O Mestre Inesquecível | Sextante
Livro

O Mestre Inesquecível

Augusto Cury

ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO 5

ANÁLISE DA INTELIGÊNCIA DE CRISTO 5

JESUS, O MAIOR FORMADOR DE PENSADORES DA HISTÓRIA

Quinto volume da coleção Análise da Inteligência de Cristo, mais de dois milhões de livros vendidos no Brasil.

 

Este livro estuda a face de Jesus como mestre, educador e artesão da personalidade. Augusto Cury revela o crescimento psíquico e intelectual vivido pelos apóstolos e mostra como Jesus os transformou em pensadores que revolucionaram a humanidade.

Para formar seguidores aptos a difundir suas palavras, Jesus escolheu homens simples e desenvolveu neles a arte de pensar, a tolerância, a solidariedade, o perdão, a capacidade de se colocar no lugar do outro, o amor e a tranquilidade.

A história de Jesus e seus discípulos nos revela que o verdadeiro sentido da educação é mais do que transmitir informações, mas produzir a capacidade de pensar, de questionar, de superar desafios, de compreender o mundo e de se tornar melhor a cada dia.

Para fechar com chave de ouro esta coleção, Cury nos mostra que Jesus foi o maior exemplo de dignidade, fraternidade e abnegação que já pisou nos solos áridos da Terra.

 

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Ficha técnica
Lançamento 22/09/2020
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 192
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-053-3
EAN 9786555640533
Preço R$ 49,90
Ficha técnica e-book
eISBN 978-65-5564-058-8
Preço R$ 29,99
Lançamento 22/09/2020
Título original
Tradução
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 192
Peso 200 g
Acabamento brochura
ISBN 978-65-5564-053-3
EAN 9786555640533
Preço R$ 49,90

E-book

eISBN 978-65-5564-058-8
Preço R$ 29,99

Leia um trecho do livro

Prefácio

 

Encerro esta coleção agradecendo a todos os leitores de todos os lugares do mundo em que estes livros estão sendo publicados. Padres e freiras disseram que suas vidas nunca mais serão as mesmas. Pastores se libertaram de transtornos emocionais e vêm ajudando milhares de pessoas com seus discursos teológicos.

Psicólogos têm recomendado os livros para pacientes com síndrome do pânico e estresse. Psiquiatras os recomendam para pacientes deprimidos. Professores universitários os têm adotado em faculdades de psicologia, direito, pedagogia, administração, serviço social e outras.

Budistas e islamitas estão encantados com a inteligência de Cristo e têm utilizado estes livros como manual de vida. Pessoas de todas as classes, de empresários a faxineiros, de intelectuais a pessoas de baixa escolaridade, ampliaram suas vidas ao descobrir a grandeza da humanidade de Jesus Cristo.

Mas é provável que eu tenha sido o mais ajudado durante esses estudos. Aprendi muito como psiquiatra, como cientista da psicologia e, principalmente, como ser humano. Cada vez que analiso os segredos do funcionamento da mente e procuro, a partir dessa análise, compreender a personalidade de Cristo, percebo como nossa ciência ainda é pequena. A ciência falhou em não estudá-lo. Como comentei nos outros livros da coleção, apesar de ser a pessoa mais famosa da terra, Jesus Cristo é também a mais desconhecida.

Aprendi com o Mestre dos Mestres que a arte de pensar é o tesouro dos sábios. Aprendi um pouco mais a pensar antes de reagir, a expor – e não impor – minhas ideias e a entender que cada pessoa é um ser único no palco da existência.

Aprendi com o Mestre da Sensibilidade a navegar nas águas da emoção, a não ter medo da dor, a procurar um profundo significado para a vida e a perceber que nas coisas mais simples e anônimas se escondem os segredos da felicidade.

Aprendi com o Mestre da Vida que viver é uma experiência única, belíssima, mas brevíssima. E, por saber que a vida passa tão rápido, sinto necessidade de compreender minhas limitações e aproveitar cada lágrima, sorriso, sucesso e fracasso como uma oportunidade preciosa para crescer.

