Introdução
Durante 12 anos (de 1981 a 1993) fui nora de Warren Buffett, o mais bem-sucedido investidor do mundo e agora um dos maiores filantropos.
Logo depois que me casei com o filho de Warren, Peter, e bem antes de a maior parte do mundo fora de Wall Street ter ouvido falar de Warren, visitei a casa da família em Omaha. Ali, conheci um pequeno grupo de estudiosos dedicados à sabedoria do grande investidor. Eles se autodenominavam buffettologistas. Um dos buffettologistas, David Clark, mantinha cadernos repletos de anotações – minuciosas e de leitura fascinante – sobre a sabedoria de Warren nos investimentos. Com base nos cadernos de David, ele e eu desenvolvemos mais tarde os livros sobre investimentos Buffettology, The New Buffettology e The Buffettology Workbook.
De todos os cadernos de David, meu favorito era o que continha muitos dos aforismos mais profundos de Warren, divertidíssimos de ler porque realmente instigavam a pensar. Como eu viria a descobrir mais tarde, para os buffettologistas esses aforismos se comparavam aos ensinamentos de um mestre taoista, no sentido de que quanto mais o estudioso os contempla, mais eles revelam.
Com o tempo, também passei a colecionar aforismos com que Warren nos brindava, fosse em momentos íntimos com a família ou em reuniões sociais que incluíam muitos luminares dos negócios. Nessas reuniões, Warren às vezes tomava a palavra e respondia às perguntas à maneira de um mestre, recompensando com sua grande sabedoria a paciência dos discípulos.
Quanto mais ouvia Warren, mais eu aprendia, não apenas sobre investimentos, mas também sobre negócios e a vida. Seus aforismos permanecem na nossa memória. Muitas vezes me vejo citando-os para defender um argumento ou pensando neles para me precaver de cometer um erro, como ser arrebatada pelo entusiasmo desenfreado de um mercado em alta. Eles me ensinaram até mesmo em que tipo de empresa devo me concentrar e qual o melhor momento de investir nela.
Mantendo-nos dentro do espírito taoista que cerca os ensinamentos de Warren, David e eu achamos que seria interessante criar O Tao de Warren Buffett, preenchendo-o com o que julgamos serem os aforismos mais sábios de Warren sobre investimentos, gestão de negócios, escolha de carreira e sucesso na vida. Essas palavras têm sido para nós amigas verdadeiras ao longo dos anos em que trilhamos nossos caminhos pelos negócios, não apenas na busca dos melhores investimentos mas de forma geral. Acrescentamos nossas interpretações de buffettologistas para ajudar a proporcionar um contexto e abrir a porta para uma exploração adicional dos sentidos mais recônditos e sutis dos aforismos.
Espero que este livro enriqueça seu mundo, tornando-o um lugar mais rentável e agradável para investir, trabalhar e viver.
— Mary Buffett
julho de 2006
Ficar e permanecer rico
1
Regra no_ 1: Nunca perca dinheiro.
Regra no_ 2: Nunca esqueça a regra no_ 1.
O grande segredo para ficar rico é fazer o dinheiro render para você, e quanto maior o montante inicial, melhor o rendimento. Um exemplo: US$ 100.000 rendendo juros compostos de 15% por 20 anos chegarão a US$ 1.636.653 no 20º ano, o que dá um lucro de US$ 1.536.653. Mas digamos que você tenha perdido US$ 90.000 do capital inicial antes mesmo de começar e só conseguiu investir US$ 10.000. Seu investimento chegaria então a apenas US$ 163.665 em 20 anos, com um lucro de US$ 153.665. Uma cifra bem menor. Quanto maior o montante de dinheiro perdido, maior o impacto na sua capacidade de ganhar dinheiro no futuro. Isso é algo que Warren nunca esqueceu. E era por isso que ele continuava dirigindo um velho Fusca muito tempo depois de se tornar milionário.
2
Fiz meu primeiro investimento aos 11 anos. Eu vinha desperdiçando a minha vida até então.
É bom descobrir sua vocação bem cedo na vida, e no campo dos investimentos isso proporciona oportunidades inigualáveis de pôr em ação a magia dos rendimentos financeiros compostos. A hora de correr riscos é quando se é jovem, com muito tempo pela frente para lucrar com decisões sensatas.
As ações que Warren comprou aos 11 anos eram de uma companhia petrolífera chamada City Services. Ele comprou três ações a US$ 38 cada uma, apenas para vê-las cair para US$ 27. Não se desesperou e, depois que elas se recuperaram, vendeu-as a US$ 40 por ação. Pouco depois, o valor de cada ação disparou para US$ 200 e ele aprendeu sua primeira lição em investimentos: paciência. Boas coisas acontecem para quem espera – desde que você escolha a ação certa.
