Uma breve introdução à Comunicação Não Violenta
A Comunicação Não Violenta (CNV) é um poderoso modelo
de comunicação, mas vai muito além disso. É um modo de ser, de pensar e de viver. Seu propósito é inspirar conexões sinceras entre as pessoas de maneira que as necessidades de todos sejam atendidas por meio da doação compassiva. Ela nos inspira a nos doarmos de coração. E também nos ajuda a nos conectarmos à nossa divindade interior e ao que existe de mais vivo dentro de nós.
Podemos dizer que a CNV é o idioma da compaixão, mas, na verdade, ela é uma linguagem da vida na qual a compaixão surge naturalmente. Este modelo nos ensina a expressar o que está vivo em nós e a enxergar o que está vivo nos outros. Quando compreendemos o que está vivo em nós, podemos descobrir o que fazer para enriquecer essa vida.
A Comunicação Não Violenta se desenvolveu a partir do meu interesse pessoal em duas questões. Primeiro, queria entender melhor o que há nos seres humanos que leva alguns de nós a nos comportarmos de forma violenta e abusiva. Depois, queria entender melhor que tipo de educação é útil às nossas tentativas de permanecermos compassivos – que acredito ser a nossa natureza – mesmo quando os outros se comportam de forma violenta ou exploradora. A teoria que prevaleceu por muitos séculos defendia que a violência e a exploração acontecem porque as pessoas são, em essência, más, egoístas ou violentas. Mas já vi gente que não é assim; já vi muita gente que gosta de contribuir para o bem-estar dos outros. Então me perguntei: Por que algumas pessoas parecem gostar de ver o sofrimento dos outros, enquanto outras parecem ser justamente o contrário?
Em minha análise dessas duas questões, descobri que três fatores são muito importantes para entendermos por que, em situações similares, alguns de nós reagem com violência e outros reagem com compaixão:
- A linguagem que fomos ensinados a usar.
- Como nos ensinaram a pensar e a nos comunicarmos.
- As estratégias específicas que aprendemos para influenciar os outros e a nós mesmos.
Como esses três fatores têm um papel importante para determinar se reagimos diante das situações com compaixão ou violência, desenvolvi esse processo que chamo de Comunicação Não Violenta (CNV) integrando o tipo de linguagem, o tipo de pensamento e as formas de comunicação que influenciam nossa capacidade de contribuir voluntariamente para o bem-estar dos outros e de nós mesmos.
O processo da CNV mostra como expressar sem disfarces quem somos e o que está vivo dentro de nós – sem qualquer crítica ou análise externa que insinue que o que sentimos está errado. O processo se baseia na suposição de que qualquer coisa que os outros ouçam de nós que soe como uma análise ou crítica (ou que leve a um erro de interpretação por parte deles) nos impede de estabelecer a conexão que nos permite contribuir voluntariamente para o bem-estar uns dos outros. Essa abordagem da comunicação enfatiza que a motivação para agir é a compaixão – e não o medo, a culpa, a vergonha, a censura, a coerção ou a ameaça de punição. Em outras palavras, trata-se de conseguir o que queremos por meios que não nos deixem arrependidos depois. Parte do processo é dizer com clareza o que está vivo em nós – sem análise ou crítica e sem colocar a culpa no outro. Outra parte é dizer com clareza o que tornaria a vida melhor para nós, apresentando essa informação aos outros como um pedido, não como uma exigência.
A Comunicação Não Violenta se concentra em como as necessidades dos outros estão sendo atendidas e, caso não estejam, no que pode ser feito nesse sentido. (Veja os quadros “Alguns sentimentos básicos comuns a todos nós” e “Algumas necessidades básicas comuns a todos nós”.) Por um lado, a CNV nos mostra como devemos nos expressar de modo a aumentar as chances de que os outros contribuam voluntariamente para o nosso bem-estar. E, por outro, nos mostra como receber a mensagem dos outros de maneira a aumentar as nossas chances de contribuir voluntariamente para o bem-estar deles.
Espero que o conteúdo deste livro o ajude a se comunicar com os outros através dessa linguagem da vida e lhe mostre como ouvir essa mesma qualidade de comunicação na mensagem deles, qualquer que seja o modo como falem.