Um convite à liberdade
Queridos amigos, depois de mais de 40 anos falando sobre atenção plena e compaixão a milhares de pessoas no caminho espiritual, a mensagem mais importante que posso oferecer é a seguinte: Você não precisa esperar para ser livre. Você não precisa adiar a felicidade.
Muitas vezes, as práticas de atenção plena e de compaixão se misturam com uma visão de autodisciplina e responsabilidade. Nós as vemos como se estivessem nos conduzindo por uma longa estrada cheia de obstáculos que nos levará, em última instância, a benefícios distantes. Sim, há um trabalho árduo do coração e ciclos exigentes em nossa vida. Ainda assim, onde quer que você esteja em sua jornada, existe outra verdade maravilhosa chamada “Provando os frutos” ou “Experimentando o resultado”. Os frutos do bem-estar e da experiência de alegria, liberdade e amor estão disponíveis agora, seja qual for o seu momento de vida!
Quando Nelson Mandela saiu da prisão na ilha Robben após 27 anos de encarceramento, ele o fez com tamanhas dignidade, generosidade e clemência que sua mentalidade transformou a África do Sul e inspirou o mundo. Como Mandela, você pode ser livre e digno onde quer que esteja. Apesar das circunstâncias difíceis, apesar dos tempos incertos, lembre-se: a liberdade não é um privilégio de pessoas extraordinárias. Ninguém pode aprisionar o seu espírito.
Quando seu chefe chama e você fica com medo ou ansioso; quando um familiar vive um conflito ou está sob pressão; quando você se sente sobrecarregado pelos crescentes problemas do mundo – em todas essas circunstâncias, você tem escolha. Você pode se deixar limitar ou constranger, ou pode usar as dificuldades para se abrir e descobrir como reagir com inteligência aos desdobramentos desta jornada. Às vezes a vida torna tudo mais fácil; outras vezes ela é desafiadora e muito difícil. Às vezes a sociedade ao nosso redor está transtornada. Seja qual for o seu momento, você pode respirar, suavizar o olhar e lembrar que a coragem e a liberdade estão dentro de você, esperando que você desperte e as ofereça aos outros. Mesmo nas condições mais adversas, a liberdade de espírito está disponível. A liberdade de espírito é misteriosa, maravilhosa e simples. Aconteça o que acontecer, somos livres e capazes de amar nesta vida.
No fundo, sabemos que isso é verdade. Compreendemos essa verdade sempre que nos sentimos parte de algo maior – escutando música, fazendo amor, caminhando nas montanhas, nadando no mar, presenciando o mistério de um ente querido que se vai enquanto seu espírito deixa o corpo silenciosamente como uma estrela cadente ou testemunhando o nascimento milagroso de uma criança. Em momentos assim, uma alegre receptividade inunda o nosso corpo e nosso coração fica em paz.
A liberdade começa onde estamos. Sara, uma mãe solteira com dois filhos, descobriu que sua filha de 8 anos, Alicia, tinha leucemia. Sara ficou apavorada, ansiosa, sofrendo por causa do problema de saúde da menina e com medo de perdê-la. No primeiro ano, Alicia passou por longos ciclos de quimioterapia, internações em hospitais e consultas médicas. Uma grande tristeza tomou conta da casa e a ansiedade invadiu os dias de Sara. Então, uma tarde, quando as duas saíram para passear, Alicia disse: “Mamãe, não sei quanto tempo eu vou viver, mas quero que sejam dias felizes.”
As palavras da filha fizeram Sara despertar. Ela percebeu que precisava se desligar daquele melodrama lacrimoso para se sentir de novo confiante e satisfazer a liberdade de espírito da menina. Sara a abraçou e dançou uma valsa com ela, apertando-a junto a seu corpo. Seu medo desapareceu e, com o tempo, Alicia ficou curada. No momento em que escrevo este livro, ela está com 22 anos e acabou de se formar na faculdade.
Mesmo que ela não tivesse se curado, que tipo de vida Sara teria permitido que a filha escolhesse? Você não pode fazer muita coisa de sua vida se estiver infeliz. E pode também ser feliz.
