Ganhar, gastar e investir
Quando sento com as mulheres para conversar sobre a vida financeira delas, invariavelmente escuto uma ou mais das seguintes frases: “Ah, eu ganho muito pouco”, “Eu gasto demais” ou “Eu não sei investir”. Bom, aqui vai a má notícia: o problema não é nem uma coisa nem outra, e nem a terceira. São todas elas juntas. E enquanto você não tomar consciência disso não vai achar a solução para suas dificuldades.
É por isso que falaremos aqui de ganhar, gastar e investir, três coisas relacionadas. Infelizmente, a situação para as mulheres não é nada animadora. Comparadas aos homens, as mulheres ganham menos, gastam mais (em especial se levarmos em consideração o tempo e a energia que despendem cuidando dos outros) e investem menos e pior. Para dificultar, ainda há um tabu enorme em falar sobre dinheiro, mesmo entre o círculo mais íntimo de amizades, e o assunto acaba ficando rodeado de mitos, mentiras e pensamentos mágicos, como veremos no Capítulo 1.
Tem gente que acha que não pode ser rica ganhando R$ 5 mil por mês. Mas você é mais rica se ganhar R$ 5 mil e gastar R$ 4 mil do que se ganhar R$ 100 mil e gastar R$ 110 mil. Esse não é um conceito simples de assimilar. Ninguém acha que alguém que ganhe R$ 5 mil pode ser mais rico do que quem ganha R$ 100 mil. Pois pode – e, nesse caso, de fato é.
O ganhar, portanto, não é limitante. A definição da riqueza não é estabelecida só pela entrada de dinheiro, embora seja muito importante maximizar os seus ganhos de forma inteligente e sensata – o que vamos ensinar na Parte 1 (Ganhar), já que muitas mulheres ganham aquém do que merecem. Gastar menos também é essencial. Cortar gastos deve ser como cortar unhas, precisa ser feito o tempo todo, e existem maneiras de realizar isso sem grandes traumas (eu prometo). Mas esse cuidado com as despesas também não basta. O que fecha a equação é investir bem a diferença; é o rendimento a partir do que você ganhou, deixou de gastar e aplicou que vai formar o seu patrimônio e a reserva necessária para realizar os seus sonhos e ter um futuro tranquilo. É disto que falaremos aqui: o que você pode fazer para ganhar mais, gastar menos (e melhor) e investir bem a diferença.
Para alcançar o equilíbrio financeiro, o primeiro passo é entender o que fazemos e por que fazemos. A nossa relação com o dinheiro não é meramente racional e orientada por uma planilha. Há pessoas – e você deve conhecer muitas – que fazem controle de gastos há anos, possuem as melhores planilhas do planeta e isso não as ajudou a mudar sua forma de ganhar, gastar e investir. São tão desorientadas quanto qualquer uma que nunca tenha tomado nota de um único real gasto. Há aquelas que anotam centavos e perdem a visão do todo. Há as que registram o importante e constroem uma boa perspectiva geral.
O que de fato faz diferença não é a planilha (embora ela seja uma ferramenta útil, como veremos adiante), e sim o modelo mental. Para entender qual é o seu modelo mental, experimente responder às perguntas a seguir:
- Qual é a lembrança mais antiga que você tem sobre dinheiro?
- Como as questões financeiras eram tratadas em sua casa?
- Para você o dinheiro está relacionado com liberdade e prazer ou com angústia?
- Quem você admira pela forma com que lida com o dinheiro?
Esse exercício vai nos trazer lembranças positivas ou negativas sobre o assunto. Nós nos recordaremos de coisas que ouvimos em casa, do tipo “Quem poupa tem”, “Dinheiro não dá em árvore”, ou de ter presenciado discussões acaloradas dos pais em torno das contas.
Cada uma de nós tem um repertório de lembranças e referências afetivas ligadas ao ato de ganhar e gastar. Nossa história sobre o dinheiro pode gerar conforto, medo, confiança ou desconfiança. A ausência de dinheiro pode nos motivar, e sua abundância, nos enfraquecer. Ou vice-versa. O importante é saber reconhecer as suas memórias e entender como elas podem ter influenciado a forma como você lida hoje com os ganhos, os gastos e os investimentos.
A autoanálise é a única forma de operar mudanças internas. O exercício de refletir e, se possível, conversar sobre a sua relação com o dinheiro vai ajudá-la a entender suas ações até aqui e também será a melhor ferramenta para alterar aquilo que for necessário. Compreender, a partir de sua história, as razões por trás de suas atitudes é o que vai redefinir seu modelo mental, e não o contrário. Minha intenção ao escrever este livro é apresentar a minha história, bem como as histórias de muitas mulheres com quem conversei e a quem ajudei, e oferecer as ferramentas e a motivação para melhorar sua vida financeira.