Aprendi com o Mestre do Amor que a vida sem amor é um livro sem letras, uma primavera sem flores, uma pintura sem cores. Aprendi que o amor acalma a emoção, tranquiliza o pensamento, incendeia a motivação, rompe obstáculos intransponíveis e faz da vida uma agradável aventura, sem tédio, angústia ou solidão. Por tudo isso, Jesus Cristo se tornou, para mim, um Mestre Inesquecível.

Hoje, meus livros são publicados em mais de 40 países e tenho sido um autor muito lido, mas isso não me deixa orgulhoso, pois aprendi com a inteligência de Cristo que a grandeza do ser humano está diretamente relacionada à sua capacidade de se fazer pequeno. Quem perdeu a capacidade de se esvaziar deixou de aprender, deixou de pensar.

Depois que descobri a personalidade da pessoa mais surpreendente que já pisou nesta terra, não consigo deixar de me encantar com ela. Esta coleção nem de longe esgota o assunto. É possível que escreva outros livros sobre Jesus, pois ele esconde os tesouros mais excelentes da inteligência espiritual, multifocal, emocional, interpessoal, lógica e intrapsíquica.

Agora, neste último livro, estudaremos a face de Jesus como mestre, como educador e artesão da personalidade. Retomarei o início da sua jornada desde seu encontro com João Batista e quando chamou alguns jovens galileus para o seguirem. Comentarei assuntos já tratados nos livros desta coleção, mas aqui analisarei fatos e eventos na perspectiva do desenvolvimento da inteligência dos seus discípulos.

Cientistas, empresários e políticos que dedicaram suas vidas apenas a um projeto temporal, ao morrerem, alojaram sua esperança no espaço pequeno e frio de um túmulo. Os discípulos do Mestre Inesquecível entregaram suas vidas a um sonho que transcende o mundo físico – o sonho de viver intensamente na terra e na eternidade.

Os discípulos tinham muitos problemas, eram homens frágeis que erravam muito. Mas o sonho do Mestre dos Mestres os controlava. Sob seu cuidado, aprenderam a amar a vida e cada ser humano. Viram algo além da cortina do tempo. Quando fecharmos definitivamente nossos olhos, verificaremos se eles tinham ou não razão. A morte pode nos reservar mais surpresas do que a própria vida.

A educação no mundo todo está em crise. Formamos repetidores de informações, e não pensadores. Até entre os mestres e doutores raramente encontramos criadores brilhantes de ideias originais. A falência da educação exaltou a psiquiatria. Sempre houve transtornos emocionais na história, mas nunca nos níveis e na intensidade a que estamos assistindo.

Estudaremos neste livro uma pessoa que inaugurou a mais excelente educação e o mais notável processo de transformação da personalidade. Analisarei a personalidade dos discípulos antes e depois de seu convívio com Jesus. Os segredos do Mestre dos Mestres poderão ampliar os horizontes da psiquiatria, da psicologia e das ciências da educação.

Compreenderemos por que ele escolheu pessoas tão despreparadas, incultas e cheias de conflitos emocionais, e como as transformou em excelentes pensadores que revolucionaram a história.

Embora este livro seja um estudo de filosofia e psicologia, o leitor também encontrará referências a trechos do Antigo e do Novo Testamento, com indicação do autor, do capítulo e versículo em que se encontram. Sugiro que, independentemente de sua crença, você tenha uma Bíblia ao alcance da mão. A leitura destes textos, no quadro mais amplo em que se apresentam, promoverá um conhecimento maior dessa figura única e fascinante que com suas palavras, gestos e atitudes revolucionou o mundo e o espírito humano.

