Prefácio
Na minha caminhada espiritual, manter um diário com as experiências místicas, ideias, intuições e relatórios da prática de exercícios e devoções trouxe benefícios. Atualmente, desenvolvo essa atividade no celular, guardando minhas memórias em uma nuvem digital. Tudo muito seguro, fácil e prático.
Algumas vezes, ao me referir às minhas anotações, notei o olhar espantado de certas pessoas, como se isso fosse coisa de gente do século retrasado. Alguns até me perguntaram se eu tinha o hábito de escrever sobre tudo o que acontecia na minha vida. Não acho necessário. Registro em meu diário só os dados espirituais que considero relevantes.
Não são apenas escritos: trata-se de uma colcha de retalhos, que reúne também vídeos, fotografias e gravações de voz, algo que seria impossível décadas atrás, no formato tradicional de um diário de papel, mas que agora é bem simples. Os relatos mais antigos, produzidos antes do advento do mundo virtual, foram digitalizados, sendo incorporados ao diário. Viva a tecnologia!
Consulto periodicamente meus registros para reler anotações que fiz em anos anteriores, verificando meu progresso espiritual. Analiso, por exemplo, a evolução do diálogo e da intimidade com meu anjo da guarda. Estudo as áreas da minha missão em que preciso me empenhar mais, bem como aquelas em que tive sucesso. Tenho um panorama do que está funcionando bem e daquilo que precisa ser modificado.
Por diversas vezes, anotei ali sinais ou descrevi imagens simbólicas que recebi do Reino dos Céus. Tenho até hoje os desenhos que fiz há mais de dez anos, reproduzindo uns poucos símbolos que meu anjo da guarda fez surgir no ar em uma manhã de oração no Santuário da Medalha Milagrosa do Rio de Janeiro. Segundo ele, faziam parte de uma espécie de alfabeto angélico, mas ainda não descobri o que significam exatamente. Mesmo assim, os mantenho guardados no diário, pois algumas vezes me acontece de, anos depois de ter recebido uma mensagem, símbolo ou sinal, compreender para que servem ou o que querem dizer.
Digo isso tudo para que meu leitor entenda a importância de registrar as visões e experiências espirituais. Para escrever meus livros, meu diário é peça fundamental. Em diversas tardes de autógrafos, os leitores me perguntaram como eu conseguia me lembrar de eventos do passado com tantos detalhes. Tenho boa memória, mas, se eu não os tivesse anotado, filmado, fotografado ou documentado de algum modo, textos como o que você tem em mãos agora não existiriam.
Não me pergunte por que Deus me manda mensagens cifradas. Imagino que seja para me incentivar a persistir no aprendizado, porém não tenho certeza. Sei que Ele não faz isso somente comigo, mas com todas as pessoas que conheço. Concluo que faz parte de sua didática.
Alguns leitores devem estar se perguntando agora se o tema deste livro são os símbolos e sinais divinos. Eu diria que, indiretamente, sim. Desde 2017, um ano após o lançamento do meu livro de maior sucesso, Todo mundo tem um anjo da guarda, meus leitores vinham insistindo para que eu escrevesse um novo texto apresentando ensinamentos sobre o mundo dos anjos, sobre a forma de atuação dos santos e da Virgem Maria entre nós, descrevendo o que vejo no plano espiritual através dos meus dons místicos. Parte do que aprendi me foi comunicado pelos mensageiros de Deus telepaticamente ou em sonhos, por meio de sinais, imagens e símbolos.
Depois de selecionar os tópicos deste livro, recorri ao meu diário para extrair fatos que pudessem ilustrar aquilo que eu queria passar. Foi então que decidi fazer uma narrativa com os acontecimentos místicos e sobrenaturais relativos à Virgem Maria, aos anjos e aos santos que presenciei quando estive nos santuários marianos de Medjugorje, Lourdes e Fátima, além da Terra Santa.
Os fatos deste livro se deram entre 1999 e 2020. Portanto, cerca de vinte anos das minhas experiências no campo da espiritualidade estão condensados nas próximas páginas. Procurei atender aos anseios dos meus leitores, respondendo, inclusive, a algumas questões levantadas nas minhas redes sociais.
Enquanto escrevia os capítulos, surgiu uma dúvida: vale mesmo a pena narrar experiências sobrenaturais? Isso não serve apenas para satisfazer a curiosidade do meu público? Será que favorece a espiritualidade dos que buscam a Deus? Para uma pessoa ter fé, é fundamental que passe por algo do tipo durante a vida? Fiquei preocupado em não estar cumprindo com a minha missão evangelizadora.
