Best-seller mundial analisa o impacto das experiências traumáticas na vida das pessoas, avalia seus efeitos devastadores no cérebro humano e aponta os principais tratamentos para a cura
Best-seller mundial analisa o impacto das experiências traumáticas na vida das pessoas, avalia seus efeitos devastadores no cérebro humano e aponta os principais tratamentos para a cura
Viver é sempre um risco e ninguém está livre da experiência da dor. Sabemos também que a dor transforma e, quando extremada, traumatiza e aprisiona. Não é necessário ter enfrentado uma guerra ou vivenciado um campo de refugiados do Oriente Médio ou da África para se ver diante do trauma. Ele pode ser bem mais silencioso e, ainda assim, profundamente prejudicial para a vida das pessoas. Os dados sobre o tema são alarmantes.
Pesquisas de Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos já mostraram que um entre cinco americanos sofreu abuso sexual na infância, um entre quatro foi vítima de violência física de um dos pais e a mesma violência é uma triste realidade de um em cada três casais. Um quarto dos americanos cresceu junto de parentes com problemas de alcoolismo e um entre oito viu a mãe ser espancada ou agredida. Aqui no Brasil, a realidade, infelizmente, não difere muito da norte-americana.
É sobre esse mundo de sofrimento e penumbra que escreve em O corpo guarda as marcas: Cérebro, mente e corpo na cura do trauma o conceituado psiquiatra Bessel van der Kolk, fundador e diretor do Trauma Center em Brookline, Massachusetts. O autor é um dos principais especialistas em trauma no mundo e dedicou mais de três décadas trabalhando com pessoas que tiveram a vida transformada pela experiência traumática.
No livro, um fenômeno editorial em diversos países, Van der Kolk detalha os avanços científicos das últimas décadas e fornece explicações que incluem análises clínicas e passam pelas descobertas mais recentes do funcionamento neural até as metodologias bem-sucedidas para superar os efeitos do trauma. Ao apresentar abordagens terapêuticas contemporâneas, o psiquiatra esmiúça os tratamentos mais inovadores, que vão de neurofeedback e meditação a esportes, teatro e ioga. O objetivo principal é devolver aos pacientes a capacidade de sentir prazer, engajamento e autoconfiança.
O autor destaca que o primeiro fato importante sobre o assunto é permitir que os indivíduos possam falar abertamente sobre o que viveram, mas nada disso é simples, porque há muitos sentimentos difíceis envolvidos, como a culpa, a vergonha e o horror, além da inércia e do isolamento provocados pela dor paralisante.
“Chama muita atenção em meus estudos como o trauma é vivenciado e, logo, ocultado. As pessoas que o vivenciaram desejam esquecê-lo e a sociedade, como um todo, não quer lidar com o assunto”, avalia Van der Kolk.
O trauma modifica o cérebro humano e transforma a percepção da vítima sobre si
Uma das descobertas fundamentais nas pesquisas realizadas sobre os efeitos do trauma é como ele altera o funcionamento do cérebro humano e não se resume apenas a episódios do passado. Muito pelo contrário: os danos se perpetuam no presente e inviabilizam o futuro. Os pacientes passam a enxergar a vida de outra forma, como se tivessem a vista permanentemente embaçada ou atravessassem um eterno inverno, e perdem a confiança na vida e em si.
“Um dos grandes desafios do tratamento é, justamente, ajudar as vítimas a recuperarem o sentimento de estar plenamente vivo, possibilitando, assim, um verdadeiro processo de desintoxicação do impacto traumático”, aponta o autor.
Os métodos para obter a cura são múltiplos e podem ser aplicados conjuntamente. A linguagem e a elaboração da dor pela fala são, sem dúvida, fundamentais, mas há também terapias que buscam a recuperação por meio do trabalho corporal. Aliás, são recorrentes os sintomas que se manifestam no corpo das vítimas, que acabam recorrendo ao álcool e às drogas para lidar com terríveis sensações corpóreas.
Com este livro, Bessel van der Kolk desenvolveu uma obra completa e atual sobre um tema urgente, um guia e um convite para enfrentar a realidade do trauma, explorar a melhor forma de tratá-lo e, como sociedade, empregar todos os meios disponíveis para evitá-lo.