Augusto Cury

 

CAPÍTULO 1

Características intrigantes da personalidade de Cristo

 

Os sonhos surpreendentes de um homem que viveu no deserto

Há muitos séculos, um homem estranho viveu na terra seca e sem esperança do deserto. Sua veste era bizarra, feita de pele de animal. Sua dieta, mais estranha ainda, compunha-se de insetos e da doçura do mel. Sua pele estava seca, desidratada, maltratada pelo sol, pelo vento e pela poeira. Os cabelos eram revoltos; a barba, longa e cheia de espículas.

O vento era seu companheiro. Dera as costas à civilização desde a mais tenra infância. Estava preparado para morrer, e seus ossos seriam abandonados em um canto perdido. Mas o estranho homem do deserto sonhava como qualquer ser humano. Um sonho tão grande, que lhe roubava a tranquilidade. Sonhava com alguém que não apenas conhecia os conflitos e as misérias sociais, mas que mudaria o mundo.

Certo dia, parou de sonhar e começou a agir. Saiu da secura do deserto e se aproximou da brisa de um rio. Em suas margens, ele começou a falar do homem dos seus sonhos e das mazelas humanas. Para surpresa de todos, era eloquente e ousado. Falava aos gritos. As pessoas tremiam ao ouvi-lo. Suas palavras, no entanto, não aquietavam a alma, pois expunham as feridas. Ele criticava os erros, as injustiças, a manipulação dos pequenos pelos grandes, a hipocrisia religiosa.

Os fariseus, famosos por serem moralistas e versados na lei de Deus, ficaram abalados com seu discurso. Esse homem bizarro julgava falsa a postura religiosa reinante. Ninguém jamais ousara tal coisa, mas o homem do deserto não tinha compromisso com a sociedade. Não sabia o que era status social, não possuía interesses subjacentes, queria apenas ser fiel aos seus sonhos. Dizia aos líderes religiosos que eles eram carrascos, pois aprisionavam as pessoas no mundo mesquinho das suas vaidades e verdades.

Pela primeira vez na história, alguém chamou a casta mais nobre de religiosos de raça de víboras: belos por fora, mas venenosos por dentro (Mateus 3:7). Eles não se importavam com as lágrimas dos menos favorecidos. Faltava-lhes amor por cada miserável da sociedade. Só amavam a si mesmos.

O homem do deserto era tão ousado que não poupou nem mesmo o violento governador daquelas terras: Herodes Antipas. Tal ousadia lhe custou caro. Não demorou muito, foi decapitado (Mateus 14:10). Mas ele pouco se importava de morrer, queria apenas manter-se fiel à sua consciência. Seu nome era João, o batista. Por fora era mais um João; por dentro, um homem que queria virar o mundo de cabeça para baixo. Inaugurou a era da honestidade da consciência. Uma era que há muito se perdeu, mormente nos dias atuais, em que a aparência vale mais do que o conteúdo. O ser humano pode estar podre por dentro, mas, se tiver fama e dinheiro, é valorizado.

Usando apenas a ferramenta das ideias, João afrontou o impermeável sistema religioso judaico e o intocável Império Romano. Suas ideias contagiaram muitos. Dos grandes aos pequenos, as pessoas de toda a Judeia, da Galileia e de Jerusalém afluíam para ouvi-lo nas margens do rio Jordão. Suas palavras mudavam a mente das pessoas e abriam o leque dos seus pensamentos.

Persuadidas por ele, elas entravam nas águas do Jordão e saíam de lá para escrever uma nova história. Chamado de batismo, este gesto revelava um simbolismo psicológico fascinante, uma mudança de rota existencial a partir do mergulho nas águas cristalinas de um rio. Gotas de esperança escorriam pela alma das pessoas enquanto gotas de água percorriam os vincos do rosto. O sorriso havia voltado.

 

O homem dos seus sonhos: o marketing pessoal

As multidões ficavam fascinadas com os intrépidos discursos de João. Quando todos o valorizavam e enalteciam suas ideias, veio a grande surpresa. João mencionou, enfim, o homem dos seus sonhos. O homem que por noites a fio ocupara o palco de sua mente. Todos ficaram paralisados com suas palavras. Haveria alguém maior do que o corajoso João?

