Livro traça um panorama sobre como a empatia define as relações. Além de compreender sua importância, saiba como impedir que ela esgote sua saúde mental
Palavra cada vez mais ressoada, escrita, dita e debatida, a empatia está em manchetes, estampas, stories, posts, tweets, capas e afins, mas não necessariamente encontra correspondência em ações do dia a dia. A abundância de citações contrasta com a escassez de gestos confirmadores. Seria isso só uma sensação? Fato é que ela é um potente agregador, um instrumento de sensibilidade e delicadeza, cujo efeito contagia relações de todos os tipos, em casa e no trabalho. O livro “Empatia”, que faz parte da Coleção Inteligência Emocional da Harvard Business Review, apresenta uma múltipla troca de ideias em torno do tema a partir de dez artigos que mostram sua importância nos negócios e apontam os limites de seu alcance. Como em outros títulos do selo, o recorte no mundo organizacional não impede o leitor de traçar paralelos para além de sua vida profissional, o que é sempre bem-vindo.
Três tipos de empatia
No texto de abertura, Daniel Goleman explica que a empatia pode ser compreendida em três perspectivas: empatia cognitiva (a habilidade de entender o ponto de vista de outra pessoa), empatia emocional (a habilidade de sentir o que outra pessoa sente) e o interesse empático (a habilidade de perceber o que outra pessoa quer de você). Nos três casos, a nossa relação com o outro é testada. Um dos desafios derivados da empatia é saber administrar nosso sofrimento sem ignorar a dor do outro. Para o autor, embora seja um sentimento nobre, o controle da empatia permite tomar decisões sem ser ameaçado pela enxurrada emocional vinda de outra pessoa. Ainda assim, há uma ressalva: “Aqueles que se protegem anestesiando seus sentimentos correm o risco de perder o contato com a empatia”. Qual é esse equilíbrio? É uma boa questão para se pensar.
Poder e empatia
Entrando mais no mundo dos negócios, Annie McKee reforça com a empatia pode ser proveitosa para os líderes conseguirem extrair o melhor de sua equipe em reuniões. Para a autora, ao lado do autocontrole emocional, a empatia é alavanca certeira para tornar a colaboração mais efetiva, especialmente porque permite que você leia as pessoas e tenha uma visão mais ampla da rede de relações – quem apoia quem e quem resiste às ideias de quem, por exemplo. “Ler atentamente as pessoas também o ajudará a entender os principais conflitos do grupo, muitas vezes ocultos”, explica McKee, que acrescenta: “A empatia permite que você identifique e gerencie essas dinâmicas de poder”. A capacidade vai influenciar diretamente na liderança de uma reunião e ajuda a entender como as pessoas estão respondendo a você, se estão aderindo ou não aos seus comandos. O autocontrole emocional, por sua vez, funciona como um contrapeso e permite que você exerça liderança e estimule o grupo a realizar as tarefas.
A relação entre empatia e poder também é debatida no texto de Lou Solomon. Apoiada por pesquisas da área, a autora afirma que os polos são inversamente proporcionais: quanto maior o poder, menor a empatia. “O que os líderes podem fazer a fim de evitarem cruzar a linha do poder para o abuso de poder? Primeiro, devem envolver outras pessoas. É preciso estar disposto a ser vulnerável e pedir feedback”, sustenta. Ela propõe dez perguntas que líderes devem se fazer para calibrar a balança entre poder e empatia, entre as quais: Você exige privilégios?, Admite seus erros? e Diz a si mesmo que há exceções ou regras diferentes para pessoas como você? Solomon endossa que empatia, autenticidade e generosidade são o que caracterizam competência e grandeza. “Os líderes mais autoconscientes reconhecem os sinais de abuso de poder e corrigem a rota antes que seja tarde demais”, completa.
Qual é o limite da empatia?
Adam Waytz volta à questão ao ressaltar como a empatia também pode ser exaustiva. Numa revisão das habilidades relacionadas à empatia, podemos destacar que ela ajuda a influenciar outras pessoas, a antecipar preocupações das partes interessadas, a responder aos seguidores das redes sociais e, como já dito, até mesmo conduzir reuniões melhores. Esse combo de utilidades, contudo, pode ser considerado intenso demais, e é aí que mora o perigo. De acordo com Waytz, se não for bem dosada, a empatia pode esgotar nossos recursos mentais. “Empregos que exigem empatia constante podem levar à ‘fadiga da compaixão’, uma incapacidade aguda de sentir empatia que é impulsionada pelo estresse e pelo burnout, uma versão mais gradual e crônica desse fenômeno”, alerta o autor, indicando que os profissionais da saúde e do serviço social (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, carcereiros) são os que correm mais risco de sofrer com essa condição.
Waytz também chama a atenção para o fato de que a empatia pode comprometer uma avaliação ética. Segundo ele, a empatia em relação aos colegas de trabalho pode inibir a denúncia de irregularidades, por exemplo. “Ao fazermos um esforço concentrado para ver e sentir as coisas da mesma forma que aqueles mais próximos de nós, podemos assumir seus interesses como nossos. Isso pode nos tornar mais dispostos a ignorar transgressões ou fazer com que nós mesmos nos comportemos mal”, salienta.