Quando eu tinha 8 anos, em um dia de inverno especialmente ventoso, meus irmãos e eu vestimos casaco, cachecol e luvas e saímos para brincar na neve. Eu era magro como um palito e tremia de frio. Meu irmão gêmeo, Irv, mais forte, inquieto e vigoroso, olhou para mim, todo encolhido e medroso, e riu. Então ele começou a tirar as camadas de roupa, primeiro as luvas e depois o casaco, o suéter e a camiseta, tudo isso sem parar de rir. Ele dançou e desfilou seminu pela neve, o vento gelado nos castigando. Todos olhávamos com os olhos arregalados, rindo histericamente.
Naquele momento, meu irmão me ensinou algo sobre a escolha da liberdade, manifestando uma coragem que ficou gravada na minha memória. Queremos ser livres mesmo em meio a uma tempestade de neve com vento forte ou sentindo o vento frio da perda, da culpa ou de nossa insegurança coletiva. Queremos nos livrar do medo e da preocupação, sem nos prendermos a julgamentos. Nós podemos. Nós queremos aprender a confiar, a amar, a nos expressar e a ser felizes.
À medida que descobrimos a confiança e a liberdade em nós mesmos, encontramos nosso jeito de compartilhar isso com o mundo. Barbara Wiedner, que criou a organização Grandmothers for Peace (Avós para a Paz), explicou: “Comecei a questionar que tipo de mundo vou deixar para meus netos. Então recebi um sinal e fiquei em pé numa esquina. Depois me juntei a outras pessoas e formamos uma barreira humana diante de uma fábrica de munições. Fui presa, revistada e jogada numa cela. Mas entendi que eles não podiam fazer nada além daquilo. Eu era livre!” Atualmente, a organização de Barbara atua em dezenas de países no mundo todo.
Essa mesma liberdade também está aqui para você. Cada capítulo deste livro é um convite a experimentar uma dimensão especial desse sentimento – começamos no nível pessoal, com liberdade de espírito, liberdade de recomeçar, liberdade de ir além do medo e liberdade de ser você mesmo, e depois descobrimos a liberdade de amar, de defender o que importa e de ser feliz. Há histórias, reflexões e práticas que esclarecem o que aprisiona e como se libertar. Não se trata de um livro que você lê apenas para se sentir melhor por um tempo e depois guarda na estante. Descobrir a liberdade é um processo ativo que envolve inteiramente sua vida, seu intelecto e seu coração. Os meios e o objetivo são um só: ser você mesmo, sonhar, confiar, ter coragem e agir.
Você pode escolher o seu espírito. Liberdade, Amor e Alegria lhe pertencem, fazem parte da sua vida, do seu momento específico. São seu direito inato.
Jack Kornfield
Centro de Meditação Spirit Rock
Primavera de 2017
Liberdade de espírito
O que você planeja fazer com esta vida
fantástica e preciosa?
– MARY OLIVER
Capítulo 1
A imensidão é a nossa casa
Às vezes, quando sou conduzido o tempo todo por
fortes ventos no céu, sinto pena de mim mesmo.
– DITADO OJIBWA
Somos viajantes em uma estrela luminosa, compartilhando a dança da vida com 7 bilhões de seres como nós. A vastidão é a nossa casa.
Quando reconhecemos a imensidão do Universo, que está ao nosso redor e dentro de nós, a porta da liberdade se abre. Preocupações e conflitos são postos em perspectiva, as emoções são controladas com facilidade e agimos com paz e dignidade em meio aos problemas do mundo.
A dança da liberdade
Whitney foi atingida pelos problemas da meia-idade. A cirurgia de quadril de sua mãe foi marcada e seu pai estava no primeiro estágio da doença de Alzheimer. Ela queria que os pais continuassem morando na casa da família, em Illinois, mas as limitações deles tornaram a vida independente um desafio. O irmão de Whitney, que morava em St. Louis, não se envolveu. Queria que a irmã “resolvesse aquilo”. Portanto, Whitney tirou um mês de licença no trabalho e foi para a casa dos pais ajudar. Quando chegou, encontrou uma bagunça total. A mãe tinha uma longa recuperação da cirurgia pela frente e o pai era incapaz de se cuidar sozinho. Eles não podiam pagar pelos serviços de cuidadores em tempo integral e estava claro que teriam que se mudar dali.
