Prefácio
É uma imensa satisfação pessoal e profissional saber que este livro já vendeu mais de 1,6 milhão de exemplares somente no Brasil e que foi publicado em dezenas de países, tocando pessoas de diferentes culturas e provocando-as intelectualmente com sua mensagem. Escrevi Pais brilhantes, professores fascinantes não para heróis, mas para aqueles que sabem que educar é praticar a mais bela e complexa arte da existência. Educar é ter esperança no futuro, mesmo que o presente nos decepcione, é semear com sabedoria e colher com paciência.
É ser um garimpeiro que procura os tesouros do coração.
Essa é a meta de todos os educadores que procuram a excelência, que buscam conhecer o funcionamento da mente, que estimulam nos jovens a arte de pensar, observar e interiorizar.
Neste livro apresento importantes ferramentas que ajudam a formar pensadores e ensinam a expandir a emoção, a ampliar os horizontes e a produzir qualidade de vida. Ele falará ao coração de pais e professores que lutam pelo mesmo sonho: o desenvolvimento da saúde psíquica, da felicidade e das funções mais importantes da inteligência.
Pais e professores que são cheios de regras e excessivamente lógicos estão aptos a operar máquinas, mas não a orientar seres humanos. Pais e professores que são especialistas em apontar falhas e criticar erros podem estar habilitados a gerenciar empresas, mas não a formar pensadores.
Não podemos controlar o processo de formação da personalidade de nossos jovens. É necessário ter maturidade, flexibilidade, criatividade, capacidade de surpreender, enfim, é necessário trabalhar os hábitos dos pais brilhantes e dos professores fascinantes para contribuirmos para que nossos filhos e alunos tenham mentes saudáveis, inventivas, ousadas, resilientes, seguras, altruístas, tolerantes, pacientes e generosas.
Educar é um grande desafio. Talvez o maior de todos. Minha intenção é procurar orientar você nessa complexa e fascinante jornada.
Através da minha experiência como psiquiatra, escritor e pesquisador da psicologia, já ajudei muitas pessoas a mudar o rumo de suas vidas e a enxergar a educação com outros olhos. Espero continuar contribuindo para a formação de pensadores não só na sala de aula como também em casa e nas empresas.
Este livro é dedicado a todos os pais e professores, aos psicólogos, aos profissionais de recursos humanos, aos jovens e a todos aqueles que desejam conhecer alguns segredos da personalidade, o funcionamento da mente e enriquecer seus relacionamentos.
Colina, setembro de 2010
Para onde caminha a juventude
Há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem. Só não consegue descobri-lo quem está encarcerado dentro do seu próprio mundo.
Nossa geração quis dar o melhor para as crianças e os jovens. Sonhamos grandes sonhos para eles. Procuramos dar os melhores brinquedos, roupas, passeios e escolas. Não queríamos que eles andassem na chuva, se machucassem nas ruas, se ferissem com os brinquedos caseiros e vivessem as dificuldades pelas quais passamos.
Tivemos uma excelente intenção. Só não sabíamos que as crianças precisavam inventar, correr riscos, frustrar-se, ter tempo para brincar e se encantar com a vida. Não imaginamos quanto a criatividade, a felicidade, a ousadia e a segurança do adulto dependiam das matrizes da memória e da energia emocional da criança. Não compreendemos que a TV, os brinquedos manufaturados, a internet e o excesso de atividades obstruíam a infância.
Criamos um mundo artificial para as crianças e pagamos um preço caríssimo por isso: produzimos sérias consequências no território da emoção, no anfiteatro dos pensamentos e no solo da memória deles.
Obstruindo a inteligência das crianças e adolescentes
Esperávamos que no século XXI os jovens fossem solidários, empreendedores e amassem a arte de pensar. Mas muitos vivem alienados, não pensam no futuro, não têm garra nem projetos de vida.
Imaginávamos que, pelo fato de aprendermos línguas na escola e vivermos espremidos nos elevadores, no local de trabalho e nos clubes, a solidão seria resolvida. Mas as pessoas não aprenderam a falar de si mesmas, têm medo de se expor, vivem represadas em seu próprio mundo. Pais e filhos vivem ilhados e raramente choram juntos e comentam seus sonhos, mágoas, alegrias, frustrações.
Na escola, a situação é pior. Professores e alunos vivem juntos durante anos dentro da sala de aula, mas são estranhos uns para os outros. Eles se escondem atrás dos livros, das apostilas, dos computadores. A culpa é dos ilustres professores? Não! A culpa, como veremos, é do sistema educacional doentio que se arrasta por séculos.
As crianças e os jovens aprendem a lidar com fatos lógicos, mas não sabem lidar com fracassos e falhas. Aprendem a resolver problemas matemáticos, mas não sabem resolver seus conflitos existenciais. São treinados para fazer cálculos e acertá-los, mas a vida é cheia de contradições. As questões emocionais não podem ser calculadas nem têm conta exata.
