A terra do meu coração é forte!
Dela germina uma vida descomunal…
Dessas que não permitem que o sabor
dos meus frutos seja roubado pela
crueza do tempo.
A estrada que nela se abre tem caminhos
de flores perfumadas.
Sua grama está intacta, verde e ofegante.
Transpira vida.
Por mais que alguns tenham pisado com passos
rudes em seu solo…
A infância do amor permanece em mim.
APRESENTAÇÃO
Quem de nós não deseja viver um grande amor, desses que nos roubam o chão mas constroem estradas infinitas dentro de nós? Que se alojam como uma música que invade e embala nossos melhores sentimentos?
Quem nunca se imaginou em boa companhia, divertindo-se ao tomar um gostoso café da manhã enquanto o sol teima em ofuscar os olhos inundados de riso?
Quem de nós nunca deu uma espiadinha na mesa ao lado para observar um casal brindando o “simples” fato de estarem juntos e sentiu uma vontade imensa de viver um amor tão leve?
Por outro lado, quem é que, quando pensa no relacionamento que gostaria de ter, imagina cenas desagradáveis, momentos difíceis, brigas e mau humor? Talvez algumas pessoas feridas por relações anteriores até imaginem isso, mas a maioria foca somente na parte boa do amor – e se frustra quando não a encontra.
O livro que está nas suas mãos não lhe apresentará um amor idealizado, inatingível, ilusório e com prazo de validade; pelo contrário, mostrará um amor de verdade, com todas as suas crises, desencontros e dificuldades, mas também com todo o seu fôlego, encantamento, riso, força e beleza!
Entre as linhas e entrelinhas destas páginas compartilharei confidências e segredos sobre os relacionamentos reais, aqueles dos quais pouco se fala.
Sabe aquela conversa de que somente dois seres humanos inteiros são capazes de construir uma relação saudável? Ela termina aqui, neste livro. O motivo? Essas pessoas não existem! Todos, sem exceção, estão em construção, em busca de partes de si mesmos que por algum motivo não se desenvolveram, naufragaram em relacionamentos traumáticos ou ficaram presas entre expectativas utópicas e escravizantes.
Entenda, por mais que lhe doa, que mesmo o ser humano mais incrível do mundo está longe de ser perfeito ou completo. Ainda bem! Afinal, será que existem pessoas mais chatas e entediantes do que aquelas que se julgam perfeitas? Que têm respostas para todas as perguntas, uma palestra para cada assunto, uma catequização para cada deslize ou um olhar feroz supervisionando cada um dos nossos medos?
O amor sustentável é diferente dos demais porque não tem interesse em consertar nada nem ninguém. Ele não é construído por pessoas que querem acertar o tempo todo, mas por seres humanos que desejam crescer todos os dias, que veem na sua incompletude e na do parceiro uma porta aberta para a novidade, pois sabem que o amor se nutre dos sentimentos inesperados e das trocas criativas.
O amor sustentável resgata nossa criança interior do primeiro dia de aula, aquela que morria de medo de se separar da mãe ou do pai, chorava ao largar as mãos dos avós, mas tinha o coração pulando no peito, cheia de curiosidade para ver o que havia do outro lado do portão da escola.
Viver um amor verdadeiro é isso: adentrar o portal do desconhecido sem ideias preconcebidas ou garantias do que encontraremos, mas com os olhos abertos e famintos por tudo o que nos será apresentado. Assim como acontece na escola, esse sentimento se torna melhor à medida que vamos aprendendo as novas matérias.
Não devemos esquecer que o agente principal nessa jornada são os recursos emocionais que desenvolvemos. Pense comigo: não basta o aluno aprender física ou português; ele precisa se sociabilizar, lidar com a própria ansiedade nos dias de prova, se empenhar diante dos conteúdos mais complexos, falar na frente da turma, persistir nos momentos frustrantes.
O amor sustentável é diferente dos demais porque
não tem interesse em consertar nada nem ninguém.
Da mesma forma, se você deseja viver uma história de amor verídica e construtiva, primeiro terá que desenvolver seus recursos internos, identificar o que lhe faz bem e o que precisa ser mudado, trabalhar arduamente para construir uma autoestima sólida e ter a certeza de que, mesmo portando todas essas ferramentas psicológicas, haverá dias em que se sentirá fraco, temeroso, incompetente e pouco digno de afeto. E isso é bom! Acredite. Graças a essas percepções acerca dos próprios dias sombrios, você terá condições de acolher a vulnerabilidade do seu parceiro e poderá fazer uma gostosa limonada (ou até mesmo uma torta de limão!) com os momentos ácidos de vocês.
Agora, o que é insustentável são as ilusões criadas por histórias que terminam com a frase “foram felizes para sempre”. Essa fantasia mina o crescimento emocional de muita gente. Os autores que concluem uma narrativa dessa forma podem entender de muitos assuntos, mas não de amor. O relacionamento entre duas pessoas tem sua sentença de morte decretada quando elas passam a acreditar que são tudo uma para outra e que seu amor será eterno.
O ser humano tem tratado o planeta dessa forma, acreditando que os recursos naturais estarão disponíveis para sempre. Isso tem dado certo? Óbvio que não. Corremos o sério risco de ficar sem água, alimento e fontes de energia. O amor também não é um recurso infinito e autossustentável. Ele precisa ser protegido, nutrido, cuidado e reinventado.
Como psicanalista, percebo que a grande maioria das pessoas inicia seus relacionamentos com as melhores intenções, mas muitas desistem das relações por pura inabilidade emocional. Elas não percebem que a qualidade do amor não depende do sentimento em si, mas delas mesmas.
Somos nós, seres humanos, que carregamos recursos infinitos. Quando aprendemos a acessá-los e encontramos alguém disposto a dividir conosco todo esse potencial afetivo (permitindo que façamos o mesmo por ele), construímos um amor sustentável. Daí surgirá um relacionamento que não se contentará com a ideia de um final feliz, mas desejará viver intensamente cada parte do caminho, cada passo no solo sagrado da convivência.
Esse relacionamento se tornará uma lenda sobre a coragem de dois parceiros que compartilharam suas fragilidades e as transformaram em um amor de verdade. Que souberam transformar os outonos dos desencontros em primaveras de recomeço, e os invernos das dificuldades em verões de cumplicidade. Essa saga invencível correrá de boca em boca, inspirando outros amores a se tornarem sustentáveis.
Mas, antes, você precisa aprender a escrever a sua própria história. Vamos a ela!