Whitney caminhou até uma colina próxima que conhecia desde criança. Ela preferia que os pais ficassem lá até o fim. Mas a verdade é que ela não queria perder os pais. Chorou enquanto caminhava, mas quando chegou ao topo da colina sentou-se em silêncio, acalmou-se e contemplou os vastos campos que se estendiam até o horizonte. Nuvens negras faziam sombra sobre as várias casinhas aglomeradas nas cercanias da cidade e além.
Olhando para essa imensidão, ela subitamente se sentiu solitária. Whitney sabia que tudo tem seu ritmo – chegar e partir, florescer e lutar, surgir e desaparecer. Quantas pessoas, ela se perguntou, passam por situações tão difíceis quanto esta que estamos enfrentando agora? Quando sua respiração se acalmou, sua mente se abriu um pouco mais. Não sou a única pessoa com pais idosos. Faz parte da jornada humana. Conforme o espaço dentro dela se ampliava, Whitney sentiu-se mais confiante.
Todos nós podemos ver as coisas dessa forma. É possível ter uma perspectiva mais ampla. Um coração generoso consegue se lembrar do cenário mais amplo. Mesmo quando a doença se impõe, um familiar está morrendo ou ocorre qualquer outro tipo de perda, podemos reconhecer que isso faz parte de uma fase da vida.
Como seria a sensação de amar todas as coisas – tornar nosso amor maior do que nossas tristezas? Entre as multidões de seres humanos, muitos estão vivenciando perdas e mudanças. Muitos precisam de renovação. Ainda assim, o mundo continua girando, os fazendeiros cultivando alimentos, os mercados negociando, os músicos tocando seus instrumentos. Vivemos em meio a um enorme paradoxo sempre em mutação.
Respire. Relaxe. Viva um dia de cada vez.
Aquele que sabe
Quando seu coração generoso se abre, você pode redescobrir a vasta perspectiva da qual tinha se esquecido. O coração generoso revela a mente generosa. Essa é a mente que faz você enfim sorrir depois de dar uma topada, pular e gritar de dor. A mente que, no dia seguinte a uma briga com seu parceiro, oferece um novo ponto de vista para aquilo que parecia tão importante.
Sua mente generosa é a consciência natural que tudo sabe e tudo acomoda. Meu professor de meditação nas florestas da Tailândia, Ajahn Chah, chamava-a de “Aquela que sabe”. Ele disse que essa é a natureza original da mente, a testemunha silenciosa, a consciência generosa. As instruções são simples: torne-se testemunha de tudo isso, a pessoa com perspectiva, Aquela que sabe.
Preste atenção no filme exibido na sua vida agora. Observe o enredo. Pode ser uma aventura, uma tragédia, um romance, uma novela ou uma batalha. “O mundo inteiro é um palco”, escreveu Shakespeare. Às vezes você está envolvido na trama, mas lembre-se de que você também é o público. Respire. Olhe ao redor. Torne-se testemunha de tudo isso, a pessoa com perspectiva, Aquela que sabe.
Sentei ao lado da cama de uma mulher com câncer no pâncreas em seus últimos dias de vida. Ela tinha apenas 31 anos. Nós nos olhamos e as barreiras simplesmente se desfizeram. Seu corpo magro, seu gênero, suas realizações poéticas, sua família e seus amigos. Fui abençoado por ser uma testemunha de seu espírito. “Como estão as coisas?”, perguntei, com grande ternura. “Parece que esta encarnação vai acabar em breve. Tudo bem. Morrer é natural, você sabe.” O que o olhar profundamente expressivo dela me devolveu foi a imensidão, a ternura e uma liberdade atemporal.
Confie na consciência generosa e sinta a presença do amor. Aquele que sabe se torna a testemunha amorosa de todas as coisas. Você se torna a própria consciência amorosa. A liberdade da consciência amorosa está disponível. Ela só exige treino para que você se lembre dela e confie em sua onipresença. Quando você se sentir perdido, preso em um canto do quadro mais amplo, limitado ou aprisionado, respire fundo e imagine-se dando um passo para trás. Com a mente generosa, você pode testemunhar até esses estados restritos e mantê-los em amorosa consciência.
