“Sucesso não é definitivo, fracasso não é fatal.
É a coragem para continuar que conta.”
Winston Churchill
Ao longo dos últimos anos, fui abordada algumas vezes com a proposta para escrever um livro. Nunca levei o assunto adiante, pois me incomodava a ideia de falar sobre mim mesma. Além disso, com o meu ritmo ininterrupto e frenético de trabalho, filhos e vida pessoal para cuidar, não conseguia imaginar como arranjaria tempo para enveredar por essa aventura.
Quando saí da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no fim de maio de 2017, minha intenção era submergir durante o período da quarentena obrigatória de seis meses, sem declarações públicas nem quaisquer manifestações. E assim fiz. Mas, logo nos primeiros dias, a extraordinária jornalista Míriam Leitão, a quem muito admiro como profissional e pessoa, me convidou para o lançamento do livro de seu filho Matheus, que escreveu sobre sua saga para resgatar a história dos pais, jovens idealistas submetidos às arbitrariedades do regime militar.
Durante o período no BNDES, raramente pude comparecer a algum evento e deixei quase inteiramente de lado os compromissos sociais e mesmo os amigos mais próximos por absoluta falta de tempo. Resolvi que iria, sim, ao lançamento. Cheguei muito cedo e tive a oportunidade de conhecer Matheus, que me encantou com sua doçura e profundidade. Quando Míriam chegou, ficamos conversando, parabenizei-a pelo livro de seu filho (que é tocante e um importante registro da época) e ela me saiu com esta: “Agora é você que precisa escrever o seu livro.” Eu reagi: “Mas eu não quero me expor, não ia conseguir escrever um livro falando de mim.” Ela rebateu: “Mas não é um livro para falar de você. É um livro para falar sobre sua carreira e os inúmeros desafios que você enfrentou. Sua trajetória tem muito a ensinar aos jovens.”
As pessoas começaram a chegar, nos afastamos e logo em seguida fui para casa. Mas levei aquelas frases na cabeça. Dias depois mandei uma mensagem para Míriam, perguntando se aceitaria conversar comigo sobre a ideia do livro. Ela topou e tivemos um excelente papo, que me animou a prosseguir. Afinal, eu tinha pela frente um período sem trabalho, inédito na minha vida. Era agora ou nunca.
Resolvi conversar com alguns editores, ouvir a opinião deles. Será que faria sentido escrever um livro sobre minha carreira? Haveria interesse? Para minha surpresa, o retorno foi muito positivo. Me animei e decidi seguir em frente. Marcos da Veiga Pereira, da Editora Sextante, a quem agradeço o entusiasmo e os comentários francos e instigantes, ficou com a missão de coordenar o trabalho. Agradeço também a Virginie Leite, que, com seu olhar sensível, contribuiu muito para que o texto ficasse melhor e mais interessante, bem como à vibrante equipe da editora envolvida no projeto.
Sempre fui muito organizada e o tipo de pessoa que reluta em se desfazer de suas coisas. Ainda bem! Graças a essa característica, desde a minha primeira função executiva, no Ministério da Fazenda, em 1990, venho guardando todos os cadernos onde anoto os pontos fundamentais das reuniões de trabalho. Nem preciso dizer como eles foram importantes para eu conseguir resgatar e relembrar os principais desafios, fracassos e vitórias da minha movimentada vida profissional, que coincidiu com momentos instigantes e importantes do país. Foi absolutamente incrível reler os muitos cadernos, relembrar situações divertidas e também difíceis, minhas reações aos acontecimentos, a evolução da minha forma de trabalhar e as pessoas que cruzaram o meu caminho. Também foi prazeroso constatar como houve pontos de conexão entre todas as experiências, mesmo em posições tão distintas, nos setores público e privado.
Ao mesmo tempo, minha mãe coletava – também de forma organizada e diligente, afinal somos duas capricornianas – o material publicado na imprensa sobre mim desde o início da minha carreira. Eu sempre brincava com ela: “Afinal, para que guardar tudo isso?” Mas ela, impávida, continuava correndo atrás de todas as publicações e, assim, colecionou 27 anos de recortes de jornais e revistas, que desenharam um mosaico das repercussões públicas das funções que ocupei e colocaram em contexto parte significativa do meu trabalho. Agradeço à minha mãe essa valiosa ajuda, que deu cor à narrativa.
