Introdução
Empreender é uma palavra que remete a muitos sonhos: abrir um negócio próprio, não ter chefe, trabalhar com o que gosta, pôr em prática uma ideia criativa, aproveitar horários flexíveis, ter liberdade e independência, desbravar mercados, ganhar muito mais do que quando era funcionário…
Porém – e sempre existe um porém! –, até que esse sonho se torne uma realidade palpável (e não se transforme em um pesadelo), é preciso muito trabalho, dedicação, tempo, energia e investimento. Acima de tudo, é necessário entender bem o seu negócio e a sua área de atuação, mas também é preciso entender de um assunto muitas vezes evitado: finanças.
Não estou dizendo que você precisa se transformar em um especialista na área financeira, principalmente se não há condições de cuidar diretamente do dia a dia dessa função na empresa. Mas, como empreendedor, você precisa saber os conceitos gerais de finanças, conhecer seu funcionamento básico e vigiar constantemente os indicadores que vão mostrar se está havendo ou não lucro. Só assim poderá ter consciência de como anda seu negócio, ganhar dinheiro com ele e descobrir onde estão as fragilidades que podem fazer você perder seu capital.
Existem alguns fortes motivos para um empreendedor conhecer mais sobre finanças, ou melhor, para desenvolver sua inteligência financeira nos negócios. Listarei aqui três deles, sendo dois tradicionais e um não tradicional:
Motivos tradicionais para entender mais sobre finanças nos negócios
1) Você já tem um negócio
Para quem já empreende, é comum que a gestão das finanças não seja feita diretamente pelo empreendedor, que em geral está lidando mais com o assunto principal do negócio, seja ele um produto ou um serviço. Via de regra, ou a rotina contábil é feita por uma terceira pessoa e a análise geral da saúde financeira não acontece, ou então tudo é feito de modo breve e superficial, sem grande atenção para pontos que podem ser vitais para a empresa.
Curiosamente, mesmo as empresas mais bem resolvidas estrategicamente costumam falhar ou mostrar fragilidades justamente nas finanças, e é nesse aspecto que a maioria dos negócios que naufragam tem mais problemas. A autoconfiança do empreendedor o inebria e tende a levá-lo a focar suas energias muito mais nos aspectos visíveis do negócio – as vendas, a comunicação, o marketing, o serviço – e deixar a organização financeira em segundo plano. E é a partir desse ponto que negócios sensacionais geralmente desmoronam.
Por tudo isso, desenvolver a inteligência financeira é fundamental e oportuno tanto para os pequenos quanto para os grandes negócios, novos ou consolidados, simples ou complexos. Com ela, o empreendedor se manterá ciente de estar sempre seguindo no caminho das escolhas rentáveis, que garantirão o crescimento de seu grande investimento.
Este livro se propõe oferecer os conhecimentos necessários para que os empreendedores conheçam todos os aspectos fundamentais para lidar com as finanças de seus negócios, de modo que sejam bem-sucedidos em seus propósitos e consigam ter lucro, crescer, prosperar e perpetuar-se.
2) Você está pensando em empreender
Para quem está querendo montar o próprio negócio, algo curioso acontece em relação às finanças. Quem empreende ou quem tem o desejo de empreender em geral baseia seu negócio em uma ideia – inovadora ou não, criada ou não por ele próprio –, que vai se traduzir em um produto ou em um serviço, que consiste no próprio coração da nova empresa.
Dessa maneira, em geral é difícil que o empreendedor entenda previamente de finanças ou seja especialista nisso. Assim, ele não foca primariamente no desenvolvimento dessa área de maneira a obter o melhor dela. E, como o negócio é inicial ou pequeno, o empreendedor não tem ainda condições de contratar especialistas ou gestores financeiros para cuidar de um departamento dedicado, e por isso tenta resolvê-la ou com seus conhecimentos básicos ou com os de alguém que possa ajudá-lo, o que acontece em muitos casos até informalmente. Isso faz com que o empresário fique “no escuro”, pois, enquanto trata apenas de seu produto ou serviço, a verdadeira gestão do negócio não fica plenamente em suas mãos.
Outra falha frequente é iniciar uma nova empresa sem um plano de negócios, o famoso business plan, que considera fortemente o aspecto financeiro, levando em conta conceitos como investimento, retorno, lucro, ponto de equilíbrio, etc. Mais uma vez, o empreendedor, apaixonado pelo sonho ou pela ideia que o levou a iniciar o negócio, não tem total entendimento e conhecimentos para saber lidar com os aspectos financeiros que podem fazer uma empresa vingar ou falir.