Para surpresa dos seus ouvintes, ele disse algo assombroso sobre o homem dos seus sonhos. Afirmou que essa pessoa era tão grande que ele não era digno de desatar-lhe as correias das sandálias (Lucas 3:16). Que homem era esse a quem o destemido João deu um status que nenhum rei jamais tivera?

No seu conceito, aquele que durante décadas ele aguardava no deserto, e que não conhecia pessoalmente, era o Filho do Deus Altíssimo visitando a humanidade. O Autor da existência enviara seu filho para ter a mais enigmática experiência. Viera vivenciar a vida humana e esquadrinhar cada espaço da emoção, cada área das mentes, cada beco do consciente e do inconsciente humanos.

O homem do deserto não tinha medo de nada e de ninguém. Ele sabia que, por confrontar sem armas e publicamente o sistema político e religioso, poderia morrer a qualquer momento.

Mas esse medo não o perturbava. Quando citava o homem dos seus sonhos, ele mostrava o outro lado da sua personalidade: uma reverência fascinante. Ele postulava para si apenas o papel de propagador de um homem que viera resgatar a humanidade e mudá-la para sempre. As palavras de João abriam as comportas da imaginação dos seus ouvintes.

Algumas pessoas, enviadas pelos sacerdotes e fariseus, perguntaram a João quem ele era. Sua resposta foi enigmática e confundiu todos: “Eu sou a voz que clama no deserto, endireitai o caminho do Senhor” (João 1:23). Por que o “Senhor”, que os israelitas julgavam ser o Deus Onipotente, precisaria de um ser humano, e sobretudo de um homem estranho e sem cultura, para lhe preparar o caminho?

João nascera e crescera fora do sistema social. Não estava contaminado pelas vaidades, arrogâncias e injustiças do sistema, que o rejeitou e o condenou veementemente. O caminho que ele fora incumbido de preparar não era físico. Era o caminho do coração e do espírito humanos. João era um trator sem freios que tinha vindo arar os solos empedernidos da alma humana, preparando-os para receber o mais fantástico, delicado e gentil semeador: Jesus de Nazaré.

Para Jesus, a humanidade não era um projeto falido. Apesar das guerras, dos estupros, dos assassinatos, da violência e das loucuras sociais marcarem negativamente a humanidade, ele investiu toda a sua vida nesse projeto. O Mestre da Vida queria atingir um estágio onde os tranquilizantes e antidepressivos mais modernos não conseguem atuar.

Ele não veio reformar o ser humano, dar um manual de conduta ou produzir uma paz temporária. Ele veio produzir um ser novo. Ninguém teve uma ambição tão grande. Jamais alguém apostou tanto em nós.

 

A imagem formada no inconsciente coletivo

Tempos depois da morte de João, Jesus o elogiou eloquentemente. Disse aos seus discípulos que, entre os nascidos de mulher, ninguém havia sido igual a ele em capacidade, coragem, determinação, paciência e na utilização do psicológico para vencer a dureza da alma humana (Mateus 11:11).

Antes de Jesus aparecer, os ouvintes de João imaginavam como seria o Messias, o “ungido” de Deus que libertaria o ser humano do seu cativeiro exterior e interior. Sete séculos antes, o respeitado profeta Isaías anunciara a vinda do Messias. Mas o tempo passou e muitas gerações morreram sem vê-lo. As palavras de Isaías se transformaram em um delírio para Israel. O povo sonhava com um grande Messias que o viesse libertar da escravidão e da submissão a Roma.

De todas as nações, Israel era a única que não se submetia facilmente ao controle romano, exigindo por isso um cuidado especial. O povo fazia frequentes motins, e o Império reagia com violência. As palavras de João Batista alimentavam o ardente desejo de liberdade. Cada uma de suas frases era registrada no centro da memória dos seus ouvintes, gerando no inconsciente coletivo a imagem idealizada de um herói poderoso.