3
Nunca tenha medo de pedir de mais ao vender e oferecer de menos ao comprar.
Warren entende que as pessoas se sintam constrangidas quando pedem um valor alto demais ao vender ou oferecem um valor baixo demais ao comprar. Ninguém quer ser visto como ganancioso ou mesquinho. Em termos simples, no mundo dos negócios, a quantia que você obtém com uma venda ou que você tem de pagar ao fazer uma compra determina se você ganha ou perde dinheiro e quão rico acaba se tornando. Uma vez iniciadas as negociações, você pode reduzir o preço de venda ou aumentar o preço de compra. Mas é impossível fazer o contrário.
Warren recusou muitos negócios por não satisfazerem seu critério de preço. Talvez o exemplo mais famoso seja a compra da ABC em parceria com a Capital Cities. Warren queria, pelo valor que estava disposto a oferecer, um quinhão maior da empresa do que a Capital Cities estava disposta a conceder – de modo que ele virou as costas e desistiu do negócio. No dia seguinte, a Capital Cities voltou atrás e ofereceu-lhe o que ele queria. Peça e talvez você receba, mas se não pedir…
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Não é possível fazer um bom negócio com uma pessoa ruim.
Uma pessoa ruim é uma pessoa ruim, e uma pessoa ruim nunca o tratará como você merece. O mundo tem pessoas boas e honestas em número suficiente para que fazer negócios com as desonestas seja pura tolice. Se você se pergunta “Devo confiar nessa pessoa?”, melhor abandonar a mesa de negociações e procurar outra companhia mais honesta para fazer negócios. Assim como você não quer ter dúvida sobre a abertura de seu paraquedas quando for se atirar do avião, também não quer duvidar da integridade da pessoa com quem vai se atirar num negócio. Se já não pode confiar nela agora, poderá menos ainda no futuro. Melhor não confiar nunca nesse tipo de gente.
Warren aprendeu essa lição ao participar da diretoria da Salomon Brothers. Contrariando os conselhos de Warren, os banqueiros de investimentos da Salomon continuaram fazendo negócios com o magnata da mídia Robert Maxwell, cujas finanças, de tão precárias, lhe valeram o apelido de Bouncing Czech. Após a morte prematura de Maxwell, a Salomon se viu em maus lençóis para recuperar seu dinheiro.
A regra é simples: as pessoas íntegras estão predispostas a agir bem; as pessoas sem integridade estão predispostas a agir mal. Melhor não confundir os dois tipos.
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As grandes fortunas pessoais neste país não foram construídas com base numa carteira de 50 empresas. Foram construídas por alguém que identificou um negócio maravilhoso.
Se você fizer uma pesquisa sobre as famílias super-ricas dos Estados Unidos, constatará que, quase sem exceção, elas construíram sua fortuna sobre um só negócio excepcional. A família Hearst ganhou seu dinheiro no jornalismo; a família Walton, no varejo; a família Wrigley, com gomas de mascar; a família Mars, com doces; a família Gates, com software; e as famílias Coors e Busch, com cerveja. A lista não para e, quase sem exceção, sempre que se desviaram daquele negócio maravilhoso que as fez espantosamente ricas, elas acabaram perdendo dinheiro – como quando a Coca-Cola se aventurou no ramo cinematográfico.
A chave do sucesso de Warren é que ele foi capaz de identificar quais são as características econômicas exatas de um negócio maravilhoso: uma empresa com vantagem competitiva duradoura e que esteja gravada na mente do consumidor. Quando um americano pensa em goma de mascar, pensa na Wrigley; quando pensa em loja de descontos, pensa na Walmart; e quando pensa numa cerveja gelada, pensa na Coors ou na Budweiser. Essa posição privilegiada cria o poderio econômico. Warren aprendeu que, às vezes, a miopia do mercado de ações subestima grosseiramente essas empresas maravilhosas, e, quando isso acontece, ele entra em cena e compra o máximo de ações que pode. A empresa de Warren, a Berkshire Hathaway, é uma coleção de alguns dos melhores negócios dos Estados Unidos, todos eles super-rentáveis e comprados quando Wall Street os ignorava.
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Depois de assinar um contrato, não dá para voltar atrás; portanto, pense em tudo antes de assinar.