Relaxe. Com a consciência amorosa, você pode observar seus sentimentos, seus pensamentos, suas circunstâncias. Agora. Mesmo enquanto você lê este livro, observe aquele que está lendo e sorria para ele com a consciência amorosa. Inicie cada manhã com a consciência amorosa. Entre em harmonia com o espaço ao seu redor, com o espaço exterior e com a paisagem ampla que se espalha pelo continente. Sinta a vastidão do céu e do espaço que abriga a Lua, os planetas e as galáxias.
Deixe que sua mente e seu coração se tornem o espaço. Respire em seu coração. Observe as nuvens flutuando no céu infinito e se torne o céu. As nuvens não estão apenas no exterior, elas também flutuam dentro de você. Sinta a natureza, as árvores, as montanhas e os edifícios, tudo desabrochando em seu coração. Abra-se, incorpore-se ao espaço com amor. Relaxe e confie na imensidão que o rodeia, na imensidão que é você. Perceba quão vasta a consciência amorosa pode ser.
Como Aquele que sabe, presencie o que se passa ao seu redor e permita que a consciência amorosa abra espaço para tudo: tédio e excitação, medo e confiança, prazer e dor, nascimento e morte.
Silêncio sagrado
Quando você entra em um bosque sombreado de sequoias gigantes ou em uma grande catedral, uma tranquilidade sagrada se instala. Quando a imensidão se abre dentro de você, é possível sentir um silêncio profundo em seu ser. Você pode ficar nervoso no início e ao mesmo tempo ansiar por isso. Esse é o silêncio que circunda a vida. Confie nele e mantenha-se calmo. Sinta seu coração se abrir e ficar mais vivo. Tudo que surge desse silêncio é apenas uma nuvem no céu imenso, uma onda no oceano. Confie na força do silêncio.
A amplitude é a natureza da consciência. Se você a encarar, descobrirá que a mente é translúcida, vasta e sem limites, que o seu coração é tão amplo quanto o mundo. À medida que você se abre para essa imensidão, pode permitir que as ondas da vida se elevem e passem. Em silêncio, verá o mistério originando a vida, os pensamentos, os sentimentos e as percepções dos sentidos. As ondas do mundo vêm e vão, se expandem e se contraem; o coração bate, o fluido cefalorraquidiano pulsa e há ritmos que mudam de acordo com as fases da Lua, com as estações, com os ciclos do corpo feminino, com as órbitas das galáxias e até com o mercado de ações.
Comece a observar que há intervalos entre as ondas e entre as respirações e os pensamentos. Inicialmente, eles parecem fugazes, mas com o tempo você conseguirá confiar nessas pausas. À medida que as ondas se elevam e quebram, você se torna a própria consciência amorosa silenciosa. Esse silêncio não significa afastamento, indiferença ou punição. Nem ausência de pensamentos. Ele é uma quietude afetuosa, refrescante e generosa por meio da qual você pode aprender, escutar e observar com intensidade.
Consciência amorosa
Observe como a consciência amorosa preenche o tempo e o espaço. É o mistério testemunhando a si próprio. Na consciência amorosa, o rio de pensamentos e imagens flui sem julgamento. Graças a ela, é possível experimentar o fluxo de sentimentos sem temor, sem se render ao seu encanto nem se agarrar a eles com muita força. Satisfação e ansiedade, raiva, gentileza e saudade, mesmo luto e lágrimas são bem-vindos. A consciência amorosa encoraja a alegria de maneira plena e promove o bem-estar.
Quando você se entrega à consciência amorosa, a confiança aumenta. Você acredita que o Universo regula a si próprio e confia em sua consciência para dar conta de tudo. Quando aprendi a nadar, eu era uma criança magrela de 7 anos que agitava os braços e pulava para todo lado. Um dia, quando estava boiando amparado pelo instrutor, ele simplesmente tirou as mãos de baixo de mim e eu percebi que podia flutuar. Foi mágico. Aprendi a nadar. Você pode usar o mesmo processo para aprender a confiar na consciência amorosa. Ela sempre o apoiará.
Para experimentar, tente não estar atento. Conte 30 segundos a partir de agora e pare de prestar atenção em todo tipo de impressão, pensamento, sentimento e assim por diante. Faça um esforço. Mesmo que você feche os olhos e tape os ouvidos, não funciona, não é mesmo? Você não consegue parar de prestar atenção. A consciência está sempre presente.
