao vê-la; mas o que ela é? Este livro irá ajudá-lo não somente a responder a essa pergunta, mas também a se tornar extraordinário em todas as áreas da sua vida.
(Por sinal, assim como é fácil reconhecer a classe, a ausência dela também é facilmente notada!)
Nos próximos capítulos vamos falar muito mais sobre o que é essa característica e por que ela é importante. Você terá a chance de desenvolver sua própria definição do termo “classe” e receberá ferramentas práticas e poderosas para se tornar inesquecível a qualquer pessoa que conhecer. Seja nos negócios ou em qualquer outra área da vida, nada é mais valioso do que isso. É possível que você ainda não compreenda toda a importância da classe, mas quando chegar à última página certamente terá percebido sua grande relevância.
Começaremos examinando o significado frequentemente obscuro dessa palavra, assim como o efeito que essa característica pode ter nos negócios e nas interações pessoais. Veremos como a classe foi o fator decisivo em um momento fundamental da história norte-americana e analisaremos como é possível fazer com que as lições extraídas daquele período histórico funcionem para sua vida hoje.
Nos capítulos seguintes exploraremos elementos essenciais que compõem a classe no verdadeiro sentido da palavra. E por fim, no último capítulo, observaremos como ela se expressa através da realização no mundo material – para você e também para as pessoas ao seu redor. A capacidade de criar o sucesso para os outros é uma das qualidades mais admiráveis da pessoa com classe. Como um grande atleta, a pessoa que tem classe sempre joga em alto nível e faz com que seus companheiros de time também sejam jogadores melhores.
Para entender melhor a classe e o que ela pode fazer, vejamos um caso específico. Um exemplo claro ocorreu no primeiro debate presidencial da história dos Estados Unidos. O evento aconteceu em 26 de setembro de 1960. Os participantes eram John F. Kennedy, na época senador por Massachusetts, e o então vice-presidente Richard M. Nixon.
Ao longo dos anos foram escritos livros inteiros sobre esse acontecimento, mas ele raramente foi discutido segundo a perspectiva da classe, no sentido em que essa palavra é utilizada aqui. No entanto essa qualidade foi um fator importantíssimo no debate. Ela foi determinante para definir o vencedor, e nesse sentido mudou o rumo da história.
John F. Kennedy e Richard Nixon estavam em excelente forma na época do encontro transmitido pela TV. Os dois tinham bons motivos para se sentirem otimistas com a eleição. Seus currículos eram muito diferentes, mas eram impressionantes, cada um a seu modo.
Em 1960 cada um dos candidatos havia sido indicado na primeira votação da convenção nacional de seu partido. Kennedy, cuja indicação tinha acontecido antes, havia obtido vitórias impressionantes nas primárias sobre o experiente senador Hubert Humphrey. As vitórias de Kennedy na Virgínia Ocidental e em Wisconsin tinham representado um argumento importante em sua disputa pela Presidência, já que havia quem questionasse a possibilidade de um católico vencer uma eleição fora de um estado predominantemente católico como Massachusetts.
A religião de Kennedy tinha provocado incerteza dentro de seu partido, mas os democratas aparentemente esqueceram essas preocupações depois das primárias na Virgínia Ocidental e em Wisconsin. Então, imediatamente após a indicação, Kennedy fez um gesto ousado e politicamente pragmático ao escolher seu vice. A escolha do senador texano Lyndon Johnson pode ter surpreendido o núcleo de apoiadores de Kennedy no Nordeste do país, mas, com isso, os democratas passaram a ter uma poderosa chapa nacional. Johnson, líder da maioria no Senado, era um político tremendamente experiente que conhecia Washington por dentro e por fora. Era sem dúvida um combatente, e costumava vencer.
