Maneiras de amar | Sextante
Livro

Maneiras de amar

Amir Levine e Rachel Heller

Como a ciência do apego adulto pode ajudar você a encontrar – e manter – o amor

Como a ciência do apego adulto pode ajudar você a encontrar – e manter – o amor

 

Mais de 500 mil livros vendidos.

Publicado originalmente como Apegados.

“Um livro claro, perspicaz e fácil de ler, valioso tanto para quem está iniciando um relacionamento quanto para quem está casado há muitos anos e acha que sabe tudo sobre o cônjuge.” – Scientific American

 

“A teoria do apego adulto designa três principais estilos de apego ou maneiras de amar, que são as formas pelas quais as pessoas percebem e reagem à intimidade nos relacionamentos românticos. Basicamente:

  • as pessoas seguras sentem-se à vontade com a proximidade do outro e, em geral, são carinhosas e amorosas;
  • os ansiosos desejam intimidade, costumam se preocupar com os relacionamentos e tendem a ter dúvidas quanto à capacidade de seus parceiros de corresponder a seu amor;
  • os evitativos entendem a intimidade como uma perda de independência e tentam constantemente minimizar a proximidade.

Neste livro você descobrirá mais sobre cada um desses três estilos e a maneira como eles determinam seu comportamento e suas atitudes.

Esperamos que você empregue a sabedoria contida aqui para encontrar felicidade em suas ligações amorosas e para voar alto em todos os aspectos da sua vida.

Se conseguir aplicar os princípios que delineamos, você estará dando a si mesmo a melhor chance de encontrar – e de manter – uma relação gratificante.”

Amir Levine e Rachel Heller

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Ficha técnica
Lançamento 16/06/2021
Título original Attached
Tradução Livia de Almeida
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 272
Peso 330 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-162-2
EAN 9786555641622
Preço R$ 59,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-65-5564-163-9
Preço R$ 34,99
Ficha técnica audiolivro
ISBN 9786555642520
Duração 08h 20min
Locutor Elaine Correia
Lançamento 16/06/2021
Título original Attached
Tradução Livia de Almeida
Formato 16 x 23 cm
Número de páginas 272
Peso 330 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-162-2
EAN 9786555641622
Preço R$ 59,90

E-book

eISBN 978-65-5564-163-9
Preço R$ 34,99

Audiolivro

ISBN 9786555642520
Duração 08h 20min
Locutor Elaine Correia
Preço US$ 7,99

Leia um trecho do livro

A nova ciência do apego adulto

Decodificando o comportamento nos relacionamentos

  • Faz apenas duas semanas que estou saindo com esse cara e já me sinto doente de tanto pensar que talvez ele não me ache tão atraente, de pensar obsessivamente se ele vai ligar ou não! Sei que acabarei mais uma vez transformando minha insegurança em uma profecia autorrealizável e arruinarei mais uma chance de manter um relacionamento!
  • O que está errado comigo? Sou um sujeito inteligente, de boa aparência, com uma carreira de sucesso. Tenho muito a oferecer. Saí com algumas mulheres incríveis, mas invariavelmente, depois de algumas semanas, eu perco o interesse e começo a me sentir preso. Não deveria ser tão difícil encontrar alguém com quem eu seja compatível.
  • Sou casada há anos. No entanto, sinto-me completamente só. Meu marido nunca foi de discutir suas emoções ou de ter conversas sobre o relacionamento, mas as coisas pioraram muito. Ele fica até tarde no trabalho quase todo dia e nos fins de semana passa o tempo todo no campo de golfe com os amigos ou assistindo ao canal de esportes na TV. Não há quase nada que nos mantenha unidos. Talvez eu estivesse melhor sozinha.

Cada um desses problemas é extremamente doloroso, atingindo o núcleo mais profundo da vida das pessoas. No entanto, nenhuma explicação ou solução dá conta de todos eles. Cada caso parece único e pessoal; cada um se origina de uma série infindável de causas possíveis. Decifrá-los exigiria um profundo conhecimento de todos os envolvidos. Antecedentes, relacionamentos anteriores e personalidade são apenas algumas das avenidas que um terapeuta precisaria percorrer. Pelo menos isto é o que nós, clínicos da área da saúde mental, aprendemos. E acreditávamos que assim fosse até a chegada de uma nova descoberta – uma descoberta que forneceu uma explicação simples para os três problemas descritos anteriormente e para muitos outros. A história dessa descoberta e do que aconteceu a seguir é o assunto deste livro.

