Autor: Filipe Isensee
“Oportunidades disfarçadas 2”: devemos procurar os problemas e não fugir deles
Você sabia que Netflix e Uber foram criados por clientes insatisfeitos com serviços semelhantes? Livro recupera quase 200 casos de empresas que transformaram problemas em sucesso
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Você sabia que Netflix e Uber foram criados por clientes insatisfeitos com serviços semelhantes? Livro recupera quase 200 casos de empresas que transformaram problemas em sucesso
O limão na capa de “Oportunidades disfarçadas 2” serve para nos lembrar daquele velho ditado: se a vida te der limões, faça uma limonada. É mesmo esse o tema do novo livro de Carlos Domingos, que resgata histórias de pessoas e empresas que transformaram problemas em pontes de crescimento. Como fez no primeiro volume, lançado em 2009, o empresário lembra novamente que toda crise guarda em si a semente de uma revolução possível. Como encontrá-la? Como explorá-la? Como fazer brotar dela uma transformação verdadeira? Nada melhor que o aprendizado de outros grupos e organizações para inspirar o leitor no processo que substitui obstáculo por sucesso. Nesse cenário, competitividade é bom e criatividade, essencial. A junção desses valores é capaz de elevar o patamar de qualquer negócio.
O livro reúne quase 200 histórias de reinvenções, algumas envolvendo empresas que fazem parte do dia a dia de milhões de pessoas pelo mundo, como Netflix, IBM e Uber; há também aquelas restritas à comunidades menores, exemplos extraordinários de mudanças significativas locais. Como o nome aponta, “Oportunidades disfarçadas 2” estimula um olhar renovado para os problemas e comprova a possibilidade de revertê-los ao destrinchar cases dos mais diversos.
“Nos dias atuais, devemos procurar os problemas, e não fugir deles. Só quem for capaz de resolver conflitos, preencher lacunas, propor soluções criativas para situações complexas e fazer mais com menos terá lugar assegurado nesta nova realidade”, assegura Domingos sobre o modo de pensar que impulsa o funcionamento de negócios de sucesso pelo mundo todo.
Como nascem as estrelas
Já num dos primeiros capítulos, o empresário recupera a história por trás da criação da Netflix, a gigante do serviço de streaming. Após pagar uma multa alta devido ao atraso na devolução de um filme na rede Blockbuster, Reed Hastings percebeu que o modelo de negócio das academias (pagar um valor fixo para usar à vontade) era muito mais interessante e poderia ser aplicado às locadoras. Sim, a Netflix nasceu como um serviço alternativo de aluguel de filmes, no qual o cliente podia ficar mais tempo com os títulos, não precisava ir à loja para retirá-los ou entregá-los e todo o processo era feito pelo correio ou pela internet. Os sócios o aprimoraram a partir das possibilidades tecnológicas. Assim, a Netflix se consolidou como a número um entre os serviços de streaming, posto que já está sendo atacado pela entrada de outros gigantes de olho na robusta fatia que a empresa domina. Quem ganha com a concorrência, claro, é o consumidor.
Da mesma forma, foi a insatisfação com o serviço de táxi convencional que levou a criação do Uber. “O processo de viabilização do negócio foi tão desgastante, custoso e desafiador que empreendedores menos persistentes teriam desistido pelo caminho”, conta Domingos, reforçando outras características na empreitada: a confiança e a persistência.
Há ainda um elemento primordial nessa conversa sobre transformações: toda e qualquer empresa deve pensar primeiro no cliente e não no produto. As aflições, necessidades e angústias do consumidor são o norte para as transformações pelas quais um negócio vai passar. É isso mesmo: a mudança é certa. As decisões é que determinam se a oportunidade vai ser desperdiçada ou não; se a empresa vai conseguir converter clientes insatisfeitos em clientes engajados, por exemplo. Os casos registrados em “Oportunidades disfarçadas 2” mostram que isso é possível. “Empresas que subestimam os consumidores correm cada vez mais o risco de ganhar novos concorrentes. E empresas que de fato valorizam e ouvem os clientes ganham fãs, colaboradores e até sócios”, resume o autor.
O que antes era erro se tornou um grande sucesso
Outro caso interessante é o do Instagram, que teve um começo de vida não muito animador. Seu nome era Burbn, considerada uma cópia malfeita do Foursquare. “Quando seus fundadores já pensavam em desistir do negócio e partir para outra, notaram algo interessante: as pessoas usavam cada vez mais um dos recursos secundários do aplicativo, a ferramenta de postar fotos. Não apenas de lugares, mas também de flores, refeições, paisagens etc”, conta Domingos. Quando os sócios decidiram focar no compartilhamento de fotos, um desvio foi feito. Com o novo filtro, o que era fracasso se tornou um sucesso retumbante. Em 2012, a ferramenta foi comprada por 1 bilhão de dólares pelo Facebook. O resto é stories.
O empresário parte dessa reviravolta para frisar que erros podem ser contornados. E se uma empresa não for capaz de fazê-lo, que isso sirva ao menos de experiências e lição para as demais. De qualquer forma, Domingos acredita que líderes implacáveis com o erro demonstram insegurança com a própria gestão: “Erros nos convidam a seguir por caminhos diferentes, desconhecidos, que talvez ninguém tenha percorrido antes. Não por acaso, as marcas que mais cometem erros são também as mais inovadoras”, assegura.
Assim, fica evidente que se deve repensar as perguntas. Fracasso? Insatisfação dos clientes? Crises? Limitações? Concorrência acirrada? O livro destaca como esses são problemas apenas para quem está não está disposto a repensar suas ações. Com a consciência de que mudanças são necessárias, é possível ir muito longe. Separamos outras dicas de Domingos para lapidar as oportunidades que a vida e os negócios nos oferecem. A limonada nasce daí.
O que está a nosso alcance?
“O importante é fazermos o melhor naquilo que está ao nosso alcance. Segundo o consultor americano Jim Collins, durante uma crise os líderes devem investir metade de seus esforços em cortar custos e a outra metade em promover a inovação. A primeira medida permite sobreviver ao período instável; a segunda, sair em vantagem quando a tormenta passar”.
O fracasso não é o fim
“O fracasso nunca é final. Geralmente, é apenas uma etapa, uma correção de rota. Para quem não desiste, pode ser o primeiro passo de uma trajetória vitoriosa. O fracasso é um lugar. Um lugar desconfortável, claro, mas com terreno fértil e vista privilegiada. Terreno fértil porque reúne ideias abandonadas, sobras de materiais, informações fresquíssimas sobre o mercado, insights valiosos e maior autoconhecimento. E o fracasso é um lugar com vista privilegiada porque poucos estiveram ali – seja porque não tentaram (logo, não fracassaram), seja porque a maioria não suporta ficar nesse lugar desconfortável. Se você tiver a infelicidade de fracassar, não tenha tanta pressa em deixar esse lugar: permaneça pelo menos por tempo suficiente para as emoções negativas e os medos irracionais assentarem e você poder analisar a situação com mais equilíbrio e pragmatismo”.
Vulnerabilidade e ousadia
“Sempre que surge uma nova tecnologia, ampliam-se as possibilidades de solução tanto de problemas novos quanto antigos. Na avassaladora revolução tecnológica em que vivemos, praticamente todos os dias brotam novas ferramentas digitais capazes de oferecer mais agilidade, economia e eficiência aos serviços, produtos e processos. Quem mais deve estar atento a essas novidades são as marcas iniciantes e, acima de tudo, as empresas em dificuldades. A vulnerabilidade estimula a ousadia”.