Talvez o único ponto negativo da escolha de Johnson como candidato a vice-presidente fosse o fato de que ele e Kennedy praticamente não se suportavam! Mas Kennedy pôs de lado suas emoções para tomar uma decisão prática eficaz. Esse foi um gesto “de classe”? Mais tarde, neste capítulo, voltaremos a essa pergunta.
Duas semanas depois da convenção de Kennedy, Richard Nixon se tornou o candidato do Partido Republicano. Pensando no que o futuro reservava para ele quando estourou o escândalo Watergate, pode ser difícil perceber como Nixon era popular na época da indicação. Naqueles anos, os Estados Unidos estavam preocupados com a ameaça nuclear da União Soviética. Nixon tinha recebido uma aclamação gigantesca quando discutiu enfaticamente com o premiê russo Nikita Khrushchev em uma feira de negócios. Além disso, havia dominado uma grande multidão que se manifestava contra os Estados Unidos durante uma visita à Venezuela. Nixon parecia oferecer segurança e competência em um período da história norte-americana marcado pelo medo. Certo, ele já tivera alguns momentos embaraçosos, mas sempre saíra inteiro e por cima. E aparentemente conseguiria isso de novo; sem dúvida, era o favorito para vencer a eleição presidencial.
As propostas apresentadas por Kennedy e Nixon eram semelhantes em alguns aspectos e muito diferentes em outros. Ambos falavam sobre a grandeza dos Estados Unidos em termos mais ou menos convencionais. Mas Kennedy desafiava a complacência das pessoas, conseguindo, ao mesmo tempo, parecer positivo. Em muitos discursos se referia a uma “lacuna de mísseis” – uma suposta vantagem dos russos no número de armas intercontinentais. Essa lacuna não existia, mas, assim como fizera em relação à escolha de Lyndon Johnson, Kennedy parecia disposto a sacrificar algumas coisas para alcançar seus objetivos.
Considerando a linha geralmente dura do Partido Republicano nas questões de defesa, pode ser difícil imaginar Richard Nixon como um pacifista. Mas, comparado a Kennedy, foi assim que ele pareceu na eleição de 1960. Pouco tempo antes, o presidente Eisenhower – que tinha sido o comandante supremo das forças aliadas na guerra contra a Alemanha nazista – havia alertado contra o crescimento de um “complexo industrial militar” que ameaçava dominar a vida americana. O discurso de Eisenhower sobre esse assunto era digno do pacifista mais ardoroso, e na verdade Kennedy provavelmente concordava com a maior parte dele. Mas optou por se apresentar como o defensor da liberdade americana contra a ameaça militar soviética.
Considerando a linha geralmente dura do Partido Republicano nas questões de defesa, pode ser difícil imaginar Richard Nixon como um pacifista. Mas, comparado a Kennedy, foi assim que ele pareceu na eleição de 1960. Pouco tempo antes, o presidente Eisenhower – que tinha sido o comandante supremo das forças aliadas na guerra contra a Alemanha nazista – havia alertado contra o crescimento de um “complexo industrial militar” que ameaçava dominar a vida americana. O discurso de Eisenhower sobre esse assunto era digno do pacifista mais ardoroso, e na verdade Kennedy provavelmente concordava com a maior parte dele. Mas optou por se apresentar como o defensor da liberdade americana contra a ameaça militar soviética.
A eleição se transformou em um debate sobre experiência. Ambos os candidatos tinham chegado ao Congresso no mesmo ano, 1946, mas Nixon tentava reforçar suas qualificações usando sua atuação em questões de política externa e como vice-presidente. O tema da experiência parecia ser um ponto fraco na campanha de Kennedy e antes do primeiro debate Nixon parecia ganhar força. Isso era crucial porque, na época, o número de democratas era muito maior do que o de republicanos em todo o país. A corrida para a Casa Branca era tão apertada que qualquer pequena diferença poderia representar uma enorme vantagem.
Mas, enquanto Nixon encontrava seus pontos fortes, vários acontecimentos na mídia impactavam fortemente o resultado da eleição.