Como o peixe que não pode ver a água, você não pode ver a consciência, mas pode senti-la e, portanto, confiar nela. A consciência amorosa é acolhedora, aberta, transparente, silenciosa, vasta e sensível como um espelho. É sempre possível retornar a ela e reencontrar seu caráter atemporal, estimulante e compreensivo. A consciência amorosa vê sem possuir. Ela permite, homenageia, conecta e dança com a vida como ela é. Compreende, mas não apreende experiências ou coisas. Como explicou o escritor Steven Wright: “Eu tenho a maior coleção de conchas do mundo. Está guardada em todas as praias do planeta. Talvez você a tenha visto.
Fugindo das hienas
Na crise econômica de 2008, Benjamin, de 64 anos, perdeu mais da metade das economias que tinha reservado para a velhice. Ele e a esposa estavam em melhor situação do que aqueles que tinham hipotecas e perderam suas casas, e sabia disso; no entanto, quase adoeceu de tanta ansiedade. Ele checava o desempenho da bolsa de valores dez vezes por dia. Seus sonhos eram povoados por cenas em que ele se afogava, era caçado por hienas ou se perdia no caminho. Sua família lhe dizia para lutar contra essa obsessão, mas ele não sabia como. Em sua primeira aula de meditação, mal conseguia se sentar e ficar parado. A ansiedade desencadeava sensações físicas difíceis de suportar e sua mente não parava. Deveria sacar o dinheiro das ações que estavam em baixa? Perderia mais ainda se abandonasse um empreendimento imobiliário incerto?
Na segunda aula, propus uma meditação guiada no espaço, convidando a consciência vasta e aberta a envolver o corpo e a mente. Os alunos escutaram os sinos tibetanos na sala, além dos ruídos do tráfego distante e vozes do lado de fora, ouvindo como se a mente deles fosse tão ampla quanto o céu e todos os sons fossem nuvens flutuando nele. Essa experiência proporcionou grande alívio a Benjamin e ele comprou um CD de meditação para praticar em casa. Depois disso, quando pensamentos ansiosos o despertavam no meio da noite, ele sabia o que fazer. Adotando o espaço vasto como mantra, sua obsessão tornou-se menos intensa. Agora ele tinha alguma perspectiva: sabia que poderia proteger o que havia restado de seu dinheiro investindo de maneira mais conservadora. Benjamin também relaxou quanto a sua pretensão de querer controlar o futuro. Livre dos pensamentos obsessivos, conseguiu fazer-se presente no seio da família, como antes.
Mudanças como a de Benjamin são possíveis para todo mundo. Todos nós nos lembramos de momentos em que nos sentimos generosos e calmos. Escutamos melhor, vemos com mais clareza, nos exercitamos com mais perspectiva. Nossa vida interior fica mais nítida graças à consciência generosa. As emoções ruins se esclarecem e sua energia se dissipa. A depressão revela sua mensagem de sofrimento, raiva e necessidades não atendidas. Histórias assustadoras, quando vistas com mais clareza, abrem-se amorosamente à libertação. A liberdade de uma mente e de um coração generosos está sempre disponível. Caminhe nessa direção. Abra-se para a imensidão sempre que puder. Torne-se o céu da consciência amorosa.
Confiar no amor
Generosidade, consciência e amor estão conectados. Frank Ostaseski, um amigo que é um dos fundadores do Zen Hospice de São Francisco, contou certa vez a história de um residente que sentia muita dor e perguntou se aprender a meditar ajudaria. Ele tinha câncer de estômago em estágio terminal. Os dois começaram a meditar levando a atenção afetuosa às sensações físicas.
Na tentativa de se abrir para essas sensações, o residente sentiu uma dor muito intensa e gritou: “Não aguento! Dói, dói, dói demais!” Frank disse a ele que tudo bem, podiam experimentar outro método; então pousou a própria mão suavemente na barriga do homem. “E assim?”, ele perguntou. “Ah, isso dói demais.” Frank tentou aproximar as mãos dos pés do paciente. “Melhorou um pouco”, disse o homem. Frank então afastou as mãos alguns centímetros do corpo do homem e ouviu-o dizer: “Agora está ótimo.”