O homem dos sonhos de João se tornou o homem dos sonhos de milhares de pessoas. Castigadas pela fome e doentes na alma, as pessoas ansiavam conhecê-lo. A dor criou uma esperança apaixonante pela visão de dias felizes que iriam se concretizar.

João representava os frágeis raios solares que inauguram o mais belo amanhecer. Depois de uma longa noite de medo e insegurança, muitos judeus voltaram a sorrir. Mas o tempo passava e o Messias anunciado não aparecia. Expectativas intensas geram três consequências. Se não se realizam, criam frustração. Se são correspondidas, dão prazer. Se a realização ultrapassa o que foi gravado no inconsciente, geram exultação.

O que Jesus provocou? Os dois extremos. Frustração, porque não se colocou como um herói poderoso, mas como filho do homem. E exultação, porque nunca alguém fez o que ele fez ou falou o que ele falou.

 

O grande e singelo aparecimento

Pensar não é uma opção nossa, mas uma atividade inevitável. Ninguém consegue parar de pensar; apenas pode desacelerar o pensamento. Até a tentativa de interromper o pensamento já é um pensamento. Nem quando dormimos os pensamentos abandonam nossa mente. Por isso sonhamos. Todos os dias produzimos milhares de pensamentos.

João crescera no deserto. Tinha contato com poucas pessoas, mas devia pensar muito. Seus pensamentos estavam saturados de expectativas sobre Jesus, uma pessoa que ele não conhecia. Era seu primo, mas tinham crescido separados desde que Maria e José fugiram para o Egito e depois voltaram para a cidade de Nazaré, na Galileia (Mateus 2:14). João ansiava por conhecê-lo.

Quanto tempo você espera para que um sonho se concretize? Uns abandonam os sonhos assim que se defrontam com problemas. Outros têm os sonhos mais arraigados dentro de si, mas, quando atravessam o vale das frustrações, os enterram com lágrimas. João esperou três décadas para que seu sonho se concretizasse. Quantas noites frias, desencantos e momentos de angústia não teria experimentado. Trinta anos de calor, poeira e sequidão não o fizeram desanimar.

João amava quem não conhecia. Em meio a tantas expectativas, uma dúvida surgiu: como identificá-lo quando ele se aproximar? Virá como um grande rei, com uma imponente comitiva? Suas vestes serão tecidas com fios de ouro para contrastar com as vestes do seu precursor?

As semanas se passavam, e a multidão aumentava nas margens do Jordão. Inquietos, alguns se perguntavam: “Será que João está alucinando?”

Um dia apareceu discretamente um homem. Parecia mais um entre os milhares. Nada o diferenciava dos demais. Suas vestes eram comuns, não vinha acompanhado de uma escolta. Seus movimentos eram delicados e não revelavam o poder de um rei, mas a fineza de um poeta. Não chamava a atenção de ninguém. Sem dúvida, seria mais um sedento para ouvir as palavras eloquentes do homem do deserto.

Mas esse homem foi abrindo espaço na multidão. Tocava os ombros das pessoas e pedia licença com um sorriso. Sutilmente foi se aproximando. Não podia ser o Messias proclamado por João, pois em nada parecia com a imagem que as pessoas fizeram dele no inconsciente. Esperavam alguém supra-humano, mas aquele era tão normal. Esperavam um homem com o semblante de um rei, mas seu rosto era queimado de sol e suas mãos, castigadas por trabalho árduo.

Ele continuou se aproximando. Não havia poder nos seus gestos, mas doçura nos seus olhos. O homem incumbido de mudar o destino da humanidade escondia-se na pele de um carpinteiro. Nunca alguém tão grande se fez tão pequeno para tornar grandes os pequenos.

Com os joelhos encobertos pelas águas do rio, João mais uma vez discursava sobre a pessoa mais poderosa da terra. Não sabia que ele estava vindo ao seu encontro. Subitamente, uma clareira se abriu na multidão. O homem dos sonhos de João apareceu, mas ninguém notou. Então, os olhares dos dois se cruzaram. João ficou petrificado. Interrompeu o discurso. Nada no aspecto externo daquele homem indicava quem ele era, mas, de alguma forma, João sabia que era ele. Seus olhos contemplaram atenta e embevecidamente Jesus de Nazaré.