O foco de Nixon em sua experiência nas políticas externa e interna foi prejudicado por seu superior. No outono de 1960 o presidente Eisenhower estava dando uma entrevista coletiva, uma atividade da qual jamais havia gostado. Parecia ter pressa em terminá-la. Então um jornalista perguntou de quais decisões importantes o vice-presidente Nixon havia participado. Eisenhower respondeu: “Se você me der uma semana eu posso pensar em alguma.” Na verdade, o presidente não estava querendo diminuir Nixon; estava tentando fazer piada com relação ao próprio cansaço e à falta de concentração. Mas a frase foi um presente dos céus para Kennedy. Deu-lhe a chance de solapar todo o argumento de que Nixon seria o mais experiente. Kennedy disse: “Sim, o Sr. Nixon é experiente – mas sua experiência é na política do recuo, da derrota e da fraqueza.”
Além disso, começaram a brotar alguns problemas para o Sr. Nixon. Depois da convenção nacional do Partido Republicano ele havia prometido fazer campanha em todos os cinquenta estados, mas uma infecção no joelho o deixou afastado por duas semanas. Então, contrariando o conselho dado pelas pessoas mais próximas, voltou à campanha com a saúde ainda comprometida. Sem ter recuperado todas as suas energias, o candidato precisava voltar sua atenção para o primeiro debate televisionado de todos os tempos. Nixon fora um campeão de debates acadêmicos e adorou a oportunidade de falar com seu oponente em cadeia nacional de TV. Mas, à medida que o evento transcorria, as sutilezas da política midiática se enfileiravam contra o vice-presidente.
Kennedy dedicou um tempo enorme a se preparar para o evento. O recente sucesso de suas respostas sobre religião na TV provava que aquele meio de comunicação tinha um potencial imenso para impulsionar seu sucesso. Além disso, uma apresentação forte contra o altamente favorecido Nixon estabeleceria sua credibilidade nos principais temas e aumentaria ainda mais a confiança na sua capacidade de liderança. O vice-presidente também veio preparado, mas o resultado do debate não seria decidido pelo conteúdo.
Nixon também tinha tido azar em outras frentes de mídia. Kennedy marcou pontos com a comunidade negra quando ficou ao lado de Martin Luther King Jr. depois de uma prisão em Atlanta. O vice-presidente esbarrou em um conflito de interesses e precisou permanecer em silêncio diante daquele acontecimento de grande repercussão. Kennedy usou a cobertura da imprensa para fortalecer sua imagem compassiva e carismática. Mais tarde na disputa, Eisenhower aumentou seu apoio a Nixon. Esse movimento foi questionado pelos democratas e pode ter feito com que o vice-presidente parecesse incapaz de vencer a eleição por conta própria. Essa percepção de fraqueza acabou ecoando na imprensa. Combinados com o mau desempenho de Nixon no primeiro debate, com a gafe de Eisenhower e com os triunfos anteriores de Kennedy na mídia, pequenos erros de cálculo relacionados à imprensa, como esses, prejudicaram o candidato do Partido Republicano.
Durante o debate, Kennedy conseguiu colocar Nixon na defensiva com seu domínio inesperado dos fatos, mas Nixon reagiu às críticas do oponente. A principal narrativa sobre o debate se prendeu ao apelo visual do atraente Kennedy contra a aparência adoentada do desgastado Nixon. Vários fatores contribuíram para a imagem fragilizada de Nixon. Seus problemas de saúde recentes tinham resultado em uma acentuada perda de peso. O fundo recém-pintado do cenário havia secado em um tom de cinza que se fundia com a cor de seu terno. Nos intervalos, as câmeras pegavam Nixon enxugando o suor da testa. Ele parecia acuado e abalado. Enquanto isso, Kennedy parecia ótimo diante das câmeras.
