Em novo livro, Ana Claudia Quintana Arantes nos ensina a lidar com as intempéries do envelhecimento sem perder de vista que ainda estamos vivos e que a vida vale a pena.
Em novo livro, Ana Claudia Quintana Arantes nos ensina a lidar com as intempéries do envelhecimento sem perder de vista que ainda estamos vivos e que a vida vale a pena.
“Chegou o momento de não mais
escrever sobre o final feliz.
Quero jogar luzes sobre o durante feliz.” – Dra. Ana Claudia Quintana Arantes
Médica geriatra e paliativista, Ana Claudia Quintana Arantes emocionou milhares de leitores em seus dois primeiros livros ao abordar o tema da morte e do luto com sensibilidade e delicadeza. Com uma escrita fluente e poética, a autora comove e faz refletir.
Um dos grandes fenômenos editoriais dos últimos anos, ela está de volta, agora, com o lançamento de Pra vida toda valer a pena viver, obra em que reflete sobre o envelhecimento. Somos guiados por suas palavras que nos leva a pensar sobre como aprendemos a construir uma velhice que não nega as grandes transformações que o tempo traz, mas busca o bem-estar e a alegria até o último suspiro. “O que faremos com o nosso tempo de vida até que a morte nos leve?”, questiona Ana Claudia, propondo uma reflexão não sobre o “final feliz”, mas sobre o “durante feliz”.
A questão que guia a obra propõe uma reflexão profunda. A partir desta pergunta – ao mesmo tempo existencial e prática – a autora apresenta aos leitores seu amplo conhecimento, que se distingue essencialmente por sua potência humana.
“Se não morrermos antes, é certo que envelheceremos. E, se sabemos desde sempre que vamos envelhecer, como explicar o fato de não nos prepararmos para isso?”, indaga a autora que compara o comportamento da maioria das pessoas com relação a esta etapa final da vida a como chegar ao deserto sem protetor solar, sem agasalho e sem comida. A negação é prática recorrente.
Este guia de bem-viver apresenta nove pilares que apontam caminhos possíveis para construir uma velhice boa, feliz e plena. Ana Claudia encontra o equilíbrio perfeito entre a franqueza e a ternura. Envelhecer é um processo complexo e é preciso respeitar as limitações que o tempo traz, ressignificando o passar dos anos com sabedoria e sem rancor. Não se pode negar o fato posto em relação à nossa mortalidade e que orienta o próprio sentido da experiência humana.
Ainda que as questões sobre a importância de cuidarmos do corpo que habitamos estejam presentes, é a saúde mental que orienta a narrativa. Ana Claudia analisa a importância das relações afetivas, destacando como os laços de amor e carinho ajudam a manter a conexão com o próprio prazer de viver. É preciso também fazer as pazes com o passado, reconhecendo e tratando antigos fantasmas, valorizando as boas lembranças, reelaborando as perdas e o luto e acolhendo o envelhecimento.
Selecionamos cinco reflexões da autora sobre o tema. Vale a pena conferir!
1. Acolha o envelhecimento
A maioria das pessoas parece não estar confortável com a ideia, talvez porque envelhecer nos aproxime da morte e, mesmo nos momentos mais difíceis, de alguma forma ainda gostemos da vida. No entanto, a realidade do envelhecimento está ao nosso lado a cada dia que passa. Talvez fosse mais sábio compreender esse processo, que ocorre independentemente da nossa vontade, participando das decisões em vez de apenas ser uma vítima do tempo.
2. Cuide do corpo e da mente
Quando estamos comprometidos com a boa alimentação e com a atividade física constante e adequada, temos condição de superar – ou no mínimo de combater o bom combate – qualquer doença que possa nos visitar ao longo da vida.
3. Valorize as relações humanas
Um estudo de Harvard mostrou que relacionamentos satisfatórios protegem não apenas a saúde física, mas também o cérebro. As perdas cognitivas foram muito menores entre os participantes que tinham vínculos fortes com a família, os amigos e a comunidade. O nível de satisfação nos relacionamentos aos 50 anos era mais decisivo para a saúde do que, por exemplo, as taxas de colesterol.
4. Aprenda a lidar com o luto
O luto tem um objetivo, que é a reconstrução simbólica do vínculo – o tal som diferente do coração, uma nova música cujos silêncios serão preenchidos pela ausência da pessoa que a gente ama (assim mesmo, no presente do indicativo, porque o amor, não me canso de repetir, nunca morre). Quanto tempo isso leva? Impossível saber, e quem impõe um tempo ao luto do outro está tentando fugir à responsabilidade de cuidar dessa pessoa. Luto é individual, solitário. Pede quietude, mesmo que preenchida pela tristeza.
5. Cultive as boas lembranças
Boas lembranças advêm de vínculos que criamos com as pessoas que amamos. A cada dia, e à medida que envelhecemos, precisamos, mais e mais, abrir espaço para dizer “Eu te amo”, aceitar desculpas de alguém que nos ofendeu, pedir perdão quando magoamos alguém. Aprendamos a expressar nossos sentimentos às pessoas que ainda estão aqui. Assim, quando elas se forem, conseguiremos refazer com sucesso os vínculos simbólicos, agora na dimensão do coração, esse lugar que abriga tantos amores, presentes física ou espiritualmente.