Basta amar?

Alguns anos atrás, Tamara, uma grande amiga, começou a sair com alguém que acabara de conhecer.

A primeira vez que reparei em Greg estávamos em uma festa na casa de uma amiga. Ele era incrivelmente atraente e fiquei lisonjeada por ter chamado sua atenção. Alguns dias depois, fomos jantar com outras pessoas e eu não consegui resistir ao brilho de empolgação em seu olhar quando ele me fitava. Mas o que mais me atraiu foram suas palavras e a promessa implícita de união que elas transmitiam. A promessa de nunca estar só. Ele dizia coisas como “Tamara, não precisa ficar sozinha em casa. Pode vir para cá e trabalhar aqui”; “Pode me chamar sempre que quiser”. Essas declarações me davam conforto. O conforto de pertencer a alguém, de não estar sozinha no mundo. Se eu tivesse ouvido com atenção, poderia ter percebido facilmente que havia outra mensagem, incongruente com essa promessa, uma mensagem que deixava claro que Greg temia se aproximar demais e que não se sentia à vontade com compromissos. Mencionara diversas vezes que nunca havia mantido um relacionamento estável – que por algum motivo sempre se cansava de suas namoradas e sentia a necessidade de partir para outra.

Embora eu pudesse identificar essas questões como potencialmente problemáticas, na ocasião eu não sabia como avaliar suas implicações. Tudo o que eu tinha para me guiar era a crença com que tantos de nós fomos criados. A crença de que o amor sempre vence. E assim deixei que o amor me vencesse. Para mim, nada era mais importante do que estar na companhia dele. No entanto, persistiam as outras mensagens, aquelas que indicavam sua incapacidade de assumir compromisso. Eu as descartava, confiante de que comigo as coisas seriam diferentes. Claro que eu estava errada. À medida que ficamos mais próximos, suas mensagens se tornaram mais imprevisíveis e tudo começou a desmoronar. Ele passou a me dizer com certa frequência que estava ocupado demais para se encontrar comigo. Às vezes, alegava que o trabalho estava “uma loucura” e perguntava se poderíamos nos encontrar apenas no fim de semana. Eu concordava, mas por dentro pressentia que alguma coisa estava errada. Mas o que seria?

A partir daí, passei a me sentir sempre ansiosa. Preocupava-me com seu paradeiro e me tornei hipersensível a qualquer sinal que pudesse indicar que ele pretendia se separar de mim. No entanto, ainda que o comportamento de Greg deixasse clara sua insatisfação, a alternância entre momentos de afastamento e momentos de afeto me levava a não romper o relacionamento.

Depois de algum tempo, os altos e baixos cobraram seu preço e eu não conseguia mais controlar minhas emoções. Não sabia como agir e, contrariando meu bom senso, eu evitava fazer planos com os amigos para estar disponível caso ele aparecesse. Perdi completamente o interesse em tudo que era importante para mim. Não demorou muito para que o relacionamento não suportasse tanta pressão e chegasse a um término desastroso.

 

Como amigos de Tamara, a princípio nos sentimos felizes por ela ter conhecido alguém que a empolgava. À medida que o relacionamento se desenrolava, porém, ficamos cada vez mais preocupados com suas crescentes inquietações a respeito de Greg. Sua vitalidade deu lugar à ansiedade e à insegurança. Passava a maior parte do tempo à espera de uma ligação de Greg ou angustiada e preocupada demais com o relacionamento para conseguir se divertir com a gente, como tantas vezes no passado. Ficou claro que seu trabalho também estava sendo impactado e ela temia perder o emprego. Sempre consideramos Tamara uma pessoa equilibrada e resiliente, mas começamos a conjeturar se havíamos nos enganado a seu respeito. Embora Tamara pudesse identificar no histórico de Greg sua incapacidade de manter um relacionamento sério, tivesse consciência de que ele era imprevisível e até mesmo reconhecesse que provavelmente ficaria melhor sem ele, ela não conseguia reunir forças para deixá-lo.

