Introdução
A história não é nova, mas, pelo menos neste livro, acho que vale a pena contá-la outra vez. O ano era 1998 e eu estava divulgando o filme Bem-amada em uma entrevista ao vivo na TV com Gene Siskel, o grande e já falecido crítico de cinema do Sun-Times. O papo estava fluindo muito bem, até que chegou a hora de encerrar a entrevista.
– Mas me diga o seguinte – falou ele. – Do que você tem certeza?
Bem, eu não era nenhuma novata. Já fiz muitas perguntas ao longo dos anos – e também já fui alvo de muitas outras –, e não é comum que me faltem palavras, mas devo admitir que dessa vez fiquei sem ação.
– Hã… sobre o filme? – gaguejei, sabendo muito bem que ele se referia a algo maior, mais profundo e mais complexo, mas tentando ganhar tempo para bolar uma resposta que fizesse o mínimo de sentido.
– Não – retrucou ele. – Você sabe o que quero dizer: sobre você, sua vida e tudo o mais…
– Hã… do que tenho certeza… bom, a verdade é que preciso de mais tempo para pensar nisso, Gene.
Bem, dezesseis anos e muitas reflexões depois, esta se tornou a principal questão da minha vida: do que exatamente eu tenho certeza?
Venho explorando essa pergunta em cada número da revista O (na realidade, ela é o nome da coluna que escrevo todo mês nesse periódico), e acredite: muitas vezes ainda não é nada fácil encontrar a resposta. Do que eu tenho certeza? O que eu sei de verdade é que, se mais um editor me telefonar ou mandar um e-mail, ou mesmo um sinal de fumaça, perguntando cadê o texto que preciso mandar, irei trocar de nome e me mudar para Timbuktu!
Mas, justo quando estou prestes a jogar a toalha e gritar “Chega! Minha fonte esgotou! Não sei de mais nada!”, eu me vejo passeando com o cachorro, fazendo um chá ou relaxando na banheira e então, do nada, um pequeno momento de lucidez me faz lembrar de algo que na minha mente, no meu coração e no meu íntimo eu simplesmente sei sem sombra de dúvida.
Mesmo assim, admito que fiquei um pouco apreensiva quando chegou a hora de reler as colunas que escrevi durante catorze anos. Será que iria ser como olhar fotos antigas minhas com cortes de cabelo e roupas que deveriam ficar para sempre arquivados na pasta “parecia uma boa ideia na época”? Quero dizer, o que você faz quando o que sabia com certeza no passado se torna “onde eu estava com a cabeça” no presente?
Peguei uma caneta vermelha, uma taça de vinho Sauvignon Blanc, respirei fundo, sentei-me e comecei a ler. Enquanto lia, fui invadida por uma enxurrada de lembranças do que estava fazendo na época e da etapa da vida em que me encontrava ao escrever aqueles textos. Recordei-me imediatamente das ocasiões em que quebrei a cabeça e vasculhei minha alma, de quantas vezes fiquei acordada até tarde e levantei cedo, tudo para descobrir o que tinha compreendido sobre as coisas que importam na vida – como alegria, perseverança, deslumbramento, união, gratidão e possibilidade. É com alegria que afirmo ter descoberto, nesses catorze anos de colunas, que, quando você tem certeza de alguma coisa, certeza absoluta, ela sobrevive ao teste do tempo.
Não me entenda mal: enquanto estiver vivo, e se estiver aberto ao mundo, você irá aprender. Portanto, embora no fundo minhas ideias e crenças permaneçam as mesmas, acabei usando aquela caneta vermelha para corrigir, elaborar e ampliar algumas velhas verdades e o bom senso que consegui adquirir a duras penas. Bem-vindo ao meu livro pessoal de revelações!
Quando você estiver lendo todas as lições com as quais me debati e que me levaram às lágrimas, das quais fugi e às quais retornei depois, que me fizeram rir e das quais, por fim, passei a ter certeza, espero que comece a fazer a si mesmo a pergunta que Gene Siskel me fez há tantos anos. O que você descobrirá ao longo do caminho será fantástico, pois estará descobrindo a si mesmo.
Oprah Winfrey
Setembro de 2014