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Meu celular, minha vida: uma DR entre você e seu melhor amigo
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Meu celular, minha vida: uma DR entre você e seu melhor amigo

Faz tempo que o celular não é só celular. O celular virou um mundo e virou o mundo de ponta cabeça. No Brasil, há quase 240 milhões de celulares ativos, a maioria deles de  smartphones, e mais da metade já usa a tecnologia 4G – uma diferença colossal para os 32 mil celulares existentes por […]

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Faz tempo que o celular não é só celular. O celular virou um mundo e virou o mundo de ponta cabeça. No Brasil, há quase 240 milhões de celulares ativos, a maioria deles de  smartphones, e mais da metade já usa a tecnologia 4G – uma diferença colossal para os 32 mil celulares existentes por aqui no longínquo ano de 1992.

Dos modelos mais caros aos mais baratos, o aparelho está no centro da vida, vem modificando nosso modo de ser e estar e, há quem acredite, se tornou órgão vital. O aperfeiçoamento técnico desenhado para o futuro, com novas funções e aplicativos sendo testados, permite dizer que o pacto entre você e ele está longe de acabar. Para além das praticidades, o risco da dependência e do esfumaçamento dos encontros reais está em andamento. Antes que a relação desande (se é que já não desandou), que tal uma conversinha sobre ele, hein? Rosana Hermann propõe isso em Celular, doce lar.

Como brinca a jornalista, a nossa história recente poderia mesmo ser dividida entre A/C e D/C, Antes e Depois do Celular.

Calma, o livro não se presta a demonizar esse aparelho tão querido. O bom-humor, a melhor lente para ilustrar as contradições do nosso dia a dia, deixa a DR agradável, embora urgente, e nos lembra que é possível ser feliz nessa nova morada sem sacrificar a vida real.

O cel é o limite?

Ele fotografa, anota, checa, confirma, ilumina, fala, ouve, grava, joga, navega, guia, armazena, lembra, encontra e, claro, liga também. Onipresente e onisciente, ele é o substituto oficial de quase tudo e, em alguns casos, substitui até mesmo uma presença física. Entre você e ele, quem é mesmo o objeto? Se ficou na dúvida, respire e pare, sem pirar.

Para frear a conexão ilimitada com ele, o tal celular, Hermann pede limite: “Limite é o que eu preciso para usar esta dádiva da criação humana chamada celular. Quero usá-lo sempre, mas com sabedoria, a meu favor. Quero impedir que o uso excessivo desse aparelho abençoado me cause outros problemas além dessa dor no pescoço que venho sentindo desde 2007”. O segredo para manter um caso saudável com o celular, ela diz, é não transformar o uso em abuso.

O livro apresenta informações sobre o desenvolvimento da ferramenta, traz depoimentos de nomes como Luciano Huck, Camila Pitanga, Miá Mello e Rafinha Bastos, e dá muitas dicas para você aproveitar os benefícios sem ser corrompido pela tecnologia. Hermann também repassa sua história nas páginas, já que se reconhece na epidemia generalizada em torno do celular, e conta como foi a experiência de ficar alguns dias off-line.

Para se ter ideia, desde 2014 há mais celulares do que seres humanos no planeta. Atualmente, existem 8 bilhões deles e 7,5 bilhões de nós.  Essa é a ponta de uma matemática que nos coloca como números e algoritmos numa rede em que a privacidade é artigo de luxo. “Se você quiser ter uma conversa realmente confidencial em um lugar reservado e levar seu celular com você, não basta desligá-lo. Tire o chip, desconecte o wi-fi e remova a bateria, porque até desligado é possível rastrear a geolocalização de seu telefone”, avisa.

Meu celular, minha vida

A dependência existe e o resultado é que, minutos sem o celular, pode acarretar num sentimento de vazio, incompletude, solidão e por aí vai. Apesar disso, muita gente não percebe a própria fixação naquilo. E aí mora o perigo. O universo de curtidas, corações e interações de toda forma traz consequência para o bem-estar dos olhos, para a qualidade do sono, para a vida, enfim. “Profissionais de saúde mental são unânimes em dizer que, além de o uso abusivo do celular poder causar dependência como qualquer outra droga, há um agravante: ele está sempre ao alcance de nossas mãos, oferecendo o que o nosso cérebro mais deseja: recompensa instantânea, especialmente nas redes virtuais”, reforça Hermann.

Mas eu só penso naquilo…

O importante é encontrar brechas na rotina para você viver sem a presença constante do celular. Seria uma espécie de detox digital, numa busca por relaxamento e equilíbrio, sensações às vezes esgotadas na vida contemporânea, cujo celular é o maior símbolo. “A desconexão, ou a diminuição do tempo de contato com o mundo on-line, pode ser uma oportunidade para desacelerar o cérebro e usar a energia e o tempo que investimos em interações com a tela para outras atividades que nos trazem prazer, felicidade e bem-estar”. A jornalista elenca algumas pequenas grandes ações para esse fim, como cozinhar, correr, nadar, meditar, tricotar e ler um livro (nesse caso, não vale as versões virtuais, né?).

O livro destaca também seis atitudes que podem ajudá-lo nesse novo desmame. A vantagem é que você não é mais um bebê querendo o peito da mãe. Assim espero. 

Vamos resumi-los aqui:

Desligue as notificações: comece desabilitando as notificações automáticas, depois passe para as pessoas, das mais distante para as mais próximas. Isso não significa excluí-las ou deixar de receber as notificações. Você apenas está se dando um tempo, retirando-se da obrigação de responder tudo no exato instante que recebe.

Faça faxina nos seus aplicativos: delete tudo o que você não usa, que não te ajuda e que não te faz feliz.

Fique fora de área: experimente deixar o celular fora do alcance das mãos. Trancado numa gaveta ou no alto da estante. A ideia é dificultar o acesso imediato. Deixei-o por dez minutos, depois por trinta… talvez você consiga ficar um dia inteiro sem ele.

Não vá para cama com ele: às vezes liberar o celular de ser despertador pode ajudar, né?

Use um chiclete de mão: a proposta é substituir a tentação de ter o cel sempre ao alcance dos dedos. Hermann explica: “Alguma coisa física e manuseável para ter na bolsa e que não frustre o ser humano como um minicubo mágico. Resumindo, um chiclete de mão”.

Estabeleça pequenos rituais e desafios: por exemplo, combine com a família fazer uma refeição sem a interferência do celular. O mesmo vale para algum jantar com os amigos: proponha um jogo para ver quem resiste até o final sem pegar naquilo. Para o vencedor, a isenção na conta. Que tal? Será que a economia dobra um dependente de celular?

Este post foi escrito por:

Filipe Isensee

Filipe é jornalista, especialista em jornalismo cultural e mestrando do curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Nasceu em Salvador, foi criado em Belo Horizonte e há oito anos mora no Rio de Janeiro, onde passou pelas redações dos jornais Extra e O Globo. Gosta de escrever: roteiros, dramaturgias, outras prosas e alguns poucos versos estão em seu radar.

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