Não se trata de uma técnica especial de trabalho corporal nem de prática esotérica. Foi apenas uma abertura de espaço. Após alguns minutos, com o rosto mais relaxado, o homem com câncer murmurou: “Ah, confie no amor, confie no amor.” Depois disso, sempre que a dor piorava, ele aumentava a dose de sua bomba de morfina e repetia para si mesmo: “Confie no amor, confie no amor.”
É realmente simples. Seja a dor física ou emocional, é possível transformar tudo que você permitir que seja transformado. Independentemente da situação, amplie o espaço, lembre-se da imensidão, permita o bem-estar e a noção de perspectiva. A generosidade é a porta de entrada para a liberdade. Seu coração generoso é sua verdadeira casa.
Prática
Introdução à consciência generosa
Pense numa situação de sua vida em que você se sentiu mais expansivo, sincero e amoroso. Pode ser uma caminhada nas montanhas, a observação do céu salpicado de estrelas ou o nascimento de um filho. Relembre como é a sensação da consciência generosa em seu corpo e em seu coração. Deixe a mente se aquietar. Lembre-se de como era silencioso, de quão presente você podia estar.
Agora feche os olhos. Sinta a mesma imensidão aqui e agora. Relaxe e se transforme no espaço da consciência amorosa que pode permitir a luz do Sol, as nuvens de tempestade, os relâmpagos, os elogios e as culpas, os ganhos e as perdas, as expansões e as contrações, a palavra recriando a si mesma, tudo com seu coração generoso e pacífico.
Prática
A mente como o céu
Sente-se em uma posição confortável e à vontade. Deixe seu corpo em repouso e respire naturalmente. Feche os olhos. Faça várias inspirações profundas e expire suavemente. Fique em silêncio.
Agora afaste sua consciência da respiração. Escute os sons ao seu redor. Perceba se eles são altos ou delicados, distantes ou próximos. Apenas escute. Perceba como os sons crescem e desaparecem sem deixar vestígio. Escute por um tempo, de maneira aberta e relaxada.
Enquanto você escuta, imagine que a sua mente não se limita à sua cabeça. Sinta que ela está se expandindo para ser como o céu – aberta, clara, vasta como o espaço. Não existe dentro ou fora. Permita que a consciência de sua mente se estenda em todas as direções, como o céu.
Deixe que os sons que você escuta se elevem e atravessem o céu aberto de sua mente. Relaxe nessa imensa abertura e apenas escute. Deixe o som ir e vir, distante e próximo, como as nuvens no céu vasto de sua consciência. Os sons se propagam no céu, surgindo e desaparecendo sem resistência.
Depois, à medida que você passa a confiar nessa consciência sincera, perceba como os pensamentos e as imagens também surgem e desaparecem como as nuvens. Permita que os pensamentos e as imagens cheguem e partam, sem luta ou resistência. Pensamentos agradáveis e desagradáveis, imagens, palavras e sentimentos se movimentam sem restrições no espaço da mente. Problemas, possibilidades, alegrias e tristezas vêm e vão no vasto céu aberto da mente.
Depois de um tempo, deixe essa consciência vasta perceber o corpo. Conscientize-se de como o corpo não é sólido. As sensações de respirar, do corpo flutuar e das mudanças no mesmo céu aberto da consciência. Nela, o corpo pode ser sentido como áreas flutuantes de dureza e de suavidade, de pressão e de formigamento, de calor e de frio, todas surgindo no espaço da consciência da mente. Observe também como a própria respiração se movimenta, como se fosse uma brisa. Deixe todas as experiências serem como nuvens. A respiração se move como quer. As sensações flutuam e mudam. Permita que todos os pensamentos e imagens, sentimentos e sons venham e vão, flutuando no espaço aberto e claro da consciência.
Finalmente, preste atenção na consciência. Perceba como o espaço aberto da consciência é naturalmente claro, transparente, atemporal, sem conflitos, permitindo que todas as coisas existam mas não sejam limitadas por ele. Lembre-se do céu aberto e puro de sua natureza verdadeira. Volte a ela. Confie nela. Ela é a origem.