Dizem que as pessoas que ouviram o debate pelo rádio acharam que Richard Nixon tinha vencido, ao passo que os milhões que a ele assistiram pela TV consideraram Kennedy claramente o vencedor. Há um motivo simples para isso. Nixon tinha uma apresentação excelente, mas Kennedy tinha – ou parecia ter – uma avassaladora vantagem de classe.
O que queremos dizer com vantagem de classe? Não significa que Kennedy era mais rico do que Nixon, ainda que isso fosse verdade. O que isso significa é o primeiro ponto importante a entender com relação a classe. A vantagem de classe de John Kennedy era que ele parecia tranquilo, calmo e controlado. Nixon podia ter mais conteúdo, mas Kennedy tinha classe. Na verdade, nada que tenha sido dito naquela noite foi particularmente significativo em termos de políticas públicas ou questões mundiais. Não houve ofensas humilhantes nem lições de moral e os temas discutidos parecem totalmente irrelevantes no mundo de hoje. Mas o que permanece são imagens de um John F. Kennedy relaxado e confiante – claramente a atração de classe, ainda que Richard Nixon fosse muito mais conhecido e experiente em governar.
Como isso aconteceu? Em meio a tudo que já foi escrito sobre o primeiro debate presidencial nos Estados Unidos, três pontos se destacam. Vamos retornar a esses pontos de várias maneiras durante o livro. Assim, ao lê-los agora, pense um pouco em como eles podem estar presentes na sua vida e na sua carreira. Talvez você jamais se candidate a presidente do país, mas sem dúvida estará diante de algumas das mesmas decisões que Kennedy e Nixon tomaram há cerca de sessenta anos. Superficialmente podia parecer que essas decisões se referiam a aspectos ou a procedimentos técnicos, mas na verdade estavam relacionadas a outra coisa. Tinham a ver com classe – ou com a percepção de classe – e com o modo mais eficaz de comunicar essa impressão.
Em primeiro lugar, os participantes do debate estavam ali por motivos muito diferentes. Para Kennedy o debate era um movimento de afirmação. Como alguém relativamente desconhecido, ele tinha tudo a ganhar e pouco a perder. Mas para Nixon o debate era uma coação. Pior ainda, ele impôs a coação a si mesmo, contrariando o conselho das pessoas ao seu redor. Os assessores de Nixon insistiram que ele não debatesse com Kennedy, mas Nixon se sentiu compelido a fazer isso. Achava que precisava provar algo, talvez mais a si mesmo do que a qualquer pessoa. Assim, seus atos se basearam na insegurança, e não na força.
Essa é uma dinâmica extremamente interessante – que pode afetar qualquer tomador de decisões, independentemente das circunstâncias externas. Quanto mais poderosas as pessoas se tornam, mais podem se sentir coagidas a provar que merecem seu poder. Precisam de confirmação e apoio constantes, o que se manifesta frequentemente em um grupo de puxa-sacos, de modo que eles possam afastar qualquer dúvida com relação a si mesmos.
A classe jamais se expressa de modo involuntário. Classe é sempre uma escolha positiva ou mesmo prazerosa. Ainda que suas ações sejam objetivamente cheias de classe, o efeito positivo é cancelado se a motivação for negativa. E não se engane: a motivação negativa sempre se revela, às vezes de modo inesperado e embaraçoso.
Existe um elo essencial entre classe e comunicação. As pessoas de classe são as que conseguem comunicar claramente quem são e qual é a sua visão. Você não precisa ser a pessoa mais inteligente da sala para ser o líder. Muitos historiadores aceitam amplamente que dois dos homens mais inteligentes a ocupar a presidência dos Estados Unidos no século XX foram Jimmy Carter e Richard Nixon. Carter tinha diploma de Engenharia Elétrica e Nixon tinha diploma de Direito pela Universidade de Duke. Mas Ronald Reagan – concorde você ou não com suas políticas – é lembrado como um presidente popular e eficaz, o homem responsável por vencer a Guerra Fria, o Grande Comunicador. Quando ele disse “Derrubem aquele muro”, tornou-se inesquecível – não por conta de nenhum diploma acadêmico; foi só pelo que ele disse e pelo modo como disse.