Resolvi, então, compartilhar o questionamento com duas pessoas da minha confiança: meu diretor espiritual, frei Juan Antonio González Espejel, e meu primo Alexandre Pinheiro, doutor em teologia pela PUC-Rio. Por conhecerem a fé católica com profundidade, poderiam me dar uma luz.
Os dois responderam que eu não deveria me preocupar. Na opinião deles, com este livro eu tenho a oportunidade de transmitir ao povo uma boa catequese com base em fatos extraordinários.
Assim, estou servindo a Deus e me apresentando como um instrumento de evangelização útil para sua obra. Sendo um homem com dons místicos, não devo omitir minhas experiências com o mundo espiritual. As pessoas podem ter sua fé fortalecida com o livro – um ponto fundamental nos tempos turbulentos de hoje. Assim, me convenci de que poderia dar uma contribuição positiva àqueles que trilham o caminho da espiritualidade. Todavia, frei Juan e Alexandre me aconselharam a fazer uma ressalva importante, especialmente para os que gostam de colecionar testemunhos sobre a existência e atuação do mundo espiritual, dando-lhes demasiada importância: aos olhos de Deus, vale muito mais aquela pessoa que não viu nem ouviu nada no plano espiritual, mas tem fé e acredita que o Pai Celestial tudo pode.
Jesus se encantava com a fé dos que encontrava e se decepcionava muito com a falta dela. São Tomé duvidou da ressurreição do Senhor, quando seus companheiros apóstolos lhe contaram que O tinham visto. Incrédulo, ele provocou os demais: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei” (João 20, 25).
Os apóstolos não o contestaram. O texto do Evangelho indica que houve apenas o silêncio. Jesus solucionou esse impasse uma semana depois. Apareceu aos seus discípulos, que estavam reunidos de portas fechadas. Tomé estava entre eles. O Senhor se postou no meio deles e, depois de lhes desejar a paz, falou diretamente a Tomé: “Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé” (Jo 20, 27). O Salvador conclui, implacável, dizendo a todos: “Felizes os que acreditaram sem ter visto” (Jo 20, 29). Imagino como o apóstolo incrédulo ficou sem graça diante da presença e do discurso do Mestre! Como um homem que conviveu por tanto tempo com Jesus não tinha fé? O ser humano é surpreendente.
Comunhão dos santos
Neste livro, traduzi em palavras as maravilhas que observei no mundo espiritual com o intuito de alimentar a fé dos meus leitores e reafirmar que existe, de fato, a chamada “comunhão dos santos”, ou seja, o convívio real entre os que estão na glória de Deus (santos, anjos e a Virgem Maria) e nós, que estamos vivos aqui na terra. Não estamos sozinhos. Eles nos auxiliam, para que nossa vida e nosso mundo sejam melhores.
Escrevo também para que todos compreendam que ter experiências místicas não é algo reservado apenas a alguns poucos privilegiados, com dons extraordinários. Conforme vocês verão, há gente “comum” que presenciou eventos sobrenaturais na minha companhia. Como isso é possível? A verdade é que todos nós temos acesso direto ao Pai Celestial e ao mundo invisível, pois Ele está em nós. Quero reforçar algo que já venho dizendo aos leitores desde meu livro Você pode falar com Deus e que consta em uma antiga canção católica: “Deus habita no meu coração, Deus habita no seu coração.”
Somos criados por Deus e para Deus. Este é o ensinamento de São Paulo, na Carta aos Colossenses (1, 16): “Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por Ele e para Ele.” No mesmo sentido, temos também o escólio de Santo Agostinho, que, em seu livro Confissões, escreveu: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos!”
Existe, portanto, uma ligação especial entre o ser humano, Deus e o mundo espiritual. Ainda que algumas pessoas a ignorem, ela nunca se desfaz. Por isso, a qualquer tempo, podemos reatar nossa comunicação com o Criador e aprimorá-la.
Se for da vontade de Deus, todos podem ter experiências espirituais com anjos e santos, já que Ele habita em nós e somos suas criaturas. Temos, desde sempre, a capacidade de nos comunicar com nosso Pai e seus escolhidos, que estão em sua glória. São a nossa falta de prática e a nossa pouca fé que nos distanciam do Criador, prejudicando a habilidade de sentirmos sua presença. É necessário buscar a Deus com vontade, dia a dia. Sem perseverança, não há resultado positivo. Nem todo mundo trilha com afinco esse caminho.
O objetivo deste livro é que vocês, meus queridos leitores, percebam que, como filhos muito amados do Pai Celestial, podemos ter contato íntimo com a Santíssima Trindade, com a Mãe de Deus, com os grandes homens e mulheres que estão no Reino dos Céus (a quem chamamos de santos), bem como seus mensageiros, os anjos.
Acredite: Deus não decepciona aqueles que têm fé!