Para nós, profissionais experientes na área de saúde mental, era muito difícil aceitar que uma mulher sofisticada e inteligente como Tamara tivesse se desviado tanto do seu comportamento habitual. Por que uma mulher tão bem-sucedida agiria de modo tão indefeso? Por que alguém que sabíamos ser capaz de se adaptar tão bem aos desafios da vida se tornava tão impotente nessa situação? O outro lado da equação era igualmente desconcertante. Por que Greg emitia mensagens tão conflitantes, embora estivesse claro até para nós que ele a amava? Havia muitas respostas psicológicas complexas possíveis para essas perguntas. No entanto, uma percepção ao mesmo tempo surpreendentemente simples e abrangente surgiu de uma fonte inesperada.

Do berçário terapêutico à ciência prática do amor adulto

Mais ou menos na mesma época em que Tamara namorava Greg, Amir estava trabalhando meio período no Berçário Terapêutico da Universidade Columbia, onde conduzia terapia baseada no apego para ajudar mães a estabelecerem vínculos mais seguros com os filhos. O efeito poderoso desse tratamento no relacionamento entre mãe e filho encorajou Amir a aprofundar seus conhecimentos sobre a teoria do apego. Isso acabou conduzindo-o a uma descoberta fascinante. Pesquisas feitas inicialmente por Cindy Hazan e Phillip Shaver indicavam que os adultos apresentam, com seus parceiros românticos, padrões de apego semelhantes àqueles existentes entre as crianças e seus pais. À medida que lia mais sobre o tema, Amir começou a reparar nos padrões de relacionamento dos adultos à sua volta. Percebeu que essa descoberta poderia ter implicações espantosas para a vida cotidiana.

A primeira coisa que Amir fez quando percebeu o amplo alcance das implicações da teoria do apego aplicada aos relacionamentos adultos foi ligar para Rachel, sua amiga de longa data. Ele descreveu para ela como a teoria explicava de forma efetiva a gama de comportamentos nos relacionamentos adultos e pediu que ela o ajudasse a transformar os estudos acadêmicos e os dados científicos que vinha lendo em orientações práticas que as pessoas pudessem aplicar em suas relações amorosas. E foi assim que este livro surgiu.

O seguro, o ansioso e o evitativo

A teoria do apego adulto designa três principais “estilos de apego” ou “maneiras de amar” – que são as formas pelas quais as pessoas percebem e reagem à intimidade em relacionamentos amorosos –, semelhantes àqueles encontrados nas crianças: o Seguro, o Ansioso e o Evitativo. Basicamente, as pessoas seguras sentem-se à vontade com a intimidade e são em geral carinhosas e amorosas. Os ansiosos desejam intimidade, costumam se preocupar com os relacionamentos e tendem a ter dúvidas quanto à capacidade de seus parceiros em corresponder a seu amor. Os evitativos entendem a intimidade como uma perda de independência e tentam constantemente minimizar a proximidade. Além disso, pessoas com cada um desses estilos de apego diferem entre si:

  • na visão do que é intimidade e união;
  • no modo como lidam com conflitos;
  • na atitude em relação ao sexo;
  • na capacidade de comunicar desejos e necessidades;
  • nas expectativas que nutrem a respeito do outro e do relacionamento.

Cada indivíduo na nossa sociedade, não importa se está no início de um namoro ou casado há 40 anos, se encaixa em uma dessas categorias. Pouco mais de 50% das pessoas são seguras, cerca de 20% são ansiosas, 25% são evitativas e as 3% a 5% restantes caem numa quarta categoria, menos comum, uma combinação dos estilos ansioso e evitativo.

A pesquisa do apego adulto produziu centenas de trabalhos científicos e dezenas de livros que delineiam com cuidado o modo como os adultos se comportam quando mantêm vínculos amorosos muito próximos. Esses estudos confirmaram muitas e muitas vezes a existência desses estilos de apego em adultos, presentes em uma grande variedade de países e culturas.

Compreender os estilos de apego é uma maneira fácil e confiável de entender e de prever o comportamento das pessoas em qualquer situação romântica. De fato, uma das principais mensagens transmitidas por essa teoria é a de que, em situações românticas, estamos programados para agir de uma maneira predeterminada.

De onde vêm os estilos de apego?

