INTRODUÇÃO
Comecei meu primeiro diário quando tinha 9 anos e estava no quarto ano do ensino fundamental. Daí para a frente, continuei escrevendo durante o ensino médio e a faculdade. Até os 20 e poucos anos, escrevi quase todo dia, enchendo cadernos e mais cadernos com minhas ideias e observações. (E minhas paixões. Muitas paixões.) Também usava uma agenda convencional e anotava nela minha lista de afazeres de cada dia até bem depois que aplicativos e sites da internet tornassem as duas coisas desnecessárias.
Mas, por volta dos 30 anos, acabei abandonando esse hábito. Parte disso aconteceu porque eu precisava escrever muito no trabalho e ainda mantinha um blog pessoal. Além disso, eu compartilhava meus pensamentos com amigos por meio de mensagens e e-mails ao longo do dia inteiro, e não tinha vontade de reescrever tudo num caderno à noite. Embora ainda fizesse listas de tarefas diariamente num bloco de papel, não tinha nenhuma intenção específica com essa atividade e não sentia nenhuma satisfação especial ao fazê-la.
Era assim que eu fazia minha organização pessoal quando comecei a usar o diário em tópicos, alguns anos atrás. A primeira vez que li sobre algo chamado “Bullet Journal” foi em dezembro de 2015, no blog de uma amiga. A princípio, supus que fosse um novo tipo de agenda e pensei: Ótimo, adoro comprar coisas novas! Mas quando fui pesquisar o assunto e visitei o site oficial de Ryder Carroll, criador da técnica, fiquei confusa. Não era algo para comprar, e eu não conseguia entender exatamente o que era. Pensei que fosse um diário, mas parecia uma… lista de afazeres? E também… um calendário? Ou talvez um pouco dos dois. Havia marcadores, símbolos e muitas palavras que não reconheci, além de fotos de páginas supersimples que não se pareciam em nada com as páginas elaboradas, lindas e criativas que eu via no Instagram — páginas que (supostamente) também eram de diários em tópicos. Parecia que muita gente estava usando cadernos pontilhados para fazer… não sei bem o que estavam fazendo, mas, pelo que entendi, aquele tipo de papel não era uma exigência. Não consegui descobrir quais eram as regras nem qual era o objetivo daquilo. Então deixei para lá.
Só quando descobri que meus amigos também tinham ouvido falar desse novo tipo de diário e não entendiam bem o que era, decidi resolver o enigma. Acontece que o diário em tópicos é um conceito muito simples, e também difícil de explicar, em parte porque seu aspecto mais fundamental é o “faça você mesmo” — ou seja, cada um faz de um jeito diferente e não há regras de verdade. Com o tempo, a internet transformou a ideia básica (usar símbolos simples e cadernos pontilhados para registrar as coisas mais importantes) em uma versão criativa, colorida, sofisticada e glamourizada do conceito original.
Comecei meu diário em tópicos em 1o de janeiro de 2016 e logo me apaixonei. Era exatamente o que eu não sabia de que precisava: um espaço único que reunia minhas listas de afazeres, ajudava a me organizar, servia de válvula de escape criativa e me lembrava dos tempos em que eu anotava todos os meus pensamentos. Fiquei empolgada ao descobrir que não tinha dificuldade para escrever nele todos os dias. Neste livro, vou lhe mostrar como começar seu próprio diário em tópicos e como transformá-lo em um hábito (ou um vício) em sua vida também.
ENTÃO, O QUE É EXATAMENTE UM DIÁRIO EM TÓPICOS?
É um sistema para registrar num único caderno todas as coisas que você deseja se lembrar: as que quer ou precisa fazer, as que já fez, e seus pensamentos e observações – sobre todos os aspectos da vida (trabalho, casa, relacionamentos, passatempos, etc.). Quando escrever em seu diário (que pode ser qualquer caderno de que você goste), você deve anotar tudo com palavras/expressões curtas (em vez de escrever frases completas) e marcar cada item com um símbolo simples (o principal é um pontinho) para classificar as informações e encontrá-las facilmente depois. Além desses símbolos, você também poderá usar alguns métodos básicos de organização: datas, números de página, títulos, tópicos/categorias e um índice.
O diário em tópicos é um modo extraordinário de registrar tudo o que é importante para você e manter sua vida organizada.
Está conseguindo me acompanhar? Mais ou menos? Maravilha.
