“Se queremos dar a cara a tapa e amar de todo o coração, é inevitável vivenciar perdas. Se queremos experimentar coisas novas e inovadoras, é inevitável fracassar. Se queremos correr o risco de nos importar e nos comprometer, é inevitável passar por desilusões. Não importa se nossa dor será causada por um rompimento complicado ou […]
“Se queremos dar a cara a tapa e amar de todo o coração, é inevitável vivenciar perdas. Se queremos experimentar coisas novas e inovadoras, é inevitável fracassar. Se queremos correr o risco de nos importar e nos comprometer, é inevitável passar por desilusões. Não importa se nossa dor será causada por um rompimento complicado ou por uma dificuldade menor, como uma discussão com um parente. Se aprendermos a superar essas experiências, poderemos escrever nosso final feliz” – Brené Brown
O que fazemos quando o que pareceria uma vitória importante se torna um fracasso retumbante? Ou quando, devido a um erro, somos tomados por uma angústia que nos paralisa e nos impede de tentar? Mais forte do que nunca se concentra na vida após a queda, quando a perspectiva do futuro embaça e a volta por cima parece distante demais. A fraqueza se entrelaça ao medo e à vergonha de insistir no incerto. Alguns o chamam de fundo do poço e, possivelmente, todos nós o conhecemos, ainda que possamos dar a ele outro nome. Não importa. É só uma sensação ruim. Diante dela, a ordem é levantar-se. No livro, Brené Brown investiga justamente o processo de se reerguer e dar a volta por cima. Faz isso partir de estudos sobre o tema e de relatos de homens e mulheres que passaram por um momento de transformação em suas vidas.
É como está no famoso samba já cantado por Beth Carvalho e Elza Soares: “Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Aqui, Brown avança nos conceitos já trabalhados nos livros “A arte da imperfeição” e “A coragem de ser imperfeito” (um texto sobre este pode ser lido aqui) e ressalta, mais uma vez, a importância da vulnerabilidade, uma espécie de pré-requisito da coragem. Esse é o ponto de partida do livro. A seguir, você confere alguns tópicos importantes desenvolvidos pela autora.
A importância da vulnerabilidade
Brown sustenta que o desafio é “manter a coragem e descobrir como se levantar”. A vulnerabilidade é uma condição para esse movimento acontecer. Logo no início, a autora define o substantivo que lhe é tão caro: “ter a coragem de se mostrar e ser visto quando não se tem o controle algum sobre o resultado”. É uma afirmação essencial para compreender a ligação que ela costura nesse processo social de crescimento.
Embora aponte uma progressão do comportamento no caminho que nos leva a crescer e a se firmar no mundo, Brown deixa claro que não se trata de uma fórmula fácil para superar a dor. Cada indivíduo será testado de formas diferentes, levando em conta as dificuldades de sua vida. Ainda assim, apesar das diferenças que nos cercam, ela considera o processo de se reerguer uma prática espiritual, não no sentido religioso, mas fundamentada na crença de que somos ligados uns aos outros por uma força maior. “Para se reerguer, é necessário acreditar nos vínculos entre pessoas e lutar com perspectiva, sentido e propósito”, ensina.
Você e sua história
O processo tem como pilar a investigação de nossa vidas, com dores e delícias, sendo dividido em três etapas: reconhecimento, descoberta e revolução. Ou seja, reconhecer que sentimos algo, mergulhar fundo na nossa história (o que inclui reexaminar o que mais nos perturba, com sinceridade) e assumir a verdade de quem somos. Para deixar mais claro o objetivo, vale destacar como Brown o resume: “Ou você entra na sua história e assume sua verdade ou vive fora da sua história, negociando seu amor-próprio”.
Um dos grandes obstáculos de entrada desse processo é justamente lidar com emoções adversas, muitas das quais preferimos esquecer. Mas esse sentimento só confirma o quanto ainda não sabemos lidar com o desconforto e a vulnerabilidade, já que o instinto nos leva a querer fugir da dor. Adianta fingir que nada está acontecendo? Apesar do temor, a autora reforça os ganhos de se acolher a incerteza como norte, um estado de dúvidas alimentado por perguntas. Você precisa ser curioso sobre si. “Como podemos chegar àqueles momentos de virada se não nos dispusermos a explorar e a fazer perguntas? As novas informações não vão transformar nosso modo de pensar, e muito menos nossas vidas, se simplesmente caírem do céu”, destaca ela. É preciso conhecer e reconhecer para descobrir e redescobrir.
A história da descoberta
Em “Mais forte do que nunca”, Brown apresenta três perguntas-guia que ajudam a abrir caminhos para o processo de descoberta. Ela define descoberta como “o lugar em que a plenitude é cultivada e a mudança começa”. É o momento de ter consciência da história que contamos:
1) O que mais preciso aprender sobre essa situação?;
2) O que mais eu preciso aprender e entender sobre as outras pessoas da história?;
3) O que mais preciso aprender e entender sobre mim mesmo?.
A aproximação da verdade de quem somos é uma perspectiva interessante relacionada a esta etapa. A autora lembra que faz parte da nossa natureza buscar proteção e criar histórias sobre nós mesmos para conseguir driblar certos desconfortos. Por fim, acreditamos nas nossas próprias mentiras. Por isso é preciso duvidar da história que contamos a nós mesmos, identificar as fabulações e fugas. “Quando dependemos muito de narrativas autoprotetoras, elas se tornam nossas narrativas-padrão. Não devemos esquecer que contar histórias é um poderoso instrumento de integração. Começamos a entremear em nossa vida esses enredos ocultos e falsos, e logo estamos distorcendo quem somos e nosso modo de nos relacionar com os outros”, explica Brown. O processo de descoberta, portanto, é um desprendimento dessa falsa rede. Assim, voltamos a falar da importância da vulnerabilidade e como optar por revelá-la em nós é também um ato de coragem. Difícil, embora necessário.
A revolução começa por dentro
O caminho para se chegar à revolução anunciada por Brown envolve necessariamente tomar as rédeas da nossa história. A autora dimensiona essas etapas ao longo dos capítulos e aborda questões fundamentais com as quais precisamos lidar – expectativas, decepções, autoestima, privilégios, fracassos, vergonha etc – para iniciarmos uma mudança definitiva, capaz de modificar também os que estão ao nosso redor. Isso significa assumir para nós mesmos que somos os autores da nossa vida. Parece óbvio e simples, mas imagine a quantidade de voltas dadas para entender o sentido dessa sentença e colocá-la em prática. “A revolução começa quando assumimos e incorporamos o que está no cerne da volta por cima – a descoberta de nossas histórias – ao nosso cotidiano”, ela frisa. O olhar renovado sobre si provoca a descoberta de novas histórias em casa, no trabalho e na comunidade onde estamos. Histórias ancoradas na verdade de quem somos esvaziam as fugas e possibilitam conexões mais verdadeiras. “E se nos dispuséssemos a reconhecer nossa mágoa e nosso sofrimento e, ao fazê-lo, procurássemos ter certeza de não menosprezar a mágoa e o sofrimento dos outros? Poderíamos dar a volta por cima juntos”, conclui Brown. A mudança mais profunda passa por aí.