Introdução
Este livro, como os outros desta coleção, não é sobre religião, não é um estudo teológico, mas uma análise psicológica da humanidade de Cristo. Embora não trate de teologia, provavelmente abordarei detalhes ainda não investigados teologicamente.
Podemos investigar grandes pensadores como Platão, Montesquieu, Descartes, Marx, Max Weber, Adam Smith, Hegel, Freud, Jung, Darwin. Todavia, ninguém foi tão complexo, interessante, misterioso, intrigante e de difícil compreensão como Cristo. Como veremos, ele não apenas causou perplexidade nas pessoas mais cultas da sua época como ainda hoje seus pensamentos e suas intenções são capazes de perturbar a mente de qualquer um que queira estudá-lo em profundidade e sem julgamentos preconcebidos.
Jesus incendiou o mundo com sua vida e sua história. Há mais de dois bilhões de pessoas que dizem amá-lo, pertencentes a inúmeras religiões. Todavia, não se pode amar alguém que não se conheça. E não é possível conhecer adequadamente Jesus Cristo sem estudar os últimos dias de sua vida, pois ali estão contidos os segredos de sua complexa missão, bem como os mais dramáticos elementos que constituíram o seu cálice, o seu sofrimento.
Ele usou cada segundo do seu tempo, cada pensamento da sua mente e cada gota do seu sangue para mudar o destino não apenas do povo judeu, mas de toda a humanidade. Ninguém foi como ele.
Fez milagres espantosos, aliviou a dor de todas as pessoas que o procuraram ou que cruzaram o seu caminho, mas quando precisou aliviar sua própria dor, agiu com naturalidade, esquivou-se de usar o seu poder.
O Mestre da Vida afirmou categoricamente: “Foi precisamente para esta hora que eu vim” (João 12:27). Seu objetivo fundamental seria cumprido nos últimos momentos de sua história. Portanto, se quisermos conhecê-lo profundamente, precisamos imergir no conteúdo dos pensamentos e sentimentos que ele expressou antes de ser preso, julgado e sofrer morte clínica. Eles revelam seus mais complexos e importantes segredos.
Embora esta obra tenha significativas limitações, meu desejo é que ela seja de grande ajuda para os que admiram e amam esse personagem cuja existência na Terra remonta a dois mil anos. Entretanto, ressalto que este livro não foi escrito apenas para os cristãos, mas para pessoas pertencentes a todo tipo de cultura e religião: judeus, budistas, islamitas, etc. Ele é dirigido também aos ateus, pois estes igualmente têm direito de estimular a sua inteligência a partir das nobilíssimas funções intelectuais do mestre de Nazaré.
A respeito do ateísmo, devo dizer que, depois de ter estudado sua dimensão psíquica e filosófica, posso afirmar que não há ateu, pois todo ateu é o “deus de si mesmo”. Por quê? Porque, apesar de desconhecerem inúmeros fenômenos da existência – tais como os mistérios do Universo, os segredos do tempo e da construção da inteligência humana –, os ateus possuem a crença de que Deus não existe da forma absoluta que só um “deus” poderia assumir. Todo radicalismo intelectual engessa a inteligência e fere o bom senso.
Gostaria de convidar todos os leitores – ateus ou não, religiosos ou não – para estudarmos juntos a personalidade daquele que revolucionou a trajetória humana, expressa nas suas quatro biografias, que são os evangelhos.
Embora excelentes escritores já tenham discorrido sobre diversos aspectos da vida de Jesus Cristo, neste estudo raramente usarei alguma de suas referências. Minha intenção é voltar às origens e realizar uma análise a partir do que Cristo falou, ensinou, discursou, manifestou e deixou subentendido nas entrelinhas dos seus pensamentos e nos seus momentos de silêncio. Estudá-lo é uma aventura que todos os seres pensantes deveriam empreender.
O objetivo do surpreendente mestre de Nazaré era romper o cárcere intelectual dos seres humanos estimulando-os a serem livres no território da emoção. Por isso, expunha suas ideias e nunca as impunha. Há dois mil anos apareceu um homem convidando as pessoas a pensarem nos mistérios da vida.
Cada leitor tem suas convicções pessoais, que devem ser exercidas com liberdade e consciência crítica. A divindade de Cristo é uma dessas convicções. Entretanto, ainda que não se aceite a sua divindade, a personalidade do mestre de Nazaré é de tal forma envolvente, que é possível extrair dela sabedoria e belíssimas lições existenciais.
Em muitos pontos discorrerei sobre fenômenos não observáveis presentes nos discursos finais de Cristo, tais como a superação da morte, a eternidade, os limites do tempo, o seu poder sobrenatural. No entanto, quero que o leitor tenha em mente que, ao estudá-los, não estarei investigando os itens relacionados à fé ou às convicções íntimas, mas aos intrigantes fenômenos ligados ao seu plano transcendental.
Cristo vem da palavra grega Mashiah (Messias), que significa “o ungido”. Jesus vem da forma grega e latina do hebraico Jeshua, que significa “o Senhor é a salvação”. Usarei os nomes Cristo, Jesus e mestre de Nazaré despreocupadamente, sem a intenção de explorar os significados de cada um. Apenas em alguns momentos darei preferência específica a um ou a outro e, quando o fizer, o próprio texto deixará clara minha intenção.
Muitos leitores do primeiro livro desta coleção me enviaram e-mails e cartas dizendo que, após a leitura, abriram as janelas de suas mentes e ficaram surpresos com a personalidade de Cristo. Acredito que neste segundo livro ficaremos mais encantados e até perplexos com a ousadia e a complexidade dos pensamentos do mestre de Nazaré, muitos deles produzidos no auge da sua dor.
Embora este livro seja um estudo de filosofia e psicologia, o leitor encontrará, no correr do texto, referências a trechos do Antigo e do Novo Testamento, com indicação do autor, do capítulo e do versículo em que se encontram. Sugiro que, independentemente de sua crença, você tenha uma Bíblia ao alcance da mão. A leitura desses textos no quadro mais amplo em que se apresentam promoverá um conhecimento maior dessa figura única e fascinante que, com suas palavras, seus gestos e atitudes, revolucionou o mundo e o espírito humano.