Os olhos de João devem ter se enchido de lágrimas. Tantos anos se passaram e tantas noites maldormidas aguardando um único homem aparecer. Agora, ele estava ali, real, diante dele, enchendo sua alma de esperança.

Esperança para os miseráveis, os desesperados, os que perderam a motivação para viver, os que têm transtornos emocionais, os que vivem ansiosos e abatidos. Esperança também para os felizes, os que tiveram o privilégio de conquistar os mais estrondosos sucessos, mas têm consciência de que a vida, por mais bela e bem-sucedida que seja, é breve e efêmera.

Sim! Não apenas os miseráveis precisam de esperança, mas também os felizes, pois seus dias igualmente findarão e nunca mais verão as pessoas que amam, nem as flores dos campos, nem ouvirão os cantos dos pássaros.

A vida, por mais longa que seja, transcorre dentro de um pequeno parêntese do tempo. Todos os mortais precisam de esperança. A esperança era o nutriente interior de João. Só isso explica por que, sendo tão cheio de talentos, trocara o conforto social pela secura do deserto.

 

O poder vestiu-se de doçura

Ao ver João paralisado, a multidão foi tomada por um absoluto e total silêncio. As pessoas não entendiam o que estava acontecendo, só sabiam que de repente o rosto do homem destemido se transformara no de uma dócil criança. Sentiam que ele vivia o momento mais feliz da sua vida.

O olhar de Jesus, penetrante e inconfundível, transformou os anos de João num deserto em um oásis. Momentos depois, ao voltar a falar, João mudou o discurso. Deixou de comentar as misérias, as hipocrisias, o apego à fama, a estupidez do poder, as fragilidades, as arrogâncias humanas. Perdeu o tom da ousadia. João dera ao Messias anunciado um status maior do que se dava ao imperador romano. Mas agora estava perplexo. A mansidão de Jesus o contagiou. Havia serenidade na sua face, gentileza nos seus gestos. O poder vestiu-se de doçura e mansidão, um paradoxo que acompanhará toda a história de Jesus. Mais tarde, ele revelará um poder que homem algum jamais teve, mas, ao mesmo tempo, demonstrará uma delicadeza nunca vista. Fará discursos imponentes, mas sua capacidade de compreensão e compaixão atingirá níveis inimagináveis.

João percebeu, ainda que não claramente, os contrastes que seguiriam Jesus. Surpreso, disse uma frase poética, não sobre o poder de Jesus, mas sobre sua capacidade de amar e se doar: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). O homem de quem não era digno de desatar as sandálias era um cordeiro tranquilo que morreria por ele e pelo mundo.

Que contraste! Já estudei a personalidade de homens famosos, como Freud, Van Gogh, Hitler, mas ninguém é tão difícil de ser investigado como Jesus. Foram necessários 20 anos de pesquisa exaustiva sobre o processo de construção dos pensamentos para poder entender um pouco os bastidores da sua personalidade.

A mudança de discurso confundiu as pessoas. Não eram essas as palavras que a multidão esperava ouvir quando João lhes apontasse o Cristo. Todos esperavam que ele dissesse: “Eis o grandioso rei que vos libertará de Roma.” Coloco-me no lugar dessas pessoas sofridas que tiravam o pão da boca dos seus filhos para pagar os impostos romanos. Certamente eu teria ficado muito frustrado.

As pessoas estavam confusas e perdidas. Jamais alguém dissera que um homem era um cordeiro. Nada poderia soar mais estranho. Mais ainda, jamais alguém havia dito que um homem se tornaria um cordeiro de Deus que libertaria o mundo das suas misérias.