Tudo começa com um caderno novo. Esse caderno pode ter páginas brancas, pautadas, quadriculadas ou com uma malha de pontinhos (pontilhados ou pontados); o mais importante é não ter nenhum tipo de texto impresso que lhe diga o que fazer e onde escrever — portanto, nada de datas impressas, calendário semanal, horários, cabeçalhos dizendo “Escreva aqui seus afazeres” com linhas numeradas embaixo, etc. (No entanto, tudo bem se as páginas forem numeradas.)
O problema das agendas e dos diários pré-impressos é que eles não podem prever suas necessidades com exatidão nem acomodá-las direito. Eles não sabem o tamanho da sua letra nem de quanto espaço você vai precisar para escrever sua lista de tarefas ou para falar sobre seu dia. Nem você sabe de quanto espaço vai precisar. Talvez precise de quatro linhas. Talvez precise de quatro páginas! Talvez — provavelmente — dependa do dia. A razão para o diário em tópicos ser tão atraente é que ele oferece uma estrutura para organizar seus pensamentos, mas é você quem decide como quer que esse diário/agenda/caderno seja e funcione. Em vez de tentar imaginar tudo com antecedência (o que seria impossível), você simplesmente prepara as primeiras páginas e depois vai criando as demais conforme avança, partindo do ponto em que estiver.
P: O DIÁRIO EM TÓPICOS É UMA LISTA DE AFAZERES, UMA AGENDA OU UM DIÁRIO?
R: OS TRÊS.
Essa era minha principal pergunta antes de começar o meu diário, e me incomodava muito quando as pessoas respondiam que era tudo isso junto. Mas é tudo isso junto!
As agendas e listas de afazeres costumam focar no que você vai fazer, e os diários, no que já fez. Mas combinar tudo isso nos dá um panorama completo de quem somos. Antes de começar, eu não conseguia imaginar como reunir as tarefas profissionais, os afazeres pessoais e meu diário no mesmo lugar. (E disse a mim mesma que só o usaria para coisas pessoais, sem incluir nada ligado ao trabalho; essa abordagem durou uns quinze dias.) Mas o sistema que uso me permite organizar assuntos de diversas áreas da vida de um jeito que faz sentido. O mais importante é que agora consigo entender por que esse jeito faz sentido.
Quando olho meus antigos diários, sempre me espanto com a quantidade de coisas que deixei de fora. Escrevi muito sobre os garotos e pouco sobre a escola, os amigos, os livros que lia, quanto dinheiro eu tinha, as metas que queria alcançar ou, simplesmente, como era minha rotina diária. Minhas listas de afazeres talvez contivessem algumas dessas informações, mas não me preocupei em guardá-las porque não achava que fossem importantes. Só depois percebi que tarefas, hábitos e rotinas revelam muito sobre o que priorizamos, o que desejamos e quem somos de verdade. O diário em tópicos ajuda a registrar tudo o que acontece na nossa vida e nos possibilita acompanhar nossos planos para o futuro.
SOBRE ESTE LIVRO
Este livro explica o que é o diário em tópicos, mostra vários exemplos de como usar a técnica, traz ideias para você criar o seu, responde às perguntas mais comuns de quem está começando e dá dicas para encaixá-lo em sua vida. Não importa se o conceito é novidade ou se já tem seu diário em tópicos há algum tempo, este livro é para você.
Um dos melhores aspectos dessa técnica — e uma das principais razões de sua popularidade — é ser muito adaptável. Depois de compreender o conceito básico, as maneiras de aplicá-lo são praticamente infinitas. Nesse aspecto, tudo neste livro deve ser entendido como sugestão amistosa, não como exigência; as “regras”, na verdade, são apenas recomendações, e você deve se sentir livre para usar seu diário do jeito que fizer sentido para você.
Há tantos estilos de diário quanto de usuários. Alguns entusiastas dedicam muito tempo a fazer páginas fantásticas e tratam seu diário como um passatempo ou uma válvula de escape criativa. No entanto, a maioria das pessoas usa uma abordagem simples/minimalista/bagunçada, e isso também é ótimo.
Meu objetivo foi criar modelos que fossem simples a ponto de despertar sua curiosidade e bonitos a ponto de você gostar de olhá-los. Mas não se esqueça de que as páginas que você verá neste livro não são reais. Elas contêm fatos, tarefas e nomes fictícios, tudo pensado e criado para ficar bem nas fotos. Escrevi devagar para minha letra ficar legível. Quando cometi erros, corrigi. No caso deste livro, deixar as páginas bem-feitas faz parte do trabalho. Mas juro que meu diário verdadeiro tem muito mais rasuras, linhas tortas e palavrões. Provavelmente, o seu também terá.