Neste livro, reuni as informações fundamentais que ajudarão os futuros empreendedores e todas as pessoas que sonham em iniciar um dia seu próprio negócio a ter consciência e domínio das ferramentas financeiras para serem bem-sucedidos em suas empreitadas.
Motivo não tradicional para entender mais sobre finanças
nos empreendimentos
3) Empreender é uma maneira de investir
Os motivos tradicionais para aprender mais sobre finanças nos negócios são lógicos e claros: é preciso conhecer algo de finanças para ficar ciente da saúde de sua empresa e no seu total controle, qualquer que seja seu ramo. Em teoria, isso parece até óbvio, apesar de a prática nem sempre ser bem-sucedida.
Ainda de acordo com as práticas tradicionais, o mundo profissional e a trajetória para se conseguir renda com uma profissão sempre foram mais ou menos os seguintes:
A pessoa dedica-se a anos de estudos, concluindo o ensino fundamental e o médio.
Em seguida, o jovem faz de tudo para ingressar no ensino superior, pago ou gratuito (público), para se capacitar para uma profissão, até se formar.
Com o diploma em mãos, já capacitado, o formado vai para o mercado de trabalho e começa a ter renda.
Visando ter essa renda sempre crescente e melhorar seu padrão de vida, esse trabalhador tenta progredir na carreira, inclusive fazendo cursos e aperfeiçoamentos, para conseguir posições melhores e mais bem remuneradas.
Depois de trabalhar durante algumas décadas de sua vida, a pessoa aposenta-se e espera ser sustentada pelos frutos dos esforços de poupança feitos ao longo da carreira, sejam eles por meio de uma previdência pública ou privada.
Parece simples? Só que não é. Aliás, não é nem mais viável seguir essa estratégia nos dias de hoje.
O que se constata atualmente é que as expectativas de consumo e de qualidade de vida, somadas ao custo de se viver nas cidades próximas às oportunidades de emprego, têm impedido as pessoas, ou melhor, as famílias, de poupar o necessário para sustentar suas escolhas após o fim de suas carreiras profissionais.
As relações de trabalho têm sido cada vez menos duradouras e mais flexíveis. As carreiras, quando existem, encerram-se cada vez mais cedo. Além disso, por todos os avanços da ciência e pelos recursos da medicina, as pessoas estão vivendo cada vez mais, morrendo com mais idade. Como consequência, o velho modelo de estudar para trabalhar e depois poupar para se aposentar não funciona mais como antes. Ou funciona apenas parcialmente e se mostra insuficiente.
O que fazer então?
Proponho um novo modelo de planejamento financeiro de vida, que envolve entender o trabalho como apenas a primeira etapa da construção de seu patrimônio e de sua independência financeira, e assumir que empreender um negócio próprio é mais que uma oportunidade. É uma questão de sobrevivência. E é uma maneira de investir seu capital. Discuti isso em meu livro Adeus, aposentadoria (Sextante, 2014), mas explicarei aqui mais detalhadamente essa segunda etapa, desenvolvendo o ponto de vista do empreendedorismo.
Etapas da geração de riqueza na vida
Sempre defendi que estudar e educar-se é algo que deve acontecer ao longo da vida inteira das pessoas, e não apenas enquanto são jovens. Educar-se é preparar-se, e é preciso se educar para aprender a gerar riquezas durante toda sua vida. Por isso, eu defendo que precisamos adotar um novo padrão de educação e estudos, que deve evoluir em três etapas:
Etapa I – Educar-se para o trabalho: Essa é a etapa da escola, do ensino fundamental, do ensino médio e do ensino superior tradicionais, dos cursos técnicos, das pós-graduações, das especializações, dos cursos de idiomas, etc. Com o que é aprendido aqui forma-se o que colocamos em nosso currículo, que nos capacita para o mercado de trabalho e para exercer uma profissão, com a qual desenvolvemos uma carreira, que nos proverá de ganhos desejavelmente crescentes. Em geral, durante a maior parte do tempo dessa etapa da educação ainda dependemos financeiramente de alguém, seja dos familiares seja de pessoas que possam prover nosso sustento enquanto não temos renda própria.
Começamos então a trabalhar e trocamos nosso trabalho pela renda originada do capital de alguém, a quem ajudamos a enriquecer. Perceba: no modelo econômico capitalista em que vivemos, quem possui capital (ou crédito para contar com o capital dos outros) coloca esse capital para trabalhar na forma de um ou mais empreendimentos e convida quem não possui capital (o trabalhador) para que este o ajude a multiplicar suas riquezas. O papel do trabalhador, nesse modelo, é usar seu conhecimento, sua experiência, seus relacionamentos e seu suor para construir riqueza, só que não riqueza para si, e sim riqueza para quem lhe oferece a oportunidade de trabalho. Em troca, recebe um pagamento pelo valor que agrega ao negócio.