As pessoas inesquecíveis falam em termos visuais. Com frequência, de modo surpreendente, isso não tem a ver com o que elas fizeram ou farão; tem a ver com o que elas podem ver. Elas pintam o quadro de um mundo que os outros não conseguem imaginar e compartilham sua visão por meio de palavras. Não usam estatísticas para argumentar; usam imagens vívidas.
Ser um grande comunicador exige duas qualidades distintas. A primeira é otimismo – o pessimismo não tem classe. A pessoa inesquecível enxerga além de qualquer situação atual para imaginar um tempo melhor. Quando isso irá acontecer? Como vai acontecer? Essas coisas são meros detalhes!
Em segundo lugar, o grande comunicador compartilha essa visão em palavras simples que todo mundo consegue entender. Usar um vocabulário rebuscado não ajuda. É útil fazer uso de uma linguagem que possa ser claramente entendida por um motorista de caminhão e por um cientista – algo simples, compreensível e replicável.
Expressões como eu vejo, eu imagino ou eu acredito são instrumentos poderosos. Seus pensamentos ajudam a pintar um quadro dessa imagem. Por exemplo, não adianta citar estatísticas mostrando que, quando as pessoas gostam de trabalhar, sua produtividade e sua felicidade geral aumentam. Ninguém ouvirá com atenção se você afirmar a importância de desenvolver uma série de sistemas e processos para aumentar cada vez mais o prazer das pessoas no trabalho de modo que sua produtividade aumente. Essas são declarações corretas, mas quem se sentiria inspirado por elas?
Mas suponha que você diga o seguinte:
“Imagino um tempo, não muito distante, em que toda pessoa que vá para o trabalho adore o que faz. Esse é o mundo que eu consigo ver. Você consegue se imaginar indo para o trabalho todos os dias e amando o que faz e as pessoas com quem trabalha? Qual você imagina que seria o impacto disso em seu trabalho ou mesmo na sua vida pessoal? Esse é o mundo que imagino, e ele é possível se trabalharmos juntos para criá-lo. Junte-se a mim. Opte por liderar. Opte por inspirar. Se você fizer isso, sei que teremos sucesso. Se você liderar as pessoas ao redor, se inspirar as pessoas ao redor, cada um de nós, ao acordar, vai adorar ir para o trabalho. Você topa ou não?”
O significado é o mesmo, mas a mensagem é muito diferente.
Em seu discurso de posse em 1961, John F. Kennedy disse: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer pelo seu país.” Por que ele foi inesquecível? Kennedy não pediu que o seguíssemos nem que liderássemos. Ele nos desafiou a servir. Essa é a ironia de uma verdadeira atitude de classe. As pessoas realmente inspiradoras e inesquecíveis não são impelidas a liderar os outros. São impelidas a servi-los. Essa reviravolta sutil da lógica dá ao bom líder a lealdade e o respeito daqueles que, em última instância, os servem de volta. Para serem inesquecíveis, as pessoas precisam de seguidores. Por que algum indivíduo desejaria seguir outro, se não por sentir que a pessoa iria servir a ele e aos seus interesses?
Quanto mais você puder fazer isso, mais merecerá a confiança de todos ao redor. Não porque você é “o chefe”, mas porque sabe do que as pessoas precisam e está decidido a garantir que elas o obtenham.
A pessoa inesquecível quer ajudar os outros a se tornarem as melhores versões de si mesmos. A pessoa inesquecível não se propõe fazer o trabalho dos outros. De novo, a pessoa inesquecível pinta um quadro de como os outros podem fazê-lo por conta própria.
E, por sinal, essa é exatamente a intenção deste livro! Assim, por favor, passe para o capítulo 2.