No entanto, sou adepta da teoria do neurobiólogo chileno Humberto Maturana, que acredita que nada que vem do exterior nos modifica. De acordo com a sua teoria da autopoiesis, somos um organismo fechado e toda mudança só se dá a partir do nosso interior. Fica fácil compreender essa ideia quando pensamos em quanto tempo a gente perde na vida tentando, sem sucesso, modificar pessoas: marido, filhos, mãe, amigos.
Só há uma maneira de nos modificarmos: promover, nós mesmos, uma mudança a partir de dentro. O discurso de fora não nos atinge. Ou, pelo menos, não nos atinge da forma que o mundo externo pretende. E isso também tem uma explicação simples e natural: cada um de nós é diferente dos outros.
Desde que nascemos, vivemos experiências únicas e particulares, que moldam em nós aquilo que Maturana chama de “configuração de sentires íntimos”. Como essas configurações são únicas e particulares, o entendimento do que vem de fora é diferente para cada pessoa. Por isso mesmo, é muito difícil de ser acessado. Por exemplo: eu e a Cynthia, autoras deste livro, somos totalmente responsáveis pelo que estamos escrevendo, mas não pelo que você está lendo. Sua compreensão destas linhas (e das histórias, dos ensinamentos e das práticas mostrados a seguir) vai depender das suas configurações íntimas, e será singular.
Tudo se modifica a partir daquilo que decidimos conservar.
Se pedimos a você que responda às perguntas da página anterior, é porque acreditamos que elas a moverão a buscar respostas. E as respostas conduzirão à reflexão. Se ficarmos aqui apenas ditando regras que você irá ler sem refletir, daqui a dois dias terá esquecido tudo. É a sua reflexão pessoal, não uma “receita de bolo”, que tem o poder de modificar seu comportamento. Se quiser a mudança, precisa buscar esse diálogo amoroso consigo mesma. É a partir da reflexão que podemos nos transformar.
Quantas vezes você já não quis gastar menos ou desejou ganhar mais mudando de emprego ou criando seu próprio negócio? E depois não fez nada disso, desistiu e se acomodou? Antes de se envergonhar da sua “falta de disciplina” ou de se chamar de preguiçosa, guarde esta ideia, igualmente inspirada no pensamento de Maturana: na vida, tudo se modifica a partir daquilo que decidimos conservar.
Você quer gastar menos e não consegue? Se analisar o motivo, verá que o que quer conservar é o seu atual padrão de gastos: as roupas da moda, o jantar no restaurante caro, o celular novo, etc. Ou diz que quer ser promovida, mas não se movimenta para uma nova posição? Será que você não quer conservar a segurança da sua atual situação? Ou continuar ganhando menos que seu marido?
É como aquela moça gordinha que sempre gostou de doces e de comidas calóricas. Embora achasse que ficaria mais bonita se perdesse peso, essa ideia não era suficiente para fazê-la levar uma dieta a sério. Ela queria conservar o prazer de comer seus brigadeiros.
Mas tudo mudou diante de um diagnóstico médico: a moça descobriu que tinha diabetes e corria o risco de perder a visão caso não parasse de comer açúcar. Então, para continuar a enxergar (o que passou a ser sua prioridade), ela largou os doces, começou a fazer exercícios e perdeu peso. Fez a opção por conservar a saúde e, assim, conseguiu realizar uma grande mudança de hábitos.
As decisões em relação à vida profissional não são diferentes. Imagine que você receba uma proposta de emprego para ganhar muito mais, mas que inclui ter que trabalhar nos fins de semana. Se quiser continuar a ter mais tempo livre com seu parceiro ou com seus filhos, você vai recusar a proposta. Por outro lado, se você tem o sonho de fazer um curso no exterior, por exemplo, e precisa do dinheiro para realizá-lo, provavelmente vai abrir mão do tempo livre e cultivar o seu sonho. Todas as coisas que você quer conservar na sua vida – seja a saúde, o casamento, a casa ou o emprego – são os motores do que está lhe acontecendo no momento. E, mais uma vez, não são óbvios nem universais: cada um deseja conservar o que acha importante para si, e não o que se convencionou ser melhor para todos.
• Qual é o seu principal problema hoje? E, pensando nele: o que você está querendo conservar nessa situação? Por que não consegue modificá-la? Qual é o seu sonho de realização pessoal e profissional?
• Qual seria o melhor resultado da leitura deste livro?
Aqui você conhecerá não só a minha história como também a história de várias mulheres, cada uma com suas particularidades: expectativas, medos, objetivos, limitações, sonhos, soluções. São pessoas reais cujos nomes foram alterados para proteger sua privacidade. Através da diversidade de experiências, espero mostrar como é possível se libertar de pensamentos ou comportamentos limitadores e desenvolver uma relação mais saudável com o dinheiro. Desejo que este livro promova uma reflexão produtiva sobre a sua forma de pensar e administrar seu dinheiro. Torço para que você se sinta motivada e pronta para aumentar seus ganhos, repensar seus gastos e investir no seu patrimônio e na sua liberdade. Sei que não é fácil. Mas é possível. E a recompensa é muito melhor do que permanecer na zona de conforto.