Outro fato que conspirou a favor foi que a jornalista Mariza Louven, que exerceu a função de minha assessora de imprensa em praticamente todas as posições que ocupei, também havia saído do BNDES após meu pedido de demissão e estava disponível para me auxiliar nesta empreitada. Ela foi contratada pela Sextante e, sem sua preciosa colaboração, eu não teria conseguido produzir este livro em um espaço de tempo razoavelmente curto. Mariza e eu temos uma longa relação que há muito se transformou em amizade, moldada pela franqueza e respeito mútuo. Temos uma forma parecida de olhar o mundo, ambas gostamos muito de escrever, temos estilos assemelhados e, ainda mais especial, ela conhece praticamente todos os assuntos e pessoas com que lidei ao longo da vida profissional.
Nosso método de trabalho se revelou produtivo e eficaz. Após a leitura dos cadernos de cada etapa profissional, eu organizava os principais tópicos em um roteiro que compartilhava com Mariza. Em seguida, ela me entrevistava longamente sobre aquele período. Após transcrever as entrevistas, me ajudava na elaboração e na revisão dos textos. Foi uma delícia rememorar com ela momentos divertidos e outros nem tanto…
Tive grande preocupação e cuidado em atribuir o mérito das realizações e conquistas a todos aqueles que partilharam comigo esses muitos e profícuos anos. Claro que não fiz nada sozinha. Ao contrário, as pessoas que compuseram minhas equipes e aquelas com quem me relacionei nas diferentes funções foram fundamentais. Sem elas, nada teria acontecido. Não pude citar todas no livro, mas as tenho sempre no meu pensamento e lhes sou muito grata. Da mesma forma, agradeço aos que me abriram portas e ofereceram oportunidades. Aprendi cedo que o acaso desempenha um papel importante em nossa vida, e é necessário estar atento ao momento. Sempre nos deparamos com encruzilhadas e precisamos seguir em frente e tomar decisões, deixando espaço para a intuição, e não somente para a razão. O que é maravilhoso e instigante na vida é que os planos são feitos para serem desfeitos, todo dia é um recomeço e a trama só é tecida por aqueles que a vivem.
Outra motivação para este trabalho foi permitir que meus filhos gêmeos, Catarina e Olavo, conhecessem em mais detalhes minhas peripécias como executiva. Agora já adultos e, portanto, mais capazes de avaliar as realizações e as dificuldades por que passei, curtiram muito ouvir as histórias e ver as fotografias acumuladas durante todos esses anos. Dedico este livro a eles, que são as pessoas mais importantes da minha vida.
Espero que minha trajetória possa servir de inspiração para outros jovens que, assim como eles, têm dúvidas e inquietações sobre sua vocação, o planejamento de sua carreira e os rumos profissionais que devem tomar. Acho que a principal lição que aprendi e gostaria de dividir é que nenhuma decisão é definitiva e não há caminho cujo traçado não possa ser mudado. Para as mulheres, um registro adicional: espero que minha história possa servir de incentivo para que nunca se sintam intimidadas nem desistam de seguir carreiras muitas vezes ainda predominantemente masculinas.
Faço um agradecimento especial às minhas funcionárias praticamente da vida toda, Celia, Márcia e Míriam. Sem elas, que dividem comigo os encargos e responsabilidades da família, eu não teria tido a tranquilidade e a segurança para me dedicar ao trabalho. Por fim, muito obrigada aos que leram os rascunhos do livro, me ajudando a relembrar acontecimentos, evitar equívocos e aperfeiçoar, sem dúvida, o resultado final. Procurei ser fiel aos fatos, narrando-os de forma acurada, mas sem tirar deles as emoções que suscitaram. Senti um enorme prazer ao escrever, foi uma verdadeira viagem no tempo, além do melhor investimento para meu período de quarentena. Fico feliz por ter enveredado pela porta que se abriu naquele dia, no lançamento do livro de Matheus…