As pessoas queriam segurança, liberdade e comida na mesa. Elas não suportavam a arrogância dos soldados. Queriam ser livres para andar, falar, correr, mas Jesus lhes mostraria que se o ser humano não for livre dentro de si jamais o será no exterior. Elas queriam um analgésico para aliviar o sintoma, mas Jesus lhes daria o remédio que combateria a causa da doença. Elas queriam um reino temporal, mas ele lhes apresentaria um reino eterno.

Jesus ainda não tinha falado. Ninguém imaginava que ele falaria de propostas que abalariam o mundo. O homem dos sonhos de João causou, no primeiro momento, uma grande frustração. Não era aquele homem que estava na fantasia das pessoas.

 

Um homem surpreendente

Depois de ser apresentado por João, todos esperavam que ele fizesse um grande discurso. Mas Jesus optou pelo silêncio. Entrou nas águas do Jordão e quis cumprir o ritual simbólico do batismo. Deixaria de ser o carpinteiro de Nazaré, mudaria sua rota depois de 30 longos anos de espera e se tornaria o Mestre dos Mestres, o Mestre da Sensibilidade, o Mestre da Vida, o Mestre do Amor. Ensinaria o mundo a viver.

João se recusou a batizá-lo. Um rei não poderia abaixar-se diante de um súdito, pensava João. Mas o rei se abaixou, numa atitude paradoxal que se repetiu pelo resto de sua vida.

O Mestre dos Mestres não tentou convencer a multidão da sua identidade. Teria podido impressionar a multidão, mas calou-se. Muitos contratam jornalistas para elogiá-los ou para aparecerem com destaque nas colunas sociais. Jesus, porém, apreciava o anonimato. João maravilhou-se com sua humildade, mas a multidão ficou confusa. O choque foi inevitável. O sonho daquelas pessoas havia se esfacelado.

Jesus de Nazaré entendia de madeiras e pregos, e parecia não ter sabedoria para envolver as pessoas. Mas quando começou a falar, todos ficaram perplexos. Ele foi um dos maiores oradores de todos os tempos. A coragem e a gentileza se entrelaçavam na sua oratória. Raramente alguém foi tão sensível e destemido na terra da censura. Expressar-se contra o sistema político e o sinédrio judaico gerava tantas consequências quanto falar hoje contra qualquer ditador no poder. A inteligência de Jesus era assombrosa. Falava com os olhos e com as palavras, e ninguém resistia ao fascínio dos seus discursos. Encantava prostitutas e intelectuais, moribundos e abatidos. Suas palavras incomodavam tanto que provocavam o ódio dos fariseus. Depois que o Mestre dos Mestres apareceu, os intelectuais, que formavam um segmento importante da sociedade local, sentiram-se enfraquecidos.

Apesar de odiá-lo, os fariseus o acompanhavam por longos dias para beber um pouco da sua intrigante sabedoria. Perguntavam inúmeras vezes: “Quem és tu?”, “Até quando deixarás nossa mente em suspense?”. Quanto mais perguntavam, mais eram vitimados pela dúvida.

Eles queriam sinais, atos milagrosos, como a abertura do mar Vermelho. Mas o delicado mestre queria a abertura das janelas da inteligência. Os fariseus chegavam sempre antes ou depois de as cenas sobrenaturais acontecerem. Nunca o entenderam, pois não falavam a linguagem do coração, não sabiam decifrá-lo com uma mente multifocal, aberta, livre. Hoje, Jesus reúne bilhões de admiradores, mas ainda permanece um grande desconhecido.

Você consegue decifrá-lo? Procurar conhecê-lo é o maior desafio da ciência, é a maior aventura da inteligência!

 

Escolhendo discípulos desqualificados para transmitir seu sonho

Jesus desejava ter discípulos para revelar os mistérios da vida. Iria levá-los a conhecer os segredos da existência. Segredos que os filósofos, a casta mais sedenta de pensadores, sonharam conhecer. Jesus almejava atuar na colcha de retalhos da personalidade de um pequeno grupo de seguidores e levá-los a atear fogo no mundo com suas ideias e seu projeto.