A princípio, presumia-se que os estilos de apego adulto eram fundamentalmente um produto da educação. Assim, criou-se a hipótese de que seu estilo atual de apego é determinado pelo modo como você foi cuidado(a) quando era bebê. Pais sensíveis, disponíveis e solícitos levariam ao desenvolvimento de um adulto com estilo de apego seguro; um bebê com pais inconsistentes em suas reações tenderia a ser um adulto com um estilo de apego ansioso; bebês criados por pais distantes, rígidos e indiferentes tenderiam a se tornar adultos com um estilo de apego evitativo. Hoje em dia, porém, sabemos que os estilos de apego na vida adulta são influenciados por uma variedade de fatores. Um deles é, de fato, o modo como fomos tratados por nossos pais, mas outras questões também entram em campo, entre elas, nossas experiências de vida. Para saber mais, veja o capítulo 7

Tamara e Greg, uma nova perspectiva

Nós voltamos à história de nossa amiga Tamara e a enxergamos sob novíssimas luzes. A pesquisa sobre o apego continha um protótipo de Greg – dono de um estilo evitativo – que era fiel até os últimos detalhes. Resumia sua forma de pensar, de se comportar e de reagir ao mundo. Previa seu distanciamento, o jeito de encontrar defeitos em Tamara, de iniciar brigas que anulavam qualquer avanço no relacionamento e sua enorme dificuldade de dizer “eu te amo”. Curiosamente, os resultados da pesquisa explicavam que, embora desejasse se aproximar dela, ele também se sentia compelido a afastá-la – não porque não estivesse “a fim” nem por achar que “ela não era suficientemente boa” (como Tamara concluíra). Pelo contrário, ele a afastava porque sentia que os dois estavam cada vez mais próximos e mais íntimos.

Como por fim verificamos, Tamara também não fugia aos padrões. Com surpreendente exatidão, a teoria também explicava seus comportamentos, pensamentos e reações, típicos de alguém com um estilo de apego ansioso. Esse perfil antecipava sua crescente insistência frente ao distanciamento do parceiro; previa sua incapacidade de concentração no trabalho, seus pensamentos constantes sobre a relação e o excesso de sensibilidade a tudo o que Greg fazia. Previa também que, mesmo tendo decidido terminar tudo, ela nunca conseguiria juntar coragem para levar isso adiante. Mostrava por que, contrariando o bom senso e o conselho de amigos próximos, ela fazia de tudo para tentar ficar perto dele. Mais importante, essa teoria revelava por que Tamara e Greg sentiam que era tão difícil se entenderem apesar de se amarem. Eles falavam línguas diferentes e exacerbavam as tendências naturais do outro – a dela, de buscar proximidade física e emocional, e a dele, de preferir a independência e recuar diante da intimidade. A precisão com que essa teoria descrevia aquele par era impressionante. Era como se os pesquisadores tivessem testemunhado os momentos mais íntimos do casal e seus pensamentos. As abordagens psicológicas podem ser um tanto vagas, deixando muito espaço para interpretação. Essa teoria, no entanto, fornecia um insight preciso, baseado em evidências, sobre o que parecia ser um relacionamento com características singulares.

Embora não seja impossível que alguém mude seu estilo de apego – em média, uma em cada quatro pessoas faz isso em um período de quatro anos –, nem todo mundo conhece esse campo de estudos. Assim, essas mudanças acontecem sem que os envolvidos saibam que elas ocorreram (ou os motivos que levaram a isso). Não seria ótimo, pensamos, se pudéssemos ajudar as pessoas a ter algum grau de controle sobre essas mudanças que tanto impacto causam na vida delas? Quanta diferença faria se pudessem trabalhar para se tornar conscientes de seus estilos de apego em vez de deixar que a vida as jogue de um lado para outro!

Conhecer esses três estilos de apego realmente abriu nossos olhos. Descobrimos que podíamos prever o comportamento ditado pelo apego adulto. Fomos capazes de enxergar nossos próprios comportamentos e as pessoas à nossa volta sob um novo ângulo. Ao identificarmos estilos de apego em pacientes, colegas e amigos, pudemos interpretar seus relacionamentos de uma forma diferente e aumentar significativamente a clareza que tínhamos sobre cada quadro. Seus comportamentos não pareciam mais tão desconcertantes e complexos, tornavam-se, pelo contrário, bastante previsíveis.

Laços evolucionários

A teoria do apego baseia-se na premissa de que a necessidade de estar em um relacionamento íntimo encontra-se embutida em nossos genes. Foi a genialidade de John Bowlby que o levou à conclusão de que fomos programados pela evolução para destacar alguns indivíduos específicos em nossa vida e torná-los preciosos para nós. Fomos criados para depender de alguém que consideramos importante. A necessidade começa no útero e termina quando morremos. Bowlby propôs que, durante toda a evolução, a seleção genética favoreceu aqueles que desenvolviam vínculos porque isso proporcionava uma vantagem para a sobrevivência. Em tempos pré-históricos, os indivíduos que contavam apenas com eles mesmos, sem receber proteção de ninguém, estavam mais propensos a acabar como presas. Aqueles que estavam juntos a alguém que se importava profundamente com seu bem-estar quase sempre sobreviviam para transmitir a seus descendentes a preferência por estabelecer relações íntimas.

De fato, a necessidade de estar perto de alguém especial é tão importante que o cérebro tem um mecanismo biológico responsável especificamente pela criação e regulação da nossa conexão com as figuras por quem desenvolvemos apego (pais, filhos e parceiros românticos). Esse mecanismo, chamado de sistema de apego, consiste em emoções e comportamentos que garantem que permaneceremos seguros e protegidos se nos mantivermos próximos daqueles a quem amamos. O mecanismo explica por que uma criança afastada da mãe fica agitada, procura-a com desespero ou chora de modo incontrolável até restabelecer contato. Essas reações são chamadas de comportamento de protesto e continuamos a manifestá-las na vida adulta. Na pré-história, manter-se próximo a um parceiro era questão de vida ou morte, e nosso sistema de apego se desenvolveu para tratar essa proximidade como uma necessidade absoluta.

Imagine que você tenha ouvido notícias sobre um desastre de avião no oceano Atlântico na noite em que seu parceiro está voando de Nova York para Londres. Aquela sensação de peso no estômago e a histeria que a acompanha seriam manifestações do seu sistema de apego. Seus telefonemas frenéticos para o aeroporto seriam o comportamento de protesto.

Um aspecto extremamente importante da evolução é a heterogeneidade. O ser humano é uma espécie muito heterogênea, variando enormemente em aparência, atitudes e comportamentos. Isso explica em grande parte a nossa abundância e a capacidade de nos encaixarmos em quase todos os nichos ecológicos da Terra. Se fôssemos todos idênticos, qualquer desafio ambiental específico teria o potencial de nos aniquilar. Nossa variabilidade aumenta as chances de que um segmento da população seja singular, sob algum aspecto, e tenha condições de sobreviver em uma situação em que outros pereceriam. O estilo de apego não se diferencia de outras características humanas. Embora todos nós tenhamos uma necessidade básica de formar vínculos próximos, há variações no modo como os criamos. Em um ambiente muito perigoso, não seria muito vantajoso investir tempo e energia em apenas um indivíduo, pois essa pessoa provavelmente não ficaria ali por muito tempo. Faria mais sentido se apegar menos e não formar vínculos fortes (daí vem o estilo de apego evitativo). Outra opção em um ambiente hostil é agir da maneira oposta e ser intensamente persistente e hipervigilante para ficar próximo ao objeto do apego (daí vem o estilo de apego ansioso). Já em um cenário mais pacífico, os vínculos íntimos formados ao fazer grandes investimentos em um indivíduo específico propiciariam mais benefícios para a pessoa e para seus descendentes (daí vem o estilo de apego seguro).

É verdade que na sociedade moderna não somos mais caçados por predadores (como acontecia com nossos ancestrais), mas, em termos evolucionários, estamos a apenas uma fração de segundo de distância do modo como tudo funcionava no passado. Nosso cérebro emocional nos foi legado por Homo sapiens que viviam em uma era completamente diferente – e foi para lidar com o estilo de vida e com os perigos que havia à espreita deles que nossas emoções foram desenvolvidas. Nossos sentimentos e comportamentos quando nos relacionamos nos dias de hoje não são muito diferentes daqueles de nossos mais antigos ancestrais.

Comportamento de protesto na era digital

Munidos de novas percepções sobre as implicações dos estilos de apego na vida cotidiana, começamos a perceber as ações das pessoas de uma forma bem diferente. Comportamentos que atribuíamos às características da personalidade de alguém ou que antes havíamos rotulado de exagerados passaram a ser compreendidos com clareza e precisão pelas lentes da teoria do apego. Nossas descobertas lançaram novas luzes sobre a dificuldade que Tamara sentia para romper com um namorado como Greg, que a fazia se sentir infeliz. Essa dificuldade não vinha necessariamente de uma fraqueza. Ela se originava, na verdade, de um instinto básico para manter contato a todo custo com alguém a quem se apegara e era bastante amplificada por um estilo ansioso.

Para Tamara, a necessidade de ficar com Greg era deflagrada pelo mais leve sentimento de perigo – o perigo de que seu amado estivesse fora de alcance, incapaz de lhe responder ou com problemas. Afastar- -se nessas situações seria uma insanidade, em termos evolucionários. O emprego do comportamento de protesto, como telefonar diversas vezes ou provocar ciúme, fazia todo o sentido quando visto sob esse ângulo.

O que nos agradou muitíssimo na teoria do apego foi o fato de ela ter sido formulada com base na população como um todo. Diferentemente de muitos quadros psicológicos de referência, criados com base em casais que procuram terapia, esta teoria tirava suas lições de todo mundo – de pessoas com relacionamentos felizes e de pessoas com relacionamentos infelizes; de quem nunca procurou tratamento e de quem sempre buscou ajuda. Ela nos permitia compreender não apenas o que dá errado, mas também o que dá certo. Permitia que encontrássemos e avaliássemos um grande grupo de pessoas que até então mal merecia menção na maioria dos livros sobre relacionamentos. E mais, a teoria não rotula comportamentos como saudáveis ou não saudáveis. Nenhum dos estilos de apego em si é considerado “patológico”. Pelo contrário, comportamentos românticos que previamente eram considerados estranhos ou equivocados agora pareciam compreensíveis, previsíveis e até esperados. Você fica com alguém embora essa pessoa não tenha certeza de corresponder a seu amor? Compreensível. Você diz que quer partir, muda de ideia minutos depois e decide que quer, desesperadamente, ficar? Também é compreensível.

No entanto, esse tipo de comportamento seria eficiente ou valeria a pena? Aí já é outra história. As pessoas com estilo de apego seguro sabem comunicar suas expectativas e reagir com eficiência às necessidades dos parceiros sem recorrer ao comportamento de protesto. Para o restante de nós, a compreensão é apenas o princípio.

Da teoria à prática – desenvolvendo intervenções específicas baseadas no apego

A partir da compreensão de que o grau de necessidade de intimidade e de proximidade varia bastante de pessoa para pessoa – e que essas diferenças criam conflitos –, as descobertas sobre o apego nos ofereceram um novo modo de observar relacionamentos românticos. A pesquisa facilitava uma melhor compreensão das ligações amorosas, mas indagávamos como poderíamos transformar esse conhecimento em ferramentas que de fato fizessem diferença no campo dos relacionamentos. A teoria oferecia a promessa de aprimorar os vínculos íntimos, mas os achados do estudo ainda não tinham sido traduzidos em um guia acessível para que as pessoas pudessem aplicar à própria vida. Acreditando ter encontrado uma chave para orientar as pessoas rumo a relacionamentos melhores, partimos para descobrir tudo o que podíamos sobre os três estilos de apego e as formas com que eles interagem em situações do dia a dia. Começamos a fazer entrevistas com indivíduos com os mais diferentes padrões de vida. Entrevistamos colegas e pacientes, bem como leigos de diferentes idades e formações. Registramos por escrito histórias de relacionamentos e de experiências românticas que compartilharam conosco. Conduzimos observações de casais. Avaliamos seus estilos de apego por meio da análise de seus comentários, atitudes e comportamentos e, em determinadas ocasiões, oferecemos intervenções específicas baseadas no apego. Desenvolvemos uma técnica que permitia que as pessoas determinassem – em um tempo relativamente curto – o estilo de apego de alguém. Ensinamos como poderiam empregar seus instintos em vez de combatê-los, não apenas para escapar de relacionamentos sem solução, mas também para descortinar as “pérolas” ocultas que mereciam ser cultivadas – e funcionou!

Descobrimos que, diferentemente de outras intervenções que se concentram em solteiros ou em casais já existentes, a teoria do apego adulto é uma teoria abrangente para as afinidades românticas, o que permite o desenvolvimento de aplicações úteis para pessoas em todos os estágios da vida amorosa. Existem aplicações específicas para quem está começando a namorar, para quem está nos primeiros estágios de um relacionamento, para quem mantém ligações duradouras, para quem passa por um rompimento ou para quem vive o luto da perda de um ente amado. O ponto em comum é que a teoria do apego pode ser aplicada de forma poderosa em todas essas situações e ajudar na orientação das pessoas durante todas as etapas da vida, permitindo relacionamentos melhores.

Partindo para a ação

Depois de algum tempo, o jargão relacionado ao apego se tornou natural para aqueles que conviviam conosco. Nós os ouvíamos durante a terapia ou no jantar, dizendo: “Não posso sair com ele. Está claro que é do tipo evitativo.” Ou: “Você me conhece. Sou ansiosa. Um caso rápido é a última coisa de que preciso.” E pensar que até recentemente ninguém sequer tinha consciência de que existiam três estilos diferentes de apego!

Tamara, é claro, aprendeu tudo que havia sobre a teoria do apego e sobre as novas descobertas que acabáramos de fazer – ela puxava o assunto em quase todas as nossas conversas. Tinha enfim reunido forças para romper seus frágeis laços com Greg. Pouco depois, voltou a sair com outros homens. Munida de seus conhecimentos recém-adquiridos, Tamara foi capaz de driblar com elegância possíveis pretendentes com estilo evitativo, que ela agora sabia não ser o mais adequado para ela. Homens que, no passado, lhe fariam passar dias em verdadeira agonia – analisando o que pensavam, se ligariam ou se tinham intenções sérias – foram dispensados sem qualquer esforço. Agora os pensamentos de Tamara se concentravam em avaliar se seus novos pretendentes tinham a capacidade de ser íntimos e de amar da forma como ela queria ser amada.

Depois de algum tempo, Tamara conheceu Tom, um homem nitidamente seguro, e o relacionamento deles se desenvolveu de forma tão harmoniosa que ela mal falava no assunto. Não que ela não quisesse compartilhar detalhes de sua história com a gente. Ela simplesmente tinha encontrado uma base segura e não havia crises ou dramas para discutir. A maior parte de nossas conversas girava em torno das coisas divertidas que os dois faziam, seus planos para o futuro ou para a carreira dela, que voltava a progredir.

Avançando

Este livro é o resultado da nossa tradução das pesquisas sobre o apego para a aplicação prática. Esperamos que você, como tantos de nossos amigos, colegas e pacientes, o utilize para tomar decisões melhores sobre sua vida pessoal. Nos capítulos seguintes, você descobrirá mais sobre cada um dos três estilos de apego e as formas como eles determinam seu comportamento e suas atitudes nos relacionamentos amorosos. Fracassos do passado serão vistos sob uma nova perspectiva, e suas motivações – bem como as motivações dos outros – se tornarão mais claras. Você descobrirá quais são suas necessidades e com quem deve ficar para ser feliz. Se já mantém um relacionamento com um parceiro cujo estilo de apego conflita com o seu, você entenderá melhor por que os dois pensam e agem de determinada forma, aprendendo estratégias para aumentar seu nível de satisfação. Seja qual for a situação, você começará a experimentar diversas mudanças – para muito melhor.

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Amir Levine

Sobre o autor

Amir Levine

AMIR LEVINE é psiquiatra e neurocientista. Desenvolve pesquisas na Universidade de Columbia, em Nova York, em colaboração com o vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, Eric Kandel. Mora com a família na cidade de Nova York e em Southampton.

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Rachel Heller

Sobre o autor

Rachel Heller

RACHEL HELLER é graduada em Ciências do Comportamento (Psicologia, Antropologia e Sociologia) e mestre em Psicologia Socio-Organizacional pela Universidade de Columbia. Após concluir seu mestrado, atuou como consultora em diversas empresas, como PriceWaterhouseCoopers, KPMG Consulting e Towers Perrin. Atualmente vive na Califórnia.

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