O rio e o leão
Depois de uma grande enchente, o leão viu-se cercado por um rio e ficou sem saber como sair dali. Nadar não era de sua natureza, mas só lhe restavam duas opções: atravessar o rio ou morrer. O leão urrou, mergulhou na água, quase se afogou, mas não conseguiu atravessar. Exausto, deitou para descansar. Foi quando escutou o rio dizer:
— Jamais lute com o que não está presente.
Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:
— O que não está aqui?
— O seu inimigo não está aqui — respondeu o rio. — Assim como você é um leão, eu sou apenas um rio.
Ao ouvir isso, o leão, muito sereno, começou a estudar as características do rio. Logo identificou um certo ponto em que a correnteza empurrava para a margem e, entrando na água, conseguiu boiar até o outro lado.
Um
Primeiros passos rumo ao desprendimento
Na natureza humana, todos buscamos a simplicidade e a verdade. Mas as mensagens que recebemos nos impelem à guerra: “Fique ressentido com o passado”, “Seja ansioso em relação ao futuro”, “Tenha apetite pelo que você não vê”, “Sinta insatisfação com o que vê”, “Sinta culpa”, “Seja correto”, “Esquente a cabeça”.
No mundo animal, não há necessidade de conquistar mais do que se tem. A simplicidade da chuva, a luz de uma estrela, a leveza de um pássaro, a persistência de uma formiga — tudo isso simplesmente é.
Tudo é uma questão de ponto de vista. Afinal, cuecas espalhadas pelo chão podem acabar com um casamento… mas, aos olhos dos cachorros, elas não seriam motivo para briga, e sim para brincadeiras. A maioria dos animais desfruta enorme liberdade e pureza, características que, acredito, nós também podemos experimentar. Basta relaxar a mente e, aos poucos, reaprender a desfrutar a integridade, a felicidade e a simplicidade perdidas.
Muitas vezes rejeitamos as pessoas que estão em nossas vidas, não sabemos se as queremos ao nosso lado, desejamos estar com outras pessoas, imaginamos se e até quando esse relacionamento vai durar — e por aí vai. O resultado dessas inquietações é que, quando nos preocupamos com o que queremos ou não de alguém ou com o que aprovamos ou não nessa pessoa, deixamos de ver sua bondade, sua astúcia, sua delicadeza, sua tristeza ou seja lá o que for que ela tenha a oferecer. Isso complica desnecessariamente as nossas vidas e bloqueia a alegria de viver e a paz de espírito.
John e o caminhão
Nosso filho John tinha 2 anos quando fomos morar em Santa Fé, Novo México. Um dia, estávamos na calçada, esperando o sinal fechar, quando um caminhão enorme começou a virar na esquina bem no instante em que o sinal ficou vermelho. Tive que aguardar o caminhão passar. Nesse momento, ouvi John dizer:
— Caminhão grande!
Olhei para baixo e vi que seus olhinhos estavam brilhando de prazer. Olhei novamente para aquele enorme caminhão que passava tão perto que poderia tocá-lo se desse um passo à frente. E, finalmente, o vi em toda sua majestade. Parecia a nave de um filme do tipo Guerra nas Estrelas.
Não havia percebido isso antes. Talvez porque estivesse pensando que aquele caminhão não deveria estar ali atrapalhando meu caminho, ou que eu tinha algo bem mais importante a fazer do que esperá-lo passar. Esses pensamentos impediram que eu aproveitasse o prazer daquele momento, de pé, na calçada, ao lado de meu filho, segurando sua mãozinha. São o que chamo de pensamentos desnecessários — o tipo que as criancinhas têm pouquíssimos, se é que têm algum, e, por isso, em geral, são objetivas e felizes.
Uma mente tranquila vê o que está aqui. Uma mente ocupada vê o que não está aqui. Aquele que está presente é nada mais, nada menos, do que aquele que está presente. Portanto, você pode pensar o que quiser sobre as pessoas, mas saiba que isso não vai transformá-las.
Nossa vida é cheia de batalhas inúteis exatamente porque nossa mente é cheia de pensamentos inúteis. Sofremos por histórias infelizes do passado como se elas ainda estivessem acontecendo e temos o hábito de ficar ruminando sobre o que acabamos de fazer. É preciso esvaziar a mente. Quando não conseguimos nos desvencilhar dos pensamentos negativos, eles diminuem nossas chances de ser feliz.
É o caso da sogra que não consegue aceitar seu genro porque ele é do tipo que usa uma porção de brincos, um piercing no nariz e algum escondido em outra parte do corpo. Ela está apenas atacando sua própria capacidade de amar. Sua rejeição não mudará o genro nem o amor que sua filha sente por ele — apenas a afastará do amor da filha.