Warren aprendeu que, uma vez assinado, o negócio está fechado. Não é possível voltar atrás e repensar se foi um bom ou um mau negócio. Portanto, pense bem antes de assinar. É mais fácil falar do que fazer, pois, uma vez com aquele papel diante de seus olhos, a racionalidade pode ser sacrificada pela ânsia de fechar o negócio. Antes de assinar um contrato, imagine todas as coisas que podem dar errado – porque muitas vezes elas dão mesmo. O caminho das boas intenções está repleto de obstáculos que eram previsíveis. Pensar longa e profundamente antes de dar o salto o poupará de ter de pensar longa e profundamente em todos os problemas que acabou de comprar.
Warren esqueceu de incluir uma cláusula de não concorrência no contrato com Rose Blumkin, de 89 anos, ao comprar sua loja de móveis em Omaha, a Nebraska Furniture Mart (NFM). Alguns anos depois, a Sra. Blumkin aborreceu-se com a maneira como os negócios vinham sendo conduzidos na loja, de modo que saiu e abriu uma loja nova do outro lado da rua – roubando um monte de clientes da NFM. Após alguns anos de concorrência acirrada, Warren cedeu e concordou em comprar a loja nova por US$ 5 milhões. Na segunda vez, ele a fez assinar um acordo de não concorrência, e ainda bem que fez isso, pois ela continuou no ramo até os 103 anos.
7
É mais fácil evitar problemas do que resolvê-los.
É bem mais fácil evitar a tentação de infringir a lei para ganhar dinheiro fácil do que lidar com as consequências se você for pego. Para evitar problemas, basta fazer o que é certo na hora certa. Para resolvê-los, você precisa de muito dinheiro, muitos advogados e mesmo assim poderá acabar cumprindo pena por muito tempo.
Warren aprendeu essa lição quando quase perdeu todo o seu investimento de US$ 700 milhões na empresa Salomon Brothers de Wall Street. O Federal Reserve Bank (Fed) por pouco não fechou a empresa inteira por suas atividades ilegais de negociação de títulos – praticadas por um corretor que queria ganhar uma bolada fácil. Quanto custou se livrar do problema? Custou os empregos de muitos dos principais corretores da empresa, o emprego de seu presidente e CEO e milhões em honorários advocatícios, multas, processos e negócios perdidos. Teria sido bem mais fácil, e mais rentável, evitar os problemas.
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Invista como um católico se casa: para o resto da vida.
Warren sabe que, se você encara uma decisão de investimento da perspectiva de que nunca poderá desfazê-la, com certeza fará o dever de casa antes de se lançar de cabeça. Você não se atiraria a um casamento sem antes fazer sua pesquisa (namorar), discuti-lo com seus conselheiros (os amigos no bar) e pensar longa e profundamente a respeito, não é mesmo? Tampouco deve se atirar a um investimento sem saber muito sobre a empresa e ter certeza de que a compreende. Mas é o fator vitalício que realmente faz dinheiro. Veja este caso: em 1973, Warren investiu US$ 11 milhões na Washington Post Company e continuou casado com esse investimento até 2014. Nesses 40 anos em que foi fiel a ele, seu valor cresceu para mais de US$ 1 bilhão. A convicção de manter o rumo pode trazer recompensas celestiais, contanto que você tenha escolhido o rumo certo.
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Wall Street é o único lugar para onde as pessoas vão de Rolls-Royce pedir conselhos a quem pega o metrô.
Warren sempre achou estranho que homens de negócios extremamente bem-sucedidos e inteligentes, que dedicaram suas vidas a ganhar montanhas de dinheiro, peçam conselhos sobre investimentos a corretores de ações pobres demais para seguir seus próprios conselhos. E, se seus conselhos são tão bons, por que não são todos ricos? Será porque as comissões que você paga são bem melhores do que os conselhos que eles dão? Cuidado com pessoas que precisam usar seu dinheiro para tornar você rico, especialmente se quanto mais venderem para você, mais dinheiro ganharão. Muitas vezes o objetivo delas é usar o seu dinheiro para enriquecer. E se perderem o seu dinheiro? Bem, elas simplesmente sairão em busca de outra pessoa à qual vender seus conselhos.
Warren desconfia tanto da lealdade de Wall Street que se recusa até a examinar as projeções de negócios realizadas por seus analistas, porque, qualquer que seja a natureza do negócio, as projeções são sempre otimistas demais.
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A felicidade não traz dinheiro.
Warren nunca confundiu ser rico com ser feliz. Estamos falando de um sujeito que continua saindo com as mesmas pessoas do tempo do colégio e continua morando no mesmo bairro onde cresceu. O dinheiro não mudou quem ele é num nível fundamental. Quando estudantes lhe pedem que defina sucesso, ele diz que é ser amado por quem você quer que o ame. Você pode ser o homem mais rico do mundo, mas, sem o amor da família e dos amigos, seria também o mais pobre.