Os trabalhadores que percebem esse jogo focam suas ações em reduzir custos, captar clientes, aumentar a produtividade e, por se destacarem naquele objetivo para o qual foram contratados, crescem mais rapidamente na carreira. Os que fazem o mínimo possível para ganhar o máximo possível, por outro lado, não conseguem se destacar de seus pares e tendem a estacionar na carreira. O modelo capitalista mostra-se eficiente quando mesmo aqueles que não têm capital percebem a tempo as regras do jogo – normalmente por intermédio da educação – e optam por reservar para o futuro parte dos ganhos obtidos com o trabalho. Ao combinar hábitos de poupança com uma estratégia empreendedora, chegará o dia em que suas reservas se transformarão em capital para iniciar a própria atividade empreendedora.
Etapa II – Educar-se para empreender: Quando a carreira entra em uma espécie de velocidade de cruzeiro, ou seja, quando os frutos de nossa educação parecem se multiplicar de maneira mais farta, podemos colhê-los para começarmos a plantar em outra seara. No modelo tradicional, era nesse ponto que as pessoas já se preparavam para se aposentar. Mas, no novo modelo, agora é que o jogo começa a ficar divertido. Essa é a fase da carreira em que a situação fica sob controle, as propostas de emprego começam a ser mais frequentes, você não precisa mais torcer para ser aceito, mas as empresas é que torcem para você aceitar seus convites. Sua reputação está criada, sua empregabilidade está forte e seu foco está mais no equilíbrio de sua agenda e na sua qualidade de vida. Ainda é preciso se atualizar e renovar conhecimentos, mas entre essas atividades é necessário que você encontre tempo para aprender sobre empreendedorismo, que pode ser encarado, além de tudo, como mais uma maneira de multiplicar o capital, ou seja, o patrimônio, que você conseguiu até então acumular ou poupar. Empreender também é, portanto, uma forma de investir.
Quando você começa a empreender, ou seja, quando inicia um negócio próprio, você passa para o lado mais interessante das relações de capital. Ao empreender, o trabalhador passa a construir a própria riqueza, passa a trabalhar diretamente por ela, criando oportunidades de emprego para que outras pessoas sem capital possam prosperar enquanto contribuem para multiplicar sua riqueza que agora se transformou em negócio.
Essa é uma reflexão rica que raras vezes é percebida como o verdadeiro motivo para se montar um negócio. Mesmo que intuitivamente, todo empreendedor está em busca de se livrar de uma relação de trabalho em que a maior parte de sua energia e de seu tempo transforma-se em riqueza para terceiros.
Esse raciocínio não diminui a nobreza do trabalho, pois o emprego é o caminho natural para evoluir do lado trabalho para o lado capital das relações capitalistas. E o lado de ter o próprio capital remunerado é, como eu disse, o mais interessante desse jogo. Como a maioria das pessoas em qualquer lugar do mundo não nasce com o privilégio de contar com fartas reservas financeiras à sua disposição, é natural que a educação inicial seja sempre focada em preparar as pessoas para o trabalho ou emprego.
Uma sociedade bem educada é aquela que prepara seus futuros profissionais para serem competitivos e competentes no trabalho, mas deveria ser também aquela que conscientiza seus cidadãos da necessidade de se preparar para serem autossuficientes quando suas oportunidades de trabalho se esgotarem. Mesmo quem não se considera com perfil empreendedor terá melhores condições de vida se estiver preparado para colocar suas reservas financeiras (seu capital) para trabalhar na forma de investimentos.
Etapa III – Educar-se para investir: Chega um ponto em que o conhecimento sobre empreendedorismo, sobre seu negócio, por conhecimentos adquiridos na teoria ou na prática, no dia a dia, já é grande e diferenciado. Você tem experiência e colhe os frutos. Essa é a hora de aprender mais sobre investimentos. Não que você não tenha de ter estudado sobre investimentos até aqui, mas precisa conhecer bastante para que seus negócios funcionem independentemente de sua capacidade de se envolver com eles. Para isso, você pode administrar os frutos de seu legado e poderá aproximar-se do antigo conceito de aposentadoria, com mais tempo livre para fazer o que quiser, inclusive divertir-se com a rotina do trabalho.
As etapas da estratégia da construção de riqueza ao longo da vida como proponho devem ser: