INTRODUÇÃO
O guia completo da astrologia foi escrito para todos, de iniciantes a praticantes e estudantes avançados. Neste livro pretendo abordar um vasto leque de informações de forma acessível e inclusiva.
Para mim o mapa astral é como um diagrama que mostra nosso potencial e nossas possibilidades. Você nunca me verá dizendo que algum signo ou posicionamento é totalmente bom ou ruim, e acredito que sempre é possível encontrar uma maneira de superar qualquer desafio ou obstáculo para o crescimento, a evolução e a compatibilidade. Este livro foi escrito partindo desse pressuposto. Todos somos feitos de nuances e temos a capacidade de definir de modo consciente como vamos agir, independentemente do nosso diagrama cósmico. Por isso não utilizo o desvio espiritual – isto é, o uso de práticas espirituais para evitar questões não resolvidas –; prefiro encarar minhas sombras e analisar como elas podem ser curadas ou integradas a ter que contorná-las.
Agora convido você a olhar para o tema do gênero de uma forma diferente. A linguagem astrológica tem sido tradicionalmente binária, usando rótulos de macho e fêmea, masculino e feminino. No entanto, nosso mapa astral ou diagrama cósmico contém todos os planetas e signos e, portanto, todos estão dentro de cada um de nós. O mapa astral não mostra o gênero, assim como este livro. Meu foco é na pessoa como um todo e em suas características, eliminando os identificadores binários. O conteúdo do livro apresenta uma base completa em áreas fundamentais da astrologia e faz uma abordagem radicalmente diferente da linguagem astrológica, pois entendemos que os corpos planetários e os signos são não binários por natureza.
Ao longo do texto adoto “dia” e “noite” para substituir masculino/macho e feminino/fêmea respectivamente, pois são termos menos limitantes. Falarei mais sobre o assunto no capítulo 1. Gostaria de agradecer ao astrólogo Jason Holley por me apresentar essa visão e a Robert Hand e Brian Clark por me ajudarem a expandi-la.
Os conceitos de dia e noite nos permitem fazer uma abordagem mais humanística da paisagem interior da alma. Portanto, embora este livro seja uma espécie de manual de instruções para ajudá-lo a interpretar o seu mapa, ele também faz um convite à reflexão sobre a necessidade de se adotar uma abordagem não binária em relação à linguagem.
EU SEMPRE AMEI ASTROLOGIA. Ainda tenho os textos que escrevi quando adolescente sobre as características dos signos solares. Mas foi só depois do meu primeiro retorno de Saturno, aos 29 anos (quando Saturno retorna à posição em que estava no mapa natal), que descobri o que realmente é a astrologia. Uma amiga fez meu mapa astral, me deu alguns livros e eu fiquei viciada. Isso foi em 1989.
Devorei aqueles livros, aprendi sozinha a fazer mapas astrais, comprei mais livros, assinei revistas e pratiquei com minhas amigas. Aí então me casei e tive filhos. Meu envolvimento com a astrologia diminuiu por alguns anos, mas nunca perdi o fascínio pelo assunto.
Em outubro de 2012, eu já havia mudado duas vezes de continente (do Reino Unido para a Austrália e dali para os Estados Unidos), meus filhos estavam com 15 e 13 anos e eu atuava como coach quando tive a revelação de que meu propósito era trabalhar com astrologia. Estudei muito e fiz diversos cursos para aprimorar meus conhecimentos; em pouco tempo comecei a atuar profissionalmente como astróloga. Ainda hoje sigo estudando, pois a astrologia é um labirinto glorioso e infinito em que sempre há mais para descobrir.
Já fiz milhares de leituras, ministrei aulas e escrevi artigos quase diariamente sobre o assunto. Em novembro de 2018 publiquei meu primeiro livro, Modern Astrology: Harness the Stars to Discover Your Soul’s True Purpose (Astrologia moderna: Utilize as estrelas para descobrir o verdadeiro propósito de sua alma), que escrevi para ajudar os leitores em seu crescimento pessoal. Também pratico o xamanismo e sou ativista.
Tenho o Sol em Sagitário com um stellium em Sagitário na 11a e 12a casas, ascendente em Sagitário e Lua em Gêmeos. Para aqueles que já entendem os fundamentos da astrologia, isso mostra que sou escritora, professora e uma pessoa atraída pela justiça social e pela política, coisas que não posso deixar de trazer para o meu trabalho.
Este livro foi escrito tanto para aqueles que desejam iniciar quanto para os que querem aprofundar seu estudo astrológico, usando uma abordagem moderna e inclusiva. O guia completo da astrologia é para todos. Sejam bem-vindos.
OS ELEMENTOS BÁSICOS DA ASTROLOGIA
NA PARTE 1 veremos de forma sucinta a história da astrologia e o papel dela hoje. Descobriremos como olhar para a linguagem astrológica de uma nova maneira. Também trataremos de alguns dos elementos básicos da construção do mapa astral e de como você pode começar a interpretar o seu.
CAPÍTULO 1
Uma base sobre a astrologia
POR MILÊNIOS, A ASTROLOGIA tem sido utilizada para prever eventos. Mais recentemente, as pessoas começaram a usá-la como ferramenta de desenvolvimento e crescimento pessoal, na busca por compreender melhor seus padrões pessoais, suas crenças limitantes e seu potencial.
A astrologia pode nos ajudar a viver em alinhamento com os elementos e ciclos da natureza, a escolher o momento ideal para tudo – desde a agricultura até os relacionamentos e a carreira –, a mergulhar em uma exploração psicológica e até em lições de vidas passadas. Ela também pode nos ajudar a curar nossa desconexão com o Universo e a entrar em harmonia com os ciclos cósmicos que repercutem dentro de nós.
Em essência, a astrologia é uma ferramenta que nos conduz a um nível superior de conexão espiritual com o Universo, ajudando-nos a fazer escolhas conscientes para viver de acordo com nosso máximo potencial. Minha abordagem é humanística e psicológica, e meu foco é a paisagem interior. Cada um de nós tem todos os planetas e signos atuando dentro de si. Até hoje, a linguagem da astrologia expressou isso de forma inadequada, usando termos como “masculino” e “feminino”. Mas os tempos estão mudando e nosso vocabulário precisa acompanhar essas mudanças.
Por que a astrologia funciona? Esta é uma pergunta eterna, 16 O GUIA COMPLETO DA ASTROLOGIA mas minha resposta é que ela funciona porque se baseia em milhares de anos de observação. Embora tenha passado por períodos de declínio, o estudo da astrologia sempre esteve presente na história humana, pois a interpretação competente dos movimentos do cosmos fornece respostas para o sentido da vida.
O QUE É ASTROLOGIA?
A astrologia é uma ciência antiga que utiliza a observação dos ciclos e movimentos planetários ao longo do tempo para registrar padrões e eventos desencadeados pelo movimento do cosmos.
Da mesma forma que as fases da Lua afetam as marés, os ciclos menstruais, outros ciclos biorrítmicos e nossas energias emocionais, somos afetados também por corpos cósmicos, luminares (o Sol e a Lua), planetas, asteroides, etc. Tudo no Universo está conectado, um fato há muito mencionado pelos astrólogos, mas que agora vem sendo reconhecido pelos cientistas que se baseiam na mecânica quântica, para a qual cada átomo afeta outros átomos. Segundo a mecânica quântica, tudo é feito de ondas e partículas e funciona de acordo com a teoria do entrelaçamento, que indica que nenhuma partícula é totalmente independente. Em suma, tudo no Universo funciona em conjunto, e o movimento dos corpos cósmicos ativa a energia dentro de nós e do mundo natural. Ou seja, estamos conectados com o Universo inteiro. Todas as energias se entrelaçam em uma dança intrincada de magia e ciência planetária; a linguagem da astrologia interpreta essa dança.
As raízes da astrologia remontam a milhares de anos. Os arqueólogos encontraram evidências de que os humanos podem ter observado os ciclos lunares desde os primórdios, como visto nas pinturas em cavernas. Algumas dessas evidências chegam até 30000 a.C.
Costuma-se dizer que a astrologia tem como referência os sistemas de calendário, mas eu diria que os sistemas de calendário é que são baseados no movimento dos corpos celestes – os primeiros calendários eram baseados no movimento do Sol, da estrela Sirius (calendário egípcio) ou da Lua (calendário grego).
Em outras palavras, a prática de testemunhar e registrar os ciclos planetários veio primeiro; e então, baseados no movimento do cosmos, vieram os sistemas de calendário. Isso significa que a astrologia está na raiz da vida de todos nós.
A astrologia evoluiu ao longo de milhares de anos e existem várias vertentes astrológicas diferentes, entre as quais a astrologia védica (Vedanga Jyotisha ou indiana), que se baseia no zodíaco sideral e não no zodíaco tropical utilizado pela astrologia ocidental; a astrologia chinesa, que se baseia em um ciclo de 12 anos; a astrologia helenística, uma tradição greco-romana praticada desde o século I a.C. até o século VII d.C. que atualmente passa por um renascimento; e a astrologia ocidental moderna, objeto de minha prática e que se baseia no zodíaco tropical. A astrologia ocidental teve origem na astrologia ptolomaica e babilônica, que adota uma abordagem mais psicológica e voltada para o desenvolvimento pessoal.
Entre as figuras-chave na história da astrologia estão Ptolomeu (século II d.C.), que escreveu um dos principais textos astrológicos, o Tetrabiblos; Carl Jung (1875-1961), que foi pioneiro no uso da astrologia no campo da psicologia; Alan Leo (1860-1917), chamado frequentemente de o pai da astrologia moderna; e Dane Rudhyar (1895-1985), um de meus favoritos, que cunhou o termo “astrologia humanística” e ajudou a criar as práticas astrológicas modernas.
Este livro se baseia na tradição ocidental moderna. Entretanto, todas as tradições são válidas e só diferem em sua abordagem – algumas sendo mais preditivas, como a védica, e outras adotando um tratamento mais individualista ou esotérico.
A astrologia ocidental moderna está centrada na criação de um mapa ou horóscopo feito para um tempo, data e lugar específicos usando o zodíaco tropical, que se baseia na relação simbólica entre a Terra e o Sol. O zodíaco tropical divide a eclíptica em 12 partes iguais de 30º cada (os signos) e segue a orientação das estações, com o zodíaco começando no equinócio vernal, quando o Sol se move para Áries. A eclíptica é uma linha imaginária, ou plano, no céu que marca o caminho anual do Sol ao longo do qual ocorrem os eclipses.
ORIGENS HISTÓRICAS DA ASTROLOGIA
Afora as primeiras evidências do registro dos ciclos lunares em pinturas rupestres e em ossos, a história escrita da astrologia efetivamente começou na Mesopotâmia, 6.000 anos atrás, com os sumérios que observavam os movimentos do cosmos, bem como com a astrologia védica, ou Jyotisha, que surgiu há pelo menos 5.000 anos na Índia.
Desde aproximadamente 2400 a 331 a.C., os babilônios, também conhecidos como caldeus, criaram a roda do zodíaco com planetas, as 12 casas representando as áreas da vida.
Depois que Alexandre, o Grande, conquistou os babilônios, os gregos desenvolveram ainda mais a astrologia, dando aos planetas e signos do zodíaco seus nomes modernos. Em 140 d.C., Ptolomeu publicou Tetrabiblos, texto que continha planetas, casas, aspectos e ângulos, técnicas que os astrólogos utilizam até hoje.
Ao longo dos s séculos, o estudo e o uso da astrologia tiveram altos e baixos no Ocidente, mas floresceram na Idade Média, quando passaram a fazer parte da matemática, da astronomia e da medicina. Havia astrólogos da realeza e cátedras de astrologia nas universidades mais antigas.
Entretanto, conforme a Igreja ganhava poder, a astrologia declinava. O Iluminismo, incluindo o movimento de Reforma Protestante nos séculos XVII e XVIII, começou a promover a razão e o ceticismo, fazendo com que a astrologia passasse a ser considerada um mero entretenimento. Assim, foi perdendo popularidade aos poucos, até o seu ressurgimento no final do século XIX.
A ASTROLOGIA HOJE
A astrologia ocidental como a conhecemos hoje teve seu ressurgimento no final do século XIX. O teosofista Alan Leo geralmente recebe o crédito pelo início da renovação do interesse pela astrologia e pelo desenvolvimento de uma abordagem mais espiritual e esotérica. A teosofia é um ensinamento sobre Deus e o mundo baseado em percepções místicas. Alan Leo introduziu os conceitos de carma e reencarnação em seu trabalho como astrólogo e começou a se afastar da astrologia voltada para eventos na análise do caráter.
Outro teosofista, Dane Rudhyar, também esteve envolvido no ressurgimento. Ele, de fato, inaugurou a abordagem psicológica da astrologia e cunhou o termo “astrologia humanística”. O trabalho de Rudhyar se baseou principalmente na teosofia e nas filosofias orientais e foi influenciado pela psicologia de Carl Jung. O trabalho de Rudhyar é a base de uma parcela significativa da astrologia desenvolvida nas décadas de 1960 e 1970.
Grande parte da astrologia moderna tem como foco o lado psicológico e humanístico, embora atualmente haja um ressurgimento de algumas técnicas mais antigas e preditivas, especialmente entre os astrólogos mais jovens.
As atribuições de gênero de planetas e signos são problemáticas no mundo moderno. O feminino era principalmente 20 O GUIA COMPLETO DA ASTROLOGIA designado como passivo, receptivo, fraco, escuro e destrutivo, enquanto o masculino era tido como poderoso, voltado para a ação, iluminado, positivo e dominante – e não havia consideração de outros gêneros. Os nomes dos planetas baseiam-se nos panteões romano e grego, que eram de natureza inequivocamente patriarcal. Dos principais corpos celestes essenciais, apenas a Lua e Vênus foram designados como femininos. Isso não é verdade para muitas culturas mais antigas, em que os planetas eram vistos de forma diferente. Por exemplo, havia muitas deusas do Sol em culturas antigas, e a Lua era muitas vezes considerada o esperma para o óvulo do Sol. Neste livro estou me afastando das definições binárias, pois somos todos o Sol e a Lua e outros corpos planetários, e cada corpo cósmico tem pontos fortes e fracos que não são específicos de gênero.
Aqui adotaremos e expandiremos a teoria de uma antiga técnica helenística chamada Seitas, que definia os planetas como diurnos (do dia) e noturnos (da noite). Neste sistema, o Sol, Júpiter e Saturno são diurnos, e Vênus, Marte e a Lua são noturnos. Mercúrio é tido como neutro, participando das duas Seitas. Seguindo a linha de alguns astrólogos atuais que trabalham para criar uma abordagem mais inclusiva e não binária na linguagem astrológica, utilizaremos as palavras “dia” e “noite”. Essas denominações fazem sentido, pois o dia e a noite são visíveis – o dia é mais “yang”, ou orientado para fora, e a noite é mais “yin”, ou orientada para dentro. Como a tabela planetária da página 204 mostra claramente, os cinco planetas pessoais – Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – têm qualidades do dia e da noite, dependendo da energia do signo do regente tradicional. Isso acrescenta uma interpretação mais profunda, afastando-nos da linguagem inerentemente patriarcal e binária da astrologia que tem sido utilizada até hoje.
O sistema solar é um organismo vivo, respirando e pulsando, que inala (diurno) e exala (noturno), com todos os corpos planetários, signos, casas e aspectos tendo energia do dia/inalação ou energia da noite/exalação – às vezes ambas. Eu associo o dia com a energia da inalação, porque inalamos o sopro de vida para nos dar a energia de que precisamos para o dia. À noite liberamos ou exalamos para recarregar. Isso reflete o entrelaçamento quântico do sistema solar dentro de cada organismo vivo – e dentro de cada um de nós.