Queria esculpir neles a arte de pensar, da tolerância, da solidariedade, do perdão, da capacidade de se colocar no lugar dos outros, do amor, da tranquilidade. Como fazer isso sem criar uma escola física? Como conseguir adeptos que confiassem nele sem usar pressão social? Como abrir as janelas da mente de seus seguidores, se insistia em não controlá-los? É fácil para um rei dominar as pessoas e levá-las a submeter-se à sua vontade. Mas Jesus, contrariando a lógica, usava a sensibilidade e a serenidade para atingir seus objetivos.

Os objetivos do Mestre da Vida eram dificílimos de serem concretizados. Ele teria de convencer as pessoas a investir num projeto invisível. Discursava sobre um reino de paz, justiça, alegria. Mas era um reino intangível, não-palpável, era um reino nos céus.

E havia outros graves problemas. Quem ele iria escolher para segui-lo? E como iria atrair seus discípulos? Talvez não o percebamos, mas Jesus tinha tudo para falhar.

 

A universalidade da vida: a grande empreitada

A psicologia e as ciências da educação só não se dobram aos pés do Mestre dos Mestres porque não o conhecem. Se procurassem conhecê-lo mais profundamente, incluiriam em suas matérias a espetacular psicologia e a pedagogia do maior pensador da história.

O mestre desejava formar pensadores na grande universidade da vida, uma universidade em que muitos cientistas e intelectuais são pequenos alunos. A universidade clássica forma, com exceções, homens egoístas e imaturos. Raramente alguém diz: “Na minha faculdade aprendi a ser sábio, a amar a vida, a superar conflitos e a ser solidário.”

A universidade deforma os alunos, abafa a criatividade, sufoca a arte da dúvida, destrói a ousadia e a simplicidade, rouba o que eles têm de melhor. Os jovens são treinados para usar a memória como depósitos de informações, mas não a pensar, a ter sutileza, perspicácia, segurança, ousadia. Recebem diplomas, mas não sabedoria. Sabem falar de assuntos lógicos, mas tropeçam nas pequenas dificuldades emocionais.

O Mestre da Vida queria formar pensadores que conhecessem o alfabeto do amor. Acreditou no ser humano. Acreditou em cada um de nós, apesar de todas as nossas falhas. Honrou pessoas sem honra, e disse “Você pode!” aos paralíticos de corpo e de inteligência. Amou os que não o amaram. E doou-se a quem não merecia.

Se você sente que erra com frequência, tem muitos conflitos e acha que não tem qualificação intelectual para brilhar afetiva e profissionalmente, não desanime. Se estivesse morando próximo ao mar da Galileia, provavelmente você seria um dos escolhidos para segui-lo. Jesus tinha um especial apreço pelas pessoas problemáticas. Quanto mais elas tropeçavam e davam trabalho, mais ele as apreciava e investia nelas.

Vejamos como e quem ele escolheu como seu primeiro grupo de seguidores.

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Augusto Cury

Sobre o autor

Augusto Cury

AUGUSTO CURY é psiquiatra, cientista, pesquisador e escritor. Publicado em mais de 70 países, já vendeu, só no Brasil, 30 milhões de exemplares de seus livros, sendo considerado o autor brasileiro mais lido na atualidade. Seu livro O vendedor de sonhos foi adaptado para o cinema pela Warner/Fox. O próximo título a ganhar as telonas será O futuro da humanidade. Entre seus sucessos estão O futuro da humanidade; O homem mais inteligente da história; O homem mais feliz da história; O maior líder da história; Pais brilhantes, professores fascinantes e Nunca desista dos seus sonhos. Cury é autor da Teoria da Inteligência Multifocal, que trata do complexo processo de construção de pensamentos, dos papéis da memória e da construção do Eu. Também é criador da Escola da Inteligência, o primeiro programa mundial de gestão da emoção para crianças e adolescentes e o maior programa de educação socioemocional da atualidade, com mais de 400 mil alunos.

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