Os jovens são preparados para lidar com decepções? Não! Eles são treinados apenas para o sucesso. Viver sem problemas é impossível. O sofrimento nos constrói ou nos destrói. Devemos usar o sofrimento para construir a sabedoria.
Nossa geração produziu informações que nenhuma outra jamais produziu, mas não sabemos o que fazer com elas. Raramente usamos essas informações para aumentar nossa qualidade de vida. Você faz coisas fora da sua agenda que lhe dão prazer? Você procura administrar seus pensamentos para ter uma mente mais tranquila? Nós nos tornamos máquinas de trabalhar e estamos transformando nossas crianças em máquinas de aprender.
Usando erradamente os papéis da memória
Fizemos da memória de nossas crianças um banco de dados, mas ela não tem essa função. Durante séculos a memória foi usada de maneira errada pela escola. Professores e psicólogos creem que existe lembrança, mas isso está errado. Não existe lembrança pura do passado. O passado é sempre reconstruído!
Há diversos conceitos equivocados na ciência sobre o funcionamento da mente e da memória humana. Tenho convicção de que estamos obstruindo a inteligência das crianças e o seu prazer de viver com o excesso de informações que oferecemos a elas.
A maioria das informações que aprendemos não será organizada na memória e utilizada nas atividades intelectuais. Imagine um pedreiro que a vida toda acumulou pedras para construir uma casa. Após construí-la, ele não sabe o que fazer com as pilhas de pedras que sobraram. Gastou a maior parte do seu tempo acumulando-as inutilmente.
O conhecimento se multiplicou e o número de escolas se expandiu como em nenhuma outra época, mas não estamos produzindo pensadores. A maioria dos jovens, incluindo universitários, acumula pilhas de “pedras”, mas constrói pouquíssimas ideias brilhantes. Não é à toa que eles perderam o prazer de aprender. A escola deixou de ser uma aventura agradável.
Paralelamente a isso, a mídia os seduziu com estímulos rápidos e prontos. Eles se tornaram amantes do fast-food emocional. A TV transporta os jovens, sem que eles façam esforço, para dentro de uma excitante partida esportiva, para o interior de uma aeronave, para o cerne de uma guerra e para dentro de um dramático conflito policial.
Esse bombardeio de estímulos não é inofensivo. Atua num fenômeno inconsciente chamado de psicoadaptação, aumentando o limiar do prazer na vida real. Com o tempo, crianças e adolescentes perdem o prazer dos pequenos estímulos da rotina diária.
Eles precisam fazer muitas coisas para ter um pouco de prazer, o que gera personalidades flutuantes, instáveis, insatisfeitas. Temos uma indústria de lazer complexa. Deveríamos ter a geração de jovens mais felizes que já pisaram nesta Terra, mas produzimos uma geração de insatisfeitos.
Estamos informando e não formando
Não estamos educando a emoção nem estimulando o desenvolvimento das funções mais importantes da inteligência, como contemplar o belo, pensar antes de reagir, expor – e não impor – as ideias, gerenciar os pensamentos, ter espírito empreendedor. Estamos informando os jovens, e não formando sua personalidade.
Os jovens conhecem cada vez mais o mundo em que estão, mas quase nada sobre o mundo que eles são. No máximo, conhecem a sala de visitas da própria personalidade. O ser humano é um estranho para si mesmo.
Nunca o conhecimento médico e psiquiátrico foi tão grande, e nunca as pessoas tiveram tantos transtornos emocionais e tantas doenças psicossomáticas. A depressão raramente atingia as crianças. Hoje há muitas delas deprimidas e sem encanto pela vida. Adolescentes estão desenvolvendo diversos transtornos psíquicos.
Quanto pior for a qualidade da educação, mais importante será o papel da psiquiatria neste século. Vamos assistir passivamente à indústria dos antidepressivos e tranquilizantes se tornar uma das mais poderosas do século XXI? Vamos observar passivamente nossos filhos serem vítimas do sistema social que criamos? O que fazer diante dessa problemática?
Procurando pais brilhantes e professores fascinantes
Devemos procurar soluções que ataquem diretamente o problema. Precisamos conhecer algo sobre o funcionamento da mente e mudar alguns pilares da educação. As teorias não funcionam mais. Bons professores estão estressados e gerando alunos despreparados para a vida. Bons pais estão confusos e gerando filhos com conflitos. Existe, no entanto, uma grande esperança, mas não há soluções mágicas.
Atualmente, não basta ser bom, pois a crise da educação impõe que procuremos a excelência. Os pais precisam adquirir hábitos dos pais brilhantes para revolucionar a educação. Os professores precisam incorporar hábitos dos educadores fascinantes para atuar com eficiência no pequeno e infinito mundo da personalidade dos seus alunos.
Cada hábito adotado pelos educadores poderá contribuir para desenvolver características fundamentais da personalidade dos jovens.
Precisamos ser educadores muito acima da média se quisermos formar seres humanos inteligentes e felizes, capazes de sobreviver nessa sociedade estressante. A boa notícia é que pais ricos ou pobres, professores de escolas ricas ou carentes podem igualmente praticar